quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Brasil quer levar a ONU sua experiência de combate à fome

Por Nádia Pontes - Deutsche Welle - em Carta Maior




José Graziano da Silva pode ser o próximo diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. Na bagagem, experiência como ex-ministro de Segurança Alimentar e o combate à fome no Brasil. "O que aprendemos no governo Lula é que ninguém sai da miséria sozinho. É preciso um grande esforço de organização e de participação social. O Fome Zero não foi um programa de governo, mas de uma sociedade que tinha decidido acabar com a fome", diz Graziano em entrevista a Deutsche Welle.




A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, lidera as ações internacionais voltadas à erradicação da fome. José Graziano pode ser o primeiro brasileiro a assumir a direção da entidade. Indicado ao posto pelo ex-presidente Lula, Graziano ajudou a implementar o programa Fome Zero, que levou ao Bolsa Família.

Desde 2006, o brasileiro ocupa o cargo de subdiretor-geral da FAO e representante regional para a América Latina e Caribe. Antes da escolha oficial, que acontecerá em junho, José Graziano conversou com a Deutsche Welle sobre suas propostas e vivências na missão de acabar com a fome.

Deutsche Welle: O Brasil se tornou, nos últimos anos, uma referência no combate à fome e o senhor, no governo Lula, fez parte dessa transformação. Como essa experiência pode ser aplicada à frente da FAO?

José Graziano da Silva: A primeira coisa que a gente precisa ter em mente é que a fome tem muitas caras e a gente precisa descobrir a cara da fome em cada país, ou em cada região dentro do mesmo país. No Brasil, por exemplo, encontramos gente passando fome na Amazônia, à beira de rio, porque não conseguia pescar, e no Nordeste encontramos gente passando fome porque não tinha acesso à água.

Não há uma fórmula única, ao contrário de alguns organismos internacionais que querem acabar com a fome com uma única receita. O que eu gostaria é que a FAO chegasse mais perto dos países, descentralizasse mais suas atividades e tivesse uma proximidade maior com o que os países já fazem.

O sucesso do Fome Zero se explica porque ele não reinventou a roda. Não estamos falando de uma coisa que exige muita tecnologia, mas de acabar com a fome. Isso as nossas mães e avós sabiam fazer, mas depois, com a urbanização acelerada, perdemos muito dessas noções.

Estou falando de aproveitar melhor os produtos disponíveis, de fazer hortas escolares, de cisternas de captação de água da chuva, de apoiar a agricultura familiar – que é a grande produtora de alimentos. A segurança alimentar se conquista no lugar onde as pessoas vivem e moram. E esses são os conceitos básicos do Fome Zero.

O que aprendemos no governo Lula é que ninguém sai da miséria sozinho. É preciso um grande esforço de organização e de participação social. O Fome Zero não foi um programa de governo, mas de uma sociedade que tinha decidido acabar com a fome: ele juntou a sociedade civil, as organizações sociais, as igrejas, os clubes de futebol e o setor privado, que é muito importante.

Aprendemos também que a coordenação governamental é muito importante em seus diversos níveis. Fazer essa articulação entre os diferentes níveis de governo é parte do segredo.

O senhor está à frente da FAO na América Latina desde 2006. As causas da fome na região são as mesmas em outros lugares do mundo?

Não. Nós, na América Latina, estamos próximos de gerar vida em laboratório e não conseguimos erradicar ainda aquele que foi o primeiro desafio da humanidade, que foi comer, garantir a alimentação todos os dias.

O que nós encontramos na América Latina há cinco anos foram três razões fundamentais que causam a fome. A primeira é a falta completa de institucionalidade para o tema da segurança alimentar. Os governos estavam preparados para muitas coisas, para atuar em situações de emergência, mas não para enfrentar esse tema.

Um exemplo: como ministro, certa vez precisei comprar água para uma tribo indígena que tinha tido o poço envenenado. Descobri então que, para comprar água potável, era preciso fazer uma licitação pública, publicar em três jornais de circulação nacional, esperar 30 dias e apurar o resultado.

Obviamente que, a essas alturas, a água não seria mais necessária porque as pessoas lá já teriam morrido. E isso mudou, os governos têm mais poder para combater esse problema. Já são dez países com leis implantadas e outros dez estão discutindo a questão nos parlamentos.

O segundo ponto que identificamos, e que na crise de 2008 levou a um grande retrocesso, foi a falta de recursos. Os países da região, principalmente os mais pobres, têm uma debilidade fiscal muito grande. Precisamos de mais recursos para os temas sociais. Está provado que o Estado preciso gastar. E gastar em educação é um investimento social, gastar em erradicar a fome é um investimento altamente lucrativo.

Terceiro, mas não menos importante, é que os países haviam abandonado a agricultura. Como muitos países do mundo, as nações mais pobres preferiram importar os alimentos numa época de preços baixos. Quando o disco virou, os países descobriram que aquele grande supermercado cheio de produtos não existia na verdade. Que os países mais poderosos retinham os produtos e evitavam exportar naquele momento de crise. O lado bom foi que as nações mais pobres começaram a valorizar seus produtos tradicionais. O Peru, por exemplo, que havia deixado de comer o tradicional pão de batata para comer pão de trigo, voltou às raízes.

Erradicar a fome é uma questão de dinheiro, de recursos?

O Brasil gasta hoje, com o Fome Zero, 0,4% do seu Produto Interno Bruto. E isso permitiu tirar mais de 30 milhões de pessoas da pobreza extrema e garantir três refeições por dia em seis anos, praticamente.

Esses números atestam que é muito barato. Alimentação é algo muito barato se for comprada localmente. O que encarece muito os alimentos é o custo com o transporte e com o processamento agroindustrial, para manter a preservação do alimento por longos períodos.

E a alimentação adequada reduz muito o gasto com saúde e com educação porque as crianças têm um aprendizado melhor. Eu diria que o principal num programa de combate à fome é a decisão da sociedade, é o respaldo político.

E também é preciso manter a continuidade dos programas, que são de médio e longo prazo. Não podemos tratar a fome como algo emergencial, ela precisa de estrutura, é algo permanente, assim como a pobreza extrema.

E como fica a ação da FAO nesse panorama atual de alta do preço dos alimentos, das commodities. Fica ainda mais difícil combater a fome?

A FAO não é uma instituição financeira, não é um espaço de negociação. Nós somos uma instituição de conhecimento, fazemos estudos, recomendações de política, damos assistência técnica a países que demandam apoio na área de agricultura e alimentação.

Somos um clube de países, o maior das Nações Unidas, com 191 membros. Só dois países do mundo não participam da FAO: Brunei e Cingapura. Nós provemos informações, juntamos estatísticas de todos os países, comparamos e publicamos para ajudar a dar transparência ao mercado. Todo mundo sabe quais são os estoques, onde eles estão, quanto e onde os preços subiram.

Também fazemos estudos das tendências desses preços, e das razões. Nossas projeções mostram que até 2020 teremos preços altos e voláteis. Por três razões básicas: temos uma demanda crescente dos países em desenvolvimento, os pobres estão comendo mais.

Segunda razão: os estoques estão baixos. Costumávamos operar com estoque de 20% a 25%, nível considerado confortável. Hoje temos produtos muito importantes, como o milho, com estoques abaixo de 20%. E, toda vez que o estoque baixa, facilita a especulação. Os americanos estão reduzindo seus estoques em função da produção do etanol com milho, o que facilita a especulação e a alta do preço. O milho é como petróleo, entra em quase todo produto agrícola.

Temos uma terceira atividade que é muito importante nesse momento: a FAO dá assistência. Se um país quer saber o que tem que fazer para enfrentar a volatilidade dos preços, nós vamos lá e vemos o que tem que ser feito.

O que está muito claro para todo o mundo é que a alta dos preços não é um problema de um país, mas um problema global. Vai do Haiti ao Egito. Vimos o que aconteceu: por trás dessas revoltas está um descontentamento com a carestia, sabemos que esse é um fator importante para as explosões sociais. Não é só a falta de democracia, mas a falta de comida, falta de acesso aos alimentos.

A segurança alimentar virou um tema tão importante quanto o combate ao terrorismo, a segurança da soberania nacional, parte das preocupações centrais dos governos.

2015 já está aí e a erradicação da fome é uma questão principal dentro das Metas do Milênio das Nações Unidas. O quão próximos, ou distantes, estamos dessa meta?

Muito próximos no tempo e muito distantes nos objetivos. E o meu mandato, se for eleito, vai terminar justamente em 2015. Já sabemos que muitos países, principalmente os mais pobres, não conseguirão cumprir a meta. O primeiro ponto da minha plataforma é que a FAO se envolva com esses países que estão atrasados no cronograma para ajudá-los a montar um plano não apenas para reduzir a fome pela metade.

Estamos perfeitamente conscientes de que essa proposta de erradicar a fome também é uma questão política. Acabar com a fome não é questão técnica, mas de participação. Tem que envolver quem sabe onde estão os pobres. É muito difícil achar os pobres, eles às vezes são invisíveis, não têm documentos.
A maioria dos países acha que combater a fome é uma coisa intuitiva, de distribuir dinheiro e alimentos. Mas não é.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

A reforma política e o golpe do voto distrital no Brasil

Por Ricardo Berzoini é deputado federal pelo PT-SP e ex-presidente nacional do PT e
Athos Pereira é assessor político da Liderança do PT na Câmara

Sempre que necessário a direita brasileira recorre a seus alfarrábios coloniais para vender seu peixe. Neste momento em que se começa a debater uma reforma política para aperfeiçoar nossa democracia, os conservadores recorrem a uma mistificação em torno das supostas virtudes do voto distrital e tenta nos vender o sistema eleitoral falido da Inglaterra – na expressão utilizada pelo Primeiro Ministro Gordon Brown, em 10 de maio de 2010 -; como a última panacéia democrática.


Um dos princípios básicos da democracia consiste em garantir que a cada eleitor corresponda um voto. Para as eleições legislativas o sistema que pode garantir o princípio a cada eleitor um voto é o sistema proporcional e este sistema é quem também pode garantir a pluralidade que se espera de qualquer legislativo que se respeite.

O sistema de voto majoritário é próprio para a escolha democrática de dirigentes do executivo (prefeitos, governadores e presidentes) e pode, sem prejuízo para a democracia, dispor de um segundo turno para dar maior legitimidade ao governante escolhido pelo povo, como ocorre no Brasil.

Mas todos sabem que não há nenhuma obra humana que não seja passível de adulteração. Aqui no Brasil, o voto proporcional que é um sistema virtuoso e garante pluralidade tem sofrido deformações que prejudicam seu bom funcionamento. A Emenda Constitucional nº 8, parte do Pacote de abril de 1977, iniciou uma grave distorção. A ditadura tentava evitar uma derrota anunciada para 1978. O parágrafo 2º do Artigo 39 daquela emenda estabelecia um piso mínimo de deputados por Estado: seis. E o teto de 55. O § 3º do mesmo Artigo 39 estabelecia que cada Território, com exceção de Fernando de Noronha, elegeria dois deputados.

Os constituintes de 1988 radicalizaram o processo de deformação do sistema proporcional, estabeleceram um piso de oito deputados por unidade da federação (Artigo 45, § 1º da atual Constituição). O argumento de que esta deformação decorre da necessidade da manutenção do equilíbrio federativa não procede. O equilíbrio federativo é dado pelo Senado, onde cada Estado está igualitariamente representado por três senadores. A ditadura e a constituinte causaram danos ao nosso sistema proporcional. Uma reforma política democrática requer uma revisão rigorosa do dispositivo constitucional acima citado.

Antes de falar do sistema majoritário aplicado a eleições legislativas, que é uma orgia perpétua muito comum no mundo anglo-saxônico, é bom lembrar os percalços do funcionamento da votação majoritária americana para a eleição do presidente da República.

Lá, o voto popular tem um filtro. Antes de ir diretamente para o candidato escolhido pelo eleitor, ele vai servir para eleger uma delegação a um colégio eleitoral que realmente elegerá o Presidente. Para um desavisado, pareceria óbvio que cada candidato a presidente teria um número de delegados proporcional ao número de votos populares que obteve. Quem teve 30% dos votos populares, levaria 30% dos delegados. Mas não é assim.

Estes resquícios de um federalismo obsoleto e de um paroquialismo distrital contaminam o sistema eleitoral americano e produzem deformações. Cito Jairo Nicolau (Sistemas Eleitorais): “Nos Estados Unidos, o presidente não é eleito diretamente, mas por um colégio eleitoral. Os delegados do Colégio Eleitoral são eleitos em cada estado por intermédio de um sistema de maioria simples na sua versão de voto em bloco partidário, ou seja, em cada estado, o candidato mais votado elege todos os representantes. O estado da Califórnia, por exemplo, tem 47 delegados no Colégio Eleitoral. O partido do candidato presidencial mais votado na Califórnia elege todos os delegados.

Essa é a razão da discrepância quando se compara o percentual de votos recebidos pelos candidatos nas eleições e no Colégio Eleitoral. No pleito de 1992, por exemplo, Bill Clinton obteve 43% dos votos nas eleições, mas recebeu o apoio de 69% dos membros do Colégio Eleitoral”.

Vale também mencionar as eleições presidenciais americanas de 2.000, quando Al Gore obteve mais votos populares do que George W. Bush, mas perdeu no Colégio Eleitoral numa disputa acirrada pelos votos da Florida decidida a favor de Bush por 500 votos e depois de muitas denúncias de fraude.

Esses dois exemplos mostram que a cultura distrital prejudica o bom funcionamento da democracia até nas eleições para cargos executivos. A aplicação deste sistema nas eleições legislativas tem se revelado ainda mais danosa.

A primeira vítima do sistema distrital é a pluralidade. O sistema distrital tende a privar de representação parlamentar as minorias, por mais expressivas que elas sejam; cria condições para que minorias sociais se transformem em maiorias parlamentares; tende a impor um bi-partidarismo que seguramente está longe de refletir a complexidade das sociedades modernas e elimina completamente a oportunidade de fazer com que a cada cidadão corresponda um voto, como deve ser nas democracias.

No sistema distrital, o voto é majoritário. Numa disputa entre dois candidatos de um determinado distrito, o candidato que conquistar um voto a mais que o adversário leva tudo. Aquele candidato que obtiver um voto a menos perde tudo. O voto majoritário, repita-se, é democrático para a escolha de candidatos a cargos executivos, prefeito, governador, presidente. Nestes casos, só existe uma vaga a ser preenchida, é normal que aquele que tenha conquistado um voto a mais seja declarado vencedor. Outra coisa é uma eleição para o legislativo, onde existem várias vagas. Aí o normal é que as cadeiras da assembléia sejam distribuídas proporcionalmente ao número de votos obtidos por cada partido.

Mas no sistema distrital não é assim. A votação de cada partido não expressa necessariamente o número de vagas que ele obterá no parlamento. Vejamos alguns exemplos. Tratando de eleições realizadas no Canadá em 1993, Jairo Nicolau (Sistemas Eleitorais – pg. 18) informa: “O Partido Conservador, que obteve 16,0% dos votos espalhados pelo território, elegeu apenas dois deputados, enquanto o Bloco de Quebec, com votação concentrada (13,5%), elegeu 54 deputados. O Partido da Nova Democracia, com apenas 6,9% dos votos, elegeu nove deputados”. Uma evidente deformação.

Discutindo as eleições de 1996 na Austrália, Jairo Nicolau (op. Citada. Pg. 26) registra: “Os Trabalhistas, que receberam 38,8% dos votos, ficaram com 33,1% das cadeiras, enquanto os Liberais, com 38,7% dos votos, obtiveram 51,3% da representação parlamentar.” É minoria social assumindo o papel de maioria parlamentar por artes de um sistema eleitoral caduco.

As últimas eleições realizadas no Reino Unido, 6 de maio de 2010, também produziram resultados extravagantes. O Partido Trabalhista obteve 29,0% dos votos e com esta votação conquistou 39,69% das cadeiras. Já o Partido Liberal Democrático obteve 23,1% dos votos para conquistar apenas 8,76%. É importante registrar que estes resultados incongruentes não são uma novidade.

Essa é uma situação que perdura desde as eleições de 1948, quando o voto distrital passou a ser o único sistema aplicado no Reino Unido.

O Partido Liberal Democrático foi prejudicado em todos os pleitos do pós-segunda guerra no Reino Unido. Ao longo deste período obteve em média 12,4% dos votos populares e apenas 1,9% das cadeiras do parlamento. Só agora, em 2010, quando ajudou os conservadores a formar um governo de coalizão, obteve a promessa de uma revisão do absurdo e obsoleto sistema eleitoral vigente na Grã-Bretanha. O primeiro ato desta reforma política vai acontecer em maio próximo quando a população vai ser consultada sobre a conveniência de uma reforma do sistema para introduzir nele elementos de proporcionalidade que podem finalmente introduzir a pluralidade no parlamento britânico.

Enquanto os britânicos em maio irão às urnas para conquistar a pluralidade, aqui precisamos estar atentos para defender e ampliar a nossa pluralidade das ameaças da parte da direita que tem dificuldade para conviver com a democracia e, por isso mesmo, está preparando o engodo do voto distrital ou de suas variações.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Para muitas reflexões: "revoltas que fortalecem o capitalismo".

Você pode até não concordar com este polêmico pensador esloveno Slavoj Žižek. Mas seu pensamento merece ser conhecido com muita atenção. Slavoj caminha na contramão de muitos analistas e revela uma conclusão de importante repercursão sobre as chamadas "revoltas contra o capitalismo". Confira:
Toda a revolta contra o capitalismo — protestos, movimentos ecológicos, fundamentalismo islâmico — pode ser apenas uma forma de reforçar o seu poder. A teoria é do polêmico e bem humorado Slavoj Žižek, pensador esloveno conhecido pelo mundo, tanto pelos seus 50 livros publicados, quanto pelas suas análises lacanianas dos filmes de Hollywood, de Alfred Hithcock e David Lynch.




Na entrevista, concedida ao repórter Jorge Pontual, no programa Milênio, da GloboNews, Žižek fala da transformação do Afeganistão em um país fundamentalista, sobre a expansão e diferenças do populismo na América Latina e também da reação das pessoas no mundo Ocidental à pressão para serem livres.

"O que a sociedade está lhe dizendo é o seguinte: ‘Seja você mesmo, seja você plenamente, realize o seu potencial’. Com toda essa pressão para sermos livres, sofremos mais de ansiedade e de impotência do que nunca”, analisa.

Leia a entrevista de Slavoj Žižek a Jorge Pontual:
Jorge Pontual — Protestos anticapitalistas, movimentos ecológicos, militantes pacifistas, fundamentalismo islâmico, redes de terroristas: à primeira vista, todos seriam inimigos do sistema dominante. Na verdade, apenas reforçam o poder do capitalismo avançado. Esta é uma das teses polêmicas do pensador Slavoj Žižek, o enfant terrible da filosofia, o rock star da psicanálise, o inimigo radical tanto da direita quanto da esquerda. Nascido na ex-Iugoslávia, no que é hoje a pequena Eslovênia, Žižek tomou de assalto o mundo acadêmico internacional com mais de 50 livros publicados em dezenas de países, entre eles o Brasil. Turnês mundo afora com palestras superlotadas e infindáveis vídeos e filmes sobre sua obsessão: o cinema. Aliando a erudição ao gosto por piadas escatológicas, Žižek é um marxista mais próximo de Groucho Marx do que de Karl Marx. Um comunista que segue Jesus e que prega o cristianismo sem Deus. No primeiro de dois Milênios profundos e também hilariantes, gravados no estúdio da Globo em Nova York, Žižek fala do terrorismo e dos impasses da esquerda populista e não deixa pedra sobre pedra.

Jorge Pontual — Olhando por esta janela dez anos atrás, era possível ver as torres gêmeas. Elas ficavam bem ali. Você escreveu muito sobre isso, certo? Vamos falar primeiro sobre isso: os atentados de 11 de setembro, suas consequências, para mostrar aos nossos espectadores como você trata um tema, as ideias preconcebidas, a ideologia escondendo a verdade nesses tipos de situação. Por exemplo, que o liberalismo americano e o fundamentalismo islâmico fazem parte do mesmo sistema, que não é possível entender um sem o outro.

Slavoj Žižek — Se retroalimentam.

Jorge Pontual — Um se alimenta do outro.

Slavoj Žižek — Isso é crucial para o modo como a ideologia funciona hoje. Como disse o grande filósofo Gilles Deleuze, nós não temos apenas respostas erradas para alguns problemas, mas temos também problemas errados. Problemas que talvez tenham relação com problemas reais, mas pela maneira como são formulados, eles são mistificados. Logicamente, o terrorismo é um problema real que enfrentamos. Mas ao formular o problema como uma luta entre a tolerância liberal e o fundamentalismo, você já mistificou o problema. Por quê? Porque eles são, como você disse — e eu concordo plenamente — eles são dois lados da mesma moeda. Não que não importe que eles sejam diferentes, mas é a ordem liberal mundial que, por uma necessidade intrínseca, gera o fundamentalismo. O maior exemplo, que eu sempre cito, é o Afeganistão. Infelizmente, tenho idade suficiente para lembrar o que era o Afeganistão há 35, 40 anos. Talvez fosse o país mais tolerante e menos fundamentalista. Era o país muçulmano menos fundamentalista do Oriente Médio.

Jorge Pontual — Tinham um partido comunista.

Slavoj Žižek — Um partido forte, local. Ao assumir o poder, surpreendeu até os soviéticos.

Jorge Pontual — As mulheres não usavam véu.

Slavoj Žižek — Eles tinham um rei que era uma espécie de reformista progressivo. Mas os comunistas eram tão fortes que achavam que podiam dar um golpe de Estado sozinhos. Quando a União Soviética interveio, os EUA fortaleceram seus próprios agentes para combatê-la, dentre eles, Osama Bin Laden e outros. Então, como resultado, o Afeganistão se tornou fundamentalista. Não se trata de um país que sempre foi fundamentalista. O Afeganistão se tornou fundamentalista porque ficou enredado na política mundial.

Jorge Pontual — Agora o fantoche americano, Hamid Karzai, está recebendo dinheiro do Irã, o “inimigo maligno”, e está dizendo: “O patriotismo tem um preço. Os EUA também me dão dinheiro”.

Slavoj Žižek — Isso é o mais triste desses países que os EUA querem “democratizar” sem o devido trabalho político. O resultado é uma mistura de fundamentalismo religioso e corrupção pura e simples. E você não sabe o que escolher. Eu estive recentemente — na verdade, há mais de um ano — em Ramallah e conversei com alguns intelectuais palestinos que me disseram que a maior tragédia para eles era que, nos últimos 20, 25 anos, a esquerda secular palestina havia praticamente desaparecido. Até mesmo certos rostos. Você se lembra, alguns anos atrás, ela era quase sempre o rosto da OLP na CNN, Hanna Ashrab. Ela ainda está lá, e eu sei... Essa é uma história maravilhosa. Um israelense me explicou que ela desapareceu num acordo estranho entre os dois lados. Os palestinos não queriam que ela... Os fundamentalistas diziam: “Que história é essa? Uma mulher que foi educada no Ocidente não pode nos representar”. Os sionistas de linha dura também não a queriam porque diziam que ela passava a imagem errada. As pessoas iam achar que os palestino eram normais. Eles preferiam os palestinos de Arafat, que balbuciavam num inglês mal articulado. E sobre o que você falou da cumplicidade dos dois lados... Vou contar algo que vai interessar aos espectadores. Uma história incrível que aconteceu com um bom amigo antissionista. Udi Aloni, um cineasta judeu. Alguns dias depois do atentado de 11 de setembro, ele pegou um táxi próximo a Union Square. E, chegando à Union Square, o taxista, um muçulmano fundamentalista, contou a ele a história de sempre: que o atentado tinha sido planejado pelos judeus, que nenhum judeu tinha morrido porque todos haviam sido informados e coisa e tal. O que ele fez em respeito aos seus irmãos judeus? Pediu que o homem parasse o táxi porque não falava com pessoas de visão tão estrita. Ele desceu e atravessou a Union Square, onde viu um grupo de judeus fundamentalistas pregando para as pessoas, e um deles gritava: “Agora temos uma prova de que Deus nos ama. Nenhum judeu morreu no atentado de 11/9!” Ele pensou: “É a mesma coisa!” O sotaque era diferente, a história era igual. O mesmo que aconteceu com o Afeganistão aconteceu com o Kansas aqui nos EUA. Essa é a tragédia americana. Seus telespectadores devem conhecer o livro maravilhoso... Não é uma grande teoria, mas uma boa descrição, de Thomas Frank. Ele diz que o Estado americano que, há 30 anos — e foi assim por mais de 100 anos — era o mais progressivo de todos, sempre foi, começando com John Brown, tinha o mais articulado movimento abolicionista, é agora o alicerce da linha mais dura.

Jorge Pontual — Não se ensina a evolução.

Slavoj Žižek — Pois é. Isso deveria nos fazer pensar.

Jorge Pontual — É o Afeganistão dos americanos. Mas isso é um fenômeno novo, certo? Não é tradição.

Slavoj Žižek — É, mas isso faz parte. E é aí que chegamos a uma tendência geral. Faz parte de uma tendência geral muito preocupante. Estou escrevendo um livro político em que tento desenvolver esse tema. Não posso falar do seu país ou da América Latina. Mais até na Europa do que na América Latina, é uma coisa que realmente me preocupa e me apavora. Deixe-me simplificar ao máximo. Até agora, na disputa política típica, o máximo que temos são dois grandes partidos: um de centro-esquerda, outro de centro-direita, com o mesmo poder, ambos agradam a toda a população. E há outros partidos menores. Agora uma coisa terrível está acontecendo. Cada vez mais, entre esses dois partidos, um deles desaparece, ou eles se unem. Eles deixam de ser dois partidos e nós ficamos com um partido principal. Vamos chamá-lo de “Partido do Puro Capitalismo Global”. Ele é pró-capitalismo, mas, ao mesmo tempo, defende a diversidade cultural, os homossexuais, o aborto. O único sério oponente, o que realmente inflama os ânimos, é o anti-imigrantista, nacionalista, fundamentalista etc. E não apenas em antigos países comunistas do sudeste europeu, como Hungria, Romênia e Albânia. Mesmo naqueles que eram para nós, na Europa, o mito de tolerância: a Suécia, a Noruega, a Holanda etc. Essa é a nossa tragédia. É muito preocupante. Porque a esquerda tragicamente aceitou essa, digamos, “despolitização”. De acordo com os acadêmicos de esquerda, todos os problemas agora são problemas culturais, de tolerância e assim por diante. Pense na Europa Ocidental: a única força política, não essas maoístas com membros em cinco países, mas a única força política relevante que ainda ousa se dirigir à classe trabalhadora são os anti-imigrantes de direita. Na França, Le Pen é a única entre os políticos. E isso me preocupa. Eu me lembro de um velho dito de Walter Benjamin: “Por trás de todo fascismo há uma revolução de esquerda fracassada”. Isso é literalmente verdade nos países árabes, por exemplo. Nós nos esquecemos completamente de como, até 20, 30 anos atrás, havia partidos comunistas muito fortes, seculares. Tudo isso desapareceu. E, por isso, eu digo aos meus amigos liberais: “Não quero mais terrorismo, mas vocês se dão conta de que apenas algum tipo de novas esquerda, não sei qual, poderia salvar suas próprias ideias liberais?” E algo novo, não a velha e conhecida esquerda comunista. E não há ambiguidade nisso. A experiência stalinista do século 20...

Jorge Pontual — Acabou.

Slavoj Žižek — Não apenas acabou, como talvez tenha sido a maior tragédia política, ética, talvez até econômica, da história da humanidade. De certa forma, foi muito pior que o fascismo. Por quê? No fascismo, você sabe. Fazendo uma análise simplista, os fascistas são os caras maus que diziam em seus programas: “Vamos fazer coisas ruins”. Aí, chegaram ao poder e fizeram as coisas ruins. Certo, e daí? Com os comunistas, foi uma verdadeira tragédia. O que quer que se diga sobre eles, no começo, havia um potencial emancipatório que se transformou em terror, de certa forma ainda mais terrível e mais difundido. Então, por que me refiro ao stalinismo de forma quase ambígua? Creio que se trata do maior enigma do século 20. Acho que até o mais liberal crítico de direita anticomunista naqueles grandes livros, como os de Montefiore. Eles não dão conta do recado. Nós ainda precisamos confrontar esse enigma. Mesmo os teóricos de esquerda importantes o evitam, como os da Escola de Frankfurt: Habermas e outros. Eles não descontaram todos os escritos contra o fascismo, e assim por diante. Eles ignoram totalmente o fenômeno do stalinismo. É algo que ainda temos que abordar.

Jorge Pontual — Uma coisa sobre a qual você fala brevemente no seu livro e que gostaria que elaborasse um pouco mais é o capitalismo populista da América Latina. O que é esse capitalismo populista de que você fala?

Slavoj Žižek — Eu não tenho uma teoria muito profunda. O que estou querendo dizer é que... Vou ser bem sucinto. Em primeiro lugar, quero enfatizar bem: talvez até seja uma coisa boa. Posso ser radical de esquerda, mas não sou um idiota completo. Não estou esperando a formação do novo partido leninista. Nós devemos ser realistas e aproveitar as oportunidades. Li um texto excelente de Goran Therborn, um sociólogo sueco. O texto é bem simples, mas é fantástico. Ele toma dois conjuntos de valores. Primeiro, ele calcula, de acordo com dados oficiais, o nível de igualitarismo dos países escandinavos. Apesar da crise e tudo o mais, eles ainda são extremamente igualitários. Eu fiquei chocado ao saber que, na Noruega, mesmo em empresas privadas, a variação entre o maior e o menor salário é de 1 para 4, talvez de 1 para 5. Agora, o contra-argumento neoliberal de costume é que, se fizermos isso, se mantivermos o seguro-saúde e tudo o mais, enfraqueceremos a competitividade. Sabe o que ele fez? Ele não analisou publicações parciais de esquerda, mas o Wall Street Journal, a lista oficial dos capitalistas dos países mais competitivos. Eles estão no topo da mesma forma. Mas, no topo do topo temos Cingapura e Hong Kong. Depois, vêm Suécia e Noruega. Isso prova que não é verdade o que os neoliberais estão dizendo, que, ao abolir o Estado assistencial, você perde competitividade. Desculpe, mas não necessariamente. Eu não idealizo Lula, mas vocês, ainda assim, provaram que, nos últimos anos, com Lula na presidência... Volto a dizer que não o idealizo. Como isso se relaciona como a sua pergunta? O que está acontecendo graças ao imortal presidente George Bush, o filho? Por causa de uma coisa que ele fez, todo esquerdista deveria rezar pela alma dele todos os dias. Nos seus oito anos de governo, ele, com certeza, enfraqueceu a hegemonia e a liderança mundial dos EUA. Depois de seu governo, os EUA são, cada vez mais, apenas um entre muitos. Agora estão surgindo novos blocos hegemônicos. Vamos chamar ainda de bloco dos EUA e países anglo-saxões, a Europa ainda está buscando o seu caminho. Temos o que chamamos ceticamente de “capitalismo com valores asiáticos” nos países orientais mais autoritários e temos o populismo latino. Se você me perguntar, nenhum deles me agrada. Em primeiro lugar, eu não gostaria de viver num mundo onde as escolhas fossem apenas China ou EUA. Eu gostaria de elaborar mais sobre as diferenças. Diferentemente de alguns amigos meus... Não estou falando aqui do Brasil, mas de populistas de esquerda latinos, como Perón e Chávez atualmente. Eu não confio neles. Para mim, este foi o meu grande mal-entendido — e ele literalmente me odeia por isso — com meu ex-amigo Ernesto Laclau. Ele ainda acha que o populismo é algo originalmente progressivo, que promove o avanço da esquerda. Não. O populismo está sempre, por definição, na origem do fascismo. Populismo significa construir um grande bloco nacionalista acima das diferenças de classe. Então, quem passa a ser o inimigo? Não há mais a luta de classes, então precisamos de alguém, mesmo que não os judeus, de alguém como os judeus, contra quem possamos nos rebelar. Por isso, infelizmente, não concordo com meus colegas argentinos que elogiam o peronismo de esquerda. Acho que o peronismo foi uma catástrofe. Nesse nível, não estou tentando bajular o Brasil, não sei o bastante sobre vocês. Mas acho que, talvez, e me corrija se eu estiver errado, alguns de seus presidentes tenham flertado... Como era o nome dele?

Jorge Pontual — Com o fascismo?

Slavoj Žižek — Não, não. Com o populismo, até o esquerdista Quadros... Kubitschek...

Jorge Pontual — Jango.

Slavoj Žižek — É, um pouco. Mas, entretanto, vocês nunca se encaixaram nesse verdadeiro populismo latino-americano. Essa foi a sorte de vocês. É por isso que vocês estão prosperando. É por isso que a Argentina não consegue decolar. É por isso que, mesmo na Venezuela, Chávez, eu afirmo... Eu não entendo. Deixe-me ser bem claro. Primeiro, Chávez fez algo pelo qual deveríamos ser gratos a ele. Pelo que eu sei, ele pelo menos tentou ir mais longe do que Lula e tudo o mais, para realmente incluir no processo político os excluídos das favelas. Isso é muito bom. Se não fizermos isso, vamos nos acercar de uma guerra civil interna. Não é apenas um fenômeno latino-americano. Olhe a França, todos aqueles carros queimados. Olhe a China! Eu estive lá há três meses, e eles me perguntaram se eu sabia quantas rebeliões violentas espontâneas aconteciam dentro da China por ano. Por “rebelião” quero dizer uma comoção tão importante que a Polícia e o Exército têm que intervir, e há derramamento de sangue. Por ano, são 20 mil. Entende? Tudo bem. Mas, na minha opinião, ele se perdeu nesse tradicional. E o petróleo foi a sua maldição, de certa forma.

Jorge Pontual — Chávez?

Slavoj Žižek — É. O mesmo acontece com os regimes árabes. Se você tem uma grande fonte de dinheiro, isso, infelizmente, dá a você espaço de manobra suficiente para adiar o aparato realmente eficaz do Estado, as reconstruções e tudo mais.

Jorge Pontual — E qual é o problema de Chávez?

Slavoj Žižek — Na minha opinião, é funcionar cada vez mais como um país caudilhista latino-americano. Eu sei que ele também tenta implementar umas parcerias, mas é basicamente um estado autoritário.

Jorge Pontual — E a proximidade deles com o governo de Ahmadinejad?

Slavoj Žižek — Foi aí que começaram as minhas suspeitas com relação a Chávez. Primeiro pensei que talvez fosse bom o que ele estava tentando fazer. Mas veja os aliados dele. Talvez você conheça o ditado que diz: “Diga-me com quem andas e te direi quem és”. Ahmadinejad! Pior ainda, Lukashenko. Sem falar de Putin. Lukashenko. Ele é um louco. Isso é motivo de muita preocupação. Por exemplo, precisamente... Eu não sou um liberal ingênuo pró-Ocidente, mas acho que as últimas eleições no Irã foram quase um evento histórico mundial. Por quê? Mousavi, o candidato derrotado oficialmente, talvez fosse uma verdadeira solução. Mousavi fazia parte da revolução do Khomeini. Mas ele fazia parte do grupo que foi posto de lado quando os fundamentalistas assumiram o poder. Ele é a prova viva de que a Revolução de Khomeini não foi simplesmente um golpe extremista islâmico. Se você tiver uma certa idade... Alguns de nós têm, que coisa trágica! Você se lembra de que, quando o Xá partiu e Khomeini assumiu o poder, a situação ficou indefinida por cerca de um ano e meio. Até que, finalmente, os fundamentalistas assumiram o poder. Aí, tudo o que havia sido reprimido, um aspecto mais emancipatório, explodiu. Isso é muito importante porque era contra o fundamentalismo, mas não era algo simples: “Vamos adotar o liberalismo Ocidental”. E aqui, meu Deus, como foi que Chávez não viu isso? Frequentemente, quando a esquerda consegue um progresso autêntico, o Terceiro Mundo está envolvido. Você sabe qual é a hipocrisia de esquerda de hoje nos países desenvolvidos? Eles gostam da revolução com uma condição: que ela aconteça bem longe, que não mude a vida deles. Pode ser no Vietnã, em Cuba... É bom que ela aconteça longe para você fazer seu trabalho sujo aqui: você faz esquemas, se corrompe, mas seu coração está lá longe. O mesmo acontece com Chávez hoje em dia. É fácil para os europeus gostarem dele. Mas eu acho que o governo dele vai se tornar, cada vez mais, uma ditadura pessoal quase cômica. Eu desconfio profundamente... não dele pessoalmente, não me importa, mas num sinal de como opera a totalidade do poder. Como, por exemplo, quando ele começou com o programa “Aló Presidente”. Alguém me contou, e me pareceu piada. Mas agora o programa se dividiu em dois: o “Aló Presidente Prático” e o “Aló Presidente Teórico”, em que Chávez se mete a... Eu concordo com... Sabe quem me deu essa indicação? Toni Negri. Meu Deus! Eu não concordo com ele, em tese, mas ele é da esquerda, me alertou sobre isso, e eu não acreditei nele quatro anos atrás. Ele me disse para não ficar fascinado com Chávez e que, embora fosse muito mais modesto, o Brasil era muito mais interessante.

Segunda parte

Jorge Pontual — Žižek, quem é Žižek? O maridão de uma supermodelo argentina que emprestou o nome para a discoteca mais quente de Buenos Aires? O cinéfilo pervertido que usa os filmes de Hitchcock para explicar a psicanálise de Lacan? O comunista que prefere a dialética de Hegel aos ensinamentos de Marx? O iconoclasta escatológico que inventou a teoria da evolução das latrinas para explicar a história da Filosofia. Um desconhecido filósofo da Eslovênia que virou um dos intelectuais mais influentes do nosso tempo? Slavoj Žižek é tudo isso. Um feixe de contradições em forma de gente, um furacão de ideias e tiques nervosos que fascina pela inteligência. Nesse segundo milênio, Žižek se concentra em sua obsessão: o cinema. Para ele, a arte suprema.

Jorge Pontual — Você fez um filme, o primeiro de uma série, que se chama “O Guia Perverso do Cinema”. Fale sobre ele.

Slavoj Žižek — Em primeiro lugar, agradeço a Sophie Fiennes. Ela fez todo o trabalho.

Jorge Pontual — A diretora.

Slavoj Žižek — Ela vasculhou os meus livros, encontrou as referencias ao cinema, e eu só dei a ela quatro dias em Roterdã, e uma vez, quando estive em São Francisco. Ela só me perguntou: “Lembra o que você disse sobre ‘Psicose’ naquele livro? Improvise um pouco sobre o tema”. E passou quatro meses organizando tudo. Mas o mais interessante é que agora estamos fazendo algo muito mais legal, estamos fazendo a Parte 2: “The Pervert’s Guide to Ideology”. Este vai ser muito bom. Nós vamos abordar todos os aspectos, começando pelo meu famoso ponto mais baixo, quando explico a ideologia europeia através dos diferentes tipos de vaso sanitário: o vaso sanitário alemão, o vaso sanitário francês... Mas vamos começar com isso, ou seja, com a ideologia do dia a dia. Depois vamos passar a aspectos mais interessantes. O estado da crença hoje, um antigo lema meu que repito várias e várias vezes: como hoje nós vivemos numa era de ceticismo, o que não quer dizer que não acreditemos. Nós achamos que não acreditamos. Não acreditamos de forma consciente, mas elegemos as nossas crenças. No momento em que acha que é livre, você se torna a vítima dessa obrigação de se divertir. Você se sente culpado por não se divertir. Meus amigos psicanalistas têm me dito que o paciente típico hoje em dia não é aquele que é oprimido, impedido de se divertir.

Jorge Pontual — O neurótico tradicional.

Slavoj Žižek — Ele quer se divertir, mas não consegue, e isso, por si só, faz com que ele ou ela se sinta culpado. Nós vivemos numa sociedade que, cada vez mais... Pelo menos aqui nos EUA e na Europa Ocidental, que é uma sociedade hedonista. Não existem mais aquelas regras, aquela ideologia que diz a você para se sacrificar pelo país e tudo mais. É uma espécie de hedonismo esclarecido. O que a sociedade está lhe dizendo é o seguinte: “Seja você mesmo, seja você plenamente, realize o seu potencial”. Com toda essa pressão para sermos livres, sofremos mais de ansiedade e de impotência do que nunca. Quero dar um exemplo de que talvez os seus espectadores gostem. É um exemplo maravilhoso do cinema. Você percebeu uma estranha tendência, algo realmente preocupante... você percebeu uma coisa estranha no último filme do 007 “Quantum of Solace”? Politicamente, não tenho nada contra. Talvez seja tão esquerdista quanto Hollywood permite. Basicamente James Bond salva Morales de uma grande empresa imperialista. Você percebeu uma coisa? Olga Kurylenko, a modelo ucraniana que é a Bond girl. Não há sexo. Pela primeira vez. No final, eles só se abraçam e pronto. Agora, vou ainda mais longe, quero dizer, o mais baixo possível. Dan Brown, autor de “O Código Da Vinci”. Você tem o livro. Os protagonistas são a garota que é descendente de Jesus Cristo e Robert Langdon. Não há sexo. Vou mais longe. Em “Anjos e Demônios”, o romance anterior, é mais estranho ainda. No livro, há sexo entre o herói e Vittoria Vetra. No filme, não há sexo! Não é estranho? Normalmente, o que associamos a Hollywood é o fato de acrescentarem sexo.

Jorge Pontual — Você falou de “Eu Sou a Lenda” antes da entrevista.

Slavoj Žižek — É um exemplo maravilhoso de como...

Jorge Pontual — Não há sexo.

Slavoj Žižek — Sim, mas não é só isso. Tenho muito orgulho dessa análise. Não que seja excelente, mas fiz algo bem simples. Essa é a terceira versão cinematográfica. Primeiro, veio o excelente livro de Richard Matheson, depois, o 1º filme, com Vincent Price, o segundo, com Charlton Heston e o terceiro, com Will Smith.

Jorge Pontual — Para os que não viram: se passa em Nova York, depois de uma epidemia, a natureza tomou conta da cidade... E há vampiros. Will Smith é o último humano.

Slavoj Žižek — Na primeira versão, há uma boa lição multicultural na história original. A ideia é que, quando o ser humano é capturado, ele escuta os vampiros falando, se referindo a ele como um ser mítico, uma lenda. Ele se lembra de quando os vampiros eram lenda, e agora ele, o último humano, era uma lenda para eles. Vai ficando cada vez pior, até que o último filme é um projeto ideológico da pior categoria possível. Uma bela atriz brasileira...

Jorge Pontual — Alice Braga.

Slavoj Žižek — Alice Braga faz o papel de uma mulher que tem um filho. Eles são, basicamente, religiosos fundamentalistas. Ela vem do sul para encontrar Will Smith e conseguir o remédio, e depois segue para o norte, para um acampamento idealizado, ecológico, verde, politicamente correto. Você sabe qual é a mensagem? A mensagem é um pacto entre o sul religioso e a Nova Inglaterra politicamente correta, rica e liberal. É horrivelmente...

Jorge Pontual — É uma comunidade cercada.

Slavoj Žižek — Exato. Toda essa mensagem de tolerância, multiculturalismo... E aí começa o multiculturalismo. Tenho críticas profundas a ele. Mas o multiculturalismo começa, por exemplo, quando Descartes diz: “Quando eu era jovem, eu achava que os costumes dos outros eram tolos. Mas e se eu tentasse me ver através dos olhos dos outros? E se os meus hábitos e costumes parecessem igualmente tolos?” É quando você consegue ver as coisas em perspectiva. Essa mensagem se perde, e é isso que mais me preocupa, como o filme mais liberal de Hollywood... Vou lhe dar mais um exemplo: “Avatar”. Talvez James Cameron seja o mais perigoso de todos. Você sabe por quê? Se você olhar os filmes dele superficialmente... Algumas pessoas, ironicamente, se referem aos filmes dele como “marxismo de Hollywood”. Como em “Titanic”, os pobres são bons, as classes altas são corruptas... Ou em “Avatar”, os exércitos, obviamente, a forma como o exército imperialista americano coloniza... Mas, quando vai além da superfície, você encontra um mito muito mais reacionário: como em “Avatar”, o exército americano é mau, o exército de rebeldes locais, anticolonialistas, vence. Mas há um porém. Também há a mensagem do homem que viria a ser rei. Mesmo um homem branco aleijado é bom o bastante para liderar... Mesmo aquele de menor relevância entre os brancos pode ser líder deles. Em outras palavras, eles precisam de um branco, ainda que aleijado, para casar com a princesa, salvá-los e coisa e tal. É pior ainda em “Titanic”. Não considero “Titanic” nem uma história de amor. Você se lembra da cena principal? Seus espectadores vão gostar. Você viu. Todo mundo viu “Titanic”. Leonardo DiCaprio está morrendo congelado, e o que é que Kate Winslet faz? Ela grita: “Eu nunca vou deixar você.” E o que ela está fazendo enquanto está gritando isso? Ela o está empurrando. E as últimas palavras do Leonardo DiCaprio quando ele está morrendo congelado? Ele não fala como um amante, mas como um padre, um conselheiro moral: “Seja honesta, faça isso e aquilo.” É só uma história racionaria sobre uma garota rica e mimada que está em crise, com o ego em pedaços. Então, como uma vampira, ela explora um rapaz de classe mais baixa para restaurar seu ego... Ele literalmente pinta a imagem dela. E aí, quando ele cumpre o seu papel, tchauzinho. É o mito colonialista representado pela 1ª vez por Rudyard Kipling em “Marujos Intrépidos”, o mito de que nós somos o Ocidente desenvolvido, mas, por causa de tanto desenvolvimento, nos esquecemos dos valores verdadeiros e precisamos de um pouco de contato com pessoas reais, da classe baixa. Nós sugamos o sangue delas, e depois tchau. Sabe por que isso é perigoso? Você tem esse embate entre a ideologia oficial, aberta, como um filme que pode parecer progressista, mas aí você recebe a mensagem verdadeira. Tenho o mesmo problema com Oliver Stone, por exemplo. Eu não gostava dele desde “Platoon” e o primeiro “Wall Street”. Pode parecer uma condenação do capitalismo. Sob a superfície, encontramos a mesma velha e repugnante história edipiana: o filho divido entre o bom pai, seu próprio pai, e Michael Douglas, o pai mau. É a velha história edipiana de se livrar do pai ruim e adotar o pai bom. Por isso, Hollywood é importante hoje.



Jorge Pontual — Vamos falar de Hitchcock. Você escreveu sobre ele.

Slavoj Žižek — Talvez um pouco demais.

Jorge Pontual — Por que Hitchcock é um revolucionário?

Slavoj Žižek — Eu não disse isso politicamente...

Jorge Pontual — Mas o que seus filmes revelam ideologicamente?

Slavoj Žižek — Você sabe o que me fascina em Hitchcock? E é aí que um filme vira uma obra de arte. Não se trata apenas da história que ele conta. Você tem toda uma ideologia, até mesmo uma teologia negativa, nos próprios movimentos, na forma como a câmera se desloca etc. Por exemplo, o que mais aprecio em Hitchcock é a forma como ele... Se você analisar seus quatro principais filmes dos anos 50, todos têm uma história gradual do superego maternal. Em “Janela Indiscreta”, você tem uma voz que aparece misteriosamente de tempos em tempos, só praticando a escala musical. Digamos que a mãe está aprendendo a cantar. Depois, “O Homem que Sabia Demais”, a segunda versão com Dóris Day. No final do filme, a mãe está cantando, e sua voz vai até o filho lá em cima, na embaixada sequestrado. Aqui, a mãe alcança... A voz da mãe finalmente se apodera do filho. Por isso é que eu acho que o garotinho em “O Homem que Sabia Demais” é o Norman Bates jovem. Depois você vê em “Psicose” o filho controlado pela voz da mãe. Mais tarde, em “Os Pássaros”, a mãe nem fala mais, só emite ruídos de animal. Hitchcock tinha consciência dessa ingerência obscena do superego materno que, ainda mais do que a ideologia patriarcal explícita, é o componente fundamental da identidade ideológica americana. Ele realmente não só compreendia, mas... Não tenho tempo de entrar em detalhes, mas lembre-se, por exemplo, de como são cometidos os assassinatos em “Psicose”, especialmente o 2º assassinato, o do detetive Arbogast. A câmera de repente se eleva. Há toda uma teologia de um Deus neutro, burro e mau. É claramente uma referencia agnóstica. O que eu gosto no agnosticismo não é o dualismo, mas uma ideia muito profunda, que pode ser encontrada no Livro de Jô: a de que Deus era burro e preguiçoso e que fez bobagem ao criar o mundo. A partir disso, você tem uma interpretação fantástica do sacrifício de Cristo. Ele não foi sacrificado pelos nossos pecados, mas foi uma forma de Deus se desculpar conosco, como o membro da Yakuza que corta o dedo. “Desculpem, seres humanos, criei um mundo horrível para vocês e lhes dou o meu filho como um pedido de desculpas.” Isso é o que me fascina: artistas que podem ser conservadores ou simplesmente burros no nível explícito de declaração política podem ser mestres da crítica ideológica no nível da forma. Meu exemplo favorito, logicamente, é David Lynch. Ouvi algumas declarações políticas dele. São simplesmente burras e reacionárias. Ele questiona: “Por que apoiar os desempregados? Toda pessoa honesta pode arranjar um emprego.” Uma tolice. Ou a ideia de megacentros para meditação.



Jorge Pontual — No Brasil também.

Slavoj Žižek — Também. Mas essa ideia específica de que, se você reunir mais de 8 mil pessoas meditando no mesmo lugar você libera energia cósmica para trazer paz ao mundo... O que ele faz com seus melhores filmes, como joga com os closes, detalhes e tudo o mais. Você se questiona. Agora vem a questão crucial. Você questiona não apenas o brilhantismo da forma, mas toda a crítica social já está na forma. Há mais verdade na forma do que na história. Muito frequentemente, a mensagem que você recebe a partir da forma interfere para bem ou para mal na mensagem explícita. Vou lhe dar outro exemplo fácil. Um filme de que eu gosto muito, um dos melhores filmes americanos das últimas décadas: “Short Cuts – Cenas da Vida” do Robert Altman. Em termos do conteúdo, você pode ter interpretações esquerdistas enfadonhas: o desespero da classe média americana dos subúrbios etc. Mas a forma em si — essas oito, nove linhas paralelas que se encontram — é uma espécie de antologia aberta, é muito mais otimista. Ali você tem o contraponto positivo para que não seja apenas um filme sombrio. Não há uma mensagem positiva direta, ela está na forma. Ou o exemplo oposto de que eu também gosto: o filme que deveria ser queimado em público. Quanto mais filmes ruins eu vejo — vou dizer uma coisa horrível —, mais penso que não deveríamos condenar os nazistas e Hitler por terem queimado livros e filmes. Não em geral. O princípio é bom, só que eles queimaram os errados. Que mal haveria em se queimar “A Noviça Rebelde”, por exemplo? Você conhece a história. A história oficial é a pequena Áustria resistindo à invasão nazista. É um filme antifascista. Mas analise a textura do filme e você vai perceber que os austríacos são retratados como — chamo a eles, ironicamente de “pequenos belos fascistas”: são ligados às suas raízes, usam calças de couro e tudo o mais. Se você reparar em como os nazistas são retratados: como os que querem invadir o Festival de Salzburg.



Jorge Pontual — Eles são médicos, advogados...

Slavoj Žižek — Resumindo, são mais ou menos como os judeus. Com aqueles... Não é uma operação ideológica maravilhosa? Talvez por isso o filme seja tão miticamente popular. Você pode apreciá-lo sem culpa porque está protegido oficialmente: “O que há de mais? É uma história antifascista.” Mas você recebe silenciosamente, através da forma, a mensagem oposta.



Jorge Pontual — No Brasil, o filme se chama “A Noviça Rebelde”. Esse é o título.

Slavoj Žižek — Excelente. E vou dizer por quê. Isso é ideologia na sua forma mais pura, e vou explicar. Minha cena favorita do filme... Você se lembra de quando a irmã Maria está com medo de se apaixonar pelo barão? Ela volta ao convento e diz à madre superiora que se sente atraída por ele e não sabe o que fazer. Ela espera ser punida com penitência. E você sabe o que a freira faz? Ela canta a música mais obscena do filme...



Jorge Pontual — “Climb Every Mountain”.

Slavoj Žižek — Que significa: “Volte lá, transe com ele e pronto.” É assim que a ideologia funciona. Era isso que eu dizia antes. A Igreja Católica de hoje segue rigorosamente essa lição. A versão para os padres é a seguinte: “Entre no jogo conosco e você pode pegar todos os garotinhos...”



Jorge Pontual — Percebi que você é ateu, mas diz “Meu Deus” o tempo todo. Talvez seja apenas uma...

Slavoj Žižek — Eu sou ateu de verdade. De verdade.



Jorge Pontual — É que você às vezes se autodenomina, mas pode ser que eu esteja errado, um cristão ateu.

Slavoj Žižek — Com certeza! Esta é a lição do cristianismo para mim, e eu discuto muito seriamente com padres em Viena, na Alemanha... Fiz um tour maravilhoso pelo Sul dos EUA, e descobri que lá não há apenas fundamentalistas boçais. Há batistas extremamente progressistas. Existe uma ideia básica de que o que realmente aconteceu com o cristianismo foi o seguinte: Cristo não era o mensageiro de Deus. Deus está morto. Isso já fora anunciado no que é, para mim, a melhor parte do Velho Testamento: o Livro de Jô, em que, basicamente, quando Deus aparece, ele diz: “Do que você está reclamando? O mundo todo está um caos.” A grande mensagem do Livro de Jô é que Deus não é aquele que está lá em cima e que garante que tudo tenha um significado maior. E é isso que eu acho que a morte de Cristo representa: Deus, que é o Deus geralmente representado, o Deus do: “A vida pode parecer confusa, mas há um cara bom lá em cima em que podemos confiar.” Não. Cristo abdica. Sua mensagem é: “Deus está fora, só o que resta é o Espírito Santo.” O Espírito Santo é o partido comunista primordial. O Espírito Santo é o conjunto de nós, que acreditamos, sem um ser maior para nos guardar. Somos condenados à liberdade. Deus nos dá liberdade no senso literal: “Eu estou fora!” E é por isso que mesmo um cristão conservador inteligente como Paul Claudel disse em algum lugar: “A maior mensagem do cristianismo não é ‘confie em Deus’, e sim ‘Deus confiou em nós’.” Nesse sentido é que eu vejo o poder libertador do cristianismo. Deus está morto, não há um ser superior, nem o ser superior do stalinismo. Não podemos nos fiar na perda histórica da necessidade etc. Isso abre espaço para a nossa liberdade. Essa é a minha religião. Concluindo, para os seus espectadores, contei isso em um dos meus livros. Quando me perguntam em que senso eu sou cristão... Você deve conhecer esta piada. Eu digo que há uma piada ótima da União Soviética do início dos anos 20, quando as pessoas ainda levavam a propaganda comunista a sério. Um grande propagandista bolchevique morre. E, logicamente, vai para o Inferno. Mas ele é tão bom propagandista que os guardas a mandá-lo para o Céu. O Diabo, na inspeção do Inferno, percebe que o sujeito não está lá, pega o elevador para o Céu e barganha com Deus para lhe devolver o cara. Ele se dirige a Deus: “Ó, Senhor...” Deus interrompe, pois o propagandista tinha feito um bom trabalho. “Em primeiro lugar, não sou Senhor, sou seu camarada. Em segundo lugar, eu não existo.”

Jorge Pontual — “Companheiro”.

Slavoj Žižek — “Eu não existo. Você está falando com visões? Em terceiro, seja breve, porque tenho uma reunião do Partido, que é o Espírito Santo.” Esse é o meu Deus!

Jorge Pontual — Muito obrigado.

Slavoj Žižek — Obrigado a você. Eu fiquei realmente surpreso. Não devemos descartar as coisas sem conhecê-las. Eu fui a Nashville. Você sabe, o Sul Batista, cheio de idiotas, boçais. Nada disso. Esses são a minoria. Eles não ficaram nem um pouco chocados. Tive mais trabalho em vender essa visão do cristianismo em Harvard, Yale, nas grandes universidades. Eu detesto Harvard, você não? Os americanos têm um ditado anti-intelectual. Quando você quer dar uma de esperto, eles dizem: “Você é inteligente demais para o seu próprio bem.” Assim é Harvard, na minha opinião. Só preciso fazer o fechamento.

Jorge Pontual — Só preciso fazer o fechamento. Obrigado pela ótima entrevista.

Slavoj Žižek — Talvez. “Se Deus quiser”.

Jorge Pontual — Se Deus quiser.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O diálogo democrático do prefeito Kassab.

Durante quatro anos (2006 a 2010) trabalhei na rua São Bento, centro velho de São Paulo. Minha sala ficava no 13º andar e tinha vista para a Líbero Badaró e parte do Anhangabau, além naturalmente, da própria São Bento. Esta é uma região tradicional de concentrações populares e manifestações sindicais. Pelo menos dois fortes sindicatos possuem suas sedes nesta área: dos bancários e dos  professores de SP. Os dois sindicatos são muito ativos e sempre promoveram manifestações, mantendo uma boa convivência com os transeuntes. Muitas vezes os buzinaços chegavam a níveis infernais, que se misturavam às palavras de ordem dos manifestantes.  Outras vezes cruzei com os manifestantes, que além do barulho, mantinham estratégias bem humoradas para melhor se comunicar com o público local, tipicos representantes da classe média.
As imagens de ontem, da truculência policial contra manifestantes, trazem de volta as lembranças sobre o conservadorismo do prefeito Kassab.  Integrante do DEM o prefeito de São Paulo sempre mostrou dificuldade de tratar de forma democrática com as demandas populares. É verdade que fez algum esforço para melhorar esta imagem. Mas a impressão que fica é que a intolerância supera a maquiagem.
Afinal este também é o estilo Alckimin, de péssima lembrança, no trato com  com estudantes e professores manifestantes.
Quando os auto proclamados Democratas e o PSDB persistem em seu estilo truculento de tratar demandas populares é fundamental  mantermos,  sem trégua, a luta contra os autoritarismos de todos os naipes. A população dos paises do norte da África que o digam.

por Frederico Drummond

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

CUT:Fórum Sindical Mundial, no Senegal, debate “Economia solidária e comércio justo”

Jasseir Alves Fernandes, da CUT, sublinha relevância do tema para a soberania alimentar - Entre os inúmeros temas debatidos no Fórum Sindical Mundial, realizado em Dakar, capital do Senegal, de 6 a 11 de fevereiro, um ganhou particular relevância: “Economia solidária e comércio justo”. Nada mais natural, quando as transnacionais do alimento, com sua fome insaciável de lucro, avançam sobre o continente africano, comprando parcelas imensas das melhores terras para exportar.

Além de roubar daqueles países qualquer perspectiva de “soberania alimentar”, a desnacionalização do território empurra para as periferias das grandes cidades parcelas expressivas da população rural. Se levarmos em conta que na maior parte da África, 70% da população total sobrevivem da agricultura de subsistência, teremos a dimensão da catástrofe provocada por relações imperialistas que aprofundam, ao extremo, a exploração.
No continente, mas também na América e na Ásia, as transnacionais colhem os frutos da especulação de alimentos transformados em commodities, enquanto semeiam a fome e a miséria que aflige centenas de milhões de seres humanos. Esta ação, obviamente, é respaldada pelos governos dos países capitalistas centrais, os mesmos que erguem imensas barreiras para os imigrantes que ficam desempregados por obra, graça e desgraça da sua política. Como toda prática neocolonial, o receituário é visto como incontestável por muitos dos governos locais desnacionalizados, que passam a praticar o servilismo mais atroz.
De acordo com Jasseir Alves Fernandes, diretor executivo da Central Única dos Trabalhadores, que representou a entidade no debate sobre “Economia Solidária e Comércio Justo”, os movimentos sociais vêm se articulando em redes de cooperação para se contrapor à lógica perversa do agronegócio transnacional. Assim, explicou, “além de buscarem um comércio justo, Sul-Sul, as entidades têm articulado com organizações europeias para garantir uma maior valorização para os seus produtos, o que tem significado um diferencial no preço de 30 a 40%”, possibilitando que os agricultores se mantenham em suas terras e não sejam obrigados a venderem sua produção a preços aviltantes.
“Com práticas de comércio justo temos conseguido um sobrepreço, que é um tipo de prêmio social. Por exemplo, numa saca de café, um percentual vai para a comunidade que está produzindo. Num contêiner, que leva cerca de 300 sacos de café, as empresas dão um plus para ser investido em melhorias sociais das comunidades”, informou Jasseir.
O dirigente cutista lembrou que no Brasil, após muita mobilização e debate com o governo federal, o presidente Lula assinou um decreto no dia 17 de novembro do ano passado reconhecendo esta prática de comércio. “Foi o primeiro marco regulatório no mundo nesta questão e vai ajudar na conformação de políticas públicas mais eficazes para o setor”, frisou Jasseir, apontando que este é um avanço significativo, inclusive para a mensuração do impacto que tem a economia solidária em nosso país. Atualmente, disse, há 22 mil empreendimentos mapeados, mas há uma projeção da existência de mais de 80 mil.
“O Programa Nacional de Aquisição de Alimentos para a Merenda Escolar (PNAE), que garante pelo menos 30% da aquisição da agricultura familiar, é o maior programa do mundo da relação de comércio justo. Esta é uma experiência que todos queriam conhecer, pois a segurança é algo essencial para os agricultores familiares, já que muitas vezes o agricultor tem produto e não tem preço e outras tem preço mas não tem produto para ofertar”, ressaltou.
Jasseir lembrou que aproveitou o Fórum Social Mundial para apresentar a questão do ponto de vista sindical, frisando que a economia solidária é um eixo estratégico da ação cutista. “Mostrei que, para nós da CUT, a economia solidária não está só no discurso, que inclusive fez parte da Plataforma da Classe Trabalhadora para as eleições de 2010, mas que está na prática da Agência de Desenvolvimento Solidária (ADS), tocada pela nossa Central, através do Conexão Solidária. A prática do comércio justo está sendo cada vez mais incorporada pelo sindicalismo cutista através de empreendimentos como a Unisol e a Unicapes, conformando uma rede de 1.500 cooperativas, associações e empresas recuperadas”.
Entre os exemplos de ponta existentes, com os quais se pode estreitar relações, citou Jasseir, há a Cooperativa Chico Mendes, da Itália, que conta com 500 lojas, e a Rede de Lojas da Argentina, que querem comprar café brasileiro, adquirido via sistema CUT, pois avaliam que esta é uma parceria forte e estratégica. “Nossa participação foi importante para demonstrar que o movimento sindical dá atenção ao tema da conformação de redes e que quer dialogar com o conjunto dos movimentos sociais para atuar de forma coordenada, a exemplo do que já acontece na América Latina. Ampliamos o contato com redes da África e da Ásia, fundamentalmente, que são países com população rural bastante empobrecida e muitas vezes desarticulada”, acrescentou.
Conforme Jasseir, “a lógica imperialista determina o que e como fazer, ditando ordens, impondo preços e prioridades, numa lógica de submissão. Nós estamos comprometidos em construir algo diferente”. Por isso, esclareceu o dirigente cutista, “também debatemos com o governo brasileiro, que tem tido importantes iniciativas com o continente africano, para que não reproduza formas de ‘cooperação’ que não dialogam, que não levam em conta o respeito à cultura local e as opiniões dos envolvidos”.

Fonte: CUT / Leonardo Severo, de Dakar - Senegal

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Para uma reflexão sobre a precariedade do ensino fundamental, estadual, em Sete Lagoas.

O texto abaixo relata uma experiência na cidade de Juiz de Fora, MG. Serve, provavelmente, para qualquer cidade mineira. Minha experiência como professor de filosofia do ensino médio, em Sete Lagoas, MG, me trouxe a uma busca de reflexão sobre nossas dificuldades na organização do ensino no município. Os problemas não são particulares a Sete Lagoas; trazer para cá esta reflexão apenas me permite localizar meu campo de atuação. Confiram:

Faltam professores na primeira semana de aula
Mariana Nicodemus Repórter

O ano letivo da rede estadual de ensino começou, na última quarta-feira, já com graves problemas. Com o atraso na designação de servidores para cargos vagos, realizada dois dias antes do início das aulas, algumas turmas conheceram o recorrente drama da falta de professores logo no primeiro dia de atividades. O Instituto Estadual de Educação (Escola Normal), maior unidade da rede em Juiz de Fora, no Centro, tinha déficit de pelo menos dois professores do ensino fundamental naquele dia, de acordo com a vice-diretora da escola, Fátima Pereira. Levantamento feito pela Tribuna, no final do turno da tarde, identificou, pelo menos, seis turmas do colégio que ficaram sem atividades em um dos horários do dia. A Secretaria de Estado de Educação (SEE) não realiza concursos há cinco anos, e, para suprir a carência de profissionais, docentes estão sendo obrigados a assumir disciplinas para as quais não têm habilitação adequada e bacharéis em faculdades diversas, sem formação pedagógica, são autorizados a atuar como professores.

A vice-diretora do Instituto Estadual de Educação, onde uma classe do 7º ano (antiga sexta série) teve apenas uma matéria durante toda a tarde, e os alunos passaram o dia pelos corredores da escola, confirma que o "problema pontual" ocorreu devido à proximidade entre a designação de professores substitutos, realizada na segunda-feira, e o início das aulas, na quarta-feira. Como a lista de selecionados precisa ser aprovada pela SEE antes que o professor seja oficialmente contratado, a burocracia impediu que os profissionais começassem as atividades junto com o ano letivo. Segundo Fátima, a situação não se repetiu na quinta-feira, quando os contratos já estavam assinados.

Porém, o problema não se restringe ao início do ano e a uma escola. Uma professora de inglês que atua como substituta em diversas unidades da rede afirma que é comum encontrar turmas de ensino médio que estão há mais de dois meses sem aulas e, quando é contratada, não há tempo hábil para recuperar a matéria e ministrar todo o conteúdo previsto para o ano.

A diretora da subsede de Juiz de Fora do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE), Victória de Fátima Melo, explica que a situação ocorre porque existe um período mínimo de licença para que o docente possa ser rendido. "Um professor regente de turma do ensino fundamental, por exemplo, só é substituído depois de 15 dias licenciado. Antes disso, não há substituição, e essas crianças ficam sem aulas caso não haja outro profissional na escola que possa assumir as turmas. Para professores que atuam nas bibliotecas, esse prazo chega a dois meses." Passado esse período, a escola envia solicitação à Superintendência Regional de Ensino (SRE), que encaminha o pedido à secretaria. O edital para designação só pode ser aberto após a autorização do Estado, o que, de acordo com ela, costuma levar mais de uma semana.

Segundo a diretora da SRE em exercício, Maura Couto Gaio, a responsabilidade de manter o quadro de professores completo é da direção da escola, já que as designações são processadas de acordo com dados informados por cada unidade. "No momento em que a direção detecta que o cargo está vago, entra com processo para que seja preenchido. A autorização é imediata, e o edital pode ser aberto, convocando para seleção 24 horas depois." A lista de vagas disponíveis é atualizada diariamente e postada no site www.educacao.mg.gov.br/webjzf. Na última chamada, foram oferecidas 124 vagas (ver quadro), sendo o cargo de professor da educação básica regente de turma do ensino fundamental o com mais oportunidades - 15

Docentes despreparados assumem disciplinas
Em uma tentativa de equilibrar o quadro de pessoal das escolas sem que seja necessária a nomeação de concursados, professores sem a formação adequada estão sendo obrigados a lecionar disciplinas para as quais não foram preparados. Embora a legislação permita a manobra - que não impede a falta de docentes nas escolas - , há casos de profissionais formados em geografia e história, por exemplo, dando aulas de filosofia e sociologia, apesar de terem tido contato com os assuntos apenas durante a faculdade, em cursos introdutórios, e não terem experiência na área. Em outras matérias, como matemática, física e química, os professores, escassos no mercado, são substituídos por engenheiros, bioquímicos e bacharéis em faculdades diversas, sem formação pedagógica.

A resolução 1.773, de dezembro de 2010, da Secretaria de Estado de Educação (SEE), determina que "a atribuição de aulas entre os professores deve ser feita no limite da carga horária obrigatória de cada cargo". Quando não há turmas disponíveis para que o mínimo de 18 aulas por semana seja cumprido, o profissional é remanejado para matérias para as quais não está habilitado. O problema é mais frequente entre os docentes efetivados pela Lei 100, de 2007, que correm o risco de serem desligados da SEE caso percam parte nas turmas para as quais foram contratados e não sejam realocados em um mês. "Esses professores se veem obrigados a aceitar as aulas para não perder o emprego", afirma a diretora do Sind-UTE, Victória de Fátima Melo.

Insegurança Prestando serviços ao Estado há seis anos, em uma escola na Zona Norte, um professor de geografia, que preferiu não ser identificado, assumirá horários de filosofia e sociologia este ano para garantir o vínculo. "Existem, no colégio, professores habilitados para essas cadeiras que perderam as turmas para mim. Como constam disciplinas de introdução à filosofia e à sociologia no meu histórico, fui autorizado a trabalhar na área, mas nunca dei aula dessas matérias e terei que aprendê-las para ensinar aos alunos, que são os mais prejudicados", reclama.

Outra docente, formada em história, ministra as aulas de filosofia de uma escola no Centro desde o ano passado. "Dou aulas de história há 20 anos e, de repente, me vi obrigada a trabalhar com outra coisa. Não domino o conteúdo, então aviso aos alunos que vou aprender com eles, mas entro insegura na classe", afirma, acrescentado que, no colégio onde trabalha, as aulas de artes são lecionadas pela professora de inglês. No ano passado, apenas 20 das 49 escolas estaduais da cidade contabilizavam 79 professores certificados a atuar em área diferente da de sua competência, de acordo com levantamento da SRE.

Problema em física, química e matemáticaPara a diretora da Superintendência Regional de Ensino (SRE) em exercício, Maura Couto Gaio, a organização do quadro de pessoal das escolas acontece de acordo com a resolução 1.773, que inclui, como último recurso para a ocupação do cargo, a possibilidade de profissional autorizado assumir disciplinas para as quais não é formalmente habilitado. "É claro que a gente espera que, quanto mais especializada for a formação do professor, melhores sejam as aulas. Mas, enquanto profissional, compete ao docente se preparar e reunir condições para atuar em outra área. O servidor tem que seguir a resolução do Estado, embasada e sem qualquer intenção de prejudicar o aluno", afirma.

Ela admite que profissionais sem formação pedagógica atuam como professores, principalmente em matemática, física e química. "Os cursos de licenciatura dessas matérias formam poucas pessoas, e o mercado fica sem profissionais. A escola, às vezes, abre edital para essas vagas mais de uma vez e não aparece ninguém. A gente supre com o professor autorizado, que é aquela pessoa que fez ciências biológicas ou bioquímica, por exemplo, e, pelo histórico acadêmico, pode lecionar química."

A assistente técnica educacional da SRE, Sílvia Deotti, explica que o Certificado de Autorização Precária (CAP), com validade de um ano, é concedido para que profissionais não especializados possam concorrer às vagas de designação, ou seja, àquelas que não foram preenchidas por concursados, efetivados pela Lei 100 ou vinculados à SEE. Se pela análise do histórico de um engenheiro, por exemplo, é verificado que disciplinas relativas à física foram cursadas, ele é autorizado a lecionar a matéria, de acordo com critérios da resolução 1.724, de novembro de 2010. Segundo Sílvia, as disciplinas com maior carência de professores são matemática, química e física, mas a maioria dos pedidos de CAP é para filosofia e sociologia.

"Em uma cidade com inúmeros cursos de licenciatura, é inadmissível que isso aconteça com a frequência que estamos vendo. Essa situação absurda ocorre não por falta de professores habilitados, mas por uma política da SEE, que não realiza concursos há cinco anos", destaca a diretora do Sind-UTE, Victória de Fátima Melo.

'Professor não pode virar joguete'"As políticas sociais e de contratação colocam o professor como um operário, que pode atuar em qualquer frente, e não é bem assim", comenta a professora da Faculdade de Educação da UFJF, Maria da Assunção Calderano, pesquisadora da área de formação de professores e trabalho docente. Ela afirma que pesquisa realizada no ano passado em várias cidades mineiras apontou que um dos fatores determinantes para o mau desempenho de escolas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) é a descontinuidade do exercício pedagógico. "O professor só consegue fazer bom trabalho quando conhece a cultura daquela escola e pode participar e contribuir com aquela sociedade", afirma sobre a constante substituição de educadores nas redes públicas. "Esse problema precisa ser observado com atenção para que o professor não vire joguete e tenha condições de oferecer aos alunos uma formação continuada."

Para Assunção, o estudante também é prejudicado quando é orientado por um profissional que não está apto a lecionar um determinado conteúdo com qualidade. Porém, a professora acredita que a formação docente precisa ser interdisciplinar, indo "além do conhecimento específico de cada área". "O especialista, de qualquer setor, que é apenas especializado, em alguma medida deixa de entender um problema por completo. Existem elementos necessários e importantes para que a pessoa dialogue com outras áreas, se não fica à deriva", destaca. "Isso revela tanto um problema de formação docente, já que o curso não preparou o professor para compreender e atuar em outras situações, e de formação básica, porque o aluno desse professor não vai ter aula de qualidade."

Quanto à falta de preparação de bacharéis que atuam como professores, a pesquisadora lamenta que, muitas vezes, o conteúdo especializado prevaleça sobre os aspectos pedagógicos. "Há pessoas que sabem muito bem matemática, mas não sabem ensinar. E também existe gente que tem facilidade para lidar com o ambiente de sala de aula, mas enrola o conteúdo. O problema está nesse conflito, quando as pessoas acham que essas áreas não podem dialogar." Ela acredita que profissionais com dificuldades de conseguir emprego em seu setor "baixam as expectativas", indo para a educação e se tornando professores pela prática. "Entendo que a educação não consiga atender a demanda, mas é preciso que haja qualificação adequada."

Postado por Sind-UTE Subsede Juiz de Fora às 11:57