quarta-feira, 31 de março de 2010

Em Sete Lagoas está nascendo a civilização moderna da biomassa. Sem ufanismo.

Para os nossos alunos, pesquisadores do meio ambiente em Sete Lagaos, MG, é no mínimo muito oportuno aprofundar este conhecimento sobre as florestas das Minas Gerais e o seu papel na preservação e conservação dos ecossistemas. O tema bioenergia, no presente, gera entusiasmo devido à conexão com os problemas ambientais globais, a economia brasileira em alto astral e o Brasil ser o “país da vez” no jogo da economia mundial. Este entusiasmo que vem da percepção de que não se trata apenas de um novo ciclo de crescimento. A nova onda apresenta-se como o prenúncio de algo muito mais abrangente, em extensão e profundidade. Esta vivendo o momento inaugural, em solo brasileiro, da civilização moderna da biomassa, na expressão de Ignacy Sachs, pesquisador da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris.

Florestas plantadas e ferro-gusa em Minas Gerais
De acordo com dados da AMS, Minas Gerais é o maior produtor de carvão vegetal do país e tem a mais extensa área de floresta plantada no Brasil. Cada hectare dessa floresta preserva cerca de 10 hectares de florestas nativas. Em Minas, o setor florestal é guardião de 490 mil hectares de florestas naturais preservadas. Hoje, a atividade emprega no estado cerca de 750 mil empregos. Os dados apontam também 1,42 milhão de hectares de área total plantada (Eucalyptus e Pinus) em 2,3% do território mineiro.
O parque industrial mineiro é formado por 62 indústrias com capacidade de produção instalada de 7,6 milhões de toneladas/ano. O estado é responsável por 60% da produção brasileira de gusa. "Estamos em constante aprendizado sobre a utilização da bioenergia. Por exemplo, co-produtos de empresas de carvão, como o líquido pirolenhoso e o alcatrão, que ainda não são muito aproveitados, podem ser úteis em diversas aplicações, como fertilizantes, ligantes para refratários e compostos aromáticos para a indústria alimentícia", explica Marcelo Franco.

“As plantações florestais ocupam menos que 1% da área agricultável do Brasil. Temos, portanto, um potencial de crescimento de áreas com florestas plantadas fabuloso e com perspectivas animadoras. Nosso país possui água e energia solar, ideais para o crescimento de muitas espécies arbóreas, o que nos coloca em posição de vantagem comparativa invejável.
Para uso da biomassa florestal como fonte de energia em grande escala em nosso País tem-se que vencer dois principais desafios. O primeiro é a produção da biomassa em escala, ou seja, a generalização de plantações florestais. Todavia, não dispomos de material propagativo em quantidade suficiente e na qualidade desejável. Assim, será preciso o desenvolvimento de tecnologias simples e baratas para disponibilizar aos produtores rurais além de sementes e mudas das espécies arbóreas mais adequadas às condições edafoclimáticas do nosso extenso território.
O segundo problema a ser enfrentado é o desenvolvimento de tecnologias mais eficientes e sustentáveis na conversão da biomassa em energia. Além disso, deve-se desenvolver e adaptar outras tecnologias ainda não usadas ou em estado embrionário no país, como: compactação de biomassa florestal; produção de bio-óleo; celulignina; álcool e outros derivados de alto valor agregado. Estes produtos promovem o aumento da densidade energética da biomassa proporcionando, dentre outras vantagens, uma logística de transporte competitiva.
O Brasil lidera a produção de biomassa florestal para várias finalidades graças ao enorme sucesso na silvicultura e melhoramento genético. Entretanto, quando se pretende expandir os plantios para outros biomas, existem limitações de sustentabilidade, zoneamento e de oferta de material propagativo adequado”.

Fonte:http://www.florestasenergeticas.com.br/

terça-feira, 30 de março de 2010

PORQUE SETE LAGOAS TEM TOLERADO TANTA AGRESSÃO AO SEU MEIO AMBIENTE?

O texto abaixo foi publicado no site http://www.setelagoas.com.br/. A oportunidade é excelente para a cidade aprofundar suas reflexões sobre aspectos tão graves como a deterioração continuada das condições ambientais no município. No passado era recorrente ouvirmos que uma elite conservadora, ligada à produção do ferro-gusa impedia que este debate alcançasse sua necessária dimensão republicana. Não falamos mais de qualquer tipo de conflitos paroquiais. Falamos da opção pela vida. Falamos da ecologia profunda, no sentido mais explícito declamado por Fritjof Kapra. Recentemente vi um artigo muito interessante de uma educadora ambiental. São suas as seguintes palavras:
"Diante de um tempo onde o capitalismo prevalece como sistema político-ideológico vitorioso, após a Primeira e Segunda Guerra Mundial, passando a disputa de dominação entre as potências soviética e americana, durante a finada guerra fria, tem-se nos movimentos ambientalistas uma ideologia para um mundo de mais prosperidade, contrapondo o capitalismo selvagem. A cada dia nos parece mais óbvio que se não cuidarmos do planeta a vida dos seres humanos poderá entrar em colapso. Problemas como mudanças climáticas, aquecimento global e desmatamento ganham visibilidade a todo o momento e é perceptível que os problemas ambientais não se restringem a determinado estado, país ou classe social, são questões que não possuem fronteiras, ou seja, todo o planeta acaba sendo afetado."(fonte:http://www.revistaea.org).

Isto reforça as nossas teses, diariamente debatida na Universidade Federal do Paraná: estamos tratando de um problema técnico, mas antes de mais nada de um problema político, de feições fortemente ideológicas. Este Blog continua presente neste debate porque este é o fundamento da TEIA DA VIDA.


Sete Lagoas atrai seminário da Indústria Verde

O Governo de Minas por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior , da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da Secretaria de Desenvolvimento Econômico; o Centro Universitário de Sete Lagoas - Unifemm, a Associação Mineira de Silvicultura; o Sindicato da Indústria do Ferro no Estado de Minas Gerais e a Câmara da Indústria de Base Florestal – Fiemg, promovem o seminário Bases Bioenergéticas para uma Indústria Verde: o APL de Carvão Vegetal e Biomassa como mecanismo de integração dos setores público e privado para uso de fontes renováveis de energia nas indústrias de ferro-gusa, ferroligas, cimento e cerâmica, entre os dias 5 e 7 de abril no Centro Universitário de Sete Lagoas (MG).

O seminário é gratuito e aberto ao público. Durante todo o evento, uma programação extensa levará aos participantes uma gama de informação sobre temas que visam ao desenvolvimento de fontes renováveis de energia para as indústrias de ferro-gusa, ferroligas, cimento e cerâmica. Serão apresentados painéis técnicos com os temas Carbonização e Bioenergia; Gaseificação e co-geração energética e palestras, além da Pesquisa e Desenvolvimento tecnológico na produção de carvão vegetal de florestas plantadas coordenada pela professora Angélica de Cássia Oliveira Carneiro, da Universidade Federal de Viçosa – UFV em parceria com a UFLA, UFMG, Cnpf, Ufvjm e Esalq/USP. No final do evento, os participantes farão uma visita técnica à ArcelorMittal BioEnergia, em Martinho Campos.
Para a solenidade de abertura, que acontece na noite do dia 5, na universidade, os secretários Alberto Portugal, da Sectes; Gilman Viana, da Seapa; e Sérgio Barroso, da Sede; estarão presentes. O objetivo do seminário é mobilizar o setor privado, as instituições de ensino e pesquisa e o governo para a estruturação do Arranjo Produtivo Local – APL de Carvão Vegetal e Biomassa.
“Essa é uma oportunidade de mostrar ao nosso público o que está sendo feito no setor do carvão vegetal. Temos o APL Carvão Vegetal e Biomassa, na Região Central do Estado, onde se concentram indústrias de ferro-gusa e ferroligas, de cimento e de cerâmica, que constituem grande parte da demanda por essas fontes de energia em Minas Gerais”, destaca o coordenador do Programa de Energia do Governo de Minas, Marcelo Franco, da Sectes. Na oportunidade, ele apresentará o Projeto Estruturador APL de Biocombustíveis, com destaque para APL de Carvão Vegetal e Biomassa em apoio às indústrias de ferro-gusa, ferroligas, cimento e cerâmica.


Assessoria de Comunicação e Marketing
Centro Universitário de Sete Lagoas - UNIFEMM
(31) 2106-2134

segunda-feira, 29 de março de 2010

O talento de João Drummond e a tradição dos Terapeutas do Deserto.

Recebí o texto abaixo de João Drummond. O valor do texto é auto-expicativo. Não precisa dos meus comentários. Neste texto, João, realiza sua dimensão de terapeuta transpessoal. E, talvez, ainda sem o saber, filia-se a um grande tradição iniciada por Fílon de Alexandria, os Terapeutas do Deserto e, hoje, cultivada pelo Colégio Internacional dos Terapeutas. Sobre as bases desta tradição Roberto Crema nos diz: " A tarefa considerada primordial para os Terapeutas era cuidar, já que é a Natureza que cura." Outra tradição importante nesta linha proposta por João Drummond está configurado no arquétipo de "Quíron": o curador ferido. Sua própria dor o encaminha para a compaixão aos seus semelhantes. Todos os grandes xamãs possuem este dom. As experiências/pesquisas de João transitam por estes muitos espaços. Confira:

Psiquê, Família e Sociedade
(O Castelo)


O Castelo começou a ser escrito em 2003, durante um processo de psicoterapia que eu desenvolvia dentro do Grupo Expressando.
Já na idade adulta e bastante esgotado e descrente quanto às possibilidades de cura dos meus medos, percebi logo, que a Biodança oferecia algumas inovações em relação a outras terapias que eu tentara até então.
Estas inovações se constituíam por retirar a abordagem terapêutica de um nível mental para o plano da emoção e da intuição, dentro de um processo de interação coletiva.
O Castelo foi trabalhado dentro deste processo como forma de recriar os fenômenos envolvidos nos distúrbios de adaptação social que me aprisionavam desde a mais tenra infância, com conseqüentes profundos prejuízos ao meu desenvolvimento profissional e social.
A idéia de se criar um mundo paralelo para onde possamos transportar esta realidade esmagadora, muitas vezes insuportável que a selva de pedras nos impõe não é nova.
As fabulas, os mitos e os contos têm esta prerrogativa de estabelecer representações daquilo que chamamos realidade, só que a uma distância tal que permite-nos sair dos epicentros das tormentas que nos envolvem e nos arrastam para abismos existenciais.
Ao contarmos uma história representativa destas realidades, saímos da condição de protagonista para a de narrador da trama, nos colocando como observadores privilegiados de todo o processo.
Tratar de temas que envolvem os fenômenos psíquico-emocionais, na condição de leigo não é tarefa fácil.
Isto porque temos dificuldades de separarmos dentro de nós o medico do paciente.
O auto-envolvimento nos fenômenos da psique, nos levam, via de regra ao labirinto do “Minotauro”, onde as saídas conquanto próximas, desaparecem nas redes subterrâneas entrelaçadas dos nossos complexos.
Creio que muitos terapeutas têm seu interesse inicial pela psicologia numa busca pelas ferramentas e conhecimentos que lhes permitam entender e superar suas próprias fragilidades.
Só que ao tratar dos fenômenos em questão o fazem como especialistas e não como ex-pacientes, porque é parte de sua áurea de autoridade profissional não expor fragilidades mesmo que já superadas.
Para a sociedade “quem foi rei nunca perde a majestade” ou “ou pau que nasce torto, morre torto”, como forma de dizer que não crer na cura, superação ou transformação do ser humano.
Quem se disporia a tratar com um terapeuta que, no passado sofreu de distúrbios idênticos aos seus?
A minha idéia aqui é justamente tratar destas questões, não como terapeuta, mas como ex-paciente que viveu na pele todos os processos de inadequação social, com suas conseqüências funestas e dolorosas.
A minha cura efetiva ocorreu na idade adulta, quando parte de mim já desistira da luta.
Entendi então que toda cura é auto-cura e parte de uma decisão determinada do paciente, onde o terapeuta é apenas facilitador do processo.
Digo apenas, sem desmerecer sua atuação, porque na maioria das vezes, sem ele, podemos continuar nos debatendo contra nossos fantasmas em redes cada vez mais emaranhadas e mais distantes da cura.
Não podemos, no entanto nos eximir de nossas responsabilidades naquilo que temos de mais sagrado, a nossa realização pessoal e a conquista e desenvolvimento de nossos talentos.
Jogar todas as fichas no terapeuta é deixar nas mãos de outrem aquilo que de nossa exclusiva competência.
É criar um “salvador da pátria” em nossas vidas perpetuando definitivamente nossas dependências e fragilidades.
Qualquer terapia pode nos fornecer asas para voar, ou muletas para caminhar precariamente. Depende de nós.
Nossas muletas vão permitir que levemos uma vida, muitas vezes razoavelmente boa, conquanto limitada.
Com nossas asas, conquistadas num embate difícil contra as forças limitadoras e castradoras que “O Castelo” os impõe, podemos finalmente liberar e expandir nossos talentos, dentro da ordem primordial do Universo, que é “crescer e multiplicar”.
A grande experiência humana é construída dentro de um processo de erros e acertos, que vão compondo o acervo do conhecimento Humano.
As gerações que chegam se valem dos mapas traçados pelos pioneiros e recebem o bastão para dar continuidade ao avanço da evolução.
O Castelo começou a ser escrito a partir de uma pergunta simples que me fiz.
“Porque eu tinha tantas dificuldades em freqüentar ambientes sociais, a começar pelo familiar”.
A família pode ser considerada como primeiro espaço onde exercitamos nossas habilidades sociais, e ser bem sucedido neste espaço é crucial para nosso sucesso pessoal e profissional.
A resposta que me apareceu na mente não foi racional, mas na forma de imagens, como num filme.
Vi-me no meio de uma floresta, em exílio e lá ao longe, a torre alta, do Castelo, projetando sua sombra sinistra sobre todo o vale. E aí começou a história.
O Castelo ao ser escrito, ofereceu-me o cenário medieval, com soluções neuro-lingüísticas que me facilitaram o retorno, quase que imediato para o seio da minha família e da sociedade, onde já me via como renegado.
Ser bem sucedido em família não significa ficarmos sob sua tutela e condescendência, mas nos tornarmos parte do seu processo coletivo de cooperação.
Aquelas respostas que apaziguaram minhas relações familiares e sociais, e redundaram a seguir num vigoroso processo de criação literária, podem, quem sabe, fornecer subsídios para quem se sente prisioneiro de seu próprio castelo.
Como aqueles mapas que me referi anteriormente, O Castelo pode oferecer uma trilha dentro da representação subconsciente, e permitir que outros prisioneiros encontrem suas próprias saídas rumo a sua liberdade de expressão e criação.
Para que O Castelo cumpra este objetivo vou incluir um anexo com a contribuição de especialistas e pessoas que se sentem limitadas, boicotadas e prisioneiras das suas engrenagens.
Nossa proposta é tratar aqui de todos os distúrbios de cunho psíquico/social que limitam do ponto de vista pessoal, o pleno desenvolvimento e o aforar dos talentos.
Estes distúrbios inserem um largo espectro de fenômenos que recebem por suas peculiaridades, nominações diversas.
Timidez, introversão, fobias sociais, bipolaridade, depressão e outros que serão acrescidos há seu tempo.
Quem quiser ceder seu depoimento sem se expor pode usar pseudônimo e fazer parte deste trabalho interativo e inovador, contribuindo e se beneficiando das experiências de terceiros.
A busca de nossa melhor capacidade e nossos talentos é uma ordem determinante que vibra pelos tempos e espaços dentro do plano da criação.
Nossa realização pessoal depende de sabermos responder ao chamado da Alma que ecoa na Eternidade.

Ajude a alguem que você preza dando um breve depoimento.


(*)João Drummond é jornalista, escritor e crítico social. Realiza pesquisa avançadas na área da abordagem transpessoal.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Perguntou-lhe Pilatos: Que é a verdade? - O limiar do espetáculo e da dor.

Segundo a tradição dos evangelistas, no Novo Testamento da Biblia cristã:

A cena apresentava a figura do Nazareno, com as mãos, atadas e em certo momento Pilatos indaga: - O que é a verdade? A sequência do texto é expressa pelo evangelista João conforme reproduzimos abaixo:

“Perguntou-lhe, pois, Pilatos: Logo tu és rei? Respondeu Jesus: Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz. João 18:37”

“Perguntou-lhe Pilatos: Que é a verdade? E dito isto, de novo saiu a ter com os judeus, e disse-lhes: Não acho nele crime algum João 18:38”

O silêncio de Jesus face à pergunta me pertubava. Como podia o filho de Deus calar-se pertante uma das indagações mais contundentes para todos os humanos? O incômodo deste silêncio tinha uma marca profundamente existencial e produzia uma ressonância em uma estrofe do poema “Alguma Poesia”, de Carlos Drummond de Andrade:

“(...) Meu Deus, porque me abandonaste

se sabias que eu não era Deus

se sabias que eu era fraco.(...)”

Com o peso desta dúvida, tomada como pessoal, inicio minha trajetória em busca de alguma resposta. Afinal o que é a verdade? Porque em nome de uma verdade formamos exércitos, matamos e morremos? A minha verdade é uma mentira para meu inimigo, que defende a sua verdade, mentira para mim, em nome de Deus.

Em busca de uma sistematização

O saber científico ao se identificar como A Ciência constrói verdadeiras muralhas em relação aos outros saberes – afinal ele é fruto de um método racional, de uma história que afirma este método e da própria objetividade que o credencia como saber legítimo. Mas neste caso faria sentido indagarmos sobre um possível diálogo entre Filosofia e Psicologia? De qual filosofia? De qual psicologia?

Provavelmente, por isto mesmo, o cientificismo (e seus ramos dentro da psicologia, como a utilização instrumentalizada do próprio Behaviorismo) ganha feições de dogma. O domínio e as descobertas científicas afastaram a filosofia de sua principal tarefa, que é o contínuo se indagar e se questionar.

Então a busca para o sentido da verdade estaria condenada ao um debate estéril? Neste momento o debate nos coloca face à necessidade de entendimento histórico e filosófico do sentido da palavra verdade, porque a que nos referimos quando dizemos que isto é verdade ou isto não verdade? Mais uma vez buscaremos em Marilena Chauí uma contribuição para o sentido da palavra verdade.

Conforme esta filósofa a origem da palavra verdade possui três fontes distintas: do grego (aletheia), do latim (veritas) e do hebráico (emunah):

“Aletheia se refere ao que as coisas são; veritas se refere aos fatos que foram; emunah se refere às ações e as coisas que serão. A nossa concepção da verdade é uma síntese dessas três fontes e por isso se refere às coisas presentes (como na aletheia), aos fatos passados (como na veritas) e às coisas futuras (como na emunah). Também se refere à própria realidade (como na aletheia), à linguagem (como na veritas) e à confiança-esperança (como na emunah). Palavras como “averiguar” e “verificar” indicam buscar a verdade; “veredicto” é pronunciar um julgamento verdadeiro, dizer um juízo veraz; “verossímil” e “verossimilhante” significam: ser parecido com a verdade, ter traços semelhantes aos de algo verdadeiro.” (Marilena Chaui, Convite à Filosofia De Marilena Chaui Ed. Ática, São Paulo, 2000.)

Estas três noções comportariam praticamente a maioria das teorias a respeito da verdade, entendendo a verdade como validade racional (adequação do nosso intelecto ao objeto, ou do objeto ao nosso intelecto), validade lógica (fundada na coerência interna dos enunciados) e validade consensada (baseada em um consenso de uma comunidade de pensadores). Mas uma quarta noção que ganhou expressão particular a partir do Iluminismo é a da verdade como verificação empírica, fundada naquilo que nos informa os sentidos.

Qualquer que seja a definição de verdade existe pontos fundamentais na sua busca: o entendimento de nossos condicionamentos no observar a natureza, seja porque nos apoiamos apenas no senso originário de nossas experiências não sistemáticas do cotidiano, seja pelos nossos preconceitos (pré julgamento do real), sejam os erros dos nossos sentidos (olho para o sol e vejo um objeto do tamanho de um balão); ou ainda daquilo que por nosso posicionamento de classe filtramos como o real. A verdade nasce da emancipação plena e só nesta condição nossos juizos poderão possuir esta intimidade com aquilo que definimos como real ou como o ser.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Condenados à Liberdade: ainda reflexões se outono.

Somos condenados à liberdade? Farei algumas reflexões:
Sartre é uma figura emblemática e em minha opinião o mais importante filósofo do século XX. Manteve uma vida ativa como professor, escritor, crítico social, ativista político, deixando um legado na filosofia que ainda não foi inteiramente assimilado: o compromisso humanista existencial com a liberdade. Sartre fez esta trajetória sem cair em qualquer forma de niilismo e/ou alienação. Ao contrário: a existência humana é a única ancoragem para sua ética, construída como um ato fundamental de escolha, dentro da liberdade. Eu gosto da metáfora de Adão e Eva expulsos do paraíso. O que é o paraíso? Um estado de não escolha, de total indiferenciação. A comerem o fruto da Árvore do Bem e do Mal eles ganham consciência (perdem a ingenuidade) e entram em um estado que precisam fazer escolhas. Eles são condenados a escolhas. Qualquer que seja a escolha possível, com todos os limites da alienação, dos condicionamentos culturais e outros limites, estará sempre condenado a uma escolha. E este é um ato solitário, ainda que se dê no espaço social e na história. Porque escolho não fazer apropriações individuais da produção social? Nada me obriga a isto. Porque escolho que a vida deve ser defendida como valor supremo? Instinto de conservação da espécie? Pode ser. Mas porque este mesmo instinto não me impede de escolher dizimar meus iguais com armas de destruição em massa, com políticas de exclusão social, com atos de colonialismo e dominação. Que instinto é este? E não podemos fugir do seu exameE se Deus de fato não existir? Será esta de fato a pergunta relevante? Vejo dois conceitos caminharem muito próximo: o de materialismo e ateísmo. Qual a relevância desta proposta? Excluindo as atitudes mais neuróticas, que transformam qualquer visão em fundamentalismo, a questão central deveria ser outra; sendo mais preciso - deveria caminhar na direção de nos olharmos como humanos. Quais nossas singularidades? Sabemos que somos herdeiros do Big Ban. Isto não é pouco. Esta ancestralidade me liga à história do próprio universo. Sabemos nossa condição de seres relacionais. Somos gregários. E principalmente, sabemos que sabemos todas estas coisas. Mas somos seres que possuem a mesma trajetória dos entes vivos: somos efêmeros. Somos realmente efêmeros? Se o único espaço em que posso realizar de minha experiência de vida é o agora, cada agora contém uma eternidade. A morte soe acontecer. "Todavia, toda vida é indagação do achado" (diz Drummond). Indagação do depois de agora. Daqui a 10 dias vence o aluguel. Não tenho como pagar hoje e não tenho perspectiva de pagá-lo no depois de hoje. Meu sofrimento do depois de hoje é agora. Por isto sofro agora com minha finitude. Desta forma me convém acreditar que sou infinito. Afinal uma série numérica é infinita! Porque eu também não poderia sê-lo? E se for assim vou vier agora minha eternidade: o pós tempo - o pós história. E é provável que o pós tempo exista. Pois se o tempo é, o é em face de do não-tempo. Ou seja, posso aliviar agora meu sofrimento com a vivência do não-tempo. De mais a mais a experiência do divino é em mim que se concreta. Este humano-divino é uma experiência real. Nela esta minha transcendência e minha imanência. E em todos os casos a pergunta inicial não faz qualquer sentido, porque equivale a perguntar - e se Deus existir? Este divino continua sendo uma experiência que se realiza agora, em mim e para mim.
A impressão que ficamos após a leitura de "O Existencialismo é um Humanismo" é de que Sartre, embora afirme em contrário, confere à experiência de liberdade de escolha uma dimensão divina; ele absolutiza a responsabilidade do humano singular, transformando esta escolha em um padrão de transcendência dos seres singulares para os seres "categoria". Sartre repete o tempo todo sobre a inexistência de uma natureza humana, mas impressão que tenho é que ele deixa de considerar as contribuições da antropologia, da psicologia social e da ecologia social. O conceito de Teia da Vida, presente na Teoria de Santiago (Maturana e Varela) nos lembra que a cognição é uma propriedade da vida; que existe um padrão de rede desde as micro-particulas até os conjuntos mais complexos. Um padrão que é anterior ao próprio surgimento dos organismos vivos. Um padrão que está presente na organização da matéria. Este padrão cria uma ética da ecologia profunda, onde a liberdade é a liberdade comprometida, mas a liberdade possível. Não existe outra forma de liberdade. A escolha é a escolha possível e condicionada por este padrão: pode ser a cultura, o inconsciente (Freud e Jung) e visão de classe (Marx). Sartre parece conferir demasiado valor ao cogito (Kant), deixando de considerar dimensões como a intuição nos processos de escolha. A intuição é uma experiência (como tal um fenômeno e uma fato da existência) que nos confere um sentido de certeza. É com base nesta certeza que faço minhas escolhas. Não me parece que haja um grau de liberdade significativo quando o que me movimenta é a certeza, resultante de um insigt.
Conhecer Sartre é conhecer sua motivação íntima: como esta responsabilidade que ele nos conta se constrói na história. Sartre sabia que existem pelo menos dois grandes filtros que balizam nossas escolhas: o inconsciente (Freud) e a visão de classe (Marx). O limite íntimo destas escolhas é que me parece estar em questão. Volto minha lembrança a Carlos Takaoka e a todos como ele que passaram por provações físicas e psicológicas profundas, como os prisioneiros de guerra, como Sartre. De todas as guerras. Nunca soube se o Takaoka era ateu ou não, se era materialista ou idealista. Naturalmente o Takaoka possuía forte influência de usa origem oriental. Falávamos sobre a natureza e sentido de nossas escolhas e do nosso engajamento político. Criticávamos as noções de necessidade (imperativos) histórica, como muito determinista para qualquer forma de liberdade. Então ele me contou o seguinte Koan (trata-se um dito ou ato de um mestre Zen).
- Um jovem monge perguntou ao seu mestre: O que é mais importante: carregar o Buda ou lavar os pratos? Ao que o mestre respondeu: O mais importante é lavar o Buda e carregar os pratos.
O pensamento ocidental é muito marcado por alternativas excludentes e o Takaoka me lembrava que uma ética assentada em escolhas excludentes era estranha para ele. Porque existindo ou não uma divindade a sacralidade dos humanos justificavam uma opção humanista. E este provavelmente foi o maior legado de Sartre.

segunda-feira, 22 de março de 2010

SARTRE ME VISITA EM SETE LAGOAS, MG! E DAI?

CONDENADO
Brincar com as palavras.
Zombar dos versos praticados
Quando os lábios devoram lábios
De sangue.
Jogar com os amigos e prometer aos filhos
Certos atos de bravura. Comer sal
E comer pedra.
Talvez assim
Um verso se faça
No coração de um poeta
Condenado à vida.
(Frederico Drummond, in Anjo Vingador – SP 1977)

O ano de 1977 foi particularmente simbólico para muitos de minha geração. A grande maioria dos partidos de esquerda, que exerciam alguma ação contra o regime militar no Brasil, já estava dizimada. Um sentimento de desesperança em relação ao nosso sonho socialista teimava em ganhar proporções. Foi neste ambiente que proclamei, no poema acima, como uma condenação continuar buscando a liberdade e a vida. Carlos Takaoka, um artista plástico, que ganhara há pouco tempo a liberdade, depois de ficar cinco anos na prisão, como prisioneiro político, leu meu poema e retrucou-me com outro poema, em que ele recusava a vida como uma condenação, mas como um ato de liberdade. Sem sabermos estávamos no coração dos temas mais caros ao filósofo Jean Paul Sartre. Mesmo porque a visão que tínhamos dele era de um anarquista, que com sua pregação criava vacilações nas opções políticas do povo francês. Passados 30 anos vejo-me face a face com o Anjo Vingador. Se a história não possui um sentido teleológico qual a nossa bússola? E se Deus não nos presenteará com a Terra onde jorra o Leite e o Mel, resgatando nossos pecados da vacilação pequena burguesa, o que será de nós? Enfim que espécie de prisão é a vida, onde construímos nossos projetos de liberdade e prometemos aos filhos certos atos de bravura? Tomamos na prateleira o livro Sentimentos do Mundo, do poeta Carlos Drummond e defrontamos com um trecho do poema Elegia 1938 (1938?):
“(...) Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
E sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.(...)”
E no final o poeta proclama:
“(...) Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.(...)”

Nem a deliciosa alienação do sono, nem o conforto da impotência nos resgatam, nos levando a aceitar a “injusta distribuição” no sossego de não fazer qualquer escolha.
Sartre fazendo a defesa de sua ética existencialista (e sua dimensão profundamente humanista) nos lembra: - “O que as pessoas, obscuramente, sentem, e que as atemoriza, é que o covarde que nós lhe apresentamos é o culpado por sua covardia. O que as pessoas querem é que nasçamos covardes ou heróis.” Porque afinal se em minha covardia ou em minha alienação não posso sozinho dinamitar Manhattan, porque me responsabilizam pela guerra, pela chuva e o desemprego? “O que o existencialista afirma é que o covarde se faz covarde, que o herói se faz herói” – diz Sartre. E que dinamitar Manhattan ou não é um escolha inteiramente minha, pela qual responderei. E que se este ato expressar uma atitude voluntariosa ou conseqüente será uma conseqüência de minha exclusiva liberdade.
Somos então prisioneiros da liberdade? Não é isto que nos afirma Sartre, de vez que ser prisioneiro já é um condicionante. Parece existir aí um aparente paradoxo e é sobre este ponto que vou dirigir minhas reflexões.

Somos condenados à liberdade? Farei algumas reflexões:
Sartre é uma figura emblemática e em minha opinião o mais importante filósofo do século XX. Manteve uma vida ativa como professor, escritor, crítico social, ativista político, deixando um legado na filosofia que ainda não foi inteiramente assimilado: o compromisso humanista existencial com a liberdade. Sartre fez esta trajetória sem cair em qualquer forma de niilismo e/ou alienação. Ao contrário: a existência humana é a única ancoragem para sua ética, construída como um ato fundamental de escolha, dentro da liberdade. Eu gosto da metáfora de Adão e Eva expulsos do paraíso. O que é o paraíso? Um estado de não escolha, de total indiferenciação. A comerem o fruto da Árvore do Bem e do Mal eles ganham consciência (perdem a ingenuidade) e entram em um estado que precisam fazer escolhas. Eles são condenados a escolhas. Qualquer que seja a escolha possível, com todos os limites da alienação, dos condicionamentos culturais e outros limites, estará sempre condenado a uma escolha. E este é um ato solitário, ainda que se dê no espaço social e na história. Porque escolho não fazer apropriações individuais da produção social? Nada me obriga a isto. Porque escolho que a vida deve ser defendida como valor supremo? Instinto de conservação da espécie? Pode ser. Mas porque este mesmo instinto não me impede de escolher dizimar meus iguais com armas de destruição em massa, com políticas de exclusão social, com atos de colonialismo e dominação. Que instinto é este? E não podemos fugir do seu exameE se Deus de fato não existir? Será esta de fato a pergunta relevante? Vejo dois conceitos caminharem muito próximo: o de materialismo e ateísmo. Qual a relevância desta proposta? Excluindo as atitudes mais neuróticas, que transformam qualquer visão em fundamentalismo, a questão central deveria ser outra; sendo mais preciso - deveria caminhar na direção de nos olharmos como humanos. Quais nossas singularidades? Sabemos que somos herdeiros do Big Ban. Isto não é pouco. Esta ancestralidade me liga à história do próprio universo. Sabemos nossa condição de seres relacionais. Somos gregários. E principalmente, sabemos que sabemos todas estas coisas. Mas somos seres que possuem a mesma trajetória dos entes vivos: somos efêmeros. Somos realmente efêmeros? Se o único espaço em que posso realizar de minha experiência de vida é o agora, cada agora contém uma eternidade. A morte soe acontecer. "Todavia, toda vida é indagação do achado" (diz Drummond). Indagação do depois de agora. Daqui a 10 dias vence o aluguel. Não tenho como pagar hoje e não tenho perspectiva de pagá-lo no depois de hoje. Meu sofrimento do depois de hoje é agora. Por isto sofro agora com minha finitude. Desta forma me convém acreditar que sou infinito. Afinal uma série numérica é infinita! Porque eu também não poderia sê-lo? E se for assim vou vier agora minha eternidade: o pós tempo - o pós história. E é provável que o pós tempo exista. Pois se o tempo é, o é em face de do não-tempo. Ou seja, posso aliviar agora meu sofrimento com a vivência do não-tempo. De mais a mais a experiência do divino é em mim que se concreta. Este humano-divino é uma experiência real. Nela esta minha transcendência e minha imanência. E em todos os casos a pergunta inicial não faz qualquer sentido, porque equivale a perguntar - e se Deus existir? Este divino continua sendo uma experiência que se realiza agora, em mim e para mim.
A impressão que ficamos após a leitura de "O Existencialismo é um Humanismo" é de que Sartre, embora afirme em contrário, confere à experiência de liberdade de escolha uma dimensão divina; ele absolutiza a responsabilidade do humano singular, transformando esta escolha em um padrão de transcendência dos seres singulares para os seres "categoria". Sartre repete o tempo todo sobre a inexistência de uma natureza humana, mas impressão que tenho é que ele deixa de considerar as contribuições da antropologia, da psicologia social e da ecologia social. O conceito de Teia da Vida, presente na Teoria de Santiago (Maturana e Varela) nos lembra que a cognição é uma propriedade da vida; que existe um padrão de rede desde as micro-particulas até os conjuntos mais complexos. Um padrão que é anterior ao próprio surgimento dos organismos vivos. Um padrão que está presente na organização da matéria. Este padrão cria uma ética da ecologia profunda, onde a liberdade é a liberdade comprometida, mas a liberdade possível. Não existe outra forma de liberdade. A escolha é a escolha possível e condicionada por este padrão: pode ser a cultura, o inconsciente (Freud e Jung) e visão de classe (Marx). Sartre parece conferir demasiado valor ao cogito (Kant), deixando de considerar dimensões como a intuição nos processos de escolha. A intuição é uma experiência (como tal um fenômeno e uma fato da existência) que nos confere um sentido de certeza. É com base nesta certeza que faço minhas escolhas. Não me parece que haja um grau de liberdade significativo quando o que me movimenta é a certeza, resultante de um insigt.
Conhecer Sartre é conhecer sua motivação íntima: como esta responsabilidade que ele nos conta se constrói na história. Sartre sabia que existem pelo menos dois grandes filtros que balizam nossas escolhas: o inconsciente (Freud) e a visão de classe (Marx). O limite íntimo destas escolhas é que me parece estar em questão. Volto minha lembrança a Carlos Takaoka e a todos como ele que passaram por provações físicas e psicológicas profundas, como os prisioneiros de guerra, como Sartre. De todas as guerras. Nunca soube se o Takaoka era ateu ou não, se era materialista ou idealista. Naturalmente o Takaoka possuía forte influência de usa origem oriental. Falávamos sobre a natureza e sentido de nossas escolhas e do nosso engajamento político. Criticávamos as noções de necessidade (imperativos) histórica, como muito determinista para qualquer forma de liberdade. Então ele me contou o seguinte Koan (trata-se um dito ou ato de um mestre Zen).
- Um jovem monge perguntou ao seu mestre: O que é mais importante: carregar o Buda ou lavar os pratos? Ao que o mestre respondeu: O mais importante é lavar o Buda e carregar os pratos.
O pensamento ocidental é muito marcado por alternativas excludentes e o Takaoka me lembrava que uma ética assentada em escolhas excludentes era estranha para ele. Porque existindo ou não uma divindade a sacralidade dos humanos justificavam uma opção humanista. E este provavelmente foi o maior legado de Sartre.

Republicação de artigo deste blog e CONVITE A UM CAFÉ FILOSÓFICO no mês de Abril.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Ministério Público de SP diz que doleiro não citou Vaccari e nem Bancoop ao depor

O Ministério Público Federal de São Paulo (MPF-SP) informou nesta sexta-feira (19), em nota oficial, que o material que recebeu da Procuradoria-Geral da República (PGR) e que embasou a denúncia contra o doleiro Lúcio Bolonha Funaro por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro não faz nenhuma menção ao ex-presidente da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop) João Vaccari Neto, atual tesoureiro do PT. O depoimento foi colhido em 2008 como parte do processo do mensalão.

Em nota, a procuradora Anamara Osório Silva, autora da denúncia oferecida em junho de 2008 e que levou à ação penal que tramita na Justiça contra Funaro e seu sócio, José Carlos Batista, esclareceu também que não pode confirmar se o depoimento concedido por Funaro em Brasília se deu por delação premiada. "Tanto na documentação remetida pela PGR a São Paulo, que embasou a denúncia, quanto na própria acusação formal remetida à Justiça pelo MPF-SP, é necessário esclarecer, não há nenhuma menção ao ex-presidente da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop) João Vaccari Neto", afirma o texto. "O MPF em São Paulo não pode confirmar se o depoimento de Funaro, concedido em Brasília, se deu sob o instituto da 'delação premiada'."

De acordo com a Procuradoria, os depoimentos de Funaro dão conta de que ele e Batista se utilizaram da empresa da Garanhuns Empreendimentos para dissimular a transferência de R$ 6,5 milhões da agência de publicidade SMP&B, de Marcos Valério, ao antigo Partido Liberal (PL). "São sobre essas operações de lavagem de dinheiro que trata o processo, que tramita normalmente perante à 2ª Vara Federal. A última movimentação processual constante é de fevereiro de 2010", diz a nota. De acordo com a PGR, o material referente aos depoimentos de Funaro foi encaminhado ao MPF-SP pelo então procurador geral da República Antonio Fernando de Souza.

"Essa é mais uma prova de que Veja mentiu novamente. O objetivo da revista é provocar uma guerra eleitoral visando desgatar o PT e assim prejudicar a campanha da companheira Dilma à Presidência da República", afirmou Francisco Campos, dirigente nacional do PT.

NOSSA FOME DE VIDA E DE JUSTIÇA.

A FOME DE MARINA

Por José Ribamar Bessa Freire*

Há pouco, Caetano Veloso descartou do seu horizonte eleitoral o presidente Lula da Silva, justificando: “Lula é analfabeto”. Por isso, o cantor baiano aderiu à candidatura da senadora Marina da Silva, que tem diploma universitário. Agora, vem a roqueira Rita Lee dizendo que nem assim vota em Marina para presidente, “porque ela tem cara de quem está com fome”.

Os Silva não têm saída: se correr o Caetano pega, se ficar a Rita come.

Tais declarações são espantosas, porque foram feitas não por pistoleiros truculentos, mas por dois artistas refinados, sensíveis e contestadores, cujas músicas nos embalam e nos ajudam a compreender a aventura da existência humana.

Num país dominado durante cinco séculos por bacharéis cevados, roliços e enxudiosos, eles naturalizaram o canudo de papel e a banha como requisitos indispensáveis ao exercício de governar, para o qual os Silva, por serem iletrados e subnutridos, estariam despreparados.

Caetano Veloso e Rita Lee foram levianos, deselegantes e preconceituosos. Ofenderam o povo brasileiro, que abriga, afinal, uma multidão de silvas famélicos e desescolarizados.

De um lado, reforçam a ideia burra e cartorial de que o saber só existe se for sacramentado pela escola e que tal saber é condição sine qua non para o exercício do poder. De outro, pecam querendo nos fazer acreditar que quem está com fome carece de qualidades para o exercício da representação política.

A rainha do rock, debochada, irreverente e crítica, a quem todos admiramos, dessa vez pisou na bola. Feio.“Venenosa! Êh êh êh êh êh!/ Erva venenosa, êh êh êh êh êh!/ É pior do que cobra cascavel/ O seu veneno é cruel…/ Deus do céu!/ Como ela é maldosa!”.

Nenhum dos dois - nem Caetano, nem Rita - têm tutano para entender esse Brasil profundo que os silvas representam.

A senadora Marina da Silva tem mesmo cara de quem está com fome? Ou se trata de um preconceito da roqueira, que só vê desnutrição ali onde nós vemos uma beleza frágil e sofrida de Frida Kahlo, com seu cabelo amarrado em um coque, seus vestidos longos e seu inevitável xale? Talvez Rita Lee tenha razão em ver fome na cara de Marina, mas se trata de uma fome plural, cuja geografia precisa ser delineada. Se for fome, é fome de quê?

O mapa da fome
A primeira fome de Marina é, efetivamente, fome de comida, fome que roeu sua infância de menina seringueira, quando comeu a macaxeira que o capiroto ralou. Traz em seu rosto as marcas da pobreza, de uma fome crônica que nasceu com ela na colocação de Breu Velho, dentro do Seringal Bagaço, no Acre.

Órfã da mãe ainda menina, acordava de madrugada, andava quilômetros para cortar seringa, fazia roça, remava, carregava água, pescava e até caçava. Três de seus irmãos não aguentaram e acabaram aumentando o alto índice de mortalidade infantil.

Com seus 53 quilos atuais, a segunda fome de Marina é dos alimentos que, mesmo agora, com salário de senadora, não pode usufruir: carne vermelha, frutos do mar, lactose, condimentos e uma longa lista de uma rigorosa dieta prescrita pelos médicos, em razão de doenças contraídas quando cortava seringa no meio da floresta. Aos seis anos, ela teve o sangue contaminado por mercúrio. Contraiu cinco malárias, três hepatites e uma leishmaniose.

A fome de conhecimentos é a terceira fome de Marina. Não havia escolas no seringal. Ela adquiriu os saberes da floresta através da experiência e do mundo mágico da oralidade. Quando contraiu hepatite, aos 16 anos, foi para a cidade em busca de tratamento médico e aí mitigou o apetite por novos saberes nas aulas do Mobral e no curso de Educação Integrada, onde aprendeu a ler e escrever.

Fez os supletivos de 1º e 2º graus e depois o vestibular para o Curso de História da Universidade Federal do Acre, trabalhando como empregada doméstica, lavando roupa, cozinhando, faxinando.

Fome e sede de justiça: essa é sua quarta fome. Para saciá-la, militou nas Comunidades Eclesiais de Base, na associação de moradores de seu bairro, no movimento estudantil e sindical. Junto com Chico Mendes, fundou a CUT no Acre e depois ajudou a construir o PT.

Exerceu dois mandatos de vereadora em Rio Branco, quando devolveu o dinheiro das mordomias legais, mas escandalosas, forçando os demais vereadores a fazerem o mesmo. Elegeu-se deputada estadual e depois senadora, também por dois mandatos, defendendo os índios, os trabalhadores rurais e os povos da floresta.

Quem viveu da floresta, não quer que a floresta morra. A cidadania ambiental faz parte da sua quinta fome. Ministra do Meio Ambiente, ela criou o Serviço Florestal Brasileiro e o Fundo de Desenvolvimento para gerir as florestas e estimular o manejo florestal.

Combateu, através do Ibama, as atividades predatórias. Reduziu, em três anos, o desmatamento da Amazônia de 57%, com a apreensão de um milhão de metros cúbicos de madeira, prisão de mais 700 criminosos ambientais, desmonte de mais de 1,5 mil empresas ilegais e inibição de 37 mil propriedades de grilagem.

Tudo vira bosta
Esse é o retrato das fomes de Marina da Silva que - na voz de Rita Lee - a descredencia para o exercício da presidência da República porque, no frigir dos ovos, “o ovo frito, o caviar e o cozido/ a buchada e o cabrito/ o cinzento e o colorido/ a ditadura e o oprimido/ o prometido e não cumprido/ e o programa do partido: tudo vira bosta”.

Lendo a declaração da roqueira, é o caso de devolver-lhe a letra de outra música - ‘Se Manca’ - dizendo a ela: “Nem sou Lacan/ pra te botar no divã/ e ouvir sua merda/ Se manca, neném!/ Gente mala a gente trata com desdém/ Se manca, neném/ Não vem se achando bacana/ você é babaca”.

Rita Lee é babaca? Claro que não, mas certamente cometeu uma babaquice. Numa de suas músicas - ‘Você vem’ - ela faz autocrítica antecipada, confessando: “Não entendo de política/ Juro que o Brasil não é mais chanchada/ Você vem… e faz piada”. Como ela é mutante, esperamos que faça um gesto grandioso, um pedido de desculpas dirigido ao povo brasileiro, cantando: “Desculpe o auê/ Eu não queria magoar você”.

A mesma bala do preconceito disparada contra Marina atingiu também a ministra Dilma Rousseff, em quem Rita Lee também não vota porque, “ela tem cara de professora de matemática e mete medo”. Ah, Rita Lee conseguiu o milagre de tornar a ministra Dilma menos antipática! Não usaria essa imagem, se tivesse aprendido elevar uma fração a uma potência, em Manaus, com a professora Mercedes Ponce de Leão, tão fofinha, ou com a nega Nathércia Menezes, tão altaneira.

Deixa ver se eu entendi direito: Marina não serve porque tem cara de fome. Dilma, porque mete mais medo que um exército de logaritmos, catetos, hipotenusas, senos e co-senos. Serra, todos nós sabemos, tem cara de vampiro. Sobra quem?

Se for para votar em quem tem cara de quem comeu (e gostou), vamos ressuscitar, então, Paulo Salim Maluf ou Collor de Mello, que exalam saúde por todos os dentes. Ou o Sarney, untuoso, com sua cara de ratazana bigoduda. Por que não chamar o José Roberto Arruda, dono de um apetite voraz e de cuecões multi-bolsos? Como diriam os franceses, “il péte de santé”.

O banqueiro Daniel Dantas, bem escanhoado e já desalgemado, tem cara de quem se alimenta bem. Essa é a elite bem nutrida do Brasil…

Rita Lee não se enganou: Marina tem a cara de fome do Brasil, mas isso não é motivo para deixar de votar nela, porque essa é também a cara da resistência, da luta da inteligência contra a brutalidade, do milagre da sobrevivência, o que lhe dá autoridade e a credencia para o exercício de liderança em nosso país.

Marina Silva, a cara da fome? Esse é um argumento convincente para votar nela. Se eu tinha alguma dúvida, Rita Lee me convenceu definitivamente.

(*) Professor, coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ)e pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO)

quinta-feira, 18 de março de 2010

UMA AGENDA DE AÇÃO LOCAL PARA SETE LAGOAS, MG

O texto abaixo foi publicado por este blog, anteriormente, para atender os questionamentos de alguns conterrâneos meus, da cidade de Sete Lagoas, MG. Estou voltando agora ao assunto por um motivo básico. Recentemente firmei uma parceria com a empresa Socioambiental, sediada também em Sete Lagoas e tendo como titulares os meus irmãos, o professor e doutor Murilo e a administradora Tereza Cristina. Esta parceria foi formada através da empresa Theia Viva - Tecnologia Social, que tem sua sede em São Paulo e que passou a atuar a partir de março, em Minas Gerais. São muitos os desafios. A inclusão socioambiental, o fomento à tecnologia social, as inúmeras experiências nacionais e internacionais no campo da economia solidária, a pesquisa dos ecossistemas locais constituem alguns elementos da agenda que pretendemos conduzir. No momento vou deixar esta reflexão abaixo, pontuando uma metodologia simples, mas que abre muitos espaço para o significado da Ação Local.

As recentes preocupações com a ecologia mostraram-nos o quanto estamos próximo de uma liquidação do nosso planeta. O estágio que alcançou o capitalismo, reforçando o conceito de exploração literalmente de tudo, lembra-nos a lição da própria dialética: a reação à todo tipo de exploração é a nova síntese que se constrói mundialmente. Existe uma pedagogia para esta reação: a ecologia não é algo exterior nem aos indivíduos, nem às suas organizações e à sociedade.
Assim se constrói a busca de um diagnóstico para o que chamaremos de
a) Ecologia interior;
b) Ecologia social e
c) Ecologia ambiental.
O valor que permeia este diagnóstico é a compaixão e ação a solidariedade. O espaço da ação é o nosso espaço; o locus do nosso cotidiano. Onde moramos, onde aprendemos e principalmente, como ensinamos e como aprendemos. Ninguém pode se dá ao luxo do pessimismo e se ausentar desta tarefa. A pedagogia da Ecologia Interior ou Pessoal envolve desde as práticas religiosas, como exercícios de equilíbrio do tipo da yoga, restauração de práticas de revitalização da família, dos amigos e todos os laços afetivos. Na Ecologia Social o grande desafio é a construção da Economia e da Vida Solidária e todo modelo educacional voltado para este desenvolvimento e ações políticas, através de grupos de pressão, sindicatos, partidos políticos, etc. Na Ecologia Ambiental a ação pode volta-se para o estudo da biodiversidade, das tecnologias genéticas e no âmbito mais cotidiano para pressões que busquem estancar o consumo do planeta Terra. As ações de reciclagem, a pesquisa da biomassa como fonte de energia, a pressão pelo uso do transporte não predador, são apenas alguns exemplos de ações a serem desenvolvidas. Os partidos de esquerda terão que se defrontar com tais desafios e serem capazes de incorporar as novas demandas, que formulada no FMS podem sintetizar o espaço de uma nova esperança: um outro mundo é possível.

Ações que ajudam a reduzir emissões de GEEs

Todos nós recebemos dezenas de panfletos e catálogos semanalmente nas nossas casas, papéis que muitas vezes nunca pedimos que nos fossem enviados. Apenas ao recusar esse tipo de material, já estaríamos contribuindo para reduzir as emissões de gases do efeito estufa (GEEs) do nosso país. Nos Estados Unidos, uma sociedade que consegue ser ainda mais consumista que a brasileira, uma medida simples como essa, em conjunto com outras pequenas ações, poderia resultar em uma redução de 15% nas emissões.Esta foi a conclusão de um estudo do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais (NRDC) em parceria com o Instituto Garrison. Segundo a análise, trabalhando em medidas comportamentais simples, como uma melhor postura no uso de eletricidade, transporte e alimentação seria possível cortar a emissão de um bilhão de toneladas métricas de GEEs até 2020 nos EUA.

“Enquanto a Casa Branca desenvolve estratégias de energia limpa para reduzir em larga escala a poluição industrial, este estudo dá embasamento para que cada cidadão tenha conhecimento de como ajudar. Todos têm a oportunidade de reduzir as emissões e ainda cortar custos do orçamento doméstico”, declarou Peter Lehner, diretor executivo do NRDC.

Mas os autores do estudo deixam claro que a idéia não é substituir ações governamentais por atos individuais e sim que um complemente o outro. “Essas medidas comportamentais que sugerimos não devem anular políticas energéticas ou de novas tecnologias. Na verdade uma coisa completa a outra e assim ficamos mais perto de uma solução para a crise climática”, explicou Jonathan Rose, co-fundador do Instituto Garrison.

Desperdício

O ponto fundamental da alteração comportamental que as pessoas devem ter em mente é evitar o desperdício. Por exemplo, se cada residência desligasse os aparelhos das tomadas quando não estão em uso, colocasse os computadores para hibernar e apagasse as lâmpadas quando ninguém está precisando delas, isso já reduziria as emissões em 70 milhões de toneladas métricas de carbono equivalente (MMtCO2e) até 2020.

O corte de 25% no desperdício de alimentos significaria outros 65 MMtCO2e não liberados para a atmosfera. Aumentar a reciclagem de papéis, plásticos e metais em 50% pouparia 105 MMtCO2e. Se negar a receber panfletos, catálogos e usar os dois lados de papéis para imprimir em casa já evitaria a liberação de mais 60 MMtCO2e.

“Essa economia comportamental pode nos ajudar a vencer os desafios das mudanças climáticas e apontar maneiras de agirmos não apenas em interesse próprio, mas também com compromisso comunitário. Acredito que podemos alcançar grandes mudanças comportamentais, e não apenas a nível de indivíduos, mas também em organizações, políticas e mercados”, afirmou Rebecca Henderson, diretora da Iniciativa de Negócios e Meio Ambiente da Harvard Business School.

De acordo com Rebecca, as pessoas quando tomam determinada decisão são fortemente influenciadas pela emoção e até mesmo pelo altruísmo. Além disso, o senso de comunidade deveria ser mais explorado para melhorar a postura da sociedade com relação ao desperdício. “Campanhas que levem em conta apenas os ganhos pessoais de cada um são muito limitadas. Os seres humanos são muito mais cooperativos e emotivos do que se pensa”, concluiu a economista.


Autoria:Fabiano Ávila, CarbonoBrasil/NRDC

quarta-feira, 17 de março de 2010

Pesquisa mostra fortalecimento da candidatura Dilma, com o apoio do presidente Lula.

A pesquisa estimulada com os quatro principais pré-candidato à Presidência da República indicou Serra com 35% da intenções de voto dos eleitores, seguido por Dilma Rousseff (PT), que recebeu 30% das intenções. Ciro Gomes (PPS) obteve 11% e Marina Silva (PV), 6%. Brancos e nulos somaram 10% e não sabem ou não responderam, 8%.
A ministra Dilma cresceu 13 pontos percentuais. Em dezembro de 2009, ela tinha 17% das intenções de votos. O governador de São Paulo permanece na liderança, mas com 3 pontos percentuais abaixo do registrado na pesquisa anterior. O deputado Ciro tinha 13% das intenções em dezembro, oscilando 2 pontos percentuais dentro da margem de erro, e Marina Silva manteve os mesmos 6% registrados há três meses.

O intervalo de confiança estimado é de 95% e a margem de erro máxima estimada é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.

fonte:site Terra.

O golpismo da revista Veja e seu fundamento ideológico na direita conservadora.

Os comentários que se seguem são de autoria Altamiro Borges, publicado em seu blog. Eles reforçam as teses detalhadas por Nassif sobre a ação golpistas da revista Veja. Confira:

A Casa Millenium, que reúne a lama da direita midiática nativa, deveria instituir um prêmio para os seus freqüentadores mais sádicos. A revista Veja já é uma forte concorrente. Logo após o seu convescote, ela já produziu duas capas espalhafatosas contra a campanha de Dilma Rousseff. Na primeira, utilizou como “fonte primária” o promotor José Carlos Blat, que foi desautorizado pela Justiça de chofre. Já nesta semana, ela acionou Lúcio Bolonha Funaro, famoso doleiro do rentista Naji Nahas e “sócio” do ex-governador José Roberto Arruda, que permanece preso em Brasília.

As denúncias requentadas do promotor não duraram uma semana. O juiz Carlos Eduardo Franco negou o pedido de Blat de bloqueio das contas da Cooperativa Habitacional dos Bancários e até recusou a quebra do sigilo bancário do ex-presidente da Bancoop, João Vaccari. No despacho, o juiz argumenta que as denúncias de Blat não podem ser “contaminadas” pelo ambiente eleitoral e nem servir à manipulação da sociedade. A revista Veja, que já havia arquivado a sua reportagem de fevereiro de 2005 com relatos dos podres de Blat, preferiu agora ocultar a bronca do juiz.

A ficha suja de Funaro

Mas a famíglia Civita não dará sossego a Dilma Rousseff e seguirá a estratégia traçada nas orgias da Casa Millenium. Para isto, usará os expedientes mais torpes, como ouvir notórios bandidos. A “fonte primária” da Veja desta semana, Lúcio Funaro, tem vastíssima ficha policial. No passado, esteve metido no escândalo do Banestado. Já na Operação Satiagraha, a Polícia Federal o acusou de doleiro Naji Nahas, responsável por remessas ilegais de dinheiro ao exterior. Só não foi preso porque Gilmar Mendes, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, deu-lhe habeas corpus.

Lúcio Funaro também se lambuzou no escândalo do “mensalão do DEM” de Brasília. Em duas investigações assumidas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, ele é citado como pivô da remessa de altas somas para contas de firmas de fachada. A Operação Tucunaré revelou que sacolas de dinheiro eram distribuídas em hotéis do Distrito Federal. A empresa Royster Serviços, de Lúcio Funaro, seria uma das beneficiadas no esquema de corrupção do ex-governador demo José Roberto Arruda – o badalado “vice-careca” do tucano José Serra.

Ligações do doleiro com Serra

Apesar da sua ficha suja, a Veja requentou as denúncias de Funaro contra a Bancoop. Temendo a prisão, ele as apresentou em 2005, mas elas foram rejeitadas pela Justiça. Segundo João Vaccari, que novamente não foi ouvido pela Veja, “passados cinco anos, nunca fui chamado para prestar esclarecimentos no Ministério Público Federal, que não propôs ação contra mim”. Para ele, a nova “reporcagem” é mais um ataque “sem fundamentos ou provas”, que visaria influenciar a eleição presidencial deste ano – conforme a tática traçada no convescote da Casa Millenium.

Mas o desespero da famíglia Civita pode respingar no seu próprio candidato. A “fonte primária” da Veja pode reabrir antigas feridas de José Serra, que teria repassado informações privilegiadas ao doleiro Naji Nahas na venda de ações da empresa paulista de energia. Na ocasião, uma escuta telefônica da Polícia Federal ouviu o doleiro se jactando de que poderia ganhar “80 paus” (R$ 80 milhões) com a venda de ações. Sem papa na língua, ele revelou que “soube pelo próprio Serra a confirmação de que a Cesp seria privatizada”. Será que a Veja irá atrás desta história?

domingo, 14 de março de 2010

Luis Nassif: Para entender a capa da Veja

O jornalista Luis Nassif caracterizou-se por sua seriedade e a forma como analisa e investiga os fatos. É conhecido também por sua coragem em enfrentar veículos da grande mídia, como por exemplo a revista Veja. O jornalista virou um exemplo do exercício diário da democracia. No caso específico da revista Veja, Nassif desnuda com especial competência como são construídos "factoides" para desmoralizar adversários. Acompanhe o texto a seguir:

O modelo de atuação é idêntico ao famoso Relatório do Ministério Público italiano, permanentemente levantado pelo lobby jornalístico de Daniel Dantas – especialmente a revista Veja – para atingir seus inimigos.

Esquematicamente, funciona assim:

1. Começa o inquérito. Apresenta-se, então, uma testemunha dentro do instituto da «delação premiada». Na condição de testemunha, fala o que quer.

2. No momento seguinte, cabe aos titulares do inquérito (procuradores federais) analisar tudo o que foi dito e considerar o que for consistente, jogando fora o que parecer inverossímil. Os elementos consistentes entram na denúncia; os inverossímeis fazem parte do copião.

3. A prova do pudim é simples: se deu o depoimento e ele não gerou um inquérito, é porque a autoridade ou concluiu que era falso ou não encontrou nenhuma prova que confirmasse o teor das acusações.

4. Quem banca o esquema, esconde essa informação do leitor e passa a divulgar o depoimento como se fosse oficial e aceito pelas autoridades. Dentro desse modelo, consegue-se qualquer coisa. Basta um fulano qualquer ir ao MP, declarar o que quiser, fazer a jogada que pretender. O MP não acata, mas divulga-se como sendo parte integrante do inquérito.

O relatório italiano
Vamos relembrar, primeiro, o tal Relatório Italiano:

Um agente do serviço de segurança da Telecom Italia, Marco Bernardini, se apresentou espontaneamente ao MP italiano e passou a distribuir acusações a vários inimigos de Dantas.

Cabe aos condutores do inquérito avaliar se as acusações têm consistência ou se são manobras de uma das partes.

O MP italiano jamais levou a sério suas versões, tanto que nada foi incluído no inquérito final.

Mas o relatório servia para montar escândalos no Brasil e ser utilizado como fator de constrangimento dos adversários de Dantas. Como se recorda, o principal instrumento de Dantas nesse episódio – Diogo Mainardi –, mostrou-se tão empenhado na missão de dar vida ao depoimento, que chegou a levar o relatório para um juiz.

Aqui o capítulo de «O Caso de Veja» referente ao tema: «O lobista de Dantas». Narra-se com detalhes o papel de Bernardini e da tal secretária-tradutora que teria incluído até o nome de Lula no seu depoimento.

Confira trecho da entrevista com Angelo Jannone, ex-chefe de Segurança da Telecom Italia, sobre como o esquema operava:

Trecho 1 – Jannone diz que o inquérito começou com declarações mentirosas de fontes. No começo não conseguiu entender. Depois, ficou mais claro. No início de sua “colaboração” com a justiça italiana, Bernardini ficou falando do Brasil. Ele não conhece o Brasil, nem tem cabeça refinada para falar o que falou. Imediatamente ele colocou nas suas declarações a idéia de uma Polícia Federal brasileira corrupta, de políticos corruptos, com Jannone como responsável. A coisa mais estranha é que no primeiro dia de interrogatório dele, entregou aos promotores, sem nada comentar, a famosa reportagem da Veja que falava de contas bancárias do presidente Lula, do chefe da Polícia Federal, Lacerda. Mas de forma estranha, sem comentar, como se outra pessoa tivesse dito a ele: se você vai lá, entrega isso.

http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2010/03/14/para-entender-a-capa-da-veja/#more-51462

PORQUE AVANÇAR NA ECONOMIA SOCIOAMBIENTAL?

De Austin, no Texas, onde fica a sede da Colibri Consulting, empresa que Conroy dirige e que atua em certificação e desenvolvimento sustentável, ele falou à IHU On-Line, por e-mail, sobre como as ONGs podem mudar o comportamento das grandes corporações. Essa história ele conta em detalhes no livro Certificado! - A Certificação de Produtos Transformando as Corporações Globais, que será lançado no Brasil este mês, pela WGB Editora. Confira:

IHU On-Line - Neste momento de crise global da economia capitalista, quais são as possibilidades e os limites de pensar uma economia que leve em conta a sustentabilidade da terra?

Michael Conroy - Estamos percebendo que a crise econômica parece estar criando ainda mais consciência da necessidade para o desenvolvimento de um futuro mais sustentável. Muitas revistas nos Estados Unidos e na Europa relatam que os consumidores estão focados cada dia mais na necessidade de proteger recursos naturais, reduzir o consumo exagerado e repensar os padrões que nos levaram à crise.

IHU On-Line - Como as ONGs podem mudar o comportamento das grandes corporações? Em geral, as empresas não obedecem apenas às regras do mercado?

Michael Conroy - No século passado, essa ideia era mais clara do que agora. Desde os anos 1990, a sociedade civil tem encontrado novas maneiras para transformar as práticas das grandes empresas por meio de três passos: 1) novas e poderosas “campanhas de mercado” enfocadas nas falhas sociais e ambientais da cadeia de abastecimento, como exploração de trabalhadores e danos ambientais; 2) novos “sistemas de certificação” para verificar o cumprimento das empresas com novas normas “negociadas”; e 3) reconhecimento por parte das empresas de que não podem continuar suas práticas anteriores na era da informação instantânea da internet.

IHU On-Line - As empresas podem perder o valor de suas ações no mercado financeiro caso seu nome esteja associado à destruição de florestas, por exemplo? As grandes corporações realmente arriscam suas marcas se forem associadas com práticas ambientalmente irresponsáveis?

Michael Conroy - Não há dúvidas de que perder o valor de sua marca (brand) é o maior risco para as empresas que estão envolvidas em práticas irresponsáveis; e a internet tem sido o instrumento revolucionário para acelerar esse processo. Somente por meio da confirmação independente dos sistemas de certificação é que se podem reduzir esses riscos de forma séria. E isso não depende tanto da educação dos consumidores ou da educação dos clientes, em negócios menores na cadeia de abastecimento, mas principalmente das grandes cadeias de lojas de venda final.

IHU On-Line - A economia atual comporta o comércio justo e ético na prática? Lucro e comércio/consumo ético e sustentável são compatíveis, principalmente neste momento de crise financeira?

Michael Conroy - Cada dia é mais evidente que o comércio justo responde aos desejos dos consumidores. Uma pesquisa muito recente indica que nove em cada dez consumidores nos Estados Unidos querem que seus produtos venham de processos onde os produtores recebam preços mais justos; oito em cada dez querem apoiar empresas que contribuem ao desenvolvimento das comunidades dos produtores e trabalhadores, e seis em cada dez pedem “castigo” às empresas identificadas com práticas de exploração de trabalhadores ou destruição do meio ambiente.

IHU On-Line - Por que o senhor acredita que a certificação de produtos que estejam adequados a práticas socialmente e ambientalmente responsáveis é uma revolução? Que tipo de mudança a certificação pode trazer aos negócios, ao comportamento das empresas, à sociedade e, principalmente, à economia?

Michael Conroy - O movimento pela certificação de dimensões sociais e ambientais representa a maior força que temos visto em mais de cem anos para forçar mudanças nas práticas básicas das empresas transnacionais. Ele está criando mudanças que nenhuma nação ou nenhuma agência internacional pode fazer, e que a OMC não permite que os países exerçam por meio de controles sobre as importações. Pela primeira vez em mais de cem anos, a sociedade civil agora tem uma forma de castigar as empresas irresponsáveis e premiar as que adotem as práticas mais justas e sustentáveis.

IHU On-Line - Quais são os principais impactos da atual crise econômica internacional sobre o interesse das empresas de vários setores pela certificação socioambiental?

Michael Conroy - Todos estávamos preocupados que a crise iria conduzir a uma forte redução na compra de produtos mais justos e sustentáveis, ou porque as empresas não estariam dispostas a oferecê-los a seus clientes (porque necessariamente custam um pouco mais), ou porque os consumidores não os comprariam com tanta frequência. Mas há quatro estudos novos que indicam que as empresas mais identificadas com a sustentabilidade têm sofrido menos danos durante a crise ou tem ganhado mais do que as outras empresas; as cadeias de lojas de venda final estão oferecendo ainda mais produtos certificados com “qualidade ética” porque são produtos “diferenciados” e com mais altas taxas de ganho, e os consumidores continuam aumentando suas compras destes produtos. Tem sido uma maravilha ver o compromisso profundo que isso indica.

(IHU - on line)


Fonte: http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/o-comercio-justo-responde-aos-desejos-dos-consumidores/

quinta-feira, 11 de março de 2010

O APOIO DESTE BLOG: “rede de comunicadores em apoio à reforma agrária e contra a criminalização dos movimentos sociais"

Comunicadores convocam reunião para formar rede em apoio à reforma a agrária
Nesta quinta-feira (11), às 19 horas, no auditório do Sindicato, haverá reunião para a montagem da “rede de comunicadores em apoio à reforma agrária e contra a criminalização dos movimentos sociais". Foram convidados o líder do MST, João Pedro Stedile e o jornalista Paulo Henrique Amorim.
Está em curso uma ofensiva conservadora no Brasil contra a reforma agrária, e contra qualquer movimento que combata a desigualdade e a concentração de terra e renda. E você não precisa concordar com tudo que o MST faz para compreender o que está em jogo.

Uma campanha orquestrada foi iniciada por setores da chamada “grande imprensa brasileira” – associados a interesses de latifundiários, grileiros - e parcelas do Poder Judiciário. E chegou rapidamente ao Congresso Nacional, onde uma CPMI foi aberta com o objetivo de constranger aqueles que lutam pela reforma agrária.

A imagem de um trator a derrubar laranjais no interior paulista, numa fazenda grilada, roubada da União, correu o país no fim do ano passado, numa ofensiva organizada. Agricultores miseráveis foram presos, humilhados. Seriam os responsáveis pelo "grave atentado". A polícia trabalhou rápido, produzindo um espetáculo que foi parar nas telas da TV e nas páginas dos jornais. O recado parece ser: quem defende reforma agrária é "bandido", é "marginal". Exemplo claro de “criminalização” dos movimentos sociais.
Quem comanda essa campanha tem dois objetivos: impedir que o governo federal estabeleça novos parâmetros para a reforma agrária (depois de três décadas, o governo planeja rever os “índices de produtividade” que ajudam a determinar quando uma fazenda pode ser desapropriada); e “provar” que os que derrubaram pés de laranja são responsáveis pela “violência no campo”. Trata-se de grave distorção.

Comparando, seria como se, na África do Sul do Apartheid, um manifestante negro atirasse uma pedra contra a vitrine de uma loja onde só brancos podiam entrar. A mídia sul-africana iniciaria então uma campanha para provar que a fonte de toda a violência não era o regime racista, mas o pobre manifestante que atirou a pedra.

No Brasil, é nesse pé que estamos: a violência no campo não é resultado de injustiças históricas que fortaleceram o latifúndio, mas é causada por quem luta para reduzir essas injustiças. Não faz o menor sentido.

A violência no campo tem um nome: latifúndio. Mas isso você dificilmente vai ver na TV. A violência e a impunidade no campo podem ser traduzidas em números: mais de 1.500 agricultores foram assassinados nos últimos 25 anos. Detalhe: levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT) mostra que dois terços dos homicídios no campo nem chegam a ser investigados. Mandantes (normalmente grandes fazendeiros) e seus pistoleiros permanecem impunes.

Uma coisa é certa: a reforma agrária interessa ao Brasil. Interessa a todo o povo brasileiro, aos movimentos sociais do campo, aos trabalhadores rurais e ao MST. A reforma agrária interessa também aos que se envergonham com os acampamentos de lona na beira das estradas brasileiras: ali, vive gente expulsa da terra, sem um canto para plantar - nesse país imenso e rico, mas ainda dominado pelo latifúndio.

A reforma agrária interessa, ainda, a quem percebe que a violência urbana se explica – em parte – pelo deslocamento desorganizado de populações que são expulsas da terra e obrigadas a viver em condições medievais, nas periferias das grandes cidades.
Por isso, repetimos: independente de concordarmos ou não com determinadas ações daqueles que vivem anos e anos embaixo da lona preta na beira de estradas, estamos em um momento decisivo e precisamos defender a reforma agrária.

Se você é um democrata, talvez já tenha percebido que os ataques coordenados contra o MST fazem parte de uma ofensiva maior contra qualquer entidade ou cidadão que lutem por democracia e por um Brasil mais justo.

Se você pensa assim, compareça ao Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, no próximo dia 11 de março, e venha refletir com a gente:

- por que tanto ódio contra quem pede, simplesmente, que a terra seja dividida?
- como reagir a essa campanha infame no Congresso e na mídia?
- como travar a batalha da comunicação, para defender a reforma agrária no Brasil?

É o convite que fazemos a você.

Assinam:

Alcimir Antonio do Carmo, Altamiro Borges, Antonio Biondi, André Luiz Cardoso Freire, Antonio Martins, Bia Barbosa, Cristina Charão, Dênis de Moraes, Giuseppe Cocco, Hamilton Octavio de Souza, Igor Fuser, Evany Sessa, Joaquim Palhares, João Brant, João Franzin, Jonas Valente, Jorge Pereira Filho, José Arbex Jr., José Augusto (Guto) Camargo, Laurindo Lalo Leal Filho, Luiz Carlos Azenha, Marcia Quintanilha, Paulo Zocchi, Renata Mielli, Renato Rovai, Rita Casaro, Rodrigo Savazoni, Rodrigo Vianna, Rose Nogueira, Sérgio Gomes, Telê Cardim, Vânia Alves, Verena Glass, Vito Giannotti

O presidente Lula tinha razão: no Brasil a crise esteve mais para marolinha. Confira:

Apesar de queda, economia brasileira se sai melhor que maioria dos países
Folha Online

Apesar de o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro ter recuado 0,2% em 2009, o desempenho da economia local ainda se destacou ante os maiores países do planeta, onde a crise financeira global bateu com mais força.

As exceções ficam para dois grandes emergentes, China e Índia, que "nadaram de braçada" e mantiveram os altos índices de crescimento registrados nos últimos anos.

A principal semelhança entre todos é que, ao contrário do que se imaginava na virada do ano, quando a crise estava no seu auge, as perdas não foram tão grandes quanto o que se mostrou ao final de 2009.

Nos Estados Unidos --onde os problemas com as hipotecas "subprime" (de alto risco) se tornaram o cerne da crise financeira-- a economia recuou 2,4% no ano passado, depois de cair 5,5% no primeiro trimestre e mais 1% no segundo trimestre. Na segunda parte do ano veio uma leve recuperação, o que garantiu um fim de ano menos sombrio.

O mesmo não se pode dizer dos europeus. Apesar de uma melhora na situação no segundo semestre, os principais países apresentaram números ruins em 2009. A zona do euro (grupo de 16 países da União Europeia que usam o euro como moeda única) amargou um recuo de 4,1%. A recuperação é tímida, como mostrou o crescimento de apenas 0,1% no quarto trimestre.

Entre eles, destaca-se a Alemanha, que viu seu PIB recuar 5% no ano passado. Itália (-5,1%), Espanha (-3,6%) e França (-2,2%) não tiveram destinos muito diferentes.

Com uma capacidade quase ímpar de se apoiarem no mercado interno, China e Índia destoaram da grande maioria dos países quando se tratou da economia no ano passado. Os chineses praticamente ignoraram os problemas globais e cresceram 8,7%. A Índia ainda não divulgou seus números, mas espera-se ao menos um avanço de 6%.

A mesma demanda interna que "salvou" chineses e indianos foi quem garantiu ao Brasil uma posição mais cômoda. Apesar de ter desacelerado pelo sexto ano seguido, o consumo das famílias no país subiu 4,1% em 2009.

Entre os Brics, a Rússia foi quem mais sofreu em 2009. Com uma economia bastante centrada na exportação de petróleo --cujo preço despencou junto com o resto do planeta--, os russos viram o seu PIB recuar 7,9%.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Grande mídia organiza campanha contra candidatura de Dilma

Em seminário promovido pelo Instituto Millenium em SP, representantes dos principais veículos de comunicação do país afirmaram que o PT é um partido contrário à liberdade de expressão e à democracia. Eles acreditam que se Dilma for eleita o stalinismo será implantado no Brasil. “Então tem que haver um trabalho a priori contra isso, uma atitude de precaução dos meios de comunicação. Temos que ser ofensivos e agressivos, não adianta reclamar depois”, sentenciou Arnaldo Jabor.


Confira a matéria integral no saite Carta Maior (vide no linque ao lado, neste Blogue)

quarta-feira, 3 de março de 2010

"O CASTELO" - livro de João Drummond, um encontro com a alma humana.

O texto abaixo foi reproduzido do prefácio do livro: O CASTELO.DOIS MUNDOS EM CONFLITO. Eu assino em baixo as palavras de Denise Mascarenhas.

O Castelo não é como poderia parecer em principio, apenas um livro de fantasias e aventuras. Nele o autor trata com propriedade dos conflitos da alma humana e da eterna luta a que todos estamos sujeitos, entre o bem e o mal.

Numa batalha difícil, estratégica e vitoriosa, John Edward Constantin III enfrenta crenças, tabus, preconceitos, para emergir num mundo mais humano, justo, sensível e saudável.

Seus desafios são também nossos. Cada pessoa no processo de individuação e amadurecimento tem a tarefa de conhecer e enfrentar forças que a impedem de desenvolver-se plenamente.

Todos nós temos nossos castelos. Situações familiares ameaçadoras, conflitos internos, medos, baixa auto-estima, falta de apoio, boicotes. Nosso drama começa quando nos damos conta que somos prisioneiros destes castelos.

Por falta de ferramentas, clareza, oportunidade ou coragem, muitos se perdem, não encontram saídas, sucumbem, desistem da luta, acomodam-se. John, ao contrário, com astúcia, coragem, ousadia e determinação encontra os meios para escapar da prisão.

A trajetória vitoriosa de John inspira-nos a entrar no núcleo de nossos dramas pessoais, sentir e compreender a natureza das forças que nos movem e nos aprisionam, para então sermos capazes de exorcizar os fantasmas do passado e sermos finalmente livres para viver a nossa vida.

João Drummond, como artista enfrentou com coragem crenças e preconceitos, para expressar-se através da poesia, contos, romances, artigos. Abriu portas para si mesmo e encorajou pelo exemplo novos artistas a assumirem seus talentos.
Seu livro é uma oportunidade de reflexão e também um chamado para adotarmos, assim como seu personagem, um estilo de vida autêntico, sensível, profundo.

Denise Mascarenhas



O livro tem arte de capa de Demétrius Cotta e pode ser adquirido no seguinte endereço eletrônico: http://clubedeautores.com.br/book/13935--O_CASTELO

terça-feira, 2 de março de 2010

UMA NOVA VISÃO DO MERCADO A PARTIR DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA

Como eu havia dito em minha primeira contribuição eu gostaria de apresentar novos aspectos do que poderia ser um dilema "concorrencial" na produção de alimentos face o plantio destinado ao biocombustível.
Vou inicialmente fazer uma referência sobre as pesquisas do professor Ricardo Abramovay e do Reginaldo Magalhães. Trabalhei com ambos no período em que fui coordenador de projetos à Cooperativas Populares, na Agência de Desenvolvimento Solidário - ADS, instituição de fomento, ligada a UNITRABALHO, ao DIEESE e à CUT. Nesta época a ADS com apoio e parcerias públicas e privadas ajudou a criar, com base em São Bernardo, SP, a UNISOL BRASIL, uma grande associação de cooperativas legítimas, comprometidas com a economia solidária, e apoiadas pelos maiores sindicatos filiados à CUT como os dos metalúrgicos, dos bancários de SP e dos agricultores familiares. A pesquisa de Abramovay buscava novas respostas para a inserção destes atores em um espaço, até então, exclusivo dos empresários. Tanto o Ministério do Desenvolvimento Agrário como o SEBRAE e a Cáritas contribuíram decisivamente para as pesquisas de campo. O foco da pesquisa era avaliar a capacidade empreendedora dos agricultores familiares participarem de forma inclusiva no programa do Biodiesel. Posteriormente o governo federal lançou o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) com um enfoque de forma declarada, a integrar agricultores familiares à oferta de bicombustíveis e, por aí, contribuir ao fortalecimento de sua capacidade de geração de renda.O interessante é que o objetivo governamental de vincular a produção de biodiesel à geração de renda para agricultores familiares recebeu imediatamente a adesão de dois atores cujas relações recíprocas oscilam de forma permanente entre o conflito e a indiferença: grandes empresas processadoras de matérias-primas para a produção de biodiesel e o movimento sindical de trabalhadores rurais.Este vínculo declarado entre a oferta de matérias-primas para a produção de biocombustível e a geração de renda pela agricultura familiar – sob o patrocínio do Estado, sob a operacionalização de empresas privadas e com a legitimação contratual por parte do sindicalismo - parece ser inédito, no plano internacional . E no próprio Brasil é a primeira vez que se organiza uma política em que o Estado cria condições para que parte importante da oferta de matéria-prima para uma determinada indústria venha de unidades produtivas que, sem esta intervenção, dificilmente teriam participação expressiva no mercado. É uma intervenção estatal de natureza muito diferente da que marca as políticas de crédito (PRONAF) ou as de transferência de renda (bolsa-família), onde o Estado aloca recursos diretamente para certo público. Este reflexão apóia-se, teoricamente, em duas perspectivas. Sob o ângulo agronômico e energético, considera possível a concepção e o funcionamento de sistemas integrados de produção de energia e alimentos capazes de se contrapor ao ceticismo com que parte importante da literatura internacional sobre o tema encara o avanço da produção mundial de biocombustíveis . Mas o funcionamento destes sistemas – segunda perspectiva - supõe formas de organização dos mercados voltadas explicitamente a finalidades sociais e ecológicas em que a abertura de oportunidades de geração de renda para os mais pobres e os critérios de sustentabilidade ambiental se incorporem de maneira orgânica a sua própria operação.
Este processo não acontece desancorado de uma base teórica. Ao contrário, o que temos aqui é uma visão contemporânea de novos arranjo dos mercados, a partir de uma visão que supera a noção neoclássica. Mercados não são construções abstratas e impessoais. São, isto sim, construções sócio-históricas, que se estruturam em novas formas de organização das forças produtivas. A novidade aqui é o papel do Estado e dos sindicatos de trabalhadores como atores ativos na oferta de insumos.
Neil Fligstein constrói uma teoria sociológica baseado na idéia de que, contrariamente ao que postula a teoria neoclássica, os atores, nos mercados, não buscam maximizar seus interesses (seu lucro) e sim estabilizar suas relações para reduzir os riscos a que estão submetidos por sua exposição ao sistema de preços. Esta estabilização se faz em torno de quatro elementos básicos, sem os quais nenhum mercado pode funcionar. Em primeiro lugar é fundamental que os direitos de propriedade dos atores estejam claramente definidos, embora suas formas de definição e aplicação sejam variadas: veremos, por exemplo, que a matéria-prima para a produção de biodiesel tem que ser oferecida pelos agricultores à empresa, mas sob certas condições, fora das quais os direitos de participação no mercado, de oferecimento do produto para a PETROBRÁS – e, portanto, o aproveitamento das oportunidades econômicas que a propriedade oferece – ficam ameaçados. O segundo aspecto decisivo do funcionamento de um mercado está em sua estrutura de governança, ou seja as “regras gerais que definem as relações de concorrência e cooperação e definem a própria maneira como as firmas se organizam” . Defini-se aqui governança como “...as medidas que os atores envolvidos nas trocas usam ou implementam para mitigar os riscos associados às trocas econômicas”. O importante, no nosso caso é a diversidade dos atores que interferem de forma direta no estabelecimento destas regras. O terceiro elemento em torno do qual se estabiliza um mercado são suas regras de troca, que garantem a aplicação a todos das condições sob as quais o mercado funciona, por meio, por exemplo, de padrões monetários ou da submissão a acordos comerciais.Pode-se dizer que o “comprador não necessita apenas encontrar um produto que corresponda a suas necessidades de preço e qualidade razoáveis. Ele precisa também encontrar um vendedor que lhe ofereça garantias e serviços de sua preferência e o comprador tem que confiar que o vendedor vai agir como prometido”. No nosso caso, o importante é a participação dos sindicatos na mobilização dos produtores, bem como a garantia de compra do produto por parte da PETROBRÁS. O quarto elemento é especialmente importante no âmbito deste estudo e a ele Fligstein dá o nome de concepções de controle. Eles refletem os acordos tanto no interior das firmas, quanto nos mercados em torno da validade de certas normas de funcionamento, do alcance e dos limites de práticas de concorrência e de cooperação. As regras a partir das quais um determinado mercado se regula não são o fruto espontâneo de sua evolução, mas contam com a participação ativa tanto de forças sociais organizadas como do próprio Estado. Provavelmente estas teorias estarão no centro dos debates da chamada "Ecologia Profunda", na definição de Fritjof Capra.