Este é o título de um dos artigos publicados na revista "Discutindo Filosofia" em sua edição de número 06. O Editorial da revista reproduz um comentário do escritor português José Saramargo, vencedor do prêmio Nobel de literatura,que sintetizou: "Marx nunca teve tanta razão como agora". Os artigos da revista não para o público não especilizado e vale a pena ser conferido.
Em geral o que se recomenda é um retorno à leitura de Marx, não como um programa de um partido político, mas como um dos maiores observadores e agudo analísta do capitalismo. O filóso Leandro Konder nos lembra que Marx é um homem do século XIX, mas que ainda nos dá ferramentas para compreendermos a realidade atual. Embalado por esta leitura elaborei as reflexões que se seguem.
ALIENAÇÃO, EMANCIPAÇÃO, LIBERDADE E ANGÚSTIA:
AS DÚVIDAS NO MUNDO CONEMPORÂNEO
No começo da década de 1980 o mundo assistiu o fim de um sonho (à época transformada em pesadelo): a derrocada do socialismo e sua promessa de fraternidade universal. A liberdade e igualdade prometida por Marx, transformaram-se em estados totalitários, dominados por burocracias corruptas e cruéis, muito distante do sonho humanista anunciado com o advento do comunismo. Como doutrina econômica e filosófica o programa neoliberal, face globalizado do capitalismo, mostrava-se robusta. As economias asiáticas que se modelavam inspiradas nas economias européias e norte-americanas prosperavam. A China adotava reformas de natureza capitalista, fazendo prosperar um sólido mercado de consumo e uma indústria fortemente competitiva.
Mas não era o reino da liberdade e da fraternidade que prosperava. No oriente médio prosseguiam as lutas originárias no fundamentalismo de grupos islâmicos, mas alimentada pela indústria bélica do imperialismo norte-americano. Os paises africanos prosseguiam sem qualquer perspectiva para programas econômicos de inclusão social e construção de estados democráticos. Aí também assistíamos a presença da indústria bélica das economias neoliberais. Em todo o mundo o que presenciávamos era um forte sentimento de desesperança e angústia, gerando vazios existenciais que o marketing global buscava ocupar mediante o fortalecimento do mercado de consumo.
Os ecologistas eram voz dissonante quando alertavam que o processo desenfreado de consumo estava levando o planeta a um progresso autofágico. O desemprego estrutural, resultado do avanço tecnológico e crescimento da produtividade (maior produção com menos mão-de-obra) batiam nos sindicatos de trabalhadores, que começavam a examinar as alternativas embrionárias dos sistemas cooperativos solidários.
No meio desta turbulência inicia-se um processo global de depressão na economia mundial, levando os mais ortodoxos neoliberais a buscar soluções nitidamente keynesiana com a intervenção do Estado para estagnar o lado mais amargo do colapso capitalista.
Estamos no meio deste furacão. E será este o ambiente que iremos desenvolver algumas reflexões sobre a Filosofia nos Dias Atuais.
A ética e uma nova metafísica estão no coração destas reflexões como veremos. Esta é também conhecida como uma era de mudança de paradigmas. Embora não se trate de um filósofo, mas um dos expoentes no debate dos problemas atuais é o físico Fritjof Capra, autor de diversos livros, um dos quais, O Ponto de Mutação, que serviu de inspiração para a realização de um filme com o mesmo nome.
O filme foi realizado e dirigido por Bernt Amadeus Capra, irmão do conhecido físico Fritjof Capra. O tema central é a profunda crítica que Fritjof faz do processo de fragmentação do saber, em boa medida contemplado pelo pensamento do filósofo Descartes. Capra resgatou o sentido do que ele chama de ecologia profunda, lembrando que tudo no universo é interligado. Esta fragmentação é, na realidade, a expressão de uma fragmentação mais profunda e que fez com que a vida dos humanos perdesse sua organicidade.
Para traduzir esta preocupação de forma didática o filme, ambientado em um castelo medieval, reúne no mesmo espaço uma física, um político e um poeta. Os três personagens promovem um encontro de saberes, apontando na direção de uma visão holística ou sistêmica, conforme prefere Capra. O filme nos lembra também que o mundo estaria vivendo seu “ponto de mutação”, com o esgotamento do paradigma da fragmentação e a emergência de uma nova visão da vida. Esta grande fragmentação foi responsável por muitos danos ao planeta: a ultra-especialização na área da saúde ocidental (em oposição a visão sistêmica da Acupuntura); a divisão técnica e social do trabalho (muito bem denunciada no filme Tempos Modernos de Chaplin); a divisão fundamental entre a emoção, a razão, a intuição e a sensação nos seres humanos, que assim perderam também sua inteireza.
O filme pode ser considerado como um instrumento de investigação para todos que possuem interesse pela holologia e holopráxis e compõe uma obra maior representada por toda a investigação de Fritjof Capra no campo da ecologia profunda, da psicologia transpessoal e das formas colaborativas de organização de um modo de produção não capitalista.
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