quarta-feira, 30 de junho de 2010

Mais uma pesquisa comprova liderança de Dilma

Mais uma pesquisa de intenção de votos aponta a liderança da candidata do PT, Dilma Rousseff entre o eleitorado. O canal de televisão Band divulgou hoje levantamento feito pelo instituto Vox Populi que mostra a petista com 40% da intenção de votos.

O candidato do PSDB, José Serra, novamente aparece em segundo, com 35%. E Marina Silva, do PV, permanece em terceiro com 8%. Os percentuais se referem ao cenário em que todos os nomes dos postulantes à Presidência da República são apresentados aos entrevistados.

A margem de erro da pesquisa é de 1,8% para mais ou para menos. O levantamento ouviu 3 mil eleitores entre 24 e 26 de junho.

Na última pesquisa divulgada pela Band em parceria com o Vox Populi, Dilma já liderava, mas dentro da margem de erro. Em 15 de maio, ela tinha 38% das intenções de voto e Serra acumulava 35%. Marina Silva manteve os 8% do último levantamento.

Cenários

Na pesquisa espontânea, Dilma ampliou sua vantagem sobre o candidato da oposição em relação a maio. A petista tinha 19% das intenções naquele mês e, agora, subiu para 26%. Serra subiu de 15% para 20%. Marina Silva é lembrada espontaneamente por 4% dos eleitores, segundo a Vox Populi.

Num possível segundo turno entre Dilma e o tucano, ela levaria vantagem por quatro pontos percentuais: 44% a 40%. Essa diferença era de dois pontos percentuais a favor de Dilma em maio. Segundo o levantamento, para 50% dos eleitores Dilma tem mais chances de vencer a eleição do que os demais candidatos. Esse percentual em relação a Serra é de 35%.

fonte: Rede Band

terça-feira, 22 de junho de 2010

Porque o PSDB e José Serra mentem tanto?

É de se esperar em um processo eleitoral, muito disputado como o para a eleição do novo presidente da República do Brasil, que os candidatos criem suas estratégias de valorização pessoal e busquem promovê-las. O que é difícil aceitar é o jogo do PSDB e seu candidato José Serra, sistematicamente envolvidos em escaramuças e insistente divulgação de mentiras tentando envolver sua oponente, a candidata do PT, Dilma Rousseff. De minha parte prefiro confiar em uma fonte como o jornalista Luis Nassif, como podemos ver a seguir (http://www.advivo.com.br/):

O caso Eduardo Jorge.

A história do Eduardo Jorge é recente, do ano passado. Passa pelos órgãos oficiais de combate à lavagem de dinheiro – não por dossiês apócrifos. Não sei a razão do repórter Leonardo de Souza não divulgar a informação principal da história.
No ano passado, o COAF (Conselho de Controle das Atividades Financeiras) foi informada por um gerente do Banco do Brasil de uma movimentação extraordinária na conta de Eduardo Jorge – que havia sido indicado coordenador de campanha de José Serra. Houve movimentação de R$ 3,9 milhões – em três depósitos de R$ 1,3 milhão.
Pelas normas do COAF, todo gerente é obrigado a se informar sobre a origem de depósitos extraordinários e a comunicar ao órgão quando não houver explicações satisfatórias. Foi feito.
O passo seguinte foi o COAF solicitar ao Ministério Público Federal inquérito contra Eduardo Jorge por lavagem de dinheiro e crime contra o sistema financeiro. Isso foi feito pelo procurador Lauro Pinto Cardoso.
A notícia vazou para o Correio Braziliense. Eduardo Jorge se valeu do vazamento para denunciar o procurador ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e solicitar o trancamento da ação. Não se entrou no mérito das acusações nem do crime do qual era acusado: obteve-se o trancamento exclusivamente demonstrando que houve vazamento do inquérito.
Ocorre que objetivamente ficou pendente uma acusação de crime de lavagem de dinheiro. O MP conseguiu destrancar a ação e partiu novamente para cima de Eduardo Jorge – a esta altura com Lauro, em sua ascensão na carreira, promovido a segundo homem do órgão.
A explicação de Eduardo Jorge é que o dinheiro tinha sido fruto de uma herança que recebeu com o falecimento do sogro, que tinha terras em Maricá. O MP constatou que o sogro morreu há 40 anos. E que não haveria terreno em Maricá valendo isso tudo.
Em sua defesa, Eduardo Jorge diz que o depósito de julho de 2007, no valor de R$ 1,47milhão, foi feito em sua conta na condição de inventariante do espólio do sogro. Com o sogro morto, recebeu o depósito e em seguida depositou na conta vinculada da Justiça do Rio, de acordo com determinação do juiz do espólio. Em ambos os casos, foram contas abertas no Banco do Brasil. Sustenta que a própria decisão do CNJ, de interromper o inquérito, é sinal de que está sendo abusivo. O fato da movimentação ser no BB e, portanto, exposta a toda sorte de fiscalização, seria outra prova de sua legalidade
É questão que caberá ao inquérito apurar.
Enquanto o inquérito caminhava, o repórter Leonardo de Souza, da Folha, soltou matérias garantindo que as informações constam de um dossiê do PT. Na matéria, a única entrevista em on é com Eduardo Jorge. Do lado das investigações, sustenta-se que o suposto vazamento foi uma armação visando repetir o trancamento do primeiro inquérito. Pode ter sido vazamento do PT; pode ter sido armação. O jornal não tem fé pública para sustentar a primeira tese sem apresentar mais elementos.
Além disso, deixou de lado a notícia efetiva: a de que o coordenador de campanha de José Serra foi apanhado pelo COAF com movimentações extraordinárias em sua conta corrente. E que está sendo alvo de um inquérito do MPF. Ao contrário das acusações de 2002, dá-se a matéria e a versão do acusado e até se conclui pela culpa ou inocência, mas com todos os elementos divulgados.
Se conseguirá provar ou não sua inocência, o processo dirá. Em outras épocas, com amplo beneplácito da Folha, Eduardo Jorge foi alvo de perseguição do MP, sem direito à defesa.
Mas a Folha jamais conseguirá explicar a dificuldade que está tendo para contar uma história relativamente simples.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O ódio nasce no coração dos seres humanos. É lá, portanto, que teremos que estender a bandeira da paz.

Foi com Pierre Weil, um mestre na holística, que aprendí o sentido espiritual da ecologia. Em seu modelo pedagógico, aplicado em muitas instituições como um modelo de desenvolvimento da paz, Pierre agrupava seus ensinamentos em três grandes campos:
a) A Ecologia Pessoal ou Interior, b) a Ecologia Social ou dos Relacinamentos e, c) a Ecologia Ambiental. Em suas vivências ele trabalhava com métodos que nos permitir encontrar cada uma destas dimensões como a Paz Interior, a Paz Social e a Paz do Planeta. No período em que atuei na UNIPAZ, a instituições dirigida por Pierre, coordenando o Colegiado de Desenvolvimento Organizacional Holístico levamos este aprendizado para muitas instituições públicas e privadas. Poucas experiências foram mais gratificantes do que os momentos de meditação realizado ao lado de uma pequena cachoeira, na Granja do Ipê, na sede da UNIPAZ, em Brasília. Pierre faleceu no ano passado. Mas de alguma forma seus ensinamentos continuam chegando até mim de formas as mais diversas. Veja esta. Hoje recebí um e-mail do meu irmão Marcílio, com o título: Ecologia interior. Texto de autoria do Frei Beto, que faz parte da direção da UNIPAZ. O texto fala por si. De qualquer forma sou grato a estes emissários que estão sempre por perto para me acudir em minhas aflições, como é o exemplo deste e-mail do Marcilio. Medite com estas reflexões:

Por um minuto, esquece a poluição do ar e do mar, a química que contamina a terra e envenena os alimentos, e medita: como anda o teu equilíbrio eco-biológico? Tens dialogado com teus órgãos interiores? Acariciado o teu coração? Respeitas a delicadeza de teu estômago? Acompanhas mentalmente teu fluxo sanguíneo? Teus pensamentos são poluídos? As palavras, ácidas? Os gestos, agressivos? Quantos esgotos fétidos correm em tua alma? Quantos entulhos - mágoas, ira, inveja - se amontoam em teu espírito?
Examina a tua mente. Está despoluída de ambições desmedidas, preguiça intelectual e intenções inconfessáveis? Teus passos sujam os caminhos de lama, deixando um rastro de tristeza e desalento? Teu humor intoxica-se de raiva e arrogância? Onde estão as flores do teu bem-querer, os pássaros pousados em teu olhar, as águas cristalinas de tuas palavras? Por que teu temperamento ferve com freqüência e expele tanta fuligem pelas chaminés de tua intolerância? Não desperdiça a vida queimando a tua língua com as nódoas de teus comentários infundados sobre a vida alheia.
Preserva o teu ambiente, investe em tua qualidade de vida, purifica o espaço em que transitas. Limpa os teus olhos das ilusões de poder, fama e riqueza, antes que fiques cego e tenhas os passos desviados para a estrada dessinalizada dos rumos da ética. Ela é cheia de buracos e podes enterrar o teu caminho num deles. Tu és, como eu, um ser frágil, ainda que julgues fortes os semelhantes que merecem a tua reverência. Somos todos feitos de barro e sopro. Finos copos de cristal que se quebram ao menor atrito: uma palavra descuidada, um gesto que machuca, uma desconfiança que perdura.
Graças ao Espírito que molda e anima o teu ser, o copo partido se reconstitui, inteiro, se fores capaz de amar. Primeiro, a ti mesmo, impedindo que a tua subjetividade se afogue nas marés negativas. Depois, a teus semelhantes, exercendo a tolerância e o perdão, sem jamais sacrificar o respeito e a justiça. Livra a tua vida de tantos lixos acumulados. Atira pela janela as caixas que guardam mágoas e tantas fichas de tua contabilidade com os supostos débitos de outrem. Vive o teu dia como se fosse a data de teu renascer para o melhor de ti mesmo - e os outros te receberão como dom de amor. Pratica a difícil arte do silêncio. Desliga-te das preocupações inúteis, das recordações amargas, das inquietações que transcendem o teu poder.
Recolhe-te no mais íntimo de ti mesmo, mergulha em teu oceano de mistério e descobre, lá no fundo, o Ser Vivo que funda a tua identidade. Guarda este ensinamento: por vezes é preciso fechar os olhos para ver melhor. Acolhe a tua vida como ela é: uma dádiva involuntária. Não pediste para nascer e, agora, não desejas morrer. Faz dessa gratuidade uma aventura amorosa. Não sofras por dar valor ao que não merece importância. Trata a todos como igual, ainda que estejam revestidos ilusoriamente de nobreza ou se mostrem realmente como seres carcomidos pela miséria.
Faz da justiça o teu modo de ser e jamais te envergonhes de tua pobreza, de tua falta de conhecimentos ou de poder. Ninguém é mais culto do que o outro. O que existem são culturas distintas e socialmente complementares. O que seria do erudito sem a arte culinária da cozinheira analfabeta? Tua riqueza e teu poder residem em tua moral e dignidade, que não têm preço e te trazem apreço. Porém, arma-te de indignação e esperança.
Luta para que todos os caminhos sejam aplainados, até que a espécie humana se descubra como uma só família, na qual todos, malgrado as diferenças, tenham iguais direitos e oportunidades. E estejas convicto de que convergimos todos para Aquele que, supremo Atrator, impregnou-nos dessa energia que nos permite conhecer a abissal distância que há entre a opressão e a libertação.
Faze de cada segundo de teu existir uma oração. E terás força para expulsar os vendilhões do templo, operar milagres e disseminar a ternura como plenitude de todos os direitos humanos. Ainda que estejas cercado de adversidades, se preservares a tua ecobiologia interior serás feliz, porque trarás em teu coração tesouros indevassáveis

A má vontade com o presidente

Não raras vezes sou instado a responder a esta questão: "Por que nossa grande mídia tem tanta má vontade com o presidente Lula?" É tema recorrente nas mensagens que recebo, nas perguntas de estudantes de faculdades de Jornalismo e em almoço com colegas de profissão. Sou levado a crer que a questão martela a têmpora de nove em cada grupo de 10 pessoas dedicadas a estudar o "fazer jornalístico" no Brasil.

Por Washington Araújo, no Observatório da Imprensa

Mas até a pergunta comporta diversas variações de intensidade e inflexão. Algumas destas: "Por que a grande imprensa está sempre contra Lula?" E mais: "O que Lula fez para que nossa principal emissora de TV aberta, nossos principais jornais e nossas revistas semanais de maior tiragem lhe fizessem marcação cerrada, expressassem tamanha oposição ao seu governo?" E chega a ser risível esta outra formulação: "Por que será mais fácil nevar em Teresina que a grande mídia mostrar alguma consideração para com Lula?"

Reforçar o preconceito

O certo é que a questão é uma só e desperta a paixão de quem se habilita a respondê-la. A resposta não comporta muro nem esperança de que o muro se mova. Temos aqueles que são rápidos no gatilho verbal e resumem tudo a mero preconceito de classe, preconceito cultural, preconceito social, preconceito lingüístico, preconceito – enfim. Os que concordam com esta tese entendem que não há outra justificativa razoável. Acreditam que os barões da grande imprensa prezam seus ritos, tanto os escritos quanto os verbais; ritos que lhes asseguram ser sua atividade profissional o próprio Quarto Poder e se vêm com poder de influenciar para o bem ou para o mal as políticas de governo. Proclamam seu poder em conquistar corações e mentes tanto para beatificar quanto demonizar autoridades do primeiro escalão. Entendem que faz parte da esfera pública em que atuam a decisão para tratar a cobertura do governo em três modos: "banho maria", fogo brando ou crestado em altas labaredas. E, por fim, são useiros e vezeiros na arte de criar dificuldades imediatas para vender facilidades midiáticas. Há ainda aqueles que respondem à pergunta sobre a má vontade da grande imprensa para com o presidente com outra pergunta: "Não foi este governo que diminuiu o protagonismo da grande mídia?"

Destacam, então, que não faz muito tempo, coisa de menos de um decênio, era comum no Brasil que o presidente da República, em pessoa, levasse aos barões da mídia suas idéias e até mesmo detalhes do planejamento de políticas públicas de vulto que pretendia levar à realidade. Tudo feito com anterioridade regulamentar, antes de ser do conhecimento de seu primeiro escalão e muito antes de o assunto ser objeto de debate no Congresso Nacional. Mas, como manter as tradições, os ritos e o arraigado teor simbólico das relações mídia-governo se o governo passou a ser visto pelos tradicionais interlocutores midiáticos como não se estando à altura dos desafios postos à sua frente?

Aqueles que nutrem este tipo de preconceito em relação ao presidente desconhecem ou não concordam com a percepção que a experiência substitui o diploma formal. São pessoas que chegam mesmo a expressar concordância e respeito para com o conhecimento dos povos originários do Brasil. Um xamã, uma rezadeira, um manipulador de ervas medicinais pode ter um conhecimento mágico que transcende as leis da medicina. Infelizmente, o presidente da República não pode se beneficiar destas clareiras do pensamento. E não importa se é líder nato, carismático, se destrincha o código de comunicação com as raízes do Brasil. Nada disso importa já que não reforça o preconceito. Simples assim.

O sorriso da aquiescência

Temos também aqueles que justificam essa má vontade do baronato devido às ações do governo para diluir a força da meia dúzia de atores políticos – os que se entendem porta-vozes da "grande imprensa" – e criar espaço para nova gama de atores, os "grandes" das mídias regionais e locais. Aqui, é indispensável citar dados da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom): em 2003, o governo Lula publicou anúncios em 182 municípios, atingindo 499 veículos (incluindo rádio, jornal e TV). Em 2004, esse número subiu para 757 municípios e 2.165 veículos. Em 2006, com 1.358 municípios e 4.451 veículos. Devido a um orçamento menor em 2007, os anúncios veiculados pela Secom caíram para 913 municípios em 3.434 veículos. Em 2008, o governo divulgou peças publicitárias em 5.297 veículos, sendo 2.597 rádios e 297 TVs, número muito superior aos 499 meios de comunicação que recebiam recursos para fins de promoção em 2003. Nesse período, o número de municípios atingidos pelos anúncios do Executivo federal cresceu de 182 para 1.149.

São números estarrecedores para uns poucos e esclarecedores para a vasta maioria da população. Em qualquer atividade empresarial, o bem maior a ser protegido não fica no lado esquerdo do peito, e sim, no bolso. Para se ter uma visão de grandeza dos valores envolvidos, tenhamos em mente que para promover a imagem e as ações do governo nos quatro primeiros meses de 2010, já foram desembolsados R$ 240,7 milhões – 63% a mais do que no mesmo período de 2009. E mais: o orçamento total para a propaganda chega a R$ 700,4 milhões, 29,2% a mais do que no ano passado. Estão de fora dessa conta os valores gastos pelas estatais. Números que falam por si, dando conta que o bolo (da publicidade oficial) começou, de fato, a ser fatiado de forma menos concentradora e mais transparente e os comensais, que em 2003 eram contados a poucas centenas, hoje já chegam aos milhares.

A gritaria é grande, a cara feia, amuada, toma lugar no rosto que antes mantinha monolítico sorriso de aquiescente aprovação e então novas bandeiras passam a ser agitadas aos ventos (e eventos) da ocasião. Porque uma coisa é democratizar o acesso aos veículos de comunicação e outra coisa é convidar mais gente para pegar sua fatia do bolo. Ainda assim, há que se franzir o cenho e partir para cima, não obstante os melhores pedaços do bolo se destinarem às mesmas bocas.

O que a mídia não viu

Explico. Em 2009, a quase totalidade dos milhões de reais investidos em publicidade pelo governo "autoritário e estatizante" de Lula foi destinada aos que integram o consórcio "grande imprensa": 62% das verbas publicitárias do governo e das estatais foram para as emissoras de televisão, 12% para as rádios, 9% para os jornais, 8% para as revistas, 1,5% para a internet, 1,5% para outdoors e 6% para as outras mídias. Só a TV Globo ficou com quase 60% dos recursos da televisão. Os três principais jornais do país (Folha de S.Paulo, Estado de S. Paulo e O Globo) abocanharam o grosso dos recursos do setor.

Sempre existiu no Brasil uma mídia coberta com a capa da invisibilidade e outra mídia, conhecida como grande mídia, atenta representante das grandes redes de rádio e televisão, das maiores empresas publicadoras de jornais e revistas e dos grandes portais na internet. Esta mídia historicamente detinha 100% da interlocução com o governo. Mudou a forma como o mundo vê o Brasil. E mudou a forma como o Brasil se deixa ver pelo mundo. E foi para melhor. Hoje somos mais bem explicados pela imprensa internacional que pela nacional. E não é só o Brasil que parece ter mudado de eixo. Time, Le Monde, El País, New York Times, Newsweek, Financial Times, Der Spiegel não passam 30 dias sem publicar extensa matéria laudatória (1) ao Brasil como potência do presente e do futuro imediato, (2) a Lula como maior líder político da atualidade ou dos últimos dez anos, (3) explicando a conjunção de fatores que faz o Brasil ser alvo da opinião pública mundial. E não precisa ser muito iluminado para entender que Le Monde, El País e Financial Times são alguns dos jornais deste mundo cujas opiniões contam. Goste-se ou não.

É irônico que o que não se faz em casa se faz fora de casa. Aqui, o governo Lula passaria em brancas nuvens ante o olhar embaçado de nossos grandes jornais e revistas e ante as lentes turvas de nosso telejornal de maior audiência, o Jornal Nacional. Historiadores no futuro terão trabalho para escrever o papel da grande imprensa brasileira no período 2003-2010. Pesquisar nos arquivos será frustrante porque o Brasil impresso mostrará ser visceralmente contraditado pelo Brasil real. Se uma vista d´olhos tiver como escopo a coleção de manchetes diárias dos grandes jornais e as capas das principais revistas semanais de informação, o pesquisador irá detectar que nunca existiu tão grande descompasso entre o que a mídia não viu (e noticiou) e o que a população viu (e vivenciou).

Uma história de vida

Se antes, nos anos 1990, a praxe era repercutir semanas a fio qualquer reverência prestada ao Brasil – e ao seu presidente – partindo de autoridade estrangeira – ou também por ser o Brasil tema de reportagem com viés positivo por seus congêneres midiáticos estrangeiros, hoje se tornou lugar comum deixar passar batido, fazer de conta que os aplausos são para o presidente de Trinidad e Tobago e a aprovação internacional ter como alvo a região onde antes ficava o Congo Belga e, sendo assim, nada mais previsível que passar ao largo, repercutir de forma melancólica e burocrática, em matérias claramente forçadas (o contrário de entusiasmadas). Repercussão feita apenas para cumprir tabela e tentar diminuir a distância abissal a separar nossa opinião pública (da população) da opinião publicada (dos donos dos grandes veículos de comunicação).

E a verdade começa a incomodar: desde 1889, ano em que foi a proclamada a República, até os dias que correm, nunca tivemos um presidente da República tão premiado, festejado, elogiado em fóruns internacionais como o atual presidente. Prêmios de organismos internacionais – como os do sistema Nações Unidas – parecem chegar em penca. O mesmo ocorre com aqueles que lhe são conferidos por entidades como o Fórum Econômico Mundial de Davos, o do governo espanhol, do Centro Woodrow Wilson etc. Mas, nada disso parece demover a grande imprensa de sua posição preconcebida, de fazer vista grossa para o fato que o presidente para chegar ao ponto em que se encontra – desfrutando de aprovação popular interna na oscilando entre 76% e 83% e contando amplo respaldo internacional, e não obstante colocar em jogo essa reputação em bolas divididas com o Irã – tem uma história de vida que, como bem assinalou recentemente editorial da revista americana Newsweek. Publicou a revista que "Lula percorreu um longo caminho do faminto Nordeste do Brasil para a sala da Assembleia-Geral das Nações Unidas, mas o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, conhece cada passo desse caminho".

Esforços pela paz mundial

Embora soe irônico quando colocado sob perspectiva histórica, não faz muitos anos que a imprensa entrava em êxtase ao noticiar que um presidente brasileiro seria agraciado com o título de doutor honoris causa concedido pela na Universidade de Coimbra. As fotos da solenidade acadêmica preencheriam páginas centrais, as manchetes trariam a marca do deliberado ufanismo como se estivessem noticiando ser um brasileiro o primeiro humano a pisar a superfície de Marte. O contraste é brutal e não dissimulado.

Quando o preconceito embota o juízo humano, a verdade se dilui com a celeridade do orvalho ante os primeiros raios do sol. É fato que nossa grande imprensa prefere se mirar mais no espelho da Universidade portuguesa que no espelho do mundo simbolizado por tão ilustres organismos multilaterais entesourados no sistema Nações Unidas, como a Unesco, o Unicef, a FAO, a ActionAid. A grande imprensa prefere investigar razões ocultas, e não lídimas, para a concessão dos prêmios. Trata-se de performance patética e atrapalhada pelos que detêm o poder real nos meios de comunicação. Porque, já nos ensinava Albert Einstein em meados dos anos 1940, é bem mais fácil rachar um átomo que quebrar um preconceito.

E, no entanto, é a mesma grande imprensa que faz força para entortar o que é direito. E há deliberado esforço nisso. A política externa de Lula é vista com olhos tomados por clara alucinação preconceituosa. Quando não, motivada por absoluta má-fé. Retiram-lhe os créditos por vocalizar os anseios dos países africanos e por ousar criar embaixadas em países em que o PIB é menor que o do estado do Piauí. A ação do Itamaraty só é legítima perante nossa grande imprensa se for destinada a manter o status quo: continuar sua função de habitual anonimato entre os países afluentes que integram o circuito Elizabeth Arden. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil se torna acéfalo, inoperante e fracassado se passa a flertar com o chamado circuito Madre Teresa de Calcutá, convenhamos, circuito infinitamente menos sedutor. Mas por onde trafega 2/3 da humanidade. Cassam os créditos do Itamaraty por haver conseguido protagonismo único no G-20. É quando a grande imprensa forma fileiras (de primeira a quinta colunas) com potências ocidentais, sempre desejosas por novas guerras – forma perversa e rápida de reequilibrar suas finanças, já que armas precisam tanto de guerras quanto guerras precisam de armas. E em seu desejo de empanar o brilho de nossas conquistas no contencioso nuclear envolvendo o Irã e o Ocidente vigora o vale-tudo: opta-se por menosprezar as ações do Brasil conseguindo, em menos de 19 meses, gerar ambiente propício à diplomacia no terreno minado entre o Irã e o Ocidente, terreno que começou a ficar minado ainda naquele período glacial que remonta a 1979, Chama atenção que o Brasil – que tanto se orgulha de sua história de pacifismo –, tantas vezes mencionado em curso de formação para a carreira de diplomata do sisudo Instituto Rio Branco, apareça aos olhos de sua grande mídia como disposto a refugar tão bem sucedidos esforços pela paz mundial.

O passado não se pode mudar

Chega a ser impensável para nossa grande imprensa que o retirante nordestino, praticante contumaz de crimes gramaticais, vítima de adjuntos adnominais e refém de uma cultura cínica e centrada na posse do canudo universitário, possa ser acumular êxitos em tantas frentes: aplicar políticas públicas bem sucedidas a ponto de levar 23 milhões de brasileiros da classe pobre para a classe média em menos de meia década; anunciar (por golpe de sorte, penso) a descoberta de imensos campos petrolíferos na camada do pré-sal; fazer eco ao legado de Getúlio Vargas trazendo à existência legal nada menos que uma CLS, ou seja, uma Consolidação das Leis Sociais; liquidar a histórica dívida do Brasil com o Fundo Monetário Internacional, passando o país de devedor a credor; chamar de marola (e depois provar que tinha razão) a crise de 2008, considerada a pior crise econômica internacional depois da Grande Depressão de 1929, mostrando ao mundo um país com fundamentos econômicos sólidos e com suas contas inteiramente sob controle e, mais que isto, administráveis.

Se no primeiro mandato constava da publicidade governamental blasonar "o orgulho de ser brasileiro", no segundo já estávamos em outra fase, o de sentir este orgulho. É quando o Brasil é escolhido pela Fifa para sediar a Copa do Mundo de Futebol de 2014, e o Rio de Janeiro, desbancando Chicago, Madri, Tóquio e conquistando o direito de sediar os Jogos Olímpicos de 2016. Fica evidente que se o Brasil tivesse que ser escolhido para ser anfitrião dos dois mais importantes eventos esportivos do planeta contando unicamente com o apoio de sua grande imprensa, com certeza a Copa de 2014 aconteceria nos Estados Unidos e as Olimpíadas de 2016 seriam ou na Espanha ou no Japão. E quem duvidar dessa singela afirmação basta gastar um par de horas pesquisando nos arquivos virtuais das revistas Veja e Época e dos jornais O Globo, Folha de S.Paulo e Estado de S. Paulo. Pesquisar arquivos de nossas TVs de canal aberto exigirá mais tempo, mas o resultado será o mesmo: ainda bem que quem representa a chamada grande mídia brasileira - aquela que se reúne no Instituto Millenium - não é quem representa o Brasil em fóruns internacionais. Uma coisa que não se pode mudar é o passado. E precisamos entender que a história do presente, antes de ser objeto de historiadores, é registrada nas redações de nossos principais veículos de comunicação.

Guardiões do culto acadêmico

A situação chega a ser tão absurda e tão "comprovada" a tal má vontade de nossa grande imprensa para com o governo Lula que a edição do carioca O Globo de 18/3/2010 chegou a publicar a seguinte declaração de Maria Judith Brito, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e executiva do grupo Folha de S.Paulo: "A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A esse direito geral, o contraponto é sempre a questão da responsabilidade dos meios de comunicação e, obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo."

Cabe ao leitor atento, ao internauta antenado e ao telespectador perspicaz perceber que muitas redações parecem trabalhar com as seguintes diretrizes: tratar de confiscar do presidente Lula todas as conquistas de seu governo; procurar dono para essas conquistas; ridicularizar seu discurso de apelo e compreensão fáceis; minimizar suas políticas públicas e, de quebra, enxovalhar sua política externa. Qualquer êxito que lhe seja imputado, antes de sua necessária divulgação, deve passar por rigoroso esquadrinhamento, cerrada investigação e busca incessante por motivações ocultas. A marca da maldade existe – precisa apenas ser encontrada. É nesse contexto que assume novo significado a famosa frase presidencial (revista piauí nº 28, janeiro/2009) dizendo que "o presidente Lula não lê jornal porque lhe dá azia". E, considerando que o dono da anunciada azia continua bafejado com índice recorde de aprovação popular... não seria razoável imaginar que seria apenas ele, o presidente, a sentir os efeitos indigestos da leitura dos jornais?

No momento em que todos – à exceção da grande mídia – demonstram incondicional aprovação ao governo Lula, é bom que os diversos atores venham à boca do palco despejar toda a verdade. Ao menos de vez em quando, dizer a verdade faz bem à mente e ao espírito. Ao dizer que ler jornais lhe causava azia, será que não estava por trás a mensagem de que ele preferia não se pautar pela agenda da grande mídia?

Não seria esta sua resposta simples, direta, fazendo o trajeto do coração ao fígado derivada dos muitos anos em que foi impiedosamente atacado, ridicularizado, menosprezado pelos guardiões do culto acadêmico?

Seres débeis e mesquinhos

Avancemos mais que pensar não enlouquece ninguém, isso já se comprovou. Os milhões de brasileiros que votaram nele em cinco eleições presidenciais (1989, 1994, 1998, 2002 e 2006) teriam assim procedido graças à sua trajetória intelectual? Ou, então, será que esses milhões que o acompanharam nas vezes em que não subiu a rampa do Planalto e nas duas em que adentraram com ele o Palácio não nutriam admiração por ser ele um operário que abraçou a vida política e a passou a viver para a política?

Teria o seu governo investido menos em educação superior do que qualquer outro governo republicano? E dentre seus antecessores na suprema magistratura (é assim que também se designa o presidente do Brasil), aqueles que possuíam vistosos títulos acadêmicos, reconhecimento intelectual conferido pela Sorbonne IV (Paris), carinho e franco apreço midiátivo, por acaso, fizeram governo melhor, saíram do governo para entrar (em vida) na História?

Como deve ser mensurado o mérito de um líder político? Por que critérios este deve ser avaliado: nos seus deslizes verbais ou nos seus resultados? Na sua atestada autosuficiência intelectual ou por sua prática política fundada no diálogo e na lídima negociação na esfera pública?

E, no vácuo criado pela interdição voluntária dos êxitos do governo, o que deve fazer a grande imprensa? Simples: embaralhar, criar confusão e impedir todo e qualquer debate sobre controle social da informação. Para tanto, nada mais previsível que se apresentem como defensores legítimos da liberdade de expressão, deixando ao governo a ação caluniosa de propor a volta da censura sempre que este se atreva a acenar com a regulamentação dos artigos 221 a 223, da Constituição Brasileira de 1988. Uma coisa é certa: não foram frutos de displicência nem distração dos representantes eleitos pelo povo brasileiro para participar Assembléia Nacional Constituinte. E do que tratam estes dispositivos constitucionais? Tratam das restrições da liberdade de comunicar; da propriedade das empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora e televisiva; da concessão e permissão para tais serviços; e, ainda mais, tem o já demonizado artigo 224 da Carta Magna. Este prevê a instituição do Conselho de Comunicação Social. Portanto, agir conforme reza a Constituição, passa a ser encarado crime de lesa-pátria.

Atento leitor: chegará o momento em que não será mais necessário clamar por um jornalismo plural, responsável, sério, veraz, equânime, vacinado contra os males do preconceito e da hipocrisia moral que ganha terreno em nossas relações sociais. E não haverá de se dispensar mais esforço para derrubá-lo porque este tipo de jornalismo está com dias contados e sua queda, de tão podre, mostrará ser inevitável.

O leitor pode bem se comprazer na deleitosa tarefa de entender o jornalismo como espelho-mundo, dotado de visão e fala. Ao crítico da mídia compete um encargo mais melancólico. Cumpre-lhe descobrir a inevitável mistura de erro e corrupção por ele contraído numa longa associação com os poderosos da terra, em meio a uma raça de seres débeis e mesquinhos.

Fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br

domingo, 13 de junho de 2010

NA PISTA DO FACTOIDE.

Eu tinha uma avaliação que não deveria voltar a tocar no assunto de dossiês. Este assunto já estava caduco, pensei. Eu me engaganei. A história dos dossiês continuava na pauta de revista criteriosas como Carta Capital. E assim estava por um motivo fundamental: o conteúdo do livro, que deu origem a toda esta história, e que envolvia os bastidores do processo de privatização durante os governos de Fernando Henrique Cardoso, deverá voltar a ser notícia depois da Copa do Mundo, provavelmente no fim de julho. Isto sim, tem tirado o sono dos demotucanos. Em nome do bom jornalismo vou manter o assunto em pauta, até que seu conteúdo seja esgotado. Se isto for possível, claro.


Texto de autoria de Leandro Fortes, para Carta Capital.

De um segundo encontro em uma confeitaria de Brasília ao roubo de arquivos,novos detalhes da mal-ajambrada trama do dossiê anti-Serra que ninguém viu Nas últimas semanas, os eleitores brasileiros acompanharam o desenrolar de uma série de informações desconexas sobre um escândalo inexistente baseado em um dossiê fantasma a ser montado por uma equipe de arapongas jamais formada. Ainda assim, a história está longe de acabar. O tal dossiê, na verdade um livro sobre os bastidores do processo de privatização durante os governos de Fernando Henrique Cardoso, voltará a ser notícia depois da Copa do Mundo, provavelmente no fim de julho. É o período mais provável para o autor do texto, o repórter Amaury Ribeiro Júnior, com passagens por alguns dos principais veículos de comunicação do País e colecionador de prêmios jornalísticos, entregar ao Ministério Público Federal as informações e documentos coletados por ele ao longo de dois anos de investigação. Em seguida, vai publicar a obra, 14 capítulos que o autor acredita serem capazes de abalar os alicerces do PSDB às vésperas das eleições de outubro. Antes, porém, é preciso esclarecer as circunstâncias que, em 5 de abril, levaram a uma mesa do restaurante Fritz, na Asa Sul de Brasília, os cinco personagens de uma trama rocambolesca, cujo início ainda tem pontos obscuros.
A partir desse encontro, CartaCapital buscou reconstituir os bastidores dos acontecimentos que resultaram na crise inaugurada a partir de uma reportagem publicada pela revista Veja em 29 de maio, mas costurada antes no submundo político brasiliense, graças, em parte, ao grau de amadorismo dos envolvidos na confusão e em grande medida à guerra eleitoral que se aproxima. Na batalha de versões estabelecidas entre as partes envolvidas no escândalo do dossiê que ninguém viu, o primeiro a falar foi, justamente, o primeiro a cair, o empresário Luiz Lanzetta, dono da agência Lanza, responsável na campanha da pré-candidata Dilma Rousseff pela contratação de profissionais da área de comunicação, 14 ao todo. No fim de março, Lanzetta diz ter percebido a existência de vazamentos de informações de dentro do comitê do PT, instalado em uma casa no Lago Sul de Brasília. Nessa altura, havia se instalado uma clara divisão na área de comunicação. De um lado, Lanzetta, levado à campanha pelo ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, amigo de Dilma Rousseff. De outro, o grupo do paulista Rui Falcão, igualmente próximo à ex-ministra. Atribui-se o vazamento a essa luta interna pelo controle da área de comunicação na campanha. Tanto Pimentel quanto Falcão se dizem amigos fraternais e negam qualquer divergência ou briga por mais espaço e poder. Preocupado com os vazamentos, Lanzetta procurou apoio de um velho conhecido de fora da campanha, Ribeiro Jr.. A ideia era contratá-lo para a equipe de Dilma Rousseff de forma a conseguir também, a partir do perfil profissional do repórter, informações sobre os movimentos do adversário. Até aí, nada de novo no front eleitoral brasileiro, onde investigações mútuas entre candidatos são tão comuns quanto a impressão de “santinhos” de campanha. Ao saber das preocupações de Lanzetta, Ribeiro Jr. decidiu convocar uma fonte antiga, o sargento Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, ex-agente da Secretaria de Inteligência da Aeronáutica (Secint). O araponga disse ao jornalista conhecer o nome certo para o serviço na casa do Lago Sul, Onézimo Sousa, ex-delegado da Polícia Federal e investigador com 30 anos de experiência. Decidiu-se marcar o citado almoço no restaurante Fritz. O quinto participante do encontro seria Benedito Oliveira Neto, empresário do setor gráfico e de eventos de Brasília, possuidor de contratos com o governo federal. Oliveira Neto teria sido convidado à reunião por Lanzetta para atuar como “testemunha”. Os dois também se conhecem de longa data. Na versão de Lanzetta, sustentada por Oliveira Neto e Ribeiro Jr., Onézimo Sousa foi consultado somente sobre a montagem de um esquema de segurança interna do comitê da campanha petista para detectar de onde saíam os vazamentos e arranjar um jeito de evitá-los. Suspeitava-se, ainda, da existência de escutas telefônica e ambientais na casa. Segundo Lanzetta, Sousa os alertou de que era “antipetista”, mas engatou uma conversa sobre uma centena de dossiês que, segundo ele, estariam sendo produzidos por uma equipe encabeçada pelo deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) contra aliados da base do presidente Lula, principalmente do PT e do PMDB. “Ele disse que tinha sido do lado de lá, que conhecia esses caras todos”, afirma Lanzetta. O “antídoto” para os vazamentos apontados por Sousa, segundo o empresário de comunicação, seria um sistema de contraespionagem ao custo de 180 mil reais por mês. “Aí eu encerrei o assunto, me levantei e fui embora.” A CartaCapital Sousa afirmou nunca ter oferecido serviço algum a Lanzetta ou a ninguém do PT. “Da minha parte, tenho como provar tudo que eu disse. Nunca citei o Itagiba. Fui ao restaurante, ouvi uma proposta indecente e saí”, contou o ex-delegado, em entrevista por telefone, na terça-feira 8, de um quarto de hotel localizado fora de Brasília, em local não revelado por ele. A proposta indecente seria a de investigar o candidato José Serra, interpretada por ele como ordem implícita de fazer grampos telefônicos nas linhas do tucano e de seus aliados políticos. Antes de sair do restaurante, o araponga deixou com Lanzetta um cartão de apresentação em que se lia apenas “Onézimo Sousa – Advogado – OAB-DF 13600”, seguido do endereço do escritório e dos telefones de contato. “Estou com a consciência tranquila, porque foram eles que me chamaram. Até estranhei, porque não sou petista”, diz Sousa. Uma semana depois, o ex-delegado iria encontrar o mesmo cartão nas mãos do jornalista Policarpo Júnior, chefe da sucursal da Veja em Brasília. Como ele pode garantir ser o mesmo cartão? “Fiz uma marca de identificação nele.” Passados alguns dias da reunião no Fritz, uma equipe de repórteres da Editora Abril já estava no encalço dos participantes do almoço. Ou seja, de algu-ma forma, e com bastante rapidez, a informação havia sido vazada para a imprensa. O delegado passou a achar que o vazamento partira de alguém que esteve no encontro no restaurante. Sousa, a quem Policarpo Jr. conhece há quase duas décadas, foi um dos primeiros a ser contatados. Quando viu o cartão de visita nas mãos do repórter, perguntou como ele havia conseguido o papel. “Ele me disse que tinha vindo da casa”, conta o ex-delegado. “Eu entendi que a Veja tem alguém lá dentro”, afirma. Por isso mesmo, concluiu que havia caído em uma armadilha, principalmente quando soube, logo depois, que também Ribeiro Jr. tinha sido entrevistado. Por sete semanas, o staff da campanha petista ficou na expectativa sobre o que poderia ser publicado sobre o almoço do restaurante Fritz. Portanto, ao menos os mais bem informados integrantes do comitê sabiam da preparação da reportagem. Nesse intervalo, além de Sousa e Ribeiro Jr., o deputado Rui Falcão foi procurado pela revista. “Eu sabia que o assunto estava no ar. Mas eles não registraram nenhuma declaração minha”, diz Falcão. Em 29 de maio, uma matéria truncada foi publicada em Veja com foto e declaração do ex-delegado Sousa, mas sem nenhuma linha sobre o livro de Ribeiro Jr., o que, obviamente desmontaria a tese do dossiê tão alegremente sustentada pela mídia nos últimos dias, ainda que, a exemplo do suposto grampo contra o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes (outra contribuição da revista da Editora Abril ao jornalismo “investigativo” à brasileira), faltem alicerces para manter a versão de pé. Na iminência da publicação, Sousa decidiu enviar uma carta à revista, reproduzida na internet, onde se dizia “obrigado a manter o devido sigilo” sobre conversas com clientes e informou ter sido apenas sondado pelos petistas, apesar de não ter aceitado o serviço por “divergir cabalmente quanto à metodologia e ao direcionamento dos trabalhos a serem ali executados”. Na mesma semana, ele voltaria a falar com Policarpo Júnior, mas desta vez para fazer estardalhaço. Em 5 de junho, Veja publicou uma entrevista com o ex-delegado, na qual ele soltou o verbo contra Lanzetta e Ribeiro Jr. Acusou o grupo petista de querer grampear Serra e lançou-se numa estratégia de virtual suicídio profissional, ao abrir as intenções de um cliente, mesmo não contratado. No mesmo dia, Lanzetta foi obrigado a se demitir da campanha de Dilma Rousseff. O ex-delegado agiu com o fígado, sobretudo, porque passou a ser acusado de ter sido cooptado pelos tucanos e, no passado, ter participado do núcleo de inteligência de Serra no Ministério da Saúde. Não é verdade. Sousa jamais trabalhou com o deputado Itagiba ou no Ministério da Saúde, ou mesmo em ambientes comuns na Polícia Federal, onde ambos foram delegados. Quando na PF, Sousa fez fama como investigador profissional e corajoso, sobretudo no combate a traficantes de drogas e de armas no Rio de Janeiro, numa época em que coleta de provas e infiltração entre bandidos valiam mais que escutas telefônicas. Aposentado em 1995, fez carreira de investigador particular na Control Risks, uma renomada agência de investigação inglesa, com filial em São Paulo. De volta a Brasília, montou um escritório de advocacia no Setor Comercial Sul, embora ainda continuasse, eventualmente, a fazer serviços de investigação para uns poucos clientes. O que o levou a corroborar a tal história de arapongagem é uma pergunta que, talvez, só o tempo seja capaz de esclarecer. Ribeiro Jr. também diz ter como provar “diálogo por diálogo” da conversa ocorrida no restaurante Fritz. Supõe-se, portanto, que tanto ele como Sousa tenham gravado tudo sem que um notasse o que o outro fazia. É certo que um dos dois está blefando, mas Ribeiro Jr. tem a seu favor o depoimento dos outros presentes à mesa, inclusive o sargento Idalberto, embora este não esteja nem um pouco disposto a aparecer em público. Em 2008, Dadá foi acusado de participar ilegalmente da Operação Satiagraha, ao lado do delegado Protógenes Queiroz, mas negou ter feito parte da ação. Ribeiro Jr. alega ainda ter tido outro encontro com Sousa, 15 dias depois do almoço no Fritz, em uma confeitaria de Brasília, na presença do sargento Dadá. Na ocasião, conta o jornalista, o ex-delegado estava furioso por causa do vazamento da conversa com Lanzetta e o acusou de ter levado o assunto para a imprensa. “Ele achou que nós havíamos passado o cartão dele para a Veja”, explica Ribeiro Jr. “Mas é certo que o cartão dele foi roubado dentro da campanha. Também roubaram um arquivo do meu livro, colocado num computador da casa, daí o pânico (dos tucanos) em relação ao ‘dossiê’.” Sousa nega ter participado desse segundo encontro. Além disso, Ribeiro Jr. acredita que algum hacker conseguiu entrar em seu notebook enquanto ele esteve hospedado em um hotel de Brasília e retirado um arquivo que só ele tinha: uma reportagem encomendada pelo jornal O Estado de Minas, mas jamais publicada, sobre as investigações que resultariam no livro intitulado Os Porões da Privataria e que conta com alguns trechos publicados na internet. A reportagem não publicada seria o tal “dossiê”. Diz o repórter: “Também roubaram relatórios dos custos- da casa onde fica o comitê de campanha de Dilma. Quando Veja ligou para o Lanzetta, já tinha tudo na mão”. Enquanto o staff de Serra aproveitou o episódio para tentar consubstanciar uma aura de vítima ao redor do candidato tucano, a história provocou algumas mudanças no comitê petista. Aparentemente, o ex-ministro Antonio Palocci e o grupo paulista reforçaram sua posição na estrutura. Já Pimentel, obrigado a ceder a vaga de candidato ao governo de Minas Gerais ao peemedebista Hélio Costa, tende a se afastar um pouco de Brasília, até para cuidar de sua candidatura ao Senado. A oposição está disposta a manter o tema aceso no noticiário, embora até o momento os resultados práticos da cruzada sejam quase nulos. Uma comissão mista no Congresso aprovou na quarta-feira 9 o convite a Sousa e a Dadá para deporem. No dia anterior, em viagem a São José dos Campos (SP), Dilma Rousseff negou que Pimentel tenha perdido espaço na campanha e voltou a chamar de “leviandade” a acusação de que alguém de sua equipe de campanha tenha preparado um dossiê anti-Serra. A candidata estava acompanhada de Palocci.

sábado, 12 de junho de 2010

Esta não é uma luta apenas do PT. É uma luta em defesa da democracia.

O mundo inteiro acompanhou, nas últimas 48 horas, dois grandes atos políticos de sentido diametralmente oposto.

Por um lado, a inauguração da Copa do Mundo na África do Sul, durante a qual o Bispo Desmond Tutu, prêmio nobel da Paz, conclamou todos os presentes a homenagear Nelson Mandela, símbolo internacional de luta, perseverança e tolerância.

Por outro lado, a decisão do Conselho de Segurança da ONU, aprovando uma nova rodada de sanções contra o Irã, desperdiçando a grande negociação em prol da paz, que fora construída pelos governos da Turquia e do Brasil.

O governo brasileiro, neste episódio como em tantos outros, agiu de maneira coerente: o mundo precisa de desenvolvimento, justiça, democracia e paz. E o caminho para atingir estes objetivos é o do diálogo, da tolerância, do acordo que respeite a soberania e os direitos de todos os países, não apenas das potências que foram vitoriosas numa guerra que se encerrou há 60 anos.

Nunca é demais lembrar as palavras de Lula para Bush, quando o então presidente dos Estados Unidos convidou o Brasil a participar da guerra contra o Iraque: minha guerra é contra a fome, disse o presidente brasileiro.

Oito anos depois, a guerra no Iraque destruiu um país, matou centenas de milhares de pessoas e não tem desfecho à vista, sem que nunca tenham sido encontradas as armas de destruição em massa que foram o pretexto para a invasão comandada pelos EUA.

Oito anos depois, as políticas adotadas pelo governo Lula melhoraram a vida do povo brasileiro. Do início de 2003 até hoje, nosso PIB foi de 0,5 trilhão para 1,5 trilhão de dólares; as reservas internacionais do Brasil cresceram de US$ 35 bilhões para US$ 240 bilhões; o salário mínimo subiu de US$ 80 para US$ 280; 30 milhões de pessoas ascenderam socialmente; 10,6 milhões mudaram de favelas; o índice Gini caiu de 0,58 para 0,52.

Enquanto isso, os Estados Unidos e a União Européia estão envolvidas numa brutal crise econômica, cuja causa imediata é a loucura especulativa neoliberal, o endeusamento das forças de mercado, a desvalorização do Trabalho e dos controles públicos indispensáveis à uma vida civilizada. Crise que os conservadores hegemônicos nestes países querem enfrentar através de medidas recessivas, que só aprofundarão a crise e penalizarão os trabalhadores.

Apesar de desmoralizados pela vida, os neoliberais não perdem os vícios, nem a pose. No Brasil, por exemplo, o candidato da oposição ataca a política externa brasileira, deixando evidente que sua opção é pela submissão aos poderosos de ontem, sem perceber que o mundo está mudando e que nosso país já é um dos protagonistas de uma nova época que está nascendo.

O povo brasileiro não quer a volta do passado, do neoliberalismo, das privatizações, do desemprego. Isto fica claro a cada nova pesquisa de opinião, seja pelos índices de apoio ao governo Lula, seja pelo estancamento da candidatura da oposição de direita, seja pelo crescimento constante da opção de voto em Dilma Roussef.

Nossa dianteira nas pesquisas, entretanto, não pode nos levar a baixar a guarda, nem a achar que a eleição está ganha. A oposição e seus apoiadores nos meios de comunicação já demonstraram, por diversas vezes, estar dispostos a absolutamente tudo para tentar ganhar as eleições.

Num primeiro momento, tentaram ocultar sua postura de oposição ao nosso projeto, fugindo do debate programático, centrando fogo em nossa candidata e em nosso partido, fomentando intrigas e difundindo mentiras, buscando dividir a base de apoio do governo.

Não tiveram êxito. Agora, mesmo que alterem a tática, não mudarão os métodos. Farão de tudo para levar a eleição ao segundo turno, apoiando outras candidaturas presidenciais, estimulando a judicialização da política, usando os grandes meios de comunicação como boletins de campanha, atacando os direitos humanos, torcendo para que a nova etapa da crise internacional altere para pior as condições do Brasil, produzindo crise cambial, alta de juros e primarização de nossa pauta de exportações.

Devemos estar preparados para uma campanha de golpes baixos, que pode se estender até o final de outubro. E que sinaliza qual será o comportamento de uma parte da oposição, durante nosso futuro governo.

A partir de 13 de junho, a disputa eleitoral entra em uma nova etapa. Nela, como antes, o debate programático jogará papel fundamental. Ao PT interessa comparar o passado neoliberal, com o presente desenvolvimentista; interessa também debater o futuro, a nossa visão de mundo, o nosso projeto de integração continental, o nosso projeto nacional, nossa concepção de desenvolvimento com igualdade e democracia.

Papel destacado terá, neste sentido, a Comissão de Programa de Governo do PT, a quem caberá defender as diretrizes aprovadas no IV Congresso do Partido, formular o detalhamento setorial destas diretrizes e impulsionar, em comum acordo com todos os partidos da coligação, a elaboração do Programa de Governo Dilma 2011-2014.

Interessa, por exemplo, explicar as vantagens do modelo de partilha frente ao modelo de concessão; o papel decisivo que os bancos públicos jogaram, para evitar os efeitos mais perversos da crise internacional; o papel da elevação do salário mínimo e de programas de transferência de renda, para estimular um mercado interno que sustentou o crescimento do país. Interessa, igualmente, destacar a importância dos temas da democracia e da reforma política, direitos humanos e da comunicação, em nosso projeto de país.

Por tudo isto, é essencial que o conjunto do Partido dos Trabalhadores esteja envolvido e coordenando a campanha que nos levará à vitória em outubro de 2010. Inclusive porque não queremos apenas ganhar a eleição presidencial: queremos criar as condições para que o governo Dilma aprofunde as transformações que fizemos no Brasil. E isso supõe eleger mais governadores, senadores, deputados federais e estaduais comprometidos com nosso projeto. Supõe, precisamente, transformar a campanha eleitoral numa grande campanha político-cultura de massas por um Brasil cada vez mais democrático e popular, com reforma agrária, com democratização da comunicação social, com imposto sobre as grandes riquezas.

Alcançar estes objetivos dependerá do envolvimento dos partidos de esquerda, dos movimentos sociais, da intelectualidade progressista, de todos os brasileiros e brasileiras comprometidos com a soberania nacional, a democracia e a igualdade social.

Esta é a primeira e principal missão do PT, de cada petista, nos próximos meses: vencer as eleições, para continuar mudando o Brasil.


Brasília, 11 de junho de 2010

Diretorio Nacional do Partido dos Trabalhadores

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Os bons ventos da conjuntura nacional.

1 - A Importância da candidatura de Marina.
Do Estadão
Sem poupar elogios ao presidente Lula, a senadora Marina Silva (PV) deu a entender no primeiro discurso dela como candidata oficial do Partido Verde à presidência da República, que também pode representar a continuidade do governo Lula.
Ex-ministra do Meio Ambiente do governo do PT, Marina ressaltou que Lula ajudou a tirar 20 milhões de pessoas da linha da pobreza, e mostrou que não é preciso “fazer o bolo crescer para depois dividir”. “Ele mostrou que é distribuindo o bolo que a gente pode crescer”. Marina prometeu uma “terceira geração” dos programas sociais, que investissem também na inclusão produtiva dos cidadãos de baixa renda. Prometeu “sair do estado provedor para o estado mobilizador”.

2 - Vitória da democracia direta: Ficha Limpa já está valendo.
Da Agência Brasil
Entidades aplaudem decisão do TSE sobre Lei da Ficha Limpa
Perguntado sobre a divulgação de uma nova lista dos ficha suja em 2010, o presidente da AMB disse que o próprio TSE divulgará esse tipo de informações .

Débora Zampier
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O aval do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que a Lei da Ficha Limpa comece a valer nas eleições deste ano foi comemorado por várias instituições que apoiaram a causa desde o início do colhimento do 1,6 milhão de assinaturas, em abril de 2008. “A sociedade quer mais ética na política, e sai vitoriosa após a noite desta quinta-feira (10). Esse é um novo momento na política brasileira”, disse o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Porque os ambientalistas estão contra Novo Código Florestal. Confira.

Do Greenpeace*

Aldo Rebelo apresenta seu relatório de mudanças no Código Florestal. Seu texto anistia desmatadores, legitima a devastação e abre espaço para novos desmatamentos. Votação foi adiada para o próximo dia 15

O deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) finalmente apresentou seu relatório na Comissão Especial criada pela Câmara dos Deputados para consolidar as propostas de alteração do Código Florestal. A bancada da motosserra à qual Aldo se ligou umbilicalmente nos últimos meses, está, obviamente, exultante. O relator fez um serviço ainda melhor do que eles esperavam.

Na prática, o relatório de Aldo propõe reverter 76 anos de evolução de nossa legislação ambiental. É, portanto, um retrocesso. Legitima o corte indiscriminado do passado recente e abre brechas para novos desmatamentos. Sugere também que desenvolvimento só se faz com destruição da natureza e passa o custo integral da conservação para o contribuinte brasileiro. “O deputado está propondo a socialização dos custos da devastação e a privatização dos lucros imediatos que ela gera”, diz Paulo Adario, diretor da Campanha Amazônia do Greenpeace.

Aldo propõe o fim da função social da propriedade rural no Brasil. Seu texto revoga um artigo que estava na versão original do código, de 1934, e que foi mantido na revisão feita em 1965. Ele tratava as florestas como bens públicos. Pelo que Aldo escreveu, se o contribuinte não estiver disposto a pagar pela conservação ambiental, o fazendeiro pode fazer o que bem lhe der na telha nas terras que ocupa. Foi este tipo de mentalidade, por exemplo, que transformou uma das áreas mais férteis do país, o Vale do Paraíba, entre Rio e São Paulo, numa terra imprestável para a atividade agrícola.

O texto de Aldo também agracia com o benefício da anistia quem, pela legislação em vigor, cometeu crime ambiental. Qualquer desmatamento feito até 22 de julho de 2008 – não importando o tamanho da propriedade – estaria, pela proposta do ex-comunista que virou ruralista, automaticamente perdoado. A Reserva Legal, o pedaço de qualquer fazenda que precisa permanecer destinado à mata nativa, também foi trucidada pelo deputado.

Na Amazônia, ele sugere acabar com ela para propriedades com até 600 hectares. Isso já tinha sido previsto pela própria área ambiental do governo em negociações com representantes da agricultura familiar. Mas Aldo aproveitou a deixa e meteu o pé na porta. Nas outras regiões, fazendas com tamanho de até 4 módulos rurais também estão dispensadas de ter a Reserva Legal. Para as propriedades maiores, Aldo manteve a obrigação nos percentuais atuais – 80% para a Amazônia, 35% para o Cerrado e 20% nos demais biomas – mas deu aos estados e municípios a possibilidade de reduzirem esta demanda pela metade.

“Aldo no fundo abriu a brecha para se acabar com a Reserva Legal, porque qualquer fazendeiro com mais de 600 hectares de terra na Amazônia poderá fracionar sua propriedade para fugir da obrigação”, aponta Sergio Leitão, diretor de Campanhas do Greenpeace. Ele sugere também que, para fins de recuperação de uma reserva legal, o fazendeiro pode usar espécies exóticas. Isso, de certo modo, já é uma afronta ao conceito, criado justamente para proteger matas nativas.

Mas do jeito que está escrito, sem especificação de que as espécies usadas na recuperação precisam ser arbóreas, Aldo abre a possibilidade de que um fazendeiro utilize grama ou soja para recuperar sua reserva legal. No caso das áreas de preservação permanente (APP’s), Aldo, além de reduzir a necessidade de manutenção de matas ciliares em alguns rios para 15 metros, dá aos estados o poder de diminuí-las à metade do que exige a legislação federal. Isso inverte uma regra básica da legislação ambiental brasileira, que determina que o que vale é a maior área de proteção.

No artigo 12 de seu texto, Aldo ‘flexibiliza’ a derrubada em encostas entre 25 e 45 graus. Basta uma recomendação do órgão de agricultura estadual para que ela ocorra. E no capítulo X, que trata de incêndios em áreas florestais e rurais, Aldo propõe simplesmente o seu fim. Cuida, no entanto, de deixar uma porta escancarada para a continuidade das queimadas, dizendo que consideradas peculiaridades (não especifica quais) regionais, os estados podem autorizar a queima de campos e florestas.

Em resumo, usando Marx e Engels para defender práticas capitalistas retrógradas no campo, invocando a bíblia para dizer que a natureza deve se submeter à vontade dos homens e posando de nacionalista para assegurar os interesses do agronegócio exportador de commodities, Aldo Rebelo conseguiu o milagre de produzir uma proposta que põe o Brasil no rumo do atraso e da devastação. Na leitura de seu relatório, ele agradeceu aliás a três eméritos ruralistas no Congresso, Moacir Micheletto, Homero Pereira e Anselmo de Jesus.

Não há de quê, deputado. Quem agradece é a turma da motosserra. Ela não poderia ter sido melhor servida.

*Matéria originalmente publicada no Greenpeace

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Serra é interpelado na Justiça.

O Partido dos Trabalhadores protocolou nesta segunda-feira (7), no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo, interpelação judicial contra o tucano José Serra, para que ele explique acusações feitas à pré-candidata Dilma Roussseff e outros integrantes do PT.
Na semana passada, Serra disse que Dilma era a "responsável" pela suposta elaboração de um suposto dossiê contra ele, fazendo acusações e ilações ainda contra o senador Alizio Mercadante e o deputado federal Ricardo Berzoini.
O PT pede em juizo que José Serra responta às seguintes questões:

1) O Demandado confirma ser o autor da afirmação “o PT tem tradição na produção
de dossiês” mencionada nas matérias citadas?
2) O que o Demandado entende por “dossiê”?
3) O Demandado confirma ser o autor da afirmação: "A principal responsabilidade
desse dossiê é da candidata Dilma. Não tenho dúvidas, assim como o principal
responsável pelo dossiê dos aloprados foi o Aloizio Mercadante e como a principal
responsabilidade por dossiês em 2002 foi do Ricardo Berzoini" mencionada nas
matérias citadas?
4) A referência à “responsabilidade” dos filiados ao partido Demandante teve o
sentido de imputar a eles a efetiva autoria direta - material ou intelectual - de
supostos dossiês?
5) O Demandado confirma ter mencionado a repórteres que o partido
Demandante “teria formado um "bunker" com o objetivo de colher denúncias e informações contra os adversários” e que “O ex-presidente petista Ricardo Berzoini
faria parte desse grupo” como noticiado nos periódicos mencionados?
6) O que o Demandado entende por bunker?
7) Qual o objetivo do Demandado ao prestar as declarações citadas nos itens 1, 4 e 6?

Veja texto completo:
http://www.pt.org.br/portalpt/dados/bancoimg/100607133846acaoserra.pdf

Nos Porões dos dossiês! História escabrosa da espionagem tupiniquim.

A prática da espionagem é a herança escabrosa da anti-democracia. Volta e meia o saudosistas desta prática ganham espaço na mídia, pelo sucesso ou insucesso de alguma ação. O presidente Lula chamou de aloprados a um grupo ligado ao próprio PT, que meses antes de sua última eleição, tentava negociar informações "secretas" sobre o adversário político.
O assunto voltou ao noticiário. Denunciado por Serra virou um verdadeiro tiro no pé. A revista Veja noticiou como ação orquestrada dentro do PT. Um grupo de pessoas estaria se organizando para serviços de espionagem e contra-espionagem (vide detalhes, neste Blog, abaixo), com o objetivo, segundo o Serra, de chantageá-lo com informações verídicas ou não, durante o processo eleitoral. À medida que o assunto vem a tona mais detalhes e mais tiros no pé do próprio Serra. Vale lembrar: Serra também já teve seus momentos de fomentador de dossiês, segundo reclamou no passado, Roseane Sarney, no famoso caso Lumus. Agora outra novidade, conforme noticia Luis Nassif:

Da Folha
Jornalista envolvido com crise do dossiê diz que aceita acareação com ex-delegado
RUBENS VALENTE - DE BRASÍLIA

O jornalista Amaury Ribeiro Júnior disse que aceita ser acareado com o delegado aposentado da Polícia Federal Onézimo das Graças Sousa.

Em entrevista à revista "Veja", o delegado disse que recebeu pedido da campanha eleitoral de Dilma, durante uma reunião ocorrida em Brasília, em abril, para que investigasse "coisas pessoais" do pré-candidato tucano à Presidência, José Serra (PSDB). Amaury, que participou do encontro, negou que o pedido tenha ocorrido. Segundo o jornalista, na reunião o delegado relatou que pessoas ligadas ao deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) estão levantando dossiês contra pessoas do PMDB, que vai indicar o vice na chapa de Dilma. No sábado, o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) disse que pedirá uma investigação sobre a possível produção de dossiês pela campanha de Dilma Rousseff (PT).

A seguir, link para a entrevista:

http://www1.folha.uol.com.br/poder/746394-jornalista-envolvido-com-crise-do-dossie-diz-que-aceita-acareacao-com-ex-delegado.shtml

domingo, 6 de junho de 2010

O QUE VEJA NÃO VÊ - O dossiê do dossiê do dossiê...

Por Leandro Fortes, para a revista Carta Capital

No modorrento feriado de Corpus Christi, os leitores dos jornais foram inundados com informações sobre uma trama que envolveria a fabricação de dossiês contra o candidato tucano à Presidência, José Serra, produzidos por gente ligada ao comitê da adversária Dilma Rousseff. O time de espiões teria sido montado pelo jornalista Luiz Lanzetta, dono da agência Lanza, responsável pela contratação de funcionários para a área de comunicação da campanha petista. O primeiro desses documentos seria um relatório sobre as ligações de Verônica Serra, filha do candidato do PSDB, com Verônica Dantas, irmã do banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity. Uma história tão antiga quanto os dinossauros e já relatada inúmeras vezes na última década, inclusive por CartaCapital.

A notícia sobre o suposto dossiê, que ninguém sabe dizer se existe de fato, veio a público em uma reportagem confusa da revista Veja e ganhou lentamente as páginas dos jornais durante a semana até ser brindada com uma forte rea-ção do PSDB e de Serra. Na quarta-feira 2, o pré-candidato tucano acusou Dilma Rousseff de estar por trás da “baixaria” e cobrou explicações. A petista disse que a acusação era uma “falsidade” e o presidente do partido, José Eduardo Dutra, informou que a cúpula da legenda havia decidido interpelar Serra na Justiça por conta das declarações.

Os boatos sobre a fábrica de dossiês parecem ser fruto de uma disputa interna entre dois grupos petistas interessados em comandar a estrutura de comunicação da campanha de Dilma Rousseff, um ligado a Lanzetta, outro ao deputado estadual Rui Falcão. A origem dessa confusão era, porém, desconhecida do público, até agora. CartaCapital teve acesso a parte do tal “dossiê” que gerou toda essa especulação. Trata-se, na verdade, de um livro ainda não publicado com 14 capítulos intitulado Os Porões da Privataria, do jornalista Amaury Ribeiro Jr.

O livro descreve com minúcias o que seria a participação de Serra e aliados tucanos nos bastidores das privatizações durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso. É um arrazoado cujo conteúdo seria particularmente constrangedor para o pré-candidato e outros tantos tucanos poderosos dos anos FHC. Entre os investigados por Ribeiro Jr. estão também três parentes de Serra: a filha Verônica, o genro Alexandre Bourgeois e o primo Gregório Marin Preciado. Está sendo produzido há cerca de dois anos e nada tem a ver com a suposta intenção petista de fabricar acusações contra o adversário.

É essa a origem das informações sobre a existência do tal “dossiê” contra a filha de Serra. E a razão de os tucanos terem lançado um ataque preventivo às informações que constam do livro. De fato, Ribeiro Jr. dedicou-se a apurar os negócios de Verônica. Repórter experiente com passagens em várias redações da imprensa brasileira, Ribeiro Jr. iniciou as apurações a pedido do seu último empregador, o Grupo Diá-rios Associados, que congrega, entre outros, os jornais Correio Braziliense e O Estado de Minas. O livro narra, por exemplo, supostos benefícios obtidos por Marin Preciado em instituições financeiras públicas, entre elas o Banco do Brasil, na época em que outro ex-tesoureiro de Serra, Ricardo Sérgio de Oliveira, trabalhava lá. Para quem não se lembra, Oliveira ficou famoso após a divulgação de sua famosa frase “no limite da irresponsabilidade” no conjunto dos grampos do BNDES.

Em uma entrevista que será usada como peça de divulgação do livro e à qual CartaCapital teve acesso, Ribeiro Jr. afirma que a investigação que desaguou no livro começou há dois anos. À época, explica, havia uma movimentação, atribuída ao deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ), visceralmente ligado a Serra, para usar arapongas e investigar a vida do governador tucano Aécio Neves, de Minas Gerais. Justamente quando Aécio disputava a indicação como candidato à Presidência pelos tucanos. “O interesse suposto seria o de flagrar o adversário de Serra em situações escabrosas ou escândalos para tirá-lo do páreo”, diz o jornalista. “Entrei em campo, pelo outro lado, para averiguar o lado mais sombrio das privatizações, propinas, lavagem de dinheiro e sumiço de dinheiro público.”

A ligação feita entre o nome de Ribeiro Jr. e o anunciado esquema de espionagem do comitê de Dilma deveu-se a um encontro entre ele e Lanzetta, em Brasília, no qual se especulou sobre sua contratação para a equipe de comunicação da campanha petista. Vencedor de três prêmios Esso e quatro prêmios Vladimir Herzog, entre muitos outros, Ribeiro Jr., 47 anos, é conhecido por desencavar boas histórias. Herdeiro de uma pizzaria e uma fazenda em Campo Grande (MS) e ocupado com a finalização do livro, o jornalista recusou o convite.

Na entrevista de divulgação do livro, Ribeiro Jr. afirma que a obra estabelece a ligação de diversos tucanos com as privatizações e desnuda inúmeras ações com empresas offshore para fazer entrar no Brasil dinheiro oriundo de paraísos fiscais. “São operações complicadas e necessitam ser explicadas com cuidado para os brasileiros perceberem o quanto foram lesados e em quanto mais poderão ser.”

A aproximação entre Ribeiro Jr. e Lanzetta, contudo, teria sido suficiente para que grupos interessados em ganhar espaço na campanha petista desencadeassem uma onda de boatos sobre a formação de um time de contraespionagem para produzir dossiês contra os tucanos. Diante do precedente dos “aloprados” do PT, a mídia embarcou com entusiasmo na versão depois assumida com tanto vigor pelos próceres tucanos. É mais um não fato da campanha.

O mesmo fenômeno envolveu o ex--delegado federal Onésimo de Souza, especialista em contraespionagem que chegou a oferecer serviços ao PT de vigilância e rastreamento de escutas telefônicas. Como cobrou caro demais, acabou descartado, mas foi apontado como futuro integrante da tal equipe de arapongas de Dilma Rousseff.

Por ordem da pré-candidata, qualquer assunto relativo a dossiê e afins está proibido no comitê de campanha instalado numa casa do Lago Sul de Brasília. Dilma se diz “estarrecida” com as acusações veiculadas, primeiro, na revista Veja e, em seguida, por diversos outros veículos - sempre com foco na suposta espionagem, nunca no conteúdo do suposto dossiê. Aos auxiliares, a petista mandou avisar que não aceitará, “em hipótese alguma”, a confecção de dossiês durante a campanha e demitirá sumariamente quem se envolver com tal expediente.