segunda-feira, 20 de abril de 2009

Em Parmênides o passado olha o presente.

Parmênides afirmava que o devir, o fluxo dos contrários, é uma aparência, mera opinião que formamos porque confundimos a realidade com as nossas sensações, percepções e lembranças. O devir dos contrários é uma linguagem ilusória, não existe, é irreal, não é. É o Não-Ser, o nada, impensável e indizível. O que existe real e verdadeiramente é o que não muda nunca, o que não se torna oposto a si mesmo, mas permanece sempre idêntico a si mesmo, sem contrariedades internas. É o Ser.

Pensar e dizer só são possíveis se as coisas que pensamos e dizemos guardarem a identidade, forem permanentes. Só podemos dizer e pensar aquilo que é sempre idêntico a si mesmo. Por isso somente o Ser pode ser pensado e dito. Nossos sentidos nos dão a aparência mutável e contraditória, o Não-Ser; somente o pensamento puro pode alcançar e conhecer aquilo que é ou existe realmente, o Ser, e dizê-lo em sua verdade. O logos é o ser como pensamento e linguagem verdadeiros e, portanto, a verdade é a afirmação da permanência contra a mudança, da identidade contra a contradição dos opostos.

Parmênides introduz a idéia de que o que é contrário a si mesmo, ou se torna o contrário do que era, não pode ser (existir), não pode ser pensado nem dito porque é contraditório, e a contradição é o impensável e o indizível, uma vez que uma coisa que se torne oposta de si mesma destrói-se a si mesma, torna-se nada.

O filósofo defendia a tese que os sentidos atestavam o devir, o nascer e o morrer, do calor e do frio, do dinamismo e da estaticidade, portanto o ser unido com o não-ser daria todo o enraizamento do erro (opiniões falaciosas) pela admissão da simples probabilidade da coexistência e também da passagem de um (ser) para o outro (não ser) e vice-versa (do não-ser para o ser).

Neste patamar, esse filósofo, afirma que reconhecia a possibilidade e a legitimidade do certo tipo de discurso que desse conta dos fenômenos e das aparências sem ir contra os princípios: o ser é e o não-ser não é. Para isso foi buscado, a seu modo, dar conta dos fenômenos expondo a opinião plausível além da falaciosa.

Dizia que o erro dos indivíduos foi ter falado e concebido que, assim como o dia e a noite eram opostos, o ser e o não-ser também seguiria o mesmo raciocínio, porem foi observado no fragmento oitavo que as forças contrarias, pois tanto a luz quanto a escuridão são iguais, portanto são seres e não-seres.

Então para finalizar, para Parmênides, o erro dos humanos está em não compreenderem que a força dos contrários está incluída numa força única superior, ou seja, numa unidade necessária, que se denominava a unidade do ser, pois as forças opostas são iguais e necessárias, pois em sua essência não carrega o nada e sim a igualdade de pertencer a força do ser.

Parmênides teve uma grande importância nos estudos metafísicos devido as características encontradas em seu poema, foi também considerado o fundador da metafísica ocidental com a distinção do ser e do não-ser. Deixou uma forte base para todo o pensamento filosófico - cientifico da conceituação e da definição do ser e do não-ser. Portanto até hoje suas idéias ainda são questionadas a respeito do assunto abordado e do vir-a-ser, que é a mera ilusão.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Em Florianópolis colho notas de um passado-presente, nas Cartas do Cárcere de Frei Beto

Recebí pelo e-mail da revista Caros Amigos o registro que reproduzo integralmente a seguir:

CARTAS DO CÁRCERE - Frei Betto
Por Renato Pompeu

Frei Betto, como outros estudantes dominicanos de São Paulo, esteve preso dos 25 aos 29 anos de idade, de 1969 a 1973, condenado pela Justiça Militar como colaborador de opositores armados ao regime discricionário de então. Cartas que escreveu do cárcere a familiares, amigos e outros dominicanos foram publicadas em dois livros nos anos
1970, em pleno regime militar, Das catacumbas e Cartas da prisão. Agora, todas as cartas das duas obras foram reunidas num volume só, intitulado Cartas da prisão – 1969- 1973, recém-lançado pela Agir.
Os jovens de hoje necessitam, imprescindivelmente, conhecer como se vivia naqueles tempos. Os que passaram por aquela época também enriquecerão suas experiências se a relembrarem. Para todos, se recomenda a leitura dessas cartas. Eis a primeira carta, de 7 de dezembro de 1969, um domingo, escrita no Presídio Tiradentes, em São Paulo:

“A novidade é a própria vida na prisão. Cheguei há uma semana, tudo é novo. Talvez eu fique longo tempo neste presídio. Somos quase 200 presos políticos, entre rapazes
e moças. Ocupamos uma cela grande, espaçosa, ventilada, equipada com dois banheiros, chuveiro, tanque de lavar roupa, cozinha e fogão. Somos 32, quase todos jovens. Há dois feridos: Carlos Lichtsztejn levou quatro tiros da polícia ao ser preso; Antenor Meyer se atirou do quarto andar de um edifício ao tentar fugir. Estão em fase de recuperação. O coletivo é dividido em equipes. Cada dia uma se encarrega do serviço
geral. Ontem foi a minha: levantamos cedo, varremos a cela, preparamos
o café. Enquanto uns cuidavam da limpeza e dos feridos, outros cozinhavam. Consegui fazer um arroz soltinho... Ocupações: aulas de francês, ginástica, ioga, teologia, conversas. Quando o espírito é forte, a prisão é suportável. Ninguém se mostra abatido ou chateado. Todos demonstram bom estado de espírito. Felizmente, cessaram os interrogatórios. Agora é saber aproveitar o tempo. Esse período não é um hiato em minha vida, é o seu prosseguimento normal; sei que passo por uma importante experiência”,
Isso já deve bastar para interessar os leitores e leitoras a lerem o restante das cartas.
Renato Pompeu é jornalista e escritor, autor do romance-ensaio O Mundo como Obra de
Arte Criada pelo Brasil, Editora Casa Amarela, e editor-especial de Caros Amigos.
Artigo publicado na revista Caros Amigos edição 145/abril de 2009

sábado, 4 de abril de 2009

Há 40 anos nascia o AI-5, um dos principais símbolos da ditadura

O discurso abaixo foi enunciado por Marcio Moreira Alves, deputado federal. Os militares usaram este discurso como presto para lançar o AI5.



"Senhor presidente, senhores deputados,

Todos reconhecem ou dizem reconhecer que a maioria das forças armadas não compactua com a cúpula militarista que perpetra violências e mantém este país sob regime de opressão. Creio ter chegado, após os acontecimentos de Brasília, o grande momento da união pela democracia. Este é também o momento do boicote. As mães brasileiras já se manifestaram. Todas as classes sociais clamam por este repúdio à polícia. No entanto, isto não basta.

É preciso que se estabeleça, sobretudo por parte das mulheres, como já começou a se estabelecer nesta Casa, por parte das mulheres parlamentares da Arena, o boicote ao militarismo. Vem aí o 7 de setembro.

As cúpulas militaristas procuram explorar o sentimento profundo de patriotismo do povo e pedirão aos colégios que desfilem junto com os algozes dos estudantes. Seria necessário que cada pai, cada mãe, se compenetrasse de que a presença dos seus filhos nesse desfile é o auxílio aos carrascos que os espancam e os metralham nas ruas. Portanto, que cada um boicote esse desfile.

Esse boicote pode passar também, sempre falando de mulheres, às moças. Aquelas que dançam com cadetes e namoram jovens oficiais. Seria preciso fazer hoje, no Brasil, que as mulheres de 1968 repetissem as paulistas da Guerra dos Emboabas e recusassem a entrada à porta de sua casa àqueles que vilipendiam-nas.

Recusassem aceitar aqueles que silenciam e, portanto, se acumpliciam. Discordar em silêncio pouco adianta. Necessário se torna agir contra os que abusam das forças armadas, falando e agindo em seu nome. Creia-me senhor presidente, que é possível resolver esta farsa, esta democratura, este falso impedimento pelo boicote. Enquanto não se pronunciarem os silenciosos, todo e qualquer contato entre os civis e militares deve cessar, porque só assim conseguiremos fazer com que este país volte à democracia.

Só assim conseguiremos fazer com que os silenciosos que não compactuam com os desmandos de seus chefes, sigam o magnífico exemplo dos 14 oficiais de Crateús que tiveram a coragem e a hombridade de, publicamente, se manifestarem contra um ato ilegal e arbitrário dos seus superiores."

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