sábado, 28 de abril de 2012

URGENTE - BRASIL247: inquérito do STF contra Demóstenes revela depósito de R$ 3,1 milhões

FONTE: http://brasil247.com/pt/247/poder/56729/247-inquérito-do-STF-contra-Demóstenes-revela-depósito-de-R$-31-milhões.htm

Exclusivo: 247 publica documento encaminhado na tarde desta sexta 27 pelo ministro Ricardo Lewandowski à CPI do Cachoeira e ao Conselho de Ética do Senado; segredo de justiça que agora não é mais; diálogos em profusão; confira28 de Abril de 2012 às 00:04


Vassil Oliveira _247 - Sócio da construtora Delta, funcionário do contraventor Carlinhos Cachoeira e integrante de organização criminosa. É assim que o procurador-geral da República Roberto Gurgel se refere, em inquérito enviado nesta sexta-feira 27 pelo Supremo Tribunal Federal à CPI do Cachoeira e à comissão de Ética do Senado.

247 obteve com exclusividade a íntegra do inquérito. Há uma série de situações que ainda não haviam sido reveladas. Fica ainda mais clara a ligação entre a ORGCRIM, como a Polícia Federal se refere à Organização Criminosa, e o goverandor de Goiás, Marconi Perillo. Os grampeados falam em detalhes sobre a situação de diversos contratos da Delta Engenharia. De número 3.430, o inquérito deve resultar na cassação, pelo Senado, do mandato de Demóstenes. A autorização para a remessa do inquérito ao Congresso foi dada pelo ministro Ricardo Levandovski. Os dados poderão ser analisados também pela Comissão de Sindicância da Câmara dos Deputados, que investiga os parlamentares João Sandes Junior (PP-GO) e Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), pelo envolvimento com o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Cachoeira é suspeito de envolvimento com jogos ilegais e foi preso na Operação Monte Carlo, em fevereiro. A CPMI que leva seu nome investigará sua ligação com políticos e empresários.

Leia aqui a íntegra do inquérito elaborado pelo procurador-geral da República Roberto Gurgel.

Abaixo, seus sete anexos, pelos links abaixo:

Volume 1 - "É um recado do Marconi", diz o senador Demóstenes a Carlinhos Cachoeira

Volume 2 - Neste anexo, evidenciam-se as relações estreitas entre Carlos Cachoeira e a Delta.

Volume 3 - Cachoeira diz que comprou um site de jogos por R$ 800 mil e que irá colocar seus negócios todos nele. Conversas citam encontro do bicheiro com o prefeito de Águas Lindas (GO).

Volume 4 - Na quarta parte, diálogos comprovam a relação de Cachoeira com o ex-diretor do Dnit, Luiz Antonio Pagot, que “está doidinho para abrir a boca”.

Volume 5 - O ex-araponga Adalberto Araújo informa por telefone a Carlinhos Cachoeira que está tentando, sem sucesso, se infiltrar no governo do Distrito Federal.

Volume 6 - Nesta sexta parte, há diversas conversas de Cachoeira com um de seus principais assessores, Gleyb Ferreira da Cruz, com quem fecha negócios. Há também citações aos nomes do ex-diretor da Delta Cláudio Abreu e do vereador de Anápolis Wesley Silva, os dois presos na Operação Saint-Michel.

Volume 7 - Nesta sétima parte do relatório, a PF descreve a influência de Carlos Cachoeira no governo de Marconi Perillo, em Goiás, e fala até da tentativa de entrega de dinheiro no Palácio das Esmeraldas. O Detran de Goiás seria da cota de Cachoeira, segundo a PF.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

FOLHA DE SÃO PAULO NÃO TENTA OBSERVAR NEM O MÍNIMO DO QUE SERIA UMA ÉTICA BURGUESA CLÁSSICA. VIROU BANDITISMO PURO.

Nota do editor de Theia Viva - O título acima é de autoria e responsabilidade deste blog. A máteria é de Luis Nassif - do seu portal na internet.

Padilha contra a máquina de assassinar reputações



Autor: Luis Nassif


Sexta-feira, 20 de abril, a Folha solta matéria assinada por Rubens Valente e Cátia Seabra com o título (ambos possuem gravações envolvendo a Veja, mas não publicam):

CACHOEIRAGATE/GRAMPOS

Grupo diz ter discutido projeto com Padilha

Ministro da Saúde é citado como tendo autorizado aliados de Carlinhos Cachoeira a dar sequência a ação na área

Escuta da Polícia Federal não deixa claro o objetivo do projeto; ministro nega relação com o empresário

A matéria reproduzia conversa de Wladimir Garcez com o com o chefe Cachoeira:

"Teve a conversa com o Padilha, todos os outros lá, o chefe de gabinete, e [ele] achou interessante: faz o projeto, mostra o que que é, ele fala o que que é possível lá dentro e dá para nós um veredito lá. Mas que autorizou a gente a tocar pra frente o negócio, que eles têm condição de ajudar", diz Garcez a Cachoeira, em março de 2011.

A conversa não deixa claro qual é o interesse de Cachoeira -que, segundo a PF, é dono oculto de um laboratório e controla um instituto que reúne grandes empresas da área farmacêutica.

No mesmo dia, a assessoria de Padilha encaminhou esclarecimentos ao jornal.

1. O ministro Alexandre Padilha não conhece e em nenhum momento se reuniu com os senhores Wladimir Garcez e Carlinhos Cachoeira e nem recebeu qualquer pessoa a pedido deles.

2. Segundo a reportagem da Folha de São Paulo, a gravação teria ocorrido em 29 de março de 2011. Nesta data, bem como no mês de março daquele ano, o ministro não teve nenhuma reunião ou audiência cujo assunto possa guardar relação com o teor da conversa gravada.

3. Os projetos apresentados em audiência ao ministro da Saúde ou ao seu gabinete são submetidos às respectivas áreas técnicas para análise e parecer. Nenhum andamento é dado sem o parecer técnico.

A primeira matéria trazia algumas ressalvas, como o fato de Cachoeira ter uma fachada institucional, o tal Instituto congregando farmacêuticas.

Bem que a ombudsman tentou alertar o jornal para os abusos cometidos:

Os males que jorram do escândalo são tantos que uma certa dose de cautela está sendo deixada pelo ca- minho. Na sexta-feira passada, a Folha apontava um possível envolvimento do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e do bicheiro com base em ape- nas uma conversa na qual um assessor de Cachoeira diz que o ministro autorizou o desenvolvimento de um projeto, depois de uma reunião em Brasília.

Novas evidências podem surgir, mas, por enquanto, projeta-se uma sombra de dúvida sobre o ministro sem que haja nada de concreto. Qualquer contato com alguém ligado ao bicheiro de Goiás vira sintoma de doença fatal.

Mas o jornal não para.

No dia 25 de abril, no caderno Poder, outras aleivosia, cujo autor prudentemente não assinou:

Ministro confirma reunião em Goiás, mas não com empresário

A declaração de Padilha, na qual o jornalista se baseou, foi a seguinte:

"Eu como ministro da Saúde, o ministério já recebeu em vários momentos reuniões conjuntas com empresas ou indústrias do estado de Goías. Sempre. Várias reuniões. Essas indústrias têm peso suficiente que elas não precisam, nunca precisaram de qualquer intermediário para marcar reunião com o Ministério da Saúde. Têm acesso direto, participam do grupo de competitividade, que é o GECIS, que define nossa política de parceria de desenvolvimeto produtivo. Várias delas participam do grupo de acompanhamento do programa Farmácia Popular, fazem parte das associações de indústria, ou seja, o Ministério da Saúde tem um rito e que nós reforçamos cada vez mais, de atendimento à indústria, recebimento de projetos, análise de projetos e conclusão desses projetos."

Chamada da Folha

Alexandre Padilha diz que se encontrou 3 vezes com o senador Demóstenes Torres

E, em tom de denúncia:

O ministro Alexandre Padilha (Saúde) disse ontem que teve reuniões com representantes da indústria farmacêutica de Goiás, um setor em que atuava o em- presário Carlinhos Cachoeira.

Ia além:

Padilha disse ainda que, como faz com os senadores em geral, teve encontros com Demóstenes Torres (GO).

Segundo a assessoria do ministério, foram três en- contros em 2011, dois deles envolvendo empresas do ramo farmacêutico -cujos nomes não constam das in- vestigações da Polícia Federal.

Com base exclusivamente nessas informações, o repórter vai até o Ministro Sepúlveda Pertence, oferece aquilo que ele mais gosta - holofote - e consegue essa incrível declaração sobre um fato em tese:

O presidente da Comissão de Ética Pública da Pre- sidência, Sepúlveda Pertence, disse ontem que é "pas- sível" de investigação pelo órgão a suspeita de que Padilha teria negociado com integrantes do grupo de Cachoeira.

"Parece que não é uma questão de homicídio que nós tenhamos que tomar providência hoje. É mais uma acusação de possível corrupção, então há muito tem- po [até a próxima reunião]".

E tudo isso em um momento em que a opinião pública, através das redes sociais, acompanha atentamente as técnicas de manipulação no jornalismo.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Economist: A terceira revolução industrial

da revista britânica Economist, em 21.04.2012

A digitalização da manufatura vai transformar a forma com que as coisas são feitas — e mudar as políticas de emprego, também

A primeira revolução industrial começou no Reino Unido no fim do século 18, com a mecanização da indústria têxtil. Tarefas feitas laboriosamente pelas mãos, antes, por centenas de tecelãs, foram juntadas em um único moinho de algodão, nascendo assim a indústria. A segunda revolução veio no século 20, quando Henry Ford dominou a linha de montagem móvel e trouxe a idade da produção em massa. As duas primeiras revoluções tornaram as pessoas mais ricas e urbanas. Agora uma terceira revolução está em andamento. A manufatura está se tornando digital. Como o relatório especial desta edição destaca, isso poderia mudar não apenas os negócios, mas muito mais.

Um número de notáveis tecnologias estão convergindo: software engenhoso, novos materiais, robôs mais capazes, novos processos (notadamente a impressão tri-dimensional) e toda uma gama de serviços baseados na rede. A fábrica do passado era baseada na produção de zilhões de produtos idênticos: Ford famosamente disse que os compradores de automóveis poderiam escolher qualquer cor, desde que fosse o preto. Mas o custo de produzir quantidades menores com maior variedade, com cada produto desenhado para atender aos desejos de cada consumidor, está caindo. A fábrica do futuro vai focar na customização em massa — e pode ficar muito mais parecida com aqueles teares individuais do que com a linha de montagem do Ford.

Rumo à terceira dimensão

A velha forma de fazer as coisas envolvia muitas partes, além de parafusos ou solda para juntá-las. Agora um produto pode ser desenhado por um computador e “impresso” numa impressora 3D, que cria um objeto sólido construído através do acúmulo de camadas sucessivas de matéria prima. O design pode ser modificado com apenas alguns toques no mouse. A impressora 3D pode funcionar sem supervisão humana e pode fazer coisas que eram muito complexas para as linhas de montagem tradicionais. Em algum tempo, estas máquinas impressionantes poderão fazer qualquer coisa, em qualquer lugar — da garagem de casa ao vilarejo da África.

As aplicações da impressão em 3D são especialmente intrigantes. Os aparelhos contra a surdez e as peças de alta tecnologia de jatos militares já têm sido impressas de forma customizada. A geografia das cadeias de fornecimento será transformada. Um engenheiro que trabalha no meio de um deserto e sentir falta de alguma ferramenta não precisará encomendar para entrega na cidade mais próxima. Ele pode fazer o download do design e mandar imprimir a ferramenta. Os dias de um projeto paralisado por causa de uma peça ou de um kit, ou de consumidores que reclamam por não encontrar peças de reposição, vão ficar para trás.

Outras mudanças serão tão impressionantes quanto as acima descritas. Os novos materiais são mais leves, mais fortes e mais duráveis que os antigos. A fibra de carbono está substituindo o aço e o alumínio em produtos que vão de aviões a bicicletas. Novas tecnologias permitem a engenheiros criar objetos em pequena escala. A nanotecnologia dá a objetos novas capacidades, como os band-aids que ajudam a cicatrizar cortes, motores mais eficientes e talheres mais fáceis de limpar. Vírus geneticamente modificados estão sendo desenvolvidos para construir baterias. E com a internet permitindo a um número maior de designers o trabalho colaborativo em novos produtos, barreiras estão caindo. Ford precisou de grande quantidade de capital para construir sua fábrica colossal em River Rouge; o equivalente moderno dele pode começar com um simples laptop e a fome de inventar.

Como todas as revoluções, esta vai causar perturbações. A tecnologia digital já balançou as indústrias do varejo e da mídia, da mesma forma que os moinhos de algodão esmagaram os teares manuais e o Modelo T detonou as carroças. Muitas pessoas vão olhar para a fábrica do futuro com arrepios. Elas não serão cheias de máquinas sujas e de homens vestindo macacões oleosos. Muitas serão limpíssimas — e quase desertas. Alguns fabricantes de automóveis já produzem duas vezes mais carros por empregado que uma década atrás. A maior parte dos empregos não será no chão de fábrica, mas nos escritórios por perto, cheios de designers, engenheiros, especialistas em TI, experts em logística, integrantes da equipe de marketing e outros profissionais. Muitas tarefas repetitivas vão se tornar obsoletas: você não precisa mais de rebitadores se o produto não usa rebites.

A revolução vai afetar não apenas como as coisas são feitas, mas onde. As fábricas já se moveram para países de baixos salários para cortar custos. Mas o custo do trabalho está se tornando menos e menos importante: um iPad de primeira geração, de 499 dólares, tinha custo de mão-de-obra de apenas 33 dólares, dos quais a montagem na China representava apenas 8 dólares. A produção no exterior está crescentemente se movendo de volta aos países ricos, não apenas porque os salários na China crescem, mas porque as empresas agora querem ficar mais perto dos consumidores, para responder mais rapidamente às mudanças na demanda. Alguns produtos são tão sofisticados que ajuda juntar por perto os encarregados do design e os da produção. O Boston Consulting Group avalia que em áreas como transporte, computadores, metais e maquinaria, de 10% a 30% dos bens que os Estados Unidos agora importam da China poderão ser feitos em casa até 2020, aumentando o PIB americano em 20 a 55 bilhões de dólares por ano.

O choque do novo

Os consumidores terão pequena dificuldade para se adaptar a essa nova idade de produtos melhores, entregues com mais rapidez. Os governos, no entanto, terão dificuldade. Seu instinto é proteger indústrias e companhias que já existem, não os novatos que pretendem destruí-las. Os governos fazem chover subsídios em fábricas velhas e intimidam os chefes que querem exportar a linha de produção. Gastam bilhões apoiando tecnologias que, acreditam, devem prevalecer. E se apegam à crença romântica de que a manufatura é superior aos serviços e ainda mais às finanças.

Nada disso faz sentido. A fronteira entre manufatura e serviços está se desfazendo. A Rolls Royce já não vende motores de jatos; vende as horas que cada motor passa empurrando aeronaves pelo céu. Os governos sempre foram muito ruins na escolha dos vencedores e isso pode piorar, no momento em que legiões de empreendedores e inventores trocam projetos online, transformam esses projetos em produtos na garagem de casa e os vendem globalmente. Enquanto a revolução avança, os governos deveriam se manter no básico: melhores escolas para uma força de trabalho especializada, regras claras e um campo de disputa nivelado para empresas de todos os tipos. Que deixem o restante para os revolucionários.

PS do Viomundo: Descartando a ode ao capitalismo sem operários, o relatório da revista sobre o assunto impressiona. Este será o primeiro século da Ásia. Quando a África se organizar e se tornar o celeiro do mundo — o que acontece enquanto você lê isso — terá a imensa vantagem de estar logo ali, ao lado dos grandes mercados asiáticos. Indonésia, Vietnã, Tailândia e até mesmo as Filipinas estão a caminho, para se juntar a China, Índia e Japão. Enquanto os jovens japoneses e sul coreanos navegam em altíssimas velocidades, multiplicando exponecialmente em rede o seu potencial, os nossos ficam à mercê da Telefônica, que exporta o lucro obtido no Brasil para tapar o rombo na Espanha. Como já perguntou o economista Márcio Pochmann, mais de uma vez: é Vaco ou Fama? Conhecendo a elite brasileira, desinformada, medíocre e complacente, aposto na Fama.

Fonte:http://www.viomundo.com.br/politica/economista-a-terceira-revolucao-industrial.html

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Política, virtude e fortuna, - da Carta Maior

Da Carta Maior


por
Maria Inês Nassif

A política brasileira, a virtude e a fortuna

Depois de 27 anos de redemocratização do país, e de um período prolongado de luta aberta entre forças que se opõem no cenário político, talvez seja conveniente lembrar Maquiavel também no nosso pedaço de mundo, onde atribuímos à velha ordem excessivo poder para decidir nosso futuro.

Houve um tempo em que a desenvoltura de velhas raposas da política tradicional, e uma vocação dessas lideranças para remar a favor da maré, davam a impressão, para quem as assistia do lado de fora do palco institucional, de que elas tinham um quase monopólio, um poder ilimitado de construir a história. Depois de 27 anos de redemocratização do país, e de um período prolongado de luta aberta entre forças que se opõem no cenário político, talvez seja conveniente lembrar Maquiavel também no nosso pedaço de mundo, onde atribuímos à velha ordem excessivo poder para decidir nosso futuro.

Dois governos de Luiz Inácio Lula da Silva e pouco mais de um ano com Dilma Rousseff – três gestões onde a disputa política saiu dos porões do poder e se escancarou para outros setores sociais – mostraram que o jogo político, mesmo quando escamoteado, é virtude e fortuna. Ou seja, nunca é produto exclusivamente da vontade de um governante, embora a virtude seja fundamental para mover um governo, e a fortuna, isto é, a roda da história, nunca acontece descolada da virtude.

As virtudes de um e outro governante não são iguais, mas já se pode dizer, com um alto grau de certeza, que o correr dos acontecimentos – a fortuna – foi adequada às diferenças entre Dilma e Lula. Dilma está no lugar e na hora onde tem que estar; Lula cumpriu o seu papel no seu momento. E o processo histórico, como se move, saiu de uma realidade onde o governo era defensivo e tinha como contraponto um presidente com raras qualidades de conciliação; para uma outra, em que o governo é ofensivo e a presidenta, sem habilidades específicas para manobrar a política institucional, encontra terreno para exercer a sua vocação maior, que é a de se contrapor.

A rápida intervenção de Dilma nos juros domésticos (o pesadelo para todos os governantes das últimas duas décadas) tanto pela via institucional, o Copom, como da pressão direta sobre os bancos, é o estilo Dilma, beneficiado pelo gradual abandono da ortodoxia econômica iniciada no governo Lula e pela crise mundial. A volta por cima da crise política do chamado “mensalão” de 2005, via apoio popular, é estilo Lula.

Nos mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), exceto em um breve primeiro ano de lua-de-mel com as elites políticas brasileiras, o governo foi mantido acuado na política institucional por uma minoria oposicionista amplificada por uma mídia hegemônica; e, no plano da sociedade civil, manteve uma aproximação permanente com setores não organizados, beneficiados pelos programas sociais e/ou atraídos pelo carisma do chefe do Executivo.

Com os movimentos sociais organizados o governo Lula não teve sempre um bom diálogo, mas o fato de ser entendido como um mal menor, contra um partido, o PSDB, que criminalizou a ação política desses setores, poupou-o de uma oposição forte à esquerda. O MST, por exemplo, nunca se declarou feliz com o PT no governo federal, mas foi atraído pelas suas próprias bases e pela opção do “mal menor” a se encontrar com o partido em períodos eleitorais, e a aliviar a pressão quando os setores conservadores tocavam fogo na política institucional.

O governo Dilma Rousseff mostrou algumas coisas mais. Primeiro, que no final das contas os estilos diferentes dos dois presidentes petistas vieram na hora certa. Em segundo, que a vontade pessoal de um mandatário popular conta, mas desde que ele entenda, conflua e aproveite o processo histórico que o levou ao poder.

Dificilmente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria chegado ao final de seu mandato, se não tivesse algumas qualidades essenciais: a habilidade e pragmatismo de negociador sindical e uma grande facilidade para se fazer ouvir pelas massas, que deram a ele a sustentação política necessária para se contrapor a uma oposição fraca, porém associada a uma mídia tradicional hegemônica. Suas duas administrações, exceto a trégua inicial – necessária para atenuar os efeitos da investida especulativa do mercado financeiro no ano eleitoral de 2002 – ocorreram sob forte ofensiva. A pequena oposição falou grosso pela voz da mídia.

Dilma Rousseff tem outro perfil. Não teria cintura para sobreviver numa conjuntura política tão desfavorável como a enfrentada por Lula, mas o fato é que o governo de seu antecessor, os compromissos políticos assumidos por ele e a montagem de seu palanque permitem, ironicamente, que ela seja ela mesma. Se tivesse tentado ser Lula, teria fracassado. Além disso, uma gestão econômica que é continuidade do governo Lula, mas que é a sua praia, numa conjuntura que o mundo chafurda na lama do neoliberalismo, simplesmente desmonta qualquer oposição significativa às orientações de governo, e dão a ela dimensão própria no âmbito internacional, mesmo fazendo uma política externa de continuidade à anterior.

Dilma falou de igual para igual na Cúpula das Américas porque sabe ser positiva; mas tem o respeito da comunidade internacional não apenas porque é positiva, mas porque o ex-presidente Lula, que atuou com desenvoltura nessa área, deixou no passado o complexo de vira-lata neoliberal. Antes disso, a elite brasileira tomava como referência os países ricos nas formulações econômicas externas e extasiada, olhando para fora, deixava visível a enorme vergonha do próprio país.

Os êxitos do governo Lula encheram o palanque de Dilma e sua base aliada. A habilidade política de Lula costurou o resto. Sem isso, no entanto, dificilmente a presidenta teria condições de tentar mudar os termos de relacionamento com a sua base parlamentar. E sem o estilo Dilma, seria complicado levar essa tentativa muito longe.

Também seria difícil manter o estilo Dilma nas relações políticas institucionais se a oposição, menor ainda do que era no governo Lula, não tivesse sido severamente atingida pela enorme crise decorrente das denúncias contra seu principal porta-voz, o senador Demóstenes Torres, envolvido com uma quadrilha comandada pelo contraventor Carlinhos Cachoeira. Não foi apenas a oposição que perdeu a credibilidade, mas a banda de música do DEM e do PSDB passou a ser menos crível numa mídia que acuou o governo passado, mas está acuada agora. Por mais irônico que seja, fica mais fácil agora para Dilma definir novas relações com o Legislativo. Ela não está na posição permanente defensiva em que Lula foi mantido nos seus dois governos, não tem as dívidas de gratidão que seu antecessor tinha com políticos tradicionais da base aliada e lida numa situação em que foi escancarado não apenas o uso da máquina administrativa pelos aliados, mas pelos próprios oposicionistas, ao que tudo indica um avanço sobre território alheio obtido pelo expediente da chantagem.

O momento é outro e o processo histórico anda, sempre. Qualquer análise política sobre o Brasil de hoje tem que se livrar dos fantasmas do passado e dar a eles sua devida dimensão. Esta é a condição para virtude e fortuna.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Veja e a CPI de Cachoeira - por Luis Nassif

A tentativa da Veja e do PT de contrapor a julgamento do “mensalão” à CPI de Cachoeira interessa apenas a ambos, não ao conjunto da opinião pública e, principalmente, aos poderes constituídos – Judiciário (incluindo Ministério Público), Legislativo.


O “mensalão” já são cartas dadas. Já houve o impacto político em 2006, as investigações, um inquérito volumoso que já está no STF (Supremo Tribunal Federal). Provavelmente a maioria dos ministros tem opinião formada e não vai se deixar influenciar pelo noticiário.

Daí o inusitado da capa da revista Veja, insinuando que a CPI de Cachoeira visa jogar cortina de fumaça sobre o “mensalão”.

Leia também:

A CPI de Cachoeira e a retórica do ‘mensalão’

Na verdade, o que está em jogo é algo suprapartidário e muito mais grave do que denúncias políticas: a parceria entre Veja e o bicheiro Carlinhos Cachoeira, ao longo dos últimos oito anos.

Na matéria de capa, Veja compara-se ao promotor que propõe ao réu a “delação premiada”. Trata-se de um instituto, previsto em lei, pelo qual o réu tem abrandamento de pena se se dispuser a entregar escalões mais altos da organização criminosa.

No caso de Cachoeira, tal não ocorria. As matérias fornecidas pelo bicheiro serviam para detonar quadrilhas rivais, fortalecendo seu poder. Mais que isso, juntos, Cachoeira e Veja transformaram o senador Demóstenes Torres no político mais influente da oposição. Graças ao prestígio bancado pela revista, Demóstenes conseguia penetrar nos diversos departamentos da administração pública, defendendo pleitos do bicheiro.

A revista sustenta que a parceria com o bicheiro visou levantar denúncias que permitissem limpar o país.

A história não mostra isso.

No caso do grampo sobre a propina dos Correios, houve o claro propósito de beneficiar Cachoeira. O diretor da revista supervisionou pessoalmente o grampo, até julgar que estava eficiente. Depois disso, segurou a notícia por um mês, dando tempo ao esquema Cachoeira fazer o uso que bem quisesse. Publicada a denúncia, conseguiu-se o afastamento do esquema Roberto Jefferson dos Correios, e seu lugar ocupado novamente por esquema ligado ao próprio Cachoeira – que, dois anos depois, foi desbaratado pela Polícia Federal.

No episódio Satiagraha a revista usou os mesmos métodos. Para paralisar as investigações – que levariam inevitavelmente a Daniel Dantas -, a revista soltou uma série de matérias montadas.

Foi assim com a capa “O país do grampo”, \ que juntava um conjunto de informações desconexas, para passar a impressão que a Polícia Federal estaria grampeando meio mundo. Na verdade, a usina de grampos era do próprio Cachoeira.

O mesmo ocorreu com o “grampo sem áudio” – o falso grampo que teria interceptado uma conversa entre o Ministro Gilmar Mendes, do STF, e o senador Demóstenes Torres.

A falta de limites era tal que a revista publicou um dossiê contra o Ministro Edson Vidigal, do Superior Tribunal de Justiça, que havia dado uma sentença contra Dantas.

Era uma armação tão descarada, que a reportagem anunciava uma representação de uma ONG junto ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça), contra Vidigal. A representação baseava-se na própria reportagem da revista – que ainda nem tinha sido publicada.

sábado, 14 de abril de 2012

Editorial de Veja é um sofisma que reforça sua responsabilidade no caso Cachoeira. Leia artigo o Azenha.

14 de abril de 2012 às 19:02


Investigar Cachoeira, uma ameaça à liberdade de expressão

por Luiz Carlos Azenha



Por dever de ofício, li o texto de capa de revista que tenta provar que investigar os crimes do Carlinhos Cachoeira, no Congresso, é um atentado à liberdade de expressão.



O que chamou minha atenção foi a frase abaixo, que interpretei como defesa do uso de fontes-bandidas:



Qualquer repórter iniciante sabe que maus cidadãos podem ser portadores de boas informações. As chances de um repórter obter informações verdadeiras sobre um ato de corrupção com quem participou dele são muito maiores do que com quem nunca esteve envolvido. A ética do jornalista não pode variar conforme a ética da fonte que está lhe dando informações. Isso é básico. Disso sabem os promotores que, valendo-se do mecanismo da delação premiada, obtêm informações valiosas de um criminoso, oferecendo-lhe em troca recompensas como o abrandamento da pena.
Registre-se, inicialmente, a tentativa dos autores de usar os promotores de Justiça como escada. Tentam sugerir ao leitor que o esforço da revista, ao dar espaço em suas páginas a fontes-bandidas, equivale ao dos promotores de Justiça.

Sonegam que existe uma diferença brutal: os promotores de Justiça usam a delação premiada para combater o crime. Os criminosos que optam pela delação premiada têm as penas reduzidas, mas não são perdoados. E a ação ajuda a combater um mal maior. Um resultado que pode ser quantificado. O peixe pequeno entregou o peixe grande. Ambos serão punidos.

O mesmo não se pode dizer da relação de um jornalista com uma fonte-bandida. Se um jornalista sabe que sua fonte é bandida, divulgar informações obtidas dela não significa, necessariamente, que algum crime maior será evitado. Parece-me justamente o contrário.

O raciocínio que qualquer jornalista faria, ao divulgar informações obtidas de uma fonte que ele sabe ser bandida, é: será que não estou ajudando este sujeito a aumentar seu poder, a ser um bandido ainda maior, a corromper muito mais?

Leiam de novo esta frase: As chances de um repórter obter informações verdadeiras sobre um ato de corrupção com quem participou dele são muito maiores do que com quem nunca esteve envolvido.

Não necessariamente. Ele não tem qualquer garantia de que as informações são verdadeiras se vieram de um corrupto. Que lógica é esta?

O policial que não estava lá mas gravou a conversa que se deu durante um ato de corrupção provavelmente vai fornecer uma versão muito mais honesta sobre a conversa do que os corruptos envolvidos nela.

O repórter que lida com alguém envolvido em um ato de corrupção sabe, antecipadamente e sem qualquer dúvida, que a informação passada por alguém que cometeu um ato de corrupção atende aos interesses de quem cometeu o ato de corrupção. Isso, sim, é claro, não que as informações sejam necessariamente verdadeiras.

O repórter sabe também que, se os leitores souberem que a informação vem de alguém que cometeu um ato de corrupção, imediatamente perde parte de sua credibilidade. Não é por acaso que Carlinhos Cachoeira, o bicheiro, se transformou em “empresário do ramo de jogos”.

É por saber que ele era um “mau cidadão” que a revista escondeu de seus leitores que usava informações vindas dele. Era uma fonte inconfessável.

Não foi por acaso que Rubnei Quicoli, o ex-presidiário, foi apresentado como “empresário” pela mídia corporativa quando atendia a determinados interesses políticos em plena campanha eleitoral. A mídia corporativa pode torturar a lógica, mas jamais vai confessar que atende a determinados interesses políticos.

Carlinhos Cachoeira não é, convenhamos, nenhum desconhecido no submundo do crime. Vamos admitir que um repórter seja usado por ele uma vez. Mas o que dizer de um repórter usado durante dez anos, por uma fonte que ele sabe ser bandida?

Sim, porque o texto, sem querer, é também uma confissão de culpa: admite que a revista se baseou em informações de um “mau cidadão”. Ora, se a revista sabia tratar-se de um “mau cidadão” e se acreditava envolvida em uma cruzada moral para “limpar a sociedade” de “maus cidadãos”, não teria a obrigação de denunciá-lo? (grifo de Theia Viva)

Concordo que jornalistas não têm obrigação de dar atestado de bons antecedentes a todas as suas fontes.

Mas onde fica a minha obrigação de transparência com meus leitores se divulgo seguidamente informações que sei serem provenientes de um “mau cidadão”? Qual é o limite para que eu seja considerado parceiro ou facilitador do “mau cidadão”?

Se imperar, a lógica da revista será muito conveniente para aqueles policiais presos por associação ao crime.

Tudo o que terão de dizer, diante do juiz: “Ajudei a quadrilha de assaltantes de bancos, sim, doutor, matando e prendendo os inimigos deles. Mas foi para evitar um mal maior, meritíssimo: uma quadrilha que era muito mais bandida”.
À CPI, pois.

COMO VEJA TENTAR ENCOBRIR SUA ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA COM CARLINHO CACHOEIRA.

Passado o primeiro momento de perplexidade e catatonia, depois que savonarolas, bicheiros e jornalistas foram flambados nas próprias chamas, o dispositivo midiático demotucano se recompõe. A pasmaceira aos poucos recupera a afinação cúmplice de um coral de igreja: o importante no primeiro momento é confundir. A desempenadeira torta da suspeição entra em campo para nivelar partidos e reputações. A mensagem é martelada: a política é uma confederação de quadrilhas; todos os gatos são pardos. Instalada a neblina, a hierarquia se inverte: o secundário se sobrepõe ao principal. Demóstenes & Cia são vítimas de uma estratégia do PT para encobrir o 'mensalão que Gilmar Mendes quer julgar antes das eleições municipais (leia-se: antes que Serra naufrague em SP). Sombra e luz, tudo a mesma coisa. Agora é fixar a versão: não há mais fatos A versão diz que a verdadeira origem e destino da corrupção é o governo e o PT. A mídia vocifera e o judiciário togado de conservadorismo insolente pontua. Nivelado o terreno, borbulha a cachoeira de recados. A chantagem se amolda ao veículo e ao grau de cinismo do emissor. Oscila da sutileza ao ranger descarado dos blindados golpistas. Mas a ameaça velada a Lula é uma só: 'E aí, vai encarar?'. Devia.




(Carta Maior; Sábado/14/04/ 2012)

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Quando me perguntam se eu não me arrependo de ser um anticapitalista radical eu devolvo outra pergunta: tenho alguma outra alternativa?

Discurso do senador Roberto Requião (PMDB/PR) feito no dia 30/03/2012 no Senado da República

(via e-mail)

Senhoras e senhores senadores.

Faz quase um ano que morreu, em Paris, o militante e escritor espanhol Jorge Semprún. Ele foi um dos intelectuais e dirigentes políticos mais fascinantes do século passado e início deste. Lutou na Guerra Civil Espanhola, contra os fascistas; participou da Resistência Francesa, contra o nazismo; conheceu os horrores dos campos de concentração de Hitler, ao ficar preso em Buchenwald. E, por muitos anos, correndo o risco da prisão, tortura e morte foi o principal dirigente clandestino do Partido Comunista na Espanha ditatorial do generalíssimo Franco.

Quando já estava no fim da vida, perguntam a Semprún se arrependia de alguma coisa.

Ele mesmo formula a pergunta e responde:

“Arrependo-me e renego ter sido militante do comunismo estalinista? Não. Creio que naquele momento havia uma justificativa para tal”.

“Arrependo-me de não haver saído do Partido Comunistas em 1956, ano dos movimentos anti-estalinistas populares na Polônia e na Hungria? Não. Porque sou espanhol. Se fosse francês, teria sido o momento de romper. Mas na Espanha, quaisquer que fossem os crimes de Stalin, lutar com o Partido Comunista contra Franco valia a pena”.

Por fim, querem saber se a palavra-de-ordem “o bem é roubar o pão e reparti-lo bem”, usada pelos prisioneiros de Buchenwald ,continuava válida. Ele responde. “Não. Essa fórmula não a repetiria hoje. No entanto, o bem, desde sempre, é repartir. E é possível repartir melhor. O absurdo da situação é que se pode repartir melhor”. E não se faz.

Essas reflexões finais de Jorge Semprún deveriam dar o que pensar a todos os que se dizem de esquerda em nosso país, especialmente ao partido que, com frequência, reivindica, se não o monopólio, pelos menos a co-autoria da posição.

Sou um homem de esquerda. A vida toda fui um homem de esquerda. Politicamente, nasci na esquerda. E se fosse o caso de alguma confissão, também diria que não me arrependo de, por cinco vezes, ter votado no candidato do Partido dos Trabalhadores à Presidência da República. Votado e feito campanha, porque em cada uma daquelas eleições era o que havia a fazer.

Em que pesem os Paloccis, os Meirelles, a política econômica conservadora, o caixa dois, também carinhosamente chamado de “mensalão”, não me arrependo.

Era o que havia a fazer naquele momento. Mesmo que divergisse, era o que havia a fazer.

Hoje, é outra coisa que devo fazer. Agora, devo cobrar, duvidar, criticar, desconfiar. E, com frequência, votar contra.

O meu respeito à presidenta Dilma está acima de qualquer dúvida. E é por isso mesmo que tenho questionado o PT. Abertamente e, às vezes, desabridamente. Houve um tempo em que, para não dar argumento à direita, evitei criticar o PT. Aquela história de não dar armas ao dito “inimigo de classe”.

Leandro Konder, no seu livro sobre Walter Benjamin, falando sobre o processo de descaracterização dos partidos de esquerda, nas primeiras décadas do século 20, capturados pelo reformismo, pelo economicismo e pelo pragmatismo, observa: “Quando a esquerda evita falar sobre os seus próprios erros e se recusa a discuti-los à luz do dia, ela não está, afinal, se protegendo da direita: está protegendo o conservadorismo que conseguiu se infiltrar no interior dela mesmo”.

Alguém tem dúvida de que a citação ajusta-se com perfeição à esquerda brasileira hoje, especialmente à esquerda acantonada no Partido dos Trabalhadores? Ou no PCdoB? Ou mesmo em meu partido, essa frente heterogênea chamada PMDB?

Não há dúvida – e alguns acham isso uma virtude — que a esquerda brasileira foi abduzida também pelo economicismo, pelo pragmatismo, pelo determinismo. Não digo pelo reformismo porque ela é, há muito tempo, essencialmente reformista, tendo abandonado qualquer veleidade revolucionária.

Aqui cabe muito bem outra referência ao livro de Leandro Konder. Falando sobre a transformação que sofreram os socialistas no início do século passado, ele diz que a esquerda européia era cada vez mais levada “a pensar em termos empíricos ou pragmáticos, abandonando a dimensão filosófica – inquietante e radical — da reflexão de Marx”.

Novamente o nosso retrato em branco e preto. Empíricos e pragmáticos, cortamos laços com a idéia de transformação da sociedade brasileira que, em um dia tão distante, cultivamos.

Quando falo, citando o escritor, em dimensão filosófica inquietante e radical, não estou propondo a ninguém pegar em armas. Quando falo em revolução, não estou concitando ninguém ao levante. A direita, pródiga em mistificações, buscou sempre associar revolução à luta armada, à violência, mediocrizando, circunstanciando a idéia de transformação, de mudança da sociedade.

Foram-se os tempos dos grandes debates, do terçar de idéias, da esgrima filosófica. A Grande Política vê-se confinada aos livros, presa às letras ou arquivada na alma e na memória de algumas pessoas.

A Grande Política foi escorraçada do Parlamento, corrida dos sindicatos, anatematizada pela mídia, apequenada pela academia, distanciada pela juventude. E parece sobreviver quase que apenas nos debates na internet.

Estamos vivendo aqueles tempos tediosos de que falava Marx, tempos em que dias parecem condicionar séculos, arrastando-se monotonamente, mediocremente.

Nada de notável acontece. Tempos em que, para alguns, cessam todas as dúvidas porque a história acabou, porque a luta de classes acabou, porque todas as contradições acomodaram-se com o triunfo final do capitalismo. Tempos, para outros, de angústia, de pessimismo, desanimadores.

Tomás de Aquino, na alta Idade Média, olha para o mundo e lhe parece que tudo está resolvido. As heresias, sufocadas, as ilusões de um cristianismo popular, desfeitas, igreja e estado cabeças duplicadas em um mesmo corpo. E o doutor da Igreja não resiste em proclamar que a humanidade — a que se acantonava na Europa Ocidental diga-se – chegara aos seus dias de glória, de máximo fulgor e progresso. Daí às excelsitudes celestiais, um Padre Nosso e uma Ave Maria.

Essa tentação de decretar o fim da história, de considerar esgotada a capacidade do homem de criar e avançar é recorrente. Tentações à esquerda e à direita.

A que não resistiram os sucessores de Stalin, ao proclamarem a União Soviética como o Estado de todo o povo e o Partido Comunista, como partido de todo o povo, imaginando vencidas as contradições de classe, em conseqüência, a luta de classes, naquele imenso naco do planeta.

Terrível engano, com trágicas conseqüências, como se viu. Como se vive.

Mutatis mutantis, do outro lado do muro desmoronado, Reagan e Thatcher, orquestrando patéticos presidentes latino-americanos e caricatos dirigentes do leste europeu cultivaram a mesma ilusão e festejaram o triunfo final e perpétuo do capitalismo.

Foram poucos, são muito poucos os que não aceitam o fim das contradições de classe. Que não aceitam o fim das ideologias. Que não aceitam essa simplicidade rasa, fronteiriça que decreta a morte do conceito de esquerda e direita.

Um parêntesis. Dias desses, um notório torturador, assassino de não sei quantos militantes à época da ditadura militar, disse que se opunha à Comissão da Verdade, porque cessara a luta entre esquerda e direita, que a Guerra Fria fora-se, que o país vive uma democracia e somos todos democratas, indistintamente.

Já perto da morte, tomado pelo câncer, François Mitterrand, depois de 14 anos na presidência da França e duas coabitações com primeiros ministros conservadores, e sob pressão cada vez mais intensa do avanço neoliberal, adverte a esquerda e tenta desiludi-la quanto aos compromissos democráticos da direita. Dizia ele que a direita sempre considerou o poder propriedade sua, um direito natural e que a eventual ascensão da esquerda era uma usurpação desse direito. Logo, se a esquerda, ocasionalmente, ascender ao poder, a direita vai exigir dela que cumpra o seu programa, o programa da direita, porque só ele tem legitimidade.

Fiz essa longa digressão, para confessar o meu desencanto com a política brasileira, com os dias que correm. Com a geléia geral em que se transformou o Senado, com a atuação do PT, do PCdoB, do PSB e do PDT. Partidos, em hipótese, de esquerda, que deram uma clara demonstração de renúncia a princípios que, em hipótese, supostamente, não decorreram três dias.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Maria Inês Nassif: O caso Demóstenes e as raposas no galinheiro

Maria Inês Nassif, em Carta Maior


O rumoroso caso Demóstenes Torres (DEM-GO) não é apenas mais um caso de corrupção denunciado pelo Ministério Público. É uma chance única de reavaliar o que foi a política brasileira na última década, e de como ela – venal, hipócrita e manipuladora – foi viabilizada por um estilo de cobertura política irresponsável, manipuladora e, em alguns casos, venal. E hipócrita também.

Teoricamente, todos os jornais e jornalistas sabiam quem foram os arautos da moralidade por eles eleitos nos últimos anos: representantes da política tradicional, que fizeram suas carreiras políticas à base de dominação da política local, que ocuparam cargos de governos passados sem nenhuma honra, que construíram seus impérios políticos e suas riquezas pessoais com favores de Estado, que estabeleceram relações profícuas e férteis com setores do empresariado com interesses diretos em assuntos de governo.

Foram políticos com esse perfil os escolhidos pelos meios de comunicação para vigiar a lisura de governos. Botaram raposas no galinheiro.

Nesse período, algumas denúncias eram verdadeiras, outras, não. Mas os mecanismos de produção de sensos comuns foram acionados independentemente da realidade dos fatos. Demóstenes Torres, o amigo íntimo do bicheiro, tornou-se autoridade máxima em assuntos éticos. Produziu os escândalos que quis, divulgou-os com estardalhaço. Sem ir muito longe, basta lembrar a “denúncia” de grampo supostamente feita pelo Poder Executivo no gabinete do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, então presidente da mais alta Corte do país. Era inverossímil: jamais alguém ouviu a escuta supostamente feita de uma conversa telefônica entre Demóstenes, o amigo do bicheiro, e Mendes, o amigo de Demóstenes.

Os meios de comunicação receberam a suposta transcrição de um grampo, onde Demóstenes elogia o amigo Mendes, e Mendes elogia o amigo Demóstenes, e ambos se auto-elegem os guardiões da moralidade contra um governo ditatorial e corrupto. Contando a história depois de tanto tempo, e depois de tantos escândalos Demóstenes correndo por baixo da ponte, parece piada. Mas os meios de comunicação engoliram a estória sem precisar de água. O show midiático produzido em torno do episódio transformou uma ridícula encenação em verdade.

A estratégia do show midiático é conhecida desde os primórdios da imprensa. Joga-se uma notícia de forma sensacionalista (já dizia isso Antonio Gramsci, no início do século passado, atribuindo essa prática a uma “ imprensa marrom”), que é alimentada durante o período seguinte com novos pequenos fatos que não dizem nada, mas tornam-se um show à parte; são escolhidos personagens e conferido a ele credibilidade de oráculos, e cada frase de um deles é apresentada como prova da venalidade alheia. No final de uma explosão de pânico como essa, o consumo de uma tapioca torna-se crime contra o Estado, e é colocado no mesmo nível do que uma licitação fraudulenta. A mentira torna-se verdade pela repetição. E a verdade é o segredo que Demóstenes – aquele que decide, com seus amigos, quem vai ser o alvo da vez – não revela.

Convenha-se que, nos últimos anos, no mínimo ficou confusa a medida de gravidade dos fatos; no outro limite, tornou-se duvidosa a veracidade das denúncias. A participação da mídia na construção e destruição de reputações foi imensa. Demóstenes não seria Demóstenes se não tivesse tanto espaço para divulgação de suas armações. Os jornais, tevês e revistas não teriam construído um Demóstenes se não tivessem caído em todas as armadilhas construídas por ele para destruir inimigos, favorecer amigos ou chantagear governos. Os interesses econômicos e ideológicos da mídia construíram relações de cumplicidade onde a última coisa que contou foi a verdade.

Ao final dos fatos, constata-se que, ao longo de um mandato de oito anos, mais um ano do segundo mandato, uma sólida relação entre Demóstenes e a mídia que, com ou sem consciência dos profissionais de imprensa, conseguiu curvar um país inteiro aos interesses de uma quadrilha sediada em Goiás.

Interesses da máfia dos jogos transitaram por esse esquema de poder. E os interesses abarcavam os mais variados negócios que se possa fazer com governos, parlamentos e Justiça: aprovação de leis, regras de licitação, empregos públicos, acompanhamento de ações no Judiciário. Por conta de um interesse político da grande mídia, o Brasil tornou-se refém de Demóstenes, do bicheiro e dos amigos de ambos no poder.

Não foi a mídia que desmascarou Demóstenes: a investigação sobre ele acontece há um bom tempo no âmbito da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. Nesse meio tempo, os meios de comunicação foram reféns de um desconhecido personagem de Goiás, que se tornou em pouco tempo o porta-voz da moralidade. A criatura depõe contra seus criadores.

domingo, 1 de abril de 2012

Luis Nassif: Esqueçam Policarpo, o chefe é Roberto Civita

por Luis Nassif, no seu blog



Veja se antecipou aos críticos e divulgou um dos grampos da Polícia Federal em que o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o araponga Jairo falam sobre Policarpo. Pinça uma frase – “o Policarpo nunca vai ser nosso” – para mostrar a suposta isenção do diretor da Veja em relação ao grupo.

É uma obviedade que em nada refresca a situação da Veja. Policarpo realmente não era de Carlinhos Cachoeira. Ele respondia ao comando de Roberto Civita. E, nessa condição, estabeleceu o elo de uma associação criminosa entre Cachoeira e a Veja.

Não haverá como fugir da imputação de associação criminosa. E nem se tente crucificar Policarpo ou o araponga Jairo ou esse tal de Dadá. O pacto se dá entre chefias – no caso, Roberto Civita, pela Abril, Cachoeira, por seu grupo.

Como diz Cachoeira, “quando eu falo pra você é porque tem que trabalhar em grupo. Tudo o que for, se ele pedir alguma informação, você tem que passar pra mim as informações, uai”.

O diálogo abaixo mostra apenas arrufos entre subordinados – Jairo e Policarpo.

Os seguintes elementos comprovam a associação criminosa:

1. Havia um modus operandi claro. Cachoeira elegeu Demóstenes. Veja o alçou à condição de grande líder politico. E Demóstenes se valeu dessa condição – proporcionada pela revista – para atuar em favor dos dois grupos.

2. Para Cachoeira fazia trabalho de lobby, conforme amplamente demonstrado pelas gravações até agora divulgadas.

3.Para a Veja fazia o trabalho de avalizar as denúncias levantadas por Cachoeira.

Havia um ganho objetivo para todos os lados:

1. Cachoeira conseguia afastar adversários, blindar-se contra denúncias e intimidar o setor público, graças ao poder de que dispunha de escandalizar qualquer fato através da Veja.

2. A revista ganhava tiragem, impunha temor e montava jogadas políticas. O ritmo frenético de denúncias – falsas, semi-falsas ou verdadeiras – conferiu-lhe a liderança do modelo de cartelização da mídia nos últimos anos. Esse poder traz ganhos diretos e indiretos. Intimida todos, anunciantes, intimida órgãos do governo com os quais trabalha.

2. O maior exemplo do uso criminoso desse poder está na Satiagraha, nos ataques e dossiês produzidos pela revista para atacar Ministro do STJ que votou contra Daniel Dantas e jornalistas que ousaram denunciar suas manobras.

Em “O caso de Veja”, no capítulo “O repórter e o araponga” narro detalhadamente – com base em documentos oficiais – como a cumplicidade entre as duas organizações permitiu a Cachoeira expulsar um esquema rival dos Correios e se apossar da estrutura de corrupção, até ser desmantelado pela Polícia Federal. E mostra como a Veja o poupou, quando a PF explodiu com o esquema.

Civita nem poderá alegar desconhecimento desse ganho de Cachoeira porque a série me rende cinco ações judiciais por parte da Abril – sinal de que leu a série detalhamente.

Os próprios diálogos divulgados agora pela Veja mostram como se dava o acordo:

Cachoeira: Esse cara aí não vai fazer favor pra você nunca isoladamente, sabe? A gente tem que trabalhar com ele em grupo. Porque os grande furos do Policarpo fomos nós que demos, rapaz. Todos eles fomos nós que demos. Então é o seguinte: se não tiver um líder e a gente trabalhar em conjunto… Ele pediu uma coisa? Você pega uma fita dessa aí e ao invés de entregar pra ele fala: “Tá aqui, ó, ele tá pedindo, como é que a gente faz?”. Entendeu?

Desde 2008 – quando escrevi o capítulo – sabia-se dessa trama criminosa entre a revista e o bicheiro. Ao defender Policarpo, a revista, no fundo, está transformando-o em boi de piranha: o avalista do acordo não é ele, é Roberto Civita.

Em Londres, a justiça processou o jornal de Rupert Murdoch por associação indevida com fontes policiais para a obtenção de matérias sensacionalistas. Aqui, Civita se associou ao crime organizado.

Se a Justiça e o Ministério Público não tiverem coragem de ir a fundo nessa investigação, sugiro que tranquem o Brasil e entreguem a chave a Civita e a Cachoeira.

Da Veja

Cachoeira, em gravação: ‘O Policarpo nunca vai ser nosso’

Conversa telefônica mostra Cachoeira reclamando a ex-agente da Abin Jairo Martins porque ele havia passado informações ao jornalista, um dos redatores-chefes de VEJA e diretor da sucursal da revista em Brasília

Poleto desmascarado em 2005: ele mentiu sobre Policarpo e quase saiu preso do Senado

Convocado em 2005 por uma comissão do Senado a explicar sua participação no transporte de mais de 1 milhão de dólares ilegais usados na campanha petista de 2002, o economista Vladimir Poleto disse que fora violentamente constrangido pelo jornalista Policarpo Junior, que teria obtido a declaração gravando-o sem seu consentimento. O sistema de som do plenário, então, reproduziu a íntegra da entrevista. A conversa entre Policarpo e Poleto foi transmitida pela TV Senado para todo o Brasil. Diante da gravidade das denúncias feitas pelo economista, Policarpo pediu autorização para gravar a entrevista, registrando a hora, o local e o contexto em que ela estava ocorrendo. Poleto respondeu em voz clara: “Pode gravar”. Os senadores em plenário caí­ram na gargalhada. Desmascarado, Poleto tentou desajeitadamente se explicar, mas foi interrompido pelo então senador Tasso Jereissati: “É melhor se calar, senhor Poleto, pois o correto seria o senhor sair preso daqui por ter mentido sob juramento”.

Assim, com total transparência de propósitos, trabalha o jornalista Policarpo Junior, um dos redadores-chefes de VEJA e diretor da sucursal da revista em Brasília. Seu nome é citado algumas vezes nas gravações legais de conversas telefônicas entre Carlinhos Cachoeira e o ex-agente da Abin Jairo Martins, apontado pela Polícia Federal como um dos vários agentes públicos pagos pelo contraventor para fechar casas de jogos que não integravam sua “franquia” da jogatina. VEJA teve acesso ao diálogo, captado em 8 de julho do ano passado. Cachoeira – que foi fonte de informações de Policarpo e de muitos outros jornalistas – reclama com o policial porque soube que ele havia passado informações ao diretor da sucursal de VEJA em Brasília. A íntegra em texto e áudio da conversa interceptada se encontram a seguir:

Cachoeira: Fala, Jairo.

Jairo: Fala, doutor, tranquilo? Deixa eu te falar: o Dadá ontem me ligou, pô, me falando uma história aí que você ficou puto comigo, me xingou e o casseta, disse que eu tô trabalhando contra você e tal… Eu falei: pô, cara, de novo o homem lá fala um negócio desse, cara? Eu falei: porra, cara, se eu fiz um favor pro cara lá é justamente pra ficar próximo dele, pra saber o que ele anda me falando. Por quê? Eu pessoalmente uso da minha atividade, eu não preciso dele… Nem… E ele pra mim não influencia em nada, entendeu? Mas se ele me pediu um favor e eu fiz é pra ficar próximo dele e ouvir o que ele anda me falando, entendeu? Como me falou ontem à noite umas coisas. Como me falou anteriormente que eu contei pro Dadá, entendeu? Eu falei: porra, não tô entendendo o homem, não.

Cachoeira: Não, Jairo, foi isso não. Deixa eu falar pra você. Se Dadá estiver aí pode pôr até no viva-voz. Olha, é o seguinte: a gente tem que trabalhar em grupo e tem que ter um líder, sabe? O Policarpo, você conhece muito bem ele. Ele não faz favor pra ninguém e muito menos pra você. Não se iluda, não. E fui eu que te apresentei ele, apresentei pro Dadá também. Então é o seguinte: por exemplo, agora eu dei todas as informações que ele precisava nesse caso aí. Por que? É uma troca. Com ele tem q ser uma troca. Não pode dar as coisas pra ele, igual você sai correndo pra fazer um favor pra ele, pega e dá de graça, enquanto isso ele mete o pau no Dadá pra mim, e deve meter o pau no Dadá pra você também. Então você não deve aceitar ele falar mal do Dadá porque você não trabalha pra ele. E eu também não trabalho pro Policarpo. Eu já ajudei ele demais da conta. Entendeu? Demais da conta! Então, quando eu falo pra você é porque tem que trabalhar em grupo. Tudo o que for, se ele pedir alguma informação, você tem que passar pra mim as informações, uai.

Jairo: Não, beleza. Eu te peço até desculpa disso ai. Mas eu não tô sabendo que você tá. Ultimamente eu não tô sabendo quando você vem aqui, às vezes a gente não se fala. Muito difícil a gente se falar, e eu não ter ido aí, às vezes quem vai é o Dadá. Então de repente eu não tô sabendo que você tá trocando alguma informação com ele. E também não admito ele falar mal do Dadá pra mim. Não admito, corto logo, falo: “O cara é meu amigo, é meu parceiro”. Entendeu? Esses dias ele veio falar uma historia que tava rolando aqui na cidade, de um negócio aí, entendeu, de um dinheiro, de uma gravação. Eu chamei o Dadá, falei: Dadá, liga pra ele, fala porque tem uma história assim, assim, eu já falei pra ele. Isso não existe, não é ele, não sou eu, isso não é a empresa, entendeu? Aí o Dadá ligou pra ele, tal, tal tal. Mas, então, cara, eu te peço desculpas. E não é trabalhar nunca contra você. Pelo contrário, pô. Eu não sou louco, né, Carlinhos!? Eu não posso ser burro.

Cachoeira: Jairo, põe um trem na sua cabeça. Esse cara aí não vai fazer favor pra você nunca isoladamente, sabe? A gente tem que trabalhar com ele em grupo. Porque os grande furos do Policarpo fomos nós que demos, rapaz. Todos eles fomos nós que demos. Então é o seguinte: se não tiver um líder e a gente trabalhar em conjunto… Ele pediu uma coisa? Você pega uma fita dessa aí e ao invés de entregar pra ele fala: “Tá aqui, ó, ele tá pedindo, como é que a gente faz?”. Entendeu? Até pra fortalecer o Dadá. Por que Dadá… Ele tá puto. E ele vai pegar o Dadá na revista ainda, você pode ter certeza. Ele vai pegar o Dadá na revista. Ele não gosta do Dadá. Falou ontem pro Cláudio. Porra, tá arrumando tudo pra ele… Eu fiquei puto porque ontem ele xingou o Dadá tudo pro Cláudio, entendeu? E você dando fita pra ele, entendeu? Então, o seguinte: você não fala mais do Dadá, porque a gente trabalha em conjunto. Entendeu? Então chega. [Diz a ele:] Então qualquer coisa agora você conversa com o Carlinhos. Fala assim, porra.

Jairo: Não, beleza, porra. Agora eu tô orientado dessa maneira. Eu não to sabendo q vocês tão tratando de outro assunto com ele, entendeu? Até ele me falou realmente que falou com o Cláudio uma época aí. Ele me falou: “Ah, falei com o Cláudio, o cara parece que é gente boa”. Eu falei: “Não, o cara é gente boa, tal, tal, tal, é um cara sério. Mas outras coisas eu não tô sabendo. Não tá chegando até a mim. Por exemplo, não tão falando comigo. Aí eu te digo o seguinte: eu te peço desculpa porque realmente eu errei, porque ele quando me pediu esse favor eu poderia realmente ter falado contigo, mas tem tanto tempo que a gente não senta e não conversa que pra mim você não tava nem falando com ele. Eu não tô sabendo dessa articulação.

Cachoeira: Olha, Jairo. É porque, assim mesmo, você tem que chegar perto de mim qualquer pedido dele. Cara, ele não vai fazer nada isolado. E outra coisa: com ele, daqui pra frente tem que ser na base da troca. Porque dessa forma tá te fortalecendo, fortalecendo o Dadá, fortalecendo eu, o Cláudio. Entendeu? Porque com ele, você sabe, ele não vai fazer nada procê. Ainda mais meter o pau no Dadá? Ah, vai pra puta que pariu, uai.

Jairo: Pô, eu não tava sabendo, cara. Eu não tava sabendo. Mesmo. Eu peço desculpa pra você, pro Cláudio. Não admito. Sempre quando ele vem falar do dadá eu não admito.. nunca admiti dele falar de Dadá ou de você. Nunca admiti. Não admito. Quando ele veio falar do Claudio eu só rasguei de elogio. Então aí realmente eu te peço desculpa, realmente eu errei. Eui deveria ter dfalado contigo realmente. Mas passei assim batido, sabe? Quando ele me chegou me abordou, me pediu, porra você travbalha aqui na ´parea você me conhece. conheço, tal. Não eu falei com eles, tal. Então tem como você ver isso pra mim? Eu falei: tem. Aí eu peguei esse negócio tão rápido. Ainda comentei com Dadá: pô o cara me peiu um negócio assim, assim, eu vou ajudar esse filho da puta porque tem q ficar perto dele, pra saber algumas coisas que ele anda me falando ai sobre o que interessa à gente. Mas passei assim batido, entendeu?

Cachoeira: Pois é. Mas ele não vai soltar nunca nada pra você, o Jairo. Eu conheço o Policarpo, você conhece também. O Policarpo é o seguinte, ele pensa que todo mundo é malandro. E o seguinte, ele pensa que você e o Dadá trabalham pra ele, rapaz. Você sabe disso. Eu já cansei de falar isso pro Policarpo: ‘Policarpo, põe um negócio na sua cabeça, o Jairo e o Dadá não trabalham pra você. A gente trabalha no grupo. Então se tiver algum problema, você tem que falar comigo´. Já discuti com ele, você sabe disso, já presenciou eu falando com ele. Ele pensa que o Dadá, devido àqueles problemas que o Dadá teve, tinha de passar por ele sempre. Vai tomar no rabo. Nunca fez nada pra gente, rapaz. Que que esse cara já fez?

Jairo: É, não, isso é verdade aí. Aí eu te peço desculpa cara, mas nunca foi negócio de trabalhar contra vocês, trabalhar contra o grupo, estar passando a perna em vocês e admitir que ele fale mal do Dadá. Isso aí nunca, nunca. Falo na frente dele. Nunca. Sempre falei, ´O, lá é meu parceiro, tal´ Os caras, sempre… Em lugar nenhum eu menti que sou amigo do Dadá, em lugar nenhum eu menti que sou teu amigo, entendeu? Não é falando não, mas porra hoje eu tenho até restrição na minha ficha devido a reportagem de Globo lá, que consta na minha ficha que eu disse que sou seu amigo. E quem me pergunta, eu falo. Então às vezes a gente erra aí, mas não é errando querendo sacanear não, é errando às vezes sendo burro realmente como você falou. Sendo burro.

Cachoeira: Não. Tá tudo tranquilo. Agora, vamos trabalhar em conjunto porque só entre nós, esse estouro aí que aconteceu foi a gente. Foi a gente. Quer dizer: mais um. O Jairo, conta quantos foram. Limpando esse Brasil, rapaz, fazendo um bem do caralho pro Brasil, essa corrupção aí. Quantos já foram, rapaz. E tudo via Policarpo. Agora, o cara vai pensar que o Dadá trabalha para ele? Porque o Dadá não fez o que ele queria ele tem o direito de ficar chateado com o Dadá, rapaz? Um dia ele chegou perto de mim e falou assim: ‘Não, o Jairo eu gosto, mas aquele rapaz eu não gosto dele não. Aquilo é um malandro’. Vai tomar no cu. Ninguém trabalha para ele não, rapaz.

Jairo: E nós não estamos aqui para ele gostar da gente ou desgostar. A gente tem uns objetivos que às vezes infelizmente tem que passar por ele. Mas não tem nada de ele gostar ou deixar de gostar. Mas realmente eu nunca admiti que ele falasse mal do Dadá na minha frente não, nunca aceitei. E eu não tava sabendo dessa situação toda que você me colocou agora, entendeu, de ele ter metido o pau no Dadá pro Claudio. Aí é sacanagem dele, entendeu? Aí mais uma vez eu peço desculpa aí, Carlinhos. Desculpa mesmo. Jamais eu tive a intenção de sacanear nada, de sacanear ninguém. Pelo contrário, entendeu?

Cláudio: Não, porque se fosse com você, ô Jairo, eu tomaria as mesmas dores. Agora, não é bom você falar isso com o Policarpo não, sabe. É só afastar dele, sabe? Você tem que afastar dele e a barriga dele doer, sabe? É isso que nós temos de fazer. Tem que ter a troca, ô Jairo. Nunca cobramos a troca.

Jairo: Isso é verdade. De antemão ele está atrás de uma outra situação aí que veio me perguntar. Ou eu afasto dele ou se eu conseguir, aí eu te passo aí, tá? Mas, de antemão eu vou me afastar.

Cachoeira: E fala pra ele, Jairo, na hora que ele falar com você: ´O Policarpo, não vou ajudar mais não, sabe por que? Eu fiquei chateado aí, o Dadá está chateado com você porque você anda falando mal dele. O problema é que eu não trabalho para você, cara, eu não fico indo atrás das coisas para trabalhar pra você. Eu ganho algum centavo seu, Policarpo? Não ganho. Então o seguinte, na hora que eu pedi alguma coisa pra você, você nunca pode fazer. Você nunca faz, você corre. Então você tem que pôr isso na sua cabeça. Quantas matérias nós já te demos, o grupo já te deu? Quantas? E você nunca fez nada em troca, cara.

Jairo: Não. Beleza, beleza. A partir de agora eu vou me afastar dele. Apesar de ele ter um negócio aí de um retorno aí já antes dessa situação que você tá me colocando. Mas se eu colocar a mão nesse negócio, aí eu vou te entregar aí e tu decide o que faz aí.

Cachoeira: Certamente, rapaz. Nós temos de ter jornalista na mão, ô Jairo. Nós temos que ter jornalista. O Policarpo nunca vai ser nosso. A gente vai estar sempre trabalhando para ele e ele nunca traz um negócio. Entendeu? Por exemplo, eu quero que ele faça uma reportagem de um cara que está matando a pau aqui, eu quero que eles façam uma reportagem da educação, sabe, um puta de um projeto de educação aqui. Pra você ver: ontem ele falou para mim que vai fazer a reportagem, mas acabando esse trem ai, ele pega e esquece de novo. Quer dizer, não tem o troco sabe.

Jairo: É, não tem não, não tem não. Ele não tem mesmo não. Ele é f…

Cachoeira: Não, não (Glória a Deus – ?) Então tá, um abraço, Jairo.

Jairo: Falou, meu irmão, Desculpa aí, tá?

FONTE:http://www.viomundo.com.br/denuncias/luis-nassif-esquecam-policarpo-o-chefe-e-roberto-civita.html