quarta-feira, 30 de setembro de 2009

AGRICULTORES FAMILIARES: O GRANDE AVANÇO DA DEMOCRACIAL ECONÔMICA E SOCIAL

No final da década de 90, eu trabalhava na Secretaria de Formação da CUT Nacional. Altermir Tortelli, diretor desta área, era uma das principais lideranças dos Agricultores Familiares. Nesta época acompanhei todo o esforço desta categoria de trabalhadores, que não se sentia representada pelos sindicatos patronais e era vista com reservas pelos trabalhadores assalariados, representados nos sindicatos da CUT. Afinal eles eram proprietários de terras e dos seus meios de produção (tratores, silos, etc). A rigor deveriam se identificar como empresários. Mas toda a produção é feita pela própria família. A mão de obra assalariada é pouco expressiva. Cada unidade agrícola produzia seus excedentes, mas que não podiam ser classificados como lucro (resultante de uma mais-valia, porque esta também não existia). Sua melhor classificação seria “sobras”, como ocorre nas cooperativas legítimas e solidárias. Nesta época o IBGE só fazia duas classificações: produtor rural (como dono da propriedade) ou trabalhador rural (como assalariado, meeiro ou outra forma de vínculo). Tortelli dizia com muita ênfase que o IBGE precisava abrir uma nova categoria para poder categorizar este grupo de trabalhadores. E isto finalmente foi obtido: eles eram “agricultores familiares”. De 2000 a 2006 esta categoria realizou um grande esforço para a criação da Federação Nacional da Agricultura Familiar, mantendo-se vinculados à CUT. Mas a construção desta identidade não se realizou sem traumas. Até então os trabalhadores rurais, reuniam seus sindicatos em torno da CONTAG, inclusive os agricultores familiares. Neste processo ocorreu um grande “racha” no interior do movimento dos trabalhadores, resultando no afastamento do Tortelli da direção da CONTAG. Esta ruptura foi decisiva para os agricultores familiares aprofundar sua organização como uma categoria distinta. De fato isto aconteceu.
Conforme o texto elaborado para o site da FETRAF BRASIL : “no mês de julho de 2004, mais de 2.000 agricultores/as familiares provenientes de 22 Estados do país participaram em Brasília do 1º Encontro Nacional Sindical da Agricultura Familiar, no qual decidiu-se por aclamação aprofundar e estender por todo o Brasil o processo de reorganização e re-estruturação sindical da Agricultura Familiar através da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil- FETRAF-Brasil/CUT.O nascimento se deu num grande momento: o Congresso de Fundação realizado nos dias 22 a 25 de novembro de 2005, em Luziania, Estado de Goiás, com a presença de 1200(mil e duzentos) delegados(a) e 250 convidados. Entre os convidados estiveram o Presidente Lula, vários Ministros, Deputados, Senadores, ONG´s, o Presidente da CUT Nacional, Movimentos Sociais e uma grande delegação Internacional.”
Em nossa opinião está aí a base de uma estrutura que mais se identifica com a Economia Solidária, ficando distante e fazendo uma disputa hegemônica com os representantes do modo de produção capitalista. Os agricultores familiares representam também um dos principais agentes da luta pela preservação do ecossistema e da ecologia. Recentemente foi responsável pela criação da Universidade Federal da Fronteira Sul, com atuação nos três estados do sul brasileiro.
Os dados divulgados hoje pelo IBGE (reproduzimos abaixo) são altamente significativos da expressão deste setor, como agente de transformação de um economia verdadeiramente democrática.

Agricultura familiar emprega 75% da mão-de-obra no campo, aponta censo do IBGE

O Censo Agropecuário 2009 traz uma novidade: pela primeira vez, a agricultura familiar brasileira é retratada nas pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE).O setor emprega quase 75% da mão-de-obra no campo e é responsável pela segurança alimentar dos brasileiros, produzindo 70% do feijão, 87% da mandioca, 58% do leite, 59% do plantel de suínos, 50% das aves, 30% dos bovinos e, ainda, 21% do trigo consumidos no país.Foram identificados 4.367.902 estabelecimentos de agricultura familiar que representam 84,4% do total, (5.175.489 estabelecimentos), mas ocupam apenas 24,3% (ou 80,25 milhões de hectares) da área dos estabelecimentos agropecuários brasileiros.O estudo do IBGE traça uma radiografia do setor, analisando características dos 5,2 milhões de propriedades rurais do país e ainda dados dos produtores.Os resultados do levantamento permitem uma comparação com o último censo do tipo, referente aos anos de 1995 e 1996. Entre as informações estão dados sobre a estrutura fundiária, a produção, as técnicas utilizadas, o pessoal ocupado e as finanças desses estabelecimentos.Segurança alimentarApesar de ocupar apenas um quarto da área, a agricultura familiar responde por 38% do valor da produção (ou R$ 54,4 bilhões) desse total. Mesmo cultivando uma região menor, a agricultura familiar é responsável por garantir a segurança alimentar do país gerando os produtos da cesta básica consumidos pelos brasileiros. O valor bruto da produção é de R$ 677 por hectare/ano.A cultura com menor participação da agricultura familiar foi a soja (16%). O valor médio da produção anual foi de R$ 13,99 mil.Outro resultado positivo apontado pelo Censo é o número de pessoas ocupadas na agricultura: 12,3 milhões de trabalhadores no campo estão em estabelecimentos da agricultura familiar (74,4% do total de ocupados no campo). Ou seja, de cada dez ocupados no campo, sete estão nesta atividade que emprega 15,3 pessoas por 100 hectares.O Censo também revela que dos 4,3 milhões de estabelecimentos, 3,2 milhões de produtores são proprietários da terra. Isso representa 74,7% dos estabelecimentos com uma área de 87,7%.Produção de sojaA cultura da soja foi a que mais se expandiu no país na última década. Com um aumento de 88,8% na produção, foram produzidos, em 2006, 40,7 milhões de toneladas, em 15,6 milhões de hectares. A área colhida também teve aumento de 69,3%. Ao todo, a produção de soja gerou R$ 17,1 bilhões para a economia brasileira. O grão foi cultivado em quase 216 mil propriedades, localizadas principalmente no Centro-Oeste.O levantamento também revela que a produção da soja transgênica vem ganhando espaço no Brasil como forma de reduzir os custos. Em 2006, quase metade (46,4%) das propriedades agropecuárias cultivou esse produto, que ocupou uma área de quatro milhões de hectares. O uso de semente certificada (por 44,6% dos estabelecimentos), de agrotóxicos (por 95,1%) e de adubação química (por 90,1%) e a adoção de colheita mecanizada (por 96,8%) também foram destacados pelos técnicos do IBGE.Outras culturasO documento ressalta, ainda, outras culturas, que são a do arroz, cuja produtividade teve crescimento de 44,6%, compensando a redução da área colhida, que foi de 18,8%, e a do feijão, com expansão de 50,9%, cuja área teve crescimento de apenas 6,3%. Nessas duas culturas, a colheita foi feita principalmente de forma manual.A pecuária teve destaque como principal atividade econômica das propriedades rurais no país, representando 44% do total e ocupando 62% da área de todas as unidades agropecuárias. O valor da produção do setor correspondeu a 21,2% de toda a agropecuária.

Fonte: Blog da Dilma

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Ambientalismo: Um Suspiro Neoliberal

Em nossa avaliação o conceito de ecoeficiência possui sérias restrições para dar conta de um projeto ambiental inclusivo. Afirmamos mesmo que o conceito está revestido de ambigüidades. Lembrando as palavras de Stephan Schmidheiny o prefixo "eco" refere-se tanto à economia como à ecologia. Todavia em sua própria definição a ecoeficiência tem muito pouco de ecologia, estando mais associada aos princípios ambientais de inserção neoliberal.
Este aliás foi um expressivo campo de tensão nas disputas hegemônicas entre o pensamento neoliberal e os conceitos ecológicos presentes no pensamento marxista.
Vale lembrar que o empresariado de maior estatura internacional adotou a cartilha do novo modelo, pactuado na Segunda Conferência Mundial da Indústria sobre Gerenciamento Ambiental, organizada pela Câmara Internacional do Comércio. Através da assinatura de um catálogo de diretrizes intitulado “Carta Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável”, esta conferência, que ocorreu no ano de 1991, também estimulou a adoção de práticas administrativas que efetivem esta nova estratégia de progresso econômico. A adoção imediata dos pressupostos do Relatório Brundtland pelas nações mais poderosas e pelo empresariado internacional não ocorreu por mudança de prioridades: o Desenvolvimento Sustentável nasceu no âmago do pensamento da classe dominante, e utiliza os pressupostos do conservacionismo juntamente com um ensinamento do universo econômico de gestão de negócios: o “Princípio da Precaução”. Este Princípio foi percebido como uma oportunidade inigualável de superar o risco e a incerteza através de investimentos e estudos localizados. O consumo mais eficiente de energia, a redução de poluição nas escalas global e local e o uso racional de matéria-prima fornecem a chance da criação de novas técnicas mais lucrativas e estimulam transformações econômicas mais virtuosas, em lugar da aceitação sectária dos problemas existentes.
Descartado como inadequado o conceito de ecoeficiência conforme o modelo neoliberal, pretendo discuti-lo como uma estratégia de eficiência ecológica, no espaço da economia solidária.
Os princípios da gestão cooperativa e os processos associados conduzem a um nível mais elevado de comprometimento geral com todas as etapas dos processos de produção e circulação dos produtos. Melhora o nível de eficiência econômica e ambiental. Mais do que isto: desenvolve um aprendizado holístico e sistêmico das relações e processos de trocas entre todos os subsistemas, incluindo naturalmente os recursos naturais. A sustentabilidade está precisamente no surgimento de um tipo de organização cooperativa em todos os níveis da ecologia. Neste modelo estão presentes processos competitivos, mas estes não constituem a natureza fundamental das relações, que são predominantemente cooperativas. Neste sentido a eficiência é holística e sistêmica.
Entretanto esses grupos para sobrevivência no mercado, na qual estão inseridos, necessitam, também atender aos padrões e exigências deste, para os seus produtos e serviços. Pois apesar do modo produtivo internamente ser diferenciado, ao inserir seus produtos e serviços no mercado, estes são tratados como as demais empresas. Para isso precisam combinar procedimentos democráticos e cooperativos com processos de produção de forma que possam ser compatíveis.

domingo, 27 de setembro de 2009

THEIA VIVA:Mapa genético mostra que todas as pessoas estão ligadas umas às outras

Se a cor da pele, o sotaque e a forma como nos vestimos revela de onde viemos, os genes fazem o mesmo. E para mostrar que viemos todos de um mesmo ponto do globo, independente do país onde nascemos, da língua que falamos ou dos nossos costumes, uma equipe chefiada pelo pesquisador americano Spencer Wells desenvolveu uma espécie de mapa genético dos moradores do Queens, um dos distritos mais multiculturais de Nova York.
Wells, doutor em genética pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, disse que o objetivo do projeto era mostrar que todas as pessoas estão ligadas umas às outras.
"O que mais me surpreende como cientista é que pudemos comprovar que todos nós viemos da África. Como espécie, saímos todos da África milhares de anos atrás", disse o geneticista. A teoria de que a humanidade saiu da África é amplamente difundida entre cientistas de diferentes áreas, como biólogos e arqueólogos. O mais famoso fóssil de um ancestral do ser humano já encontrado foi descoberto na Etiópia em 1974 e apelidado de "Lucy". A descoberta ajudou a consolidar a fama da região como "berço da humanidade".

"Acredito que esta pesquisa pode contribuir principalmente com o trabalho de arqueólogos e historiadores, que podem usar as informações para tentar explicar de onde viemos", completa o cientista.

Na pesquisa da Spencer Wells, a equipe de pesquisadores coletou 50 mil amostras de DNA de pessoas de mais de cem países e identificou alguns marcadores genéticos. Os cientistas mediram a ocorrência destes marcadores nas amostras. "Quando duas pessoas têm o mesmo marcador, isso quer dizer que elas tiveram um ancestral em comum", explicou o geneticista. Os marcadores mostraram que, no Queens nova-iorquino, alguns vizinhos eram descendentes de uma mesma linhagem antiga, que remetia à Europa, à Ásia, ao Oriente Médio e, por fim, à África.

O projeto gerou o documentário "A Grande Árvore Genealógica", que será exibido no canal por assinatura NatGeo neste domingo (22), às 21h. Para o pesquisador-chefe, que é colaborador da National Geographic, a pesquisa, da forma como foi feita e com a amplitude de amostras que teve até o momento, "é fruto de 20 anos de aplicação do DNA nas ciências" e foi possível graças às tecnologias de informática desenvolvidas durante este período.

No Brasil
O tipo de pesquisa realizada pela equipe do geneticista americano não é novidade. Há anos que o campo de estudo da genética humana mapeia linhagens a partir do DNA de voluntários.

Um trabalho semelhante ao de Wells já foi feito por uma equipe da USP (Universidade de São Paulo) na região do Vale do Ribeira, no sul do Estado de São Paulo.

Os pesquisadores da universidade mapearam o DNA mitocondrial de membros de dez comunidades quilombolas da região em busca de marcadores genéticos que revelassem ascendência africana, indígena e europeia. Encontraram 51% de contribuição africana e 48% de contribuição ameríndia entre os indivíduos que participaram da pesquisa.

Fonte: UOL SAUDE

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

“Newsweek”: Lula, “O político mais popular do mundo”

A revista norte-americana “Newsweek” publicou em seu site na internet reportagem e entrevista com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Intitulada de “O político mais popular do mundo”, a reportagem fala da trajetória de Lula desde a infância pobre no Nordeste do Brasil até a presidência e destacou como o Brasil passou quase imune à crise financeira internacional – “nenhum banco faliu, a inflação está baixa, e a economia voltou a crescer”, diz a revista.

Na entrevista, disponibilizada nesta quinta-feira (24) pela assessoria de imprensa da Presidência da República, Lula afirmou que o país “passou a se valorizar” depois de ter mantido um comportamento de “país de segunda categoria” e citou o desempenho do Estado brasileiro como “lição” para outros países.

“O Estado tem um papel importante, de que o Estado pode ser o grande regulador, o Estado pode ser o grande indutor, e trabalhar em uma harmonia entre iniciativa privada, Estado e sociedade. No Brasil, graças a Deus, nós tínhamos um sistema financeiro mais sólido, no Brasil nós tínhamos bancos públicos que têm um papel importante no crédito brasileiro, e foram esses bancos que ajudaram que a crise aqui não fosse tão grave quanto foi nos países mais ricos”, disse.

“No mundo globalizado, você não pode ficar parado esperando que as pessoas venham aqui para o Brasil valorizar o Brasil. Você é que tem que viajar e valorizar o teu país”, afirmou o presidente, que destacou o fortalecimento do Mercosul e das relações com a América Latina.
De acordo com Lula, a diversificação da balança comercial brasileira ajudou com que o país sofresse menos com a crise que outros países. “Nós hoje temos uma balança comercial muito diversificada, não apenas em produtos, mas também em países, e isso nos deu uma garantia, inclusive na crise, de sofrer menos do que aqueles países que tinham todas as suas exportações voltadas para um único bloco ou para um único país.”
Questioando se a diversidade das exportações era mérito do governo ou do setor privado, Lula respondeu que não “aceita” a idéia que o setor privado é responsável “quando as coisas vão bem” e que o governo é responsável “quando as coisas vão mal”. “Ninguém neste país vende mais os produtos brasileiros do que eu (...) É assim que a gente constrói uma grande nação”, disse.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Cognição: uma propriedade geral da vida.

Entendemos que a faculdade dos humanos conhecerem e além disto saber que se sabem, constitui o fundamento do que chamamos consciência reflexa. Alguns teóricos consideram este, um ponto de culminância de uma estrutura cognitiva, que é uma propriedade geral da vida, no dizer de Fritjof Capra, in “Teia da Vida” (Cultrix): Sistemas vivos são sistema cognitivos, sintetiza Humberto Maturama, na Teoria de Santiago
Mas já falamos que a consciência possui filtros que condicionam a construção do saber. No caso particular da Psicologia este filtro reside no Inconsciente, conforme Freud. Assim esta pergunta é formulada por Marilene Chauí: “Que acontecerá, porém, se o sujeito do conhecimento descobrir que a consciência possui mais um grau, além dos três que mencionamos e, sobretudo, quando descobrir que não se trata exatamente de mais um grau da consciência, mas de algo que a consciência desconhece e sobre o qual nunca poderá refletir diretamente? Que esse algo, desconhecido ou só indiretamente conhecido, determina tudo quanto a consciência e o sujeito sentem, fazem, dizem e pensam? Em outras palavras, que sucederá quando o sujeito do conhecimento descobrir um limite intransponível chamado o inconsciente?”
Com efeito esta é, como já dissemos uma das grandes, senão a maior descoberta de Freud, constituindo uma das bases fundamentais da psicanálise.
A vida psíquica é constituída por três instâncias, duas delas inconscientes e apenas uma consciente: o id, o superego e o ego (ou o isso, o supereu e o eu). Os dois primeiros são inconscientes; o terceiro, consciente.
O inconsciente, diz Freud, jamais será consciente diretamente, podendo ser captado apenas indiretamente e por meio de técnicas especiais de interpretação desenvolvidas pela psicanálise. E assim complementa Chauí:
“(... ) A psicanálise descobriu, assim, uma poderosa limitação às pretensões da consciência para dominar e controlar a realidade e o conhecimento. Paradoxalmente, porém, nos revelou a capacidade fantástica da razão e do pensamento para ousar atravessar proibições e repressões e buscar a verdade, mesmo que para isso seja preciso desmontar a bela imagem que os seres humanos têm de si mesmos.
Longe de desvalorizar a teoria do conhecimento, a psicanálise exige do pensamento que não faça concessões às idéias estabelecidas, à moral vigente, aos preconceitos e às opiniões de nossa sociedade, mas que as enfrente em nome da própria razão e do pensamento. A consciência é frágil, mas é ela que decide e aceita correr o risco da angústia e o risco de desvendar e decifrar o inconsciente. Aceita e decide enfrentar a angústia para chegar ao conhecimento: somos um caniço pensante.(...)

Consciência de Classe

De acordo com Marx toda consciência é historicamente determinada. A própria filosofia e a reflexão crítica não acontece fora da história. Marx depurou a noção de ideologia, como um grande filtro, a permear nossos olhares, reflexões e construção do saber. Se a ideologia permeia nosso próprio modo de fazer ciência não poderíamos contar com uma razão isenta. Marx nos lembra muito bem que a consciência é uma consciência de classe.
Da mesma forma, a grande descoberta de outro pensador – Freud – ao estabelecer a existência do inconsciente, mostrando o quanto de nossas escolhas e razões se distanciam de uma pretensa objetividade. Por outro lado os processos alienantes foram tratados de forma exemplar pelo próprio Freud, informando que sensos não-críticos podem surgir a partir da repressão de estruturas arcaicas da psique, mesmo entre os detentores de saberes filosóficos, científicos, etc.
Ou seja, o conhecimento possível resulta de uma consciência circunscrita. Isto significa seremos eternas vítimas de uma estrutura que filtrará nossos olhares? Pode ser verdade. Mas porque ainda assim fomos capazes de refletir sobre nossa limitação ao conhecimento verdadeiro do ser? E mais, fomos capazes de demonstrar como isto acontece.
É possível que em nosso modelo de consciência e conhecimento tenha nos escapado alguma reflexão relevante.A proposta a seguir é exatamente refletir sobre isto.

O que é destaque nos jornais hoje, dia 24.

- Globo: Lula pede pressa à ONU após onda de saques em Honduras
- Folha: Lula pede saída imediata de golpistas
- Estadão: Brasil atribui a estratégia da volta de Zelaya a Chávez
- JB: Bancos privados reduzem tarifas
- Correio: Brasil terá autonomia de gás em dois anos
- Valor: Governo autorizará emissão de debêntures pelos bancos
- Estado de Minas: Brasil perto de produzir todo gás que consome
- Jornal do Commercio: A nova cara da Via Mangue

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Cadernos Nietzsche chegam sem interrupção ao número 25

O GEN - Grupo de Estudos Nietzsche e o II Congresso Internacional
Spinoza & Nietzsche convidam para o lançamento de
Cadernos Nietzsche 25.


Segunda- feira 28 de setembro de 2009 a partir das 21 horas
FFLCH/USP - Prédio de Filosofia e Ciências Sociais
Av. Prof. Luciano Gualberto 315 - Cidade Universitária - São Paulo

Cadernos Nietzsche chegam sem interrupção ao número 25. Esta é, sem
dúvida, uma ocasião rara em nosso país. Nos seus treze anos de
existência, a revista representa uma iniciativa ímpar, que só encontra
similar nos Nietzsche-Studien da Alemanha e, mais recentemente, nos
Estúdios Nietzsche da Espanha.


SUMÁRIO
Antidoutrinas. Cena e doutrina em Assim falava Zaratustra, de Nietzsche
Werner Stegmaier

Do dilaceramento do sujeito à plenitude dionisíaca
Scarlett Marton

Lendo Da visão e do enigma
Gilvan Fogel

Romantismo e tragicidade no Zaratustra de Nietzsche
André Martins

Principais destasques dos jornais de hoje

- Globo: Ação do Brasil acirra crise e tensão cresce em Honduras
- Folha: Honduras sitia embaixada do Brasil
- Estadão: Dívida no cartão de crédito é recorde
- JB: Governo vai cobrir buracos da Rio- 2016
- Correio: Árabes e chineses cobiçam o pré-sal
- Valor: Santander amplia a disputa bancária com salto no crédito
- Estado de Minas: Pré-sal desperta interesse até da Arábia Saudita
- Jornal do Commercio: Embaixada do Brasil sitiada em Honduras

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terça-feira, 22 de setembro de 2009

NO DIA 21 DE SETEMBRO DE 2008, DUDA, MEU PAI, RETORNOU PARA A MORADA DO GRANDE ESPÍRITO



UM ANO ATRÁS, NO DIA 21 DE SETEMBRO DE 2008, DUDA, MEU PAI
BEM AO SEU ESTILO,
NUMA VESPERAL DE PRIMAVERA,
QUANDO O INVERNO DEITAVA SUA ROUPAGEM CINZA
PARA ABRIGAR EM TODO O SEU CANTO
OS SONS QUE EZALAM DAS ROSAS
E DIZER DEBALDE
QUE A NA MAGIA QUE CIRCUNDA SUA VIDA
ELE DELIBEROU POR BEM
RETORNAR
A DIMENSÃO DO GRANDE ESPÍRITO.

Duda um grande beijo,

Seu filho, Fred

NÃO! AO GOVERNO GOLPISTA DE HONDURAS. CHEGA DE GOLPES CONTRA A DEMOCRACIA.

Militares de Honduras cercaram na manhã desta terça-feira (22) a embaixada brasileira em Tegucigalpa, onde permanece o presidente deposto, Manuel Zelaya, e obrigaram a retirada dos manifestantes que passaram a noite em frente ao edifício, segundo a agência de notícias AFP.

Soldados e policiais hondurenhos, muitos com o rosto coberto por gorros, chegaram ao local por volta das 6h (9h, horário de Brasília) e lançaram gás lacrimogêneo e atacaram com cassetetes cerca de 4.000 simpatizantes de Zelaya.

O governo interino de Honduras declarou toque de recolher em todo o país, após a confirmação de que Zelaya tinha retornado a Tegucigalpa. Inicialmente, o toque de recolher foi estabelecido das 16h às 7h00 no horário local (entre 19h e 10h, no horário de Brasília), segundo comunicou o governo golpista em cadeia de rádio e televisão. Pouco depois, a medida foi estendida até às 18h locais da terça-feira (22).

O porta-voz do Departamento de Segurança, Orlin Cerrato, disse que a área em torno da embaixada está sob controle das autoridades desde a manhã desta terça-feira (22). Não foi informado se há presos ou feridos.

FONTE:http://noticias.uol.com.br/ultnot/internacional/2009/09/22/ult1859u1468.jhtm

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

MAIS EVENTOS DE FILOSOFIA NA USP - 2

Discurso Editorial, Editora Barcarolla e o II Congresso Internacional
Spinoza & Nietzsche convidam para o lançamento do livro:
Nietzsche, um "francês" entre franceses, de Scarlett Marton (org.)

Segunda- feira 28 de setembro de 2009 a partir das 21 horas
FFLCH/USP - Prédio de Filosofia e Ciências Sociais
Av. Prof. Luciano Gualberto 315 - Cidade Universitária - São Paulo -
SP

Era como um campo de batalha que Nietzsche designava a si mesmo. Se com a expressão queria ressaltar a complexidade de seu pensamento, com ela hoje se pode sublinhar as tensões que o atravessam. Espaço de conflito, sua obra se põe como o território em que se defrontam múltiplas interpretações, em que se confrontam apropriações de diferentes partidos, sejam eles políticos, literários, acadêmicos.
Prova disso são as voltas e reviravoltas que se presenciam na recepção francesa do pensamento nietzschiano.

SUMÁRIO

Voltas e reviravoltas
Acerca da recepção de Nietzsche na França
SCARLETT MARTON

Nietzsche: a vida e a metáfora
ÉRIC BLONDEL

As paixões repensadas: Axiologia e afetividade no pensamento de Nietzsche
PATRICK WOTLING

?Meio-dia, instante da mais curta sombra?
BLAISE BENOIT

Nietzsche, pensador da história? Do problema do ?sentido histórico? à
exigência genealógica
CÉLINE DENAT

O niilismo extático como instrumento da Grande Política
YANNIS CONSTANTINIDÈS

ACOMPANHE OS EVENTOS DE FILOSOFIA NA USP - 1

Discurso Editorial, Editora Barcarolla e o II Congresso Internacional
Spinoza & Nietzsche convidam para o lançamento do livro:
Extravagâncias. Ensaios sobre a filosofia de Nietzsche, de Scarlett
Marton (3ª edição)
Segunda- feira 28 de setembro de 2009 a partir das 21 horas
FFLCH/USP - Prédio de Filosofia e Ciências Sociais
Av. Prof. Luciano Gualberto 315 - Cidade Universitária - São Paulo


O livro reúne ensaios redigidos no correr de vinte e cinco anos.
Todos eles partem de uma visão de conjunto da obra de Nietzsche, que
leva em conta tanto a face corrosiva da crítica dos valores quanto a
face construtiva da cosmologia.

SUMÁRIO

Por que sou um extemporâneo
A dança desenfreada da vida
A morte de Deus e a transvaloração dos valores
O eterno retorno do mesmo: tese cosmológica ou imperativo ético?
Nietzsche e Hegel, leitores de Heráclito
Nietzsche e Descartes: filosofias de epitáfio
Nietzsche, consciência e inconsciente
Nietzsche e a Revolução Francesa
A terceira margem da interpretação
Nietzsche e a cena brasileira

domingo, 20 de setembro de 2009

DILMA CONCORDA COMIGO: A TESE DO ESTADO MÍNIMO FALIU NA PRÁTICA.

Confesso que me sentí menos isolado ao ler a entrevista da presidenciável pelo PT, Dilma Roussef, publicada hoje no jornal A Folha de São Paulo. Veja um pequeno resumo da entrevista:

" (...)o Estado mínimo é uma "tese falida", que "só os tupiniquins" aplicam. Em sua opinião, quem defendia que o mercado solucionava tudo "está contra a corrente" e "contra a realidade". (...)"Esse país não pode ter vergonha mais de ser patriota" ou "que história é essa de nacionalista ser xingamento?" foram algumas de suas frases, sinalizando o tom que os petistas devem usar na disputa de 2010. Apesar de refutar a classificação de intervencionista, ela, a exemplo de Lula, cobra da Vale, uma empresa privada, maior compromisso com o país. "É uma empresa privada delicada", que não pode sair por aí "explorando recursos naturais do país e não devolver nada".(...)


OUTROS PONTOS DA ENTREVISTA, DE MINHA LIVRE ESCOLHA:

FOLHA - Quando o presidente pressiona um dirigente de empresa privada, como Roger Agnelli, da Vale, não é uma ingerência indevida?
DILMA - Você acha certo exportar minério de ferro e importar produtos siderúrgicos? Ela é uma empresa privada delicada. Porque ela está explorando recursos naturais do Brasil. Você não pode sair por aí explorando os recursos naturais e não devolver nada. O presidente ficou chocado com empresas que demitiram bastante na crise sem ter consideração pelos empregos do país.
FOLHA - Isso representa prejuízo para uma empresa privada.
DILMA - Não se trata de prejuízo, se trata do tamanho do lucro, a mesma coisa da Petrobras. O que vale para a Petrobras vale para a Vale. A preocupação com a riqueza nacional é uma obrigação do governo. Eu não acho que o presidente foi lá interferir na Vale. O presidente manifestou, assim como muitas vezes os empresários manifestam, seu descontentamento, e não implica uma interferência, a gente tem de democraticamente aceitar as observações, ser capaz inclusive de aprender com críticas. Por que o presidente não pode falar?


E você pode ter o texto integral no endereço:

http://www.folha.uol.com.br/

sábado, 19 de setembro de 2009

Crescimento e força do mercado interno popular afastou o Brasil da crise internacional

Veja outros comentários, tendo com base as informações do IBGE/PNUD, sobre as mudanças no perfil de renda no Brasil. E um dos dados fundamentais mostra poque o Brasil adquiriu menos exposição às crises internacionais: o crescimento e força do mercado interno popular.

"De acordo com a pesquisa, que contabiliza pessoas empregadas e com renda, os 10% mais ricos detinham 42,7% da distribuição total dos rendimentos mensais no Brasil em 2008 —uma queda de 0,6 ponto percentual em comparação com os 43,3% do ano anterior.

Desde 2005, esse indicador cai enquanto os de outros estratos de renda avançam.

No ano passado, seis das dez faixas definidas pelo IBGE ganharam mais peso, duas ficaram estáveis e uma, além da dos 10% mais ricos, recuou levemente. O IBGE considera mais importantes as variações que superem 0,5 ponto percentual, como é o caso do grupo VIP da economia brasileira —que de 2004 para 2008 encolheu quase dois pontos percentuais.

Apesar de a participação dos mais ricos na economia ter diminuído, a renda deles só tem melhorado nos últimos anos. Em 2004, o rendimento médio mensal desse grupo era de R$ 3.937. Subiu para R$ 4.124 no ano seguinte, depois para R$ 4.393, foi a R$ 4.410 em 2007 e finalmente a R$ 4.424 em 2008.

A redução do peso dos 10% mais ricos demonstra que houve desconcentração de renda, de acordo com o IBGE. Os estratos menos endinheirados engordaram os 0,6% em participação na economia —mesmo percentual perdido pelos mais abastados.

Os 10% mais pobres, por exemplo, com rendimentos de até R$ 122 mensais em 2008, voltaram a ampliar sua participação sobre o total da renda nacional em 0,1%, como acontece desde 2006. Na pesquisa mais recente, o peso deles na renda nacional foi de 1,2%. A renda média mensal dos mais pobres era de R$ 117 na pesquisa anterior."

Fonte:http://economia.uol.com.br/ultnot/2009/09/18/ult4294u2959.jhtm

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

EM SETE ANOS DE GOVERNO DO PT, MELHORA A DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA NO BRASIL.

Se alguém me disser que este é um debate ideológico eu digo que concordo: o Brasil está 7 anos sob o governo do PT e coisas fundamentais mudaram no país. Para melhor. Em seu programa o presidente Lula, não anunciava uma proposta socialista, mas apostava em ações de inclusão social. Neste modelo, ao contrário da proposta neoliberal, a presença do Estado é fundamental. Grandes e eficientes empresas estatais, transferência de renda mediante forte ação tributária, programas de fortalecimento do mercado interno, com o fortalecimento do poder aquisitivo dos cidadãos da base da pirâmide da renda nacional. Estes foram alguns elementos desta receita. Os dados do IBGE estão ai para serem conferidos e analisados. E é bom que os conservadores fundamentalista, antes de fazer retaliações consigam entender estas mudanças, se não for por outro motivo, para a própria sobrevivência. Numa democracia existe espaço para o pensamento conservador de direita. Mas, pelo menos, que não seja histérico. Vejam os dados divulgados:

A desigualdade no país caiu em todas as regiões, mostram dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice de Gini do rendimento mensal dos domicílios brasileiros passou de 0,521, em 2007, para 0,515, em 2008 – em 1998, quando começou a série histórica, o número era de 0,567.
O índice de Gini varia de 0 a 1 e mede a distribuição da renda na população: quando mais próximo de 0, maior a igualdade; quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade entre o que as pessoas ganham. A evolução entre 1998 e 2008 mostra, portanto, uma queda de 9,17%.
A desigualdade caiu em todas as regiões entre 2007 e 2008. A maior desigualdade está no Centro-Oeste, onde o índice de Gini foi de 0,549, em 2008, ante 0,552, em 2007. A região mais igualitária é a Sul, com 0,477, em 2008, abaixo dos 0,498, em 2007.
A maior queda foi registrada na região Norte, de 0,498, em 2007, para 0,478, no ano passado. No Nordeste, o índice de Gini passou de 0,528 para 0,525 de um ano para o outro. Já no Sudeste a queda foi de 0,498, em 2007, para 0,492, em 2008.

Rendimento

Apesar da redução, porém, alguns dados mostram a dimensão da desigualdade que ainda existe no país. No ano passado, segundo dados da Pnad, 52% das famílias tinham renda mensal por pessoa de até um salário mínimo.
São 5,9 milhões de famílias que não têm nenhum rendimento ou ganham até um quarto de salário mínimo, que hoje equivale a pouco mais de R$ 116.
De acordo com o IBGE, os 10% dos trabalhadores com os rendimentos mais baixos ganharam 1,2% do total da renda em 2008, número que era 1,1% em 2007. Já os 10% com os maiores rendimentos concentram 42,7% do total da renda, uma queda em relação aos 43,3% em 2007.
O IBGE destaca que o rendimento subiu para todas as faixas de renda da população, mas subiu mais nas faixas mais baixas. Por exemplo, entre os 10% que têm os rendimentos mais altos, eles subiram 0,3%; entre os 10% que têm os rendimentos mais baixos, a alta foi de 4,3%.

CICLO DE FILMES E PALESTRAS NA USP: IMPERDÍVEL.

O projeto “Figuras do Filósofo” pretende conciliar um ciclo de exibição de filmes que tratam da vida de alguns célebres filósofos a um ciclo de palestras sobre as facetas da vida filosófica. Confirma a programação: FILMES

Sócrates de Rossellini
18/09 das 19h às 22h
21/09 das 9h às 12h

Santo Agostinho de Rossellini
02/10 das 19h às 22h
05/10 das 9h às 12h

Pascal de Rossellini
09/10 das 19h às 22h
14/10 das 9h às 12h

Descartes de Rossellini
23/10 das 19h às 22h
26/10 das 9h às 12h

Giordano Bruno de Giuliano Montaldo
06/11 das 19h às 22h
09/11 das 9h às 12h

Últimos dias de Nietzsche em Turim de Júlio Bressane
13/11 das 19h às 22h
16/11 das 9h às 12h

Todos os filmes serão exibidos na sala 100 do conjunto didático de Filosofia e Ciências Sociais

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Possibilidades e limites dos negócios ambientais

No curso de pós-graduação em economia e meio ambiente, que realizo na Universidade Federal do Paraná, estamos debatendo as oportunidades dos negócios ambientais no Brasil. Eis algumas reflexões que faço sobre o assunto em questão:

Em primeiro lugar irei considerar uma questão estrutural, partindo da consideração dos limites éticos de negócios ambientais no modo de produção capitalista; desta forma partirei do enfoque, não apenas de novos negócios, mas na viabilidade deles no âmbito da chamada “economia solidária”, assim como é definida pelo professor Paul Singer, como outro modo de produção, operadas por cooperativas, associações e/ou grupos familiares.
Pierre Rousset, em um artigo Publicado nos Cadernos Em Tempo n. 3113, fevereiro de 2000, coloca assim esta questão:

“Tem cada vez mais menos sentido tratar as questões ecológica e social de forma independente, tanto no plano político quanto reivindicativo. Não podemos aceitar, ou estaremos correndo o risco de contradições explosivas, desenvolver dois conjuntos paralelos de medidas, um para responder às necessidades sociais (“salvar a humanidade”) e outro para responder aos danos ecológicos (“salvar o planeta”). O objetivo atual é combinar estas duas exigências solidárias em um mesmo programa de ação que seja, de fato, coerente.”

Tendo em conta estas reflexões aponto como oportunidade de negócios (solidários)

1 - Biodiesel – desenvolvido a partir do óleo mamona. Já existem pesquisas e importantes experiências nesta área, na região do nordeste brasileiro. Novos estudos sob o impacto ambiental e correto manejo da mamona precisam ser realizados, para evitar que este negócio se transforme em nova fonte de desertificação.

2 – Fortalecimento dos negócios da Agricultura Familiar, com múltiplas vantagens sócio-econômicas: a) difusão da agricultura orgânica e redução dos custos sociais no trato da saúde pública; b) melhoria da estrutura fundiária e todas suas conseqüências na preservação dos ecossistemas; c) marketing do consumo consciente, redes específicas de distribuição destes produtos e difusão de selos de certificação dos produtos orgânicos.

3 – Tecnologias para controle natural das pragas no plantio da soja e da cana de açúcar. Temos registros de experiências bem sucedidas nesta área.

4 – Tecnologias de gestão na área do “comércio justo”, com identificação clara da logística, formação de preços, distribuição e certificação de produtos.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

EDUCAÇÃO COMO MERCADORIA (1)

Em agosto do ano passado (2008) a revista Veja, em sua edição nacional, dedicou um tema de capa ao tema Educação. Revendo meus apontamentos encontrei uma matéria, de autoria de Rui Falcão, jornalista, advogado e deputado estadual pelo PT de São Paulo. O deputado petista, em uma reflexão robusta, colocou o dedo na ferida da proposta para a educação, conforme a premissas neoliberais, no Brasil defendidas em boa medida pelo PSDB, do ex-presidente FHC e do governador de São Paulo, José Serra.
Vale a pena conferir o artigo de Rui Falcão:

Os meios de comunicação em geral têm dado uma contribuição relevante ao debate sobre o processo de melhoria da qualidade do ensino. Ao apontar falhas e mazelas no sistema de ensino e mostrar o que resultou de positivo nas mudanças nele introduzidas nos últimos tempos, eles participam, de algum modo, do mutirão nacional que empolga a todos.
À onda de boas notícias parece à primeira vista ter-se juntado também a revista Veja, que dedica uma matéria de capa ao tema (edição de 20/08/2008), a pretexto de chamar atenção para os “primeiros sinais de inflexão para cima na curva da qualidade”. Na verdade, o objetivo da matéria é denunciar, com base em pesquisa realizada pela CNT/Sensus, “a mediocridade que se perpetua”, mediocridade que a revista vai identificar na orientação pedagógica atual, de que estaria imbuída a maioria dos professores, e em alguns textos de livros didáticos, de reconhecida inadequação.
A matéria de Veja não mereceria nossa atenção não fosse o fato de que ela não se inscreve na linha de melhoria da qualidade que tem orientado os analistas da educação. A revista Veja não pretende melhorar o que está aí. Muito longe disso, o que pretende é demolir em seus fundamentos o sistema de educação brasileiro, ao agredir frontalmente o conceito de educação pública, nos termos em que esta é concebida na Constituição Federal, assim como nos inúmeros documentos da UNESCO, sem falar das várias declarações sobre direitos humanos firmadas ao longo das décadas pelo conjunto das nações. Veja vai ainda mais longe: investe contra o conceito de educação que acompanha a história humana desde os primórdios civilizatórios até aos mais recentes documentos da ONU, a saber, a educação como capacitação para a vida em sociedade.
De forma oportunista, a matéria não investe diretamente contra os resultados educacionais obtidos no governo Lula, amplamente aprovados pelos pais. Ela visa, na empreitada de sua desqualificação, a fulminar o conceito de educação como tal, ou seja, educação como construção da cidadania e como escola da democracia — conceitos que se constituem em fundamento de todos os sistemas defendidos pelos grandes pensadores da Educação – de Platão a Rousseau, de John Dewey a Pestalozzi, de Rudolf Steiner a Paulo Freire.
Inspirada na proposta educacional do economista Milton Friedman - cujas idéias estão na base do pensamento neoliberal e do projeto tucano de educação para o Brasil, assim como praticado no governo FHC — a revista Veja, desta vez, parece ter conseguido superar-se a si mesma no desserviço que tem prestado aos leitores brasileiros, ao se alinhar à mais tosca, individualista e perniciosa proposta de organização da sociedade, se é que à “educação para o mercado” corresponde algo dotado dos atributos da “educação”, “organização” ou “sociedade”
Em lugar de escola para a construção da cidadania, Veja propõe a educação como mercadoria, que exigiria como ambiente para a realização das transações apenas o mercado, a única “disciplina social” reconhecida. Nada além disso. Somente o mercado seria capaz de assegurar a liberdade, para o desempenho individual e profissional dos indivíduos, além de se apresentar como única medida da eficiência e garantia da eficácia.
Nenhuma referência à sociedade, instituição desprovida de sentido, no dizer de Margaret Thatcher, ex-primeira ministra da Grã-Bretanha e prócer do oportunismo neoliberal. A referência à sociedade, como princípio e diretriz do ensino, segundo sugere a matéria de Veja, presta-se apenas a desviar a atenção dos alunos do essencial (que seria o acúmulo quantitativo de conhecimento e a submissão à ordem instituída), doutriná-los com ideologias retrógradas e tornar a escola dependente do Estado, instituição inimiga da liberdade individual.
Por isso, o Estado precisa ser reduzido à impotência, como condição para que possam florescer — em lugar das virtudes cívicas, inúteis e prejudiciais ao curriculum produtivista — as virtudes mercantis de compradores e vendedores. Assim, a revista Veja sonha com alunos desprovidos da mais leve nesga de consciência social, dispostos a aprender somente português e matemática, deixando-se aos cuidados dos proprietários da revista — e, por extensão, dos demais proprietários dos meios de produção em geral — a questão de dispor sobre o que fazer deles. O aluno como objeto, ou como produto, eis o ideal de Veja para a educação. Ou, como mostrava o diálogo entre pai e filho numa charge de jornal: O pai pergunta: “Filho, o que você vai ser quando crescer?” O filho responde: “O que a televisão quiser”.
A revista Veja ignora que, divorciada da referência à sociedade, a escola deixaria de existir, ao sucumbir sob os efeitos devastadores do mercado, que têm como única referência a vitória sobre o concorrente numa disputa encarniçada, desprovida de qualquer consideração moral. Nisso, a publicação peca por falta de originalidade. Joseph Townsend, um político inglês do século dezoito, ao argumentar contra a Lei dos Pobres, apontava como exemplo a ser seguido pela sociedade humana (que identificava com o mercado) o “equilíbrio natural” resultante da luta pela sobrevivência entre espécies animais. Por “equilíbrio natural”, Townsend entendia o espetáculo de carnificina universal oferecido por hienas contra zebras, cães contra ovelhas, chacais contra antílopes e cascavéis contra ratos e assim por diante.
É dizer que o ideal de educação pelo mercado preconizado por Veja faz-nos recuar para aquém do Humanismo Renascentista ou do Iluminismo, atirando-nos a todos numa nova idade das trevas, da qual se tenham abolido — em nome do individualismo autista do “homo oeconomicus”, — as regras da convivência humana, tão penosamente construídas ao longo de milênios. Lança-nos a todos num estado de primitivismo que não é próprio sequer dos animais. Como afirma o grande educador norte-americano John Dewey, “mesmo os cães e os cavalos têm o seu comportamento modificado em contato com seres humanos”. Por que, então, não fazer da educação um instrumento de mudança social? – sugere Dewey. (CONTINUA)

EDUCAÇÃO COMO MERCADORIA (2)

(CONTINUAÇÃO)
É nesse contexto que precisa ser compreendida a investida contra Paulo Freire, educador de renome internacional, reduzido por Veja ao “autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização”. Veja desrespeita a inteligência do leitor, ao fazer questão de ignorar que Paulo Freire, ao lado de Josué de Castro e de Milton Santos, encontra-se entre os acadêmicos brasileiros mais conhecidos no exterior. O sistema de busca do Google registra 1,65 milhão de ocorrências de Paulo Freire, número somente comparável, entre os grandes nomes de educação no Ocidente, a John Dewey, com 1,63 milhão; Pestalozzi, com 1,75 milhão; e Rudolf Steiner, com 2,52 milhões.
Na Wikipédia, Paulo Freire recebe tratamento igualmente relevante. É considerado “um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial”, segundo informa a versão em espanhol da enciclopédia eletrônica; ou como “um dos mais influentes pensadores da educação do século vinte”, segundo a versão em inglês. Aí pode ler-se que a Pedagogia Crítica de Paulo Freire inspirou a criação de dois institutos de educação na América do Norte: um no departamento de Educação na Universidade da Califórnia, um dos mais prestigiados no ranking da revista US News & World Report, e outro na Universidade McGill no Canadá. O verbete Paulo Freire ocorre no Wikipédia nas versões francesa, italiana, inglesa e espanhola entre outras, destacando-se a extensão de sua ocorrência na versão alemã, que lhe reserva um artigo de 21.400 caracteres, o dobro destinado ao cientista e político norte-americano Benjamin Franklin.
A Paulo Freire atribui-se o mérito – universalmente reconhecido pelos vários prêmios internacionais que recebeu, entre os quais o de Educação para a Paz, da UNESCO — de avançar no pensamento educacional, ao promover uma síntese das idéias de seus predecessores, como John Dewey. Para todos eles, o aluno está longe de ser um recipiente passivo no qual os professores depositam o seu estoque de conhecimento. Os alunos são os sujeitos ativos da educação – e o que deles se espera é que comecem por fazer as perguntas, que certamente lhes ocorrem da experiência de sua imersão no ambiente familiar e social. As respostas serão procuradas num exercício de imersão social semelhante, exercício praticado pela humanidade desde que se constitui em sociedade organizada, responsável pelas conquistas da cultura e civilização.
Isso significa dizer que a pedagogia de Paulo Freire – ou de Dewey, a quem Veja covardemente não ousa desqualificar – define a educação como o lugar onde indivíduo e sociedade se constroem, capacitando-os para a mudança social, nos termos também definidos no “Relatório da UNESCO sobre Educação para o Século XXI” (1996), onde se assinala que a educação não somente deve promover as competências básicas tradicionais, mas também proporcionar os elementos necessários para se exercer plenamente a cidadania, contribuir para uma cultura de paz e para a transformação da sociedade, para o que se propõem quatro pilares para a aprendizagem: “aprender a conhecer, a fazer, a ser e a viver juntos”.
A escola não pode reduzir-se a um adestramento para a conversão do aluno em mercadoria. O desenvolvimento humano não é sinônimo de mercado nem de crescimento econômico. O mercado ou o crescimento, por si só, não promovem a equidade nem reduzem a pobreza. Desenvolvimento implica eqüidade como resultado do exercício dos direitos sociais — e a promoção da eqüidade é uma tarefa pública, por excelência. Não é possível promover a equidade sem a democracia — e a democracia, longe de ser apenas um método de eleger os governantes, é o modo de se construir e exercitar a vida em comum, em proveito recíproco, a despeito das diferenças. Por isso, como dizia Paulo Freire, “estudar não é um ato de consumir idéias”. A democracia exige cidadãos capazes de criá-las e recriá-las.

Texto de autoria de Rui Falcão, jornalista, advogado e deputado estadual pelo PT de São Paulo

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Exemplo de tecnologia social: álcool gel caseiro

ATENÇÃO: estou repassando conforme recebí. Não conheço testes de eficiência e riscos. Todavia não é uma experiência para crianças.

ÁLCOOL GEL - Facílimo de fazer!!!!

Já tem muitos lugares que não se encontra ÁLCOOL GEL.
Guarde a formula simples do álcool gel, caso tenha necessidade:

- 2 folhas de gelatina incolor e sem sabor (compra-se em qualquer supermercado)

- 1 copo de água quente para dissolver as 2 folhas de gelatina.

- Espere esfriar.

- Acrescente 12 copos de álcool de 96° graus.

- Está pronto o álcool gel de 72° a 75° graus.



Reflexões de sala de aula: contribuições de Heidegger em um monografia.

Temas para debate, na elaboração de uma monografia: a) o sujeito ativo e a noção de heurístico, b) a afirmação de Heidegger de que a filosofia deve ser uma arqueologia do pensamento. c) Com efeito, ao estudar um pensador, não se trata de descrever literalmente as suas idéias de modo indicado por ele, mas ir além do que ele mesmo pensava. Qual será o destino da filosofia a partir desta observação? d) Uma monografia de filosofia deveria ser elaborada segundo as indicações de Heidegger?
O tema proposto para debate encontra-se no âmbito da unidade que trata das “Diretrizes para a elaboração de Monografia” e é nesta perspectiva que iremos comentá-lo.Desta forma observamos que a primeira parte da proposta do Fórum fala de postura (sujeito ativo) e de um método de trabalho (a heurística) no processo da investigação científica. Na seqüência, o professor Stefan, autor do tema do debate, propõe a verificação de uma relação entre os dois pontos mencionados (postura e método do pesquisador) com, o que supomos ser, a firmação de um filósofo existencialista e fenomenologista, Martin Heidegger, quanto ser a filosofia uma arqueologia do pensamento.
Finalmente o professor Stefan pergunta se “uma monografia de filosofia deveria ser elaborada segunda as indicações de Heidegger?”, o que supomos tratar-se de uma indagação sobre a consistência do seu pensamento (ou de parte dele) na definição da base teórica/ conceitual e da metodologia da investigação científica que alimentaria uma determinada monografia.
Como vemos a proposta do Fórum aponta para muitas direções. Lendo os comentários dos demais colegas isto nos pareceu ainda mais evidente.
Desta forma escolhemos comentar a base conceitual de Heidegger para a investigação filosófica. Não sabemos (não temos elementos para) dizer se uma monografia deveria (grifo nosso) ser elaborada segundo as indicações de Heidegger. Mas podemos citar pelo menos uma obra de grande importância, que é a criação da nova ciência da cognição conforme exposto em artigo de Gilbert Cardoso Bouver (Bouyer, Gilbert Cardoso -2006 -. A “Nova” Ciência da Cognição e a Fenomenologia: conexões e emergências no pensamento de Francisco Varela. Ciências & Cognição; Ano 03, Vol 07. Disponível em www.cienciasecognicao.org).
No preâmbulo do artigo já fica indicada a importância da contribuição de Heidegger:
“Neste trabalho, indicar-se-á que a nova ciência da cognição, termo cunhado por Francisco Varela, demonstrou os limites da representação no fenômeno do conhecer, numa interessante consonância com os postulados ontológicos sobre o “si” da “cadeia de pensamento” formada por Nietzsche , Heidegger , Merleau-Ponty e Foucault”
Com esta citação pretendemos reafirmar que não apenas uma monografia (mas toda uma nova ciência, com seus postulados filosóficos) pode ser construída no âmbito do pensamento de Heidegger.

A Praxis e Sujeito Ativo

Ser um observador participante, do universo: ter olhos para o mundo e não para o próprio umbigo. Fazer deste princípio uma profissão de fé, aceitando que a nossa vida seja invadida por esta inquietação que a todo tempo nos faz perguntar: porque é assim? De que outra forma poderia ser? Agindo assim a leitura, por mais técnica e desafiadora que seja, será sempre prazerosa. E ao longo deste processo seremos sempre contemplados com insights e introvisões instigantes.Este é o espaço de estímulo às novas descobertas. E o sujeito ativo será um observador participante da vida, assim com se define no conceito de praxis.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

EDUCAÇÃO: CULTURA E HISTÓRIA

Qual a idéia de cultura nos séculos XIX e XX? Qual a Idéia de Ser Humano nos séculos XIX e XX ?

Antes de falarmos na idéia de cultura e seres humanos em dois séculos distintos, consideramos oportuno, situar a partir de que ponto de vista ou de abordagem teórica que estaremos expressando tais conceitos, a saber: Cultura e Humanos como a) dimensão histórica (Hegel e Marx) e b) com dimensão antropológica.

Assim, citando a professora Marilene Chauí, (in Convite à Filosofia - Unidade 8 -O mundo da prática - Capítulo 1 - A cultura - Natureza humana)
(..)”Foi Hegel e, depois dele, Marx que enfatizaram a Cultura como História.” Marx considerava a visão hegeliana idealista. “(...)” O movimento da História-Cultura é realizado pela luta das classes sociais para vencer formas de exploração econômica, opressão social, dominação política. Despotismo asiático, modo de produção antigo (Grécia, Roma), modo de produção feudal (Idade Média), capitalismo comercial ou mercantil, capitalismo industrial são as maneiras pelas quais surgem e se organizam as formações sociais, internamente divididas por lutas, cujo fim dependerá da capacidade de organização política e de consciência da última classe social explorada (o proletariado, produzido pelo capitalismo industrial) para eliminar a desigualdade e injustiça históricas“.

A antropologia nos trás outra contribuição, ao buscar estabelecer o processo de ruptura e distinção entre homem e natureza. O momento em que o homem se distingue de outros animais tanto pela linguagem, como pelo conjunto simbólico de princípios de que definem de forma elementar uma noção ainda que primária de moral (o que pode e o que não pode, sob pena de sansões)

Ainda de acordo com Chauí (...)“ Em sentido antropológico, não falamos em Cultura, no singular, mas em culturas, no plural, pois a lei, os valores, as crenças, as práticas e instituições variam de formação social para formação social. Além disso, uma mesma sociedade, por ser temporal e histórica, passa por transformações culturais amplas e, sob esse aspecto, antropologia e História se completam, ainda que os ritmos temporais das várias sociedades não sejam os mesmos, algumas mudando mais lentamente e outras mais rapidamente. (...) Se, porém, reunirmos o sentido amplo e o sentido restrito, compreenderemos que a Cultura é a maneira pela qual os humanos se humanizam por meio de práticas que criam a existência social, econômica, política, religiosa, intelectual e artística.”

Desta forma é possível identificar em cada um dos séculos pesquisados fatores característicos presentes na evolução das forças sociais e econômicas.

O Século XIX foi o período das ciências positivas e generalização do do conceito de poder absoluto da ciência, como capaz de responder a todas questões. Foi o período do grande avanço da tecnologia, como recurso instrumental de inovação dos meios de produção. O capitalismo industrial se afirmara, produzindo uma nova revolução. O processo de urbanização avançava, caminhando para uma redução progressiva da importância econômica e cultural das regiões rurais. A Filosofia descobre a Cultura como o modo próprio e específico da existência dos seres humanos.
No entanto, no século XX, a Filosofia, afirmando que a História é descontínua, também afirma que não há a Cultura, mas culturas diferentes, e que a pluralidade de culturas e as diferenças entre elas não se devem à nação, pois a idéia de nação é uma criação cultural e não a causa das diferenças culturais.
Ao contrário do se predizia no século XIX, as conquistas culturais e científicas deste período não resultaram em um período de grande libertação: duas grandes guerras, o domínio do átomo e o genocídio da bomba atômica, o fortalecimento do individualismo, o surgimento das organizações capitalistas transnacionais e a dramática marginalização de dois terços da humanidade. É neste cenário que se forma o padrão cultural do século XX. E, se de um lado, ele é propício à disseminação dos pessimismos, por outro cresce um sentimento de que através da própria ruptura de um sistema econômico que, à medida que cresce, mais destrói se destrói. É neste estreito espaço que se constrói a utopia de uma nova civilização: a era da solidariedade como organização econômica, social e cultural.

domingo, 6 de setembro de 2009

"Capitalismo, uma História de Amor", um filme de Michael Moore

Texto publicado hoje, na Folha Online. Confira:

"Este filme é muito relevante para a Europa. Vocês estão experimentando o resultado do colapso econômico, que não é só nos EUA", disse Moore. Já que, para o americano, esse documentário é um exemplo dos danos sofridos pelo país devido ao capitalismo selvagem, "quanto mais tentarem se comportar como nós, mais difícil será para suas sociedades".

Esses efeitos do capitalismo levaram à ruína muitas famílias americanas, como reflete Moore no documentário, no qual culpa pela situação atual os ex-presidentes americanos George W. Bush (2001-2009) e Ronald Reagan (1981-1989), as multinacionais, os bancos e todos os que enriqueceram às custas dos outros.

O documentário é fiel ao estilo de Moore, com uma estrutura narrativa quase inexistente e com os golpes de efeito que cada vez se parecem mais os dos programas de televisão de câmera escondida.

Moore se alimenta dos testemunhos das pessoas que caíram em desgraça em seu país para criticar o sistema capitalista, as que perderam suas casas ou que viram a morte de seus entes queridos redundar em lucro para as empresas para as quais trabalhavam através de apólices de seguros irregulares.
Algo fácil de fazer em uma situação como a atual e após os escândalos financeiros que sacudiram o mundo e que permite que Moore se concentre em bancos como o Lehman Brothers ou Citibank, e empresas como a General Motors, alguns dos nomes mais ligados à atual crise econômica.
Tudo com as táticas frequentes dos seus documentários, que dão lugar a situações bastante cômicas --e um tanto repetitivas--, cada vez que tenta entrar em um edifício ou se reunir com um dos responsáveis bancários ou empresariais que critica. Apesar de tudo, o documentário é ágil e se deixa ver com facilidade, além de conter um bom punhado de verdades que parecem ameaçar o "sonho americano".

No entanto, Moore disse em entrevista que o bom do sonho americano é que os americanos acreditam muito em seu país e têm fé na Justiça e na democracia. "Há três ou quatro anos, se alguém tivesse dito que um afro-americano seria presidente, não teria acreditado", disse. O fato de Barack Obama estar no poder mostra "a capacidade dos americanos, mas também das pessoas de todo o mundo" para conseguir mudar as coisas, acrescentou.

Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u620185.shtml

PT vai lançar rádio e TV na web para alavancar Dilma

O PAPEL DA NET NA CANDIDATURA DE DILMA:

Publicado em 06.09.2009, às 09h46
Mesmo sem a certeza da aprovação pelo Congresso do projeto que regulamenta uso eleitoral da internet, o PT já começa a tirar do papel um de seus principais projetos nessa área. Em mais um sinal de que está decidida a tirar proveito da rede mundial de computadores na corrida presidencial de 2010, a direção nacional do partido decidiu criar uma emissora online de rádio e televisão.

Apesar de surgir como um canal institucional de comunicação, o projeto ajudará desde já a melhorar a exposição da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, na rede. Além disso, reconhecem dirigentes da sigla, é uma chance de testar o potencial de ferramentas online que poderão ser replicadas pela campanha petista na eleição de 2010.

A estratégia ainda está em fase de desenvolvimento, mas a pretensão do PT é ir além da simples publicação de vídeos em seu site na internet, fórmula que já existe nas páginas de vários partidos políticos. A ideia é, no longo prazo, cobrir “todo o dia a dia do PT”, por meio da produção de reportagens, cobertura de eventos, entrevistas e transmissões ao vivo, de forma a preencher uma grade completa de programação voltada aos internautas.

O partido já encomendou equipamentos para montar um estúdio completo dentro do prédio que abriga a sua sede nacional, em Brasília. Parte da equipe da emissora será montada por meio da ampliação do atual quadro de funcionários na área de comunicação. Mas uma parcela do conteúdo será produzida por meio de um contrato de terceirização com uma empresa especializada. O plano é iniciar as transmissões, ainda num formato mais tímido, entre novembro e dezembro.

Até o fim deste ano, a expectativa da direção partidária, é de gastar R$ 150 mil na iniciativa. O montante, de acordo com petistas, servirá apenas para “dar a largada” no projeto. A próxima direção da sigla, que será escolhida na eleição interna agendada para novembro, vai definir os valores que serão aplicados no projeto durante o ano eleitoral e dali em diante.

Fonte: http://jc.uol.com.br/canal/cotidiano/politica/noticia/2009/09/06/pt-vai-lancar-radio-e-tv-na-web-para-alavancar-dilma-198758.php
Fonte: AE

sábado, 5 de setembro de 2009

Michael Moore pede o fim do capitalismo em seu novo filme em Veneza

PUBLICADO ESPECIALMENTE PARA A UOL - POR NEUSA BARBOSA.

05/09/2009 - 18h34
Michael Moore pede o fim do capitalismo em seu novo filme em Veneza
NEUSA BARBOSA
Especial para o UOL, de Veneza, Itália*
A passagem do documentário "Capitalism: A Love Story", de Michael Moore repercutiu com toda a força que se poderia esperar do engajado diretor de "Tiros em Columbine" e "Farenheit 451". Sua primeira sessão para a imprensa no Festival de Veneza, onde concorre ao Leão de Ouro, nesta noite de sábado (5), teve fila começando mais de meia hora antes de seu início, empurra-empurra e dezenas de jornalistas voltando para trás, assim que a lotação da Sala Perla (450 lugares) se esgotou.
Ao final, o filme foi bastante aplaudido. Em todo caso, o filme é polêmico e tem a marca marqueteira de Moore, embora não lhe falte contundência. Ao seu final, o diretor simplesmente faz uma profissão de fé contra o capitalismo -que, segundo ele, "não pode ser regulado, tem de ser simplesmente eliminado e substituído por um sistema mais justo."

O foco do filme é a grande crise econômica que abalou os mercados mundiais ao final de 2008, provocando a quebra de instituições financeiras e a falência não só de empresas, como de pessoas físicas -milhares delas perderam suas casas, nos EUA, por não poderem pagar suas hipotecas, que haviam sido refinanciadas para adquirir novas casas.

Como de hábito nos filmes de Moore, a pesquisa é consistente e registra casos impressionantes, que visam retratar a ganância dos bancos e o resultado trágico, segundo ele, de uma desregulamentação do sistema financeiro. Além de acompanhar o despejo de alguns inadimplentes com as hipotecas, Moore denuncia verdadeiros crimes, como empresas que fazem apólices de seguro em favor de seus empregados e beneficiam-se delas, no caso de sua morte, em prejuízo das famílias dos mortos. O filme não se furta a indicar mesmo os nomes de diversas grandes empresas norte-americanas que usaram ou ainda usam este expediente.

Uma das sequências mais provocadoras de "Capitalism: A Love Story" está em seu final -quando o próprio cineasta percorre diversos bancos em Nova York com um saco de pano na mao, com a intenção declarada de "recuperar" dinheiro subtraído aos contribuintes. Impedido de fazer esta "coleta", Moore arranja então um rolo da fita normalmente usada pela policia norte-americana para isolar cenários de crimes, passando-a pela porta dessas instituições.

Ao final, o cineasta propõe que cada uma das pessoas que assistir ao filme também se rebele, seguindo os exemplos de trabalhadores que ocuparam indústrias desativadas ou alguns moradores que reocuparam suas casas, desobedecendo às ordens de despejo. Moore diz claramente que os EUA hoje "não são" o país que o falecido presidente Franklin Roosevelt propunha, mas que ele não irá deixá-lo. Moore repropõe, ao que parece, a boa e velha desobediência civil.

Com tantos assuntos bombásticos, a coletiva do filme de Moore, marcada para a tarde de domingo, promete.

*Neusa Barbosa escreve para o site Cineweb

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Forum Mundial Social divulga sua agenda: acompanhe.

O Conselho Internacional do FSM divulgou, no dia 20 de agosto, através do Grupo de Trabalho 2010, um chamado aos comitês organizadores dos eventos que acontecerão no próximo ano. O CI solicita aos comitês informações sobre datas e locais dos eventos e sugere que o tema da crise global esteja presente com visibilidade nas atividades de cada fórum.

Calendário 2009

a) A cidade de Amed (Diyarbakir), na Turquia, recebe o Fórum Social Mesopotâmico, de 28 a 30 de setembro

Setembro será um mês de muitas atividades na cidade de Amed (Diyarbakir), região curda da Turquia. De 28 a 30, será realizado o Fórum Social Mesopotâmico (MSF). Antes do evento, acontecerá também, de 25 a 27, a Assembleia Preparatória para o Fórum Social Europeu 2010.
Site do evento: http://www.international-amed-camp.org


b) Mais de 6 mil são esperados ao II Fórum Social do Québec, que acontece de 9 a 12 de outubro em Montreal, Canadá

Após sua primeira edição em 2007, o Fórum Social do Québec (FSQ) está de volta de 9 a 12 de outubro de 2009. Os organizadores esperam mais de 6 mil participantes, que irão imaginar o futuro de Québec conjuntamente. Além disso, três dias antes acontecerá mais uma reunião do Conselho Internacional.
Site do evento: http://www.forumsocialquebecois.org


c) De 10 a 12 de outubro, acontecerá em Sevilha o Fórum Social Temático Espanhol 2009

Com o tema “Espiritualidades e Éticas para outro Mundo Melhor Possível”, acontecerá, no Palácio de Exposições e Congressos de Sevilla (Fibes), o Fórum Social Temático Espanhol 2009. Os organizadores esperam a participação de cerca de 1.500 pessoas, que vão debater os princípios e valores sobre o quais construir “um mundo melhor, necessário, urgente y possível” durante os três dias do evento.
Site do evento: http://www.forosocialte2009.org

O JOGO DE ANK - Série Cartas do Caminho Sagrado

Nos primeiros tempos, o Grande Conselho de Sábios reuniu-se para cumprir uma importante tarefa: era preciso criar Deus. Nesta época era prática corrente a realização dos Jogos da Razão. Os Jogos seguiam regras de inegável elegância. A Lógica impunha estilo. No início não havia porque se perturbar com a insistência dos Sonhos de Fantasia. O som ritmado sugeria um tipo de métrica, muito apropriado para novos jogos. Assim como os matizes do conjunto das cores. Os Sábios porém ficaram incomodados quando um deles relatou-lhes o seguinte sonho: - dois jovens vieram com uma novidade, chamada Jogo da Vida. A competição seguia da seguinte forma: o jogo se assemelhava ao boliche. À frente dos jogadores havia uma pequena pista e, ao seu final, abria-se um círculo. Os jogadores, com uma peça de madeira de cor própria ( amarelas para o Primeiro Jogador e azuis para o Segundo) faziam o arremesso. Cada peça deveria cair dentro do grande círculo. Perdia-se pontos se a peça caísse fora. Mas havia uma complexidade crescente. A cada lance as regras mudavam. Nesta etapa do jogo as peças amarelas precisavam cair no grande círculo, permanecendo dentro dele, ao mesmo tempo em que tocavam as peças azuis empurrando-as para fora. O jogo parecia caminhar para seu clímax. Nova regra. Um peça azul deveria ser lançada, produzindo um efeito que a levaria a resvalar por cinco peças amarelas espalhadas no Grande Círculo e, finalmente, tocar para fora a quinta peça. O desafio parecia impossível. Este Jogo parecia uma brincadeira. Faltava-lhe seriedade. Neste momento o Primeiro Jogador sentou-se em posição de Lotus, entrando em um estado até então desconhecido. Em profunda concentração ele meditava e um sentimento de inteireza invadiu todo o seu ser. O Segundo Jogador percebeu que algo fora do comum acontecia. Procurou no Grande Livro a palavra Intuição. Nada feito. Ele mesmo intuía que perderia aquele jogo. Começou a enrolar pequenas pelotas de papel atirando-as na face do Primeiro Jogador. Em um gesto rápido e firme o Primeiro Jogador acertou o Segundo com um leve golpe de karatê. Aquele que Sonhava o Jogo da Vida entendeu que a cumplicidade com a provocação era também um ato de violência. E da mais profunda intuição saiu o movimento que reproduzia o formato da Cruz Ansata, promovendo um integração das peças, uma a uma. até arrancar numa explosão final a UNIDADE, que sempre estivera Presente.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Curso de Especialização em Autogestão Cooperativa

Recentemente eu comentei sobre a importância da Economia Solidária formar os seus gestores. Neste modo de produção peculiar existe um sujeito que é a figura central deste processo, conhecido como sócio-trabalhador. Trata-se de uma identidade também peculiar. Não é um sócio, no sentido capitalista, não é um trabalhador (assim consideradas todas as formas de vínculo e oferta da força de trabalho como mercadoria), mas alguém que se auto-gere coletivamente. Existe uma grande simplificação de conceitos aqui, mas permite introduzir e reforçar a noção de que existe um saber e um fazer muito distinto do que se ensina nas Faculdades de Administração.
Egeu Gómez Esteves, um fraterno amigo, está na vanguarda das pesquisas dos processos de Augestão Cooperativa. Ele coordena um curso nesta área. Para quem se interessar aqui vão algumas informações:
1 - Modalidade: Presencial com tutoria on-line
2 - Carga Horária: 360 horas
3 - Período e Periodicidade: 18 meses - aos sábados, semanalmente
4 - Público-alvo: Gestores e demais sócios-trabalhadores (cooperados) de empresas autogeridas; Técnicos, assessores e dirigentes de instituições do movimento da Economia Solidária; Pesquisadores da área ou estudiosos interessados no tema
5 -Disciplinas:
Autogestão, cooperativismo e economia solidária
Autogestão, desafios e possibilidades
Direito cooperativo
Gestão de cooperativas
Contabilidade para cooperativas
Gestão socioambiental de empresas e cooperativas
Gestão da produção e da qualidade
Tecnologia e Economia Solidária
Trabalho e saúde
Metodologia de investigação científica
6 - Trata-se de um curso de especialização que se desenvolve com as seguintes parcerias:

VERSO Cooperativa de Ensino, Pesquisa e Consultoria
Iniciativa e administração do curso (contratação dos professores e demais envolvidos etc.).
UNICSUL - Universidade Cruzeiro do Sul
Coordenação acadêmica, diplomação e infra-estrutura do curso (salas de aula, laboratórios, biblioteca, sistema de e-learning e equipamentos audiovisuais).
ABPES – Associação Brasileira de Pesquisadores de Economia Solidária
Indicação do corpo docente do curso.
UNISOL BRASIL – Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários
Divulgação do curso aos sócios-trabalhadores das cooperativas autogeridas filiadas.

Justificativa:

As empresas solidárias bem sucedidas se apóiam em formas de gestão compatíveis com a eficiência e com a competência necessárias para a viabilidade econômica e para a democracia, fundamentalmente no que diz respeito à participação efetiva e transparente dos trabalhadores nos processos decisórios. O principal desafio dessas empresas está em desenvolver mecanismos de gestão que, a um só tempo, reforcem a competência e a eficiência do empreendimento e permitam que os trabalhadores que o compõem participem efetivamente nos rumos e na organização do negócio. Tudo isso de forma estratégica, aliando as expectativas pessoais às coletivas como forma de aumentar o comprometimento recíproco e sem cair num democratismo que possa engessar os processos decisórios e diminuir a eficiência do empreendimento.

Para maiores detalhes acesse o seguinte endereço: http://www.versocoop.org/

Qual o Espaço Ontológico de Nossas Escolhas? O final já está escrito?

Meu TCC foi identificado com o título: "Mitos Fundadores, Crises e Pespectivas do Partido dos Trabalhadores", eu busco ampliar a visão que você se refere no TCD. A professora Marilena Chaui desenvolve o conceito dos "mitos fundadores" na história do Brasil. Recupero uma referência da professora: (...)"À maneira de todo 'fundatio' este mito impõe um vínculo interno com o passado como origem, isto é, com um passado que não cessa nunca, que se conserva perenemente presente e, por isto mesmo, não permite o trabalho da diferença temporal e da compreensão do presente enquanto tal"(...).
Para mim foi um achado esta contribuição de Chauí. Depois encontrei em diversos outros autores o papel dos Mitos, com uma força muito maior do que eu poderia originalmente conceber: bons exemplos estão no estruturalismo, que nos fala de um Inconsciente Estrutural e dos conceitos de arquétipo trabalhado por Jung. Porque fui buscar estas fontes? Sempre me perguntei sobre a origem da energia mobilizadora de alguns conceitos, como por exemplo o de "libertação". Eu tive vários companheiros que morreram sob tortura, colocando o ideal de liberdade acima da própria vida. Havia uma motivação que eu chamaria de "não-racional" e uma convicção de que no final a Verdade venceria. Esta é no fundo a visão do Reino, proclamada pelas religiões abraamicas, que está presente no judaísmo (Marx era judeu) e no cristianismo e neste sentido, é uma visão teleológica. O Bem é para o onde caminha inexoravelmente a história. Se a história possui uma destinação teleológica qual o sentido de nossas escolhas e o papel da nossa liberdade? Somos de alguma forma prisioneiros de um final que já está escrito? Esta é a dimensão ontológica do Ser que estudamos?

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Série: Poemas para Lenir

CORPO


Este desconsolo de ficar
Numa hora insuspeita da noite
Diluído numa sinfonia abstrata
E perante a transitoriedade do amor
Ir buscar no sono distante
A fuga da fuga!


Meu coração se incorpora
À terceira galáxia
E se recusa – violento –
Desprender-se do eterno.

Talvez se memória ajudasse.
Se um corpo de mulher
- um corpo etéreo de mulher –
Surgisse sobre o ombro
Para colher este poema
- uma flor de bronze –
E depois submergisse
Ao contato de outro corpo
- meu corpo perplexo e confuso –
O dia seria uma conjugação possível.

Mas o tempo avança,
Se enrosca aqui e acolá,
Anuncia tornados, isola os amantes,
Sufragando uma noite peremptória
na alma de descuidado vivente.

Na infância aprendi lições de romantismo.
Na idade adulta
Estas lições agora emolduradas
Em velhos casarões
Reúnem-se a incríveis paisagens
Para zombar dos descuidos sentimentais
Que a cada espaço de vida
Desfalecemos
- a vida vira coisa incerta -.

Mas se a memória ajudasse!

Porém o ar retém uma imagem
Que obscura o cérebro,
Conduz a insônias terríveis
E – de surpresa – repousa no travesseiro
Para ternamente dizer de um tempo pretérito
Onde certa vez o amor aconteceu de súbito.


Não.
Não há consolo quando o coração
Pretende fugas ao eterno.

Madrugada começa a busca
De um sucedâneo para a solidão.

Será vão – mas percorremos o quarto vazio:

- Lençóis rebuscados restam
Como testemunho da febre
Que antecede a diluição da entrega –

Só mais tarde,
Muitíssimo mais tarde,
Ocorre de improviso
Ao artista que em pleno palco
Perdeu sua máscara:

O corpo é a um só tempo:

- fogo, miragem, espera.

Frederico Ozanam Drummond