domingo, 29 de maio de 2011

O caso Palocci e a defesa de um projeto de esquerda para o Brasil.

O editor Mino Carta, da revista Carta Capital, é um dos jornalistas mais lúcidos e independentes, atuantes  na imprensa nativa. Sua independência recomenda a leitura do artigo que se segue:

O PT esqueceu os trabalhadores


 por Mino Carta - 27 de maio de 2011 às 11:59h



A posição da mídia nativa em relação ao Caso Palocci intriga os meus inquietos botões. Há quem claramente pretenda criar confusão. Outros tomam o partido do chefe da Casa Civil. Deste ponto de vista a Veja chega aos píncaros: Palocci em Brasília é o paladino da razão e se puxar seus cadarços vai levitar.

Ocorre que Antonio Palocci tornou-se um caso à parte ao ocupar um cargo determinante como a chefia da Casa Civil, mas com perfil diferente daqueles que o precederam na Presidência de Lula. José Dirceu acabou pregado na cruz. Dilma foi criticada com extrema aspereza inúmeras vezes e sofreu insinuações e acusações descabidas sem conta. A bem da sacrossanta verdade factual, ainda no Ministério da Fazenda o ex-prefeito de Ribeirão Preto deu para ser apreciado pelo chamado establishment e seu instrumento, a mídia nativa.

As ações de Palocci despencaram quando surgiu em cena o caseiro Francenildo, e talvez nada disso ocorresse em outra circunstância, porque aquele entrecho era lenha no fogo da campanha feroz contra a reeleição de Lula. Sabe-se, e não faltam provas a respeito, de que uma contenda surda desenrolava-se dentro do governo entre Palocci e José Dirceu. Consta que o atual chefe da Casa Civil e Dilma não se bicavam durante o segundo mandato de Lula, o qual seria enfim patrocinador do seu retorno à ribalta.
E com poderes largos, como grande conselheiro, negociador junto à turma graúda, interlocutor privilegiado do mercado financeiro e do empresariado, a contar com a simpatia de amplos setores da mídia nativa. Um ex-trotskista virou figura querida do establishment, vale dizer com todas as letras. Ele trafega com a devida solenidade pelas páginas impressas e nos vídeos, mas é convenientemente escondido quando é preciso, como se envergasse um uniforme mimético a disfarçá-lo na selva da política.
Murmuram os botões, em tom sinistro e ao mesmo tempo conformado: pois é, a política… Está claro que se Lula volta à cena para orquestrar a defesa de Palocci com a colaboração de figuras imponentes como José Sarney, o propósito é interferir no jogo do poder ameaçado e garantir a estabilidade do governo de Dilma Rousseff, fragilizado nesta circunstância.

A explicação basta? Os botões negam. CartaCapital sempre se postou contra a busca do poder pelo poder por entender que a política também há de ser pautada pela moral e pela ética, igual a toda atividade humana. Fatti non foste a viver come bruti, disse Dante Alighieri. Traduzo livremente: vocês não foram criados para praticar, embrutecidos, a lei do mais forte. Nós de CartaCapital poderemos ser tachados de ingênuos, ou iludidos nesta nossa crença, mas a consideramos inerente à prática do jornalismo.

No tempo de FHC, cumprimos a tarefa ao denunciar as mazelas daqueles que Palocci diz imitar, na aparente certeza de que, por causa disso, merece a indulgência plenária. Luiz Carlos Mendonça de Barros, André Lara Rezende, e outros fortemente enriquecidos ao deixarem o governo graças ao uso desabrido da inside information, foram alvo de CartaCapital, e condenados sem apelação. Somos de coerência solar ao mirar agora em Antonio Palocci.

Em outra época, os vilões foram tucanos. Chegou a hora do PT, um partido que, alcançado o poder, se portou como os demais, clubes armados para o deleite dos representantes da minoria privilegiada. Devo dizer que conheço muito bem a história do Partido dos Trabalhadores. A primeira reportagem de capa publicada por uma semanal sobre a liderança nascente de Luiz Inácio da Silva, dito o Lula, remonta a começos de fevereiro de 1978. IstoÉ foi a revista, eu a dirigia. Escrevi a reportagem e em parceria com Bernardo Lerer entrevistei o então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, na vanguarda de um sindicalismo oposto ao dos pelegos.

Dizia a chamada de capa, estampada sobre o rosto volitivo do jovem líder: Lula e os Trabalhadores do Brasil. Já então sabia do seu projeto, criar um partido para defender pobres e miseráveis do País. Acompanhei a trajetória petista passo a passo e ao fundar o Jornal da República, que nasceu e morreu comigo depois de menos de cinco meses de vida, fracasso esculpido por Michelangelo em dia de desbordante inspiração, passei a publicar diariamente uma página dedicada ao trabalho, onde escreviam os novos representantes do sindicalismo brasileiro. Ao longo do caminho, o partido soube retocar seu ideário conforme tempos diferentes, mas permaneceu fiel aos propósitos iniciais e como agremiação distinta das demais surgidas da reforma partidária de 1979, marcado por um senso de honestidade e responsabilidade insólito no nosso cenário.

Antonio Palocci é apenas um exemplo de uma pretensa e lamentável modernidade, transformação que nega o passado digno para mergulhar em um presente que iguala o PT a todos os demais. Parece não haver no Brasil outro exemplo aplicável de partido do poder, é a conclusão inescapável. Perguntam os botões desolados: onde sobraram os trabalhadores? Uma agremiação surgida para fazer do trabalho a sua razão de ser, passa a cuidar dos interesses do lado oposto. Não se trataria, aliás, de fomentar o conflito, pelo contrário, de achar o ponto de encontro, como o próprio Lula conseguiu como atilado negociador na presidência do sindicato.

Há muito tempo, confesso, tenho dúvidas a respeito da realidade de uma esquerda brasileira, ao longo da chamada redemocratização e esgotadas outras épocas em que certos confrontos em andamento no mundo ecoavam por aqui. Tendo a crer, no momento, que a esquerda nativa é uma criação de fantasia, como a marca da Coca-Cola, que, aliás, o mítico Che Guevara bebia ironicamente às talagadas na Conferência da OEA, em 1961, em Punta del Este. Quanto à ideologia, contento-me com a tese de Norberto Bobbio: esquerdista hoje em dia é quem, aspirante à igualdade certo da insuficiência da simples liberdade exposta ao assalto do poderoso, luta a favor dos desvalidos. Incrível: até por razões práticas, a bem de um capitalismo necessitado de consumidores.

Nem a tanto se inclina a atual esquerda verde-amarela, na qual milita, digamos, o ultracomunista Aldo Rebelo, disposto a anistiar os vândalos da desmatação. E como não anistiar o ex-camarada Palocci? Lula fez um bom governo, talvez o melhor da história da República, graças a uma política exterior pela primeira vez independente e ao empenho a favor dos pobres e dos miseráveis, fartamente demonstrado. CartaCapital não regateou louvores a estes desempenhos, embora notasse as divergências que dividem o PT em nome de hipócritas interpretações de uma ideologia primária.

Na opinião de CartaCapital, e dos meus botões, não é tarefa de Lula defender o indefensável Antonio Palocci, e sim de ajudar a presidenta Dilma a repor as coisas em ordem, pelos mesmos caminhos que em 2002 o levaram à Presidência com todos os méritos.
Mino Carta

Mino Carta é diretor de redação de CartaCapital. Fundou as revistas Quatro Rodas, Veja e CartaCapital. Foi diretor de Redação das revistas Senhor e IstoÉ. Criou a Edição de Esportes do jornal O Estado de S. Paulo, criou e dirigiu o Jornal da Tarde. redacao@cartacapital.com.br

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Ruralistas vencem governo na votação do Código Florestal

 Por: João Peres, Rede Brasil Atual


São Paulo – No papel, Dilma Rousseff chegou ao Palácio do Planalto com a maior base parlamentar da história republicana brasileira. Na prática, o fim do quinto mês de mandato indicou uma realidade diferente para a presidenta.


O governo sofreu uma dupla derrota nesta terça-feira (24) no plenário da Câmara dos Deputados durante a votação do Código Florestal. Em plenário, a clássica divisão entre base aliada e oposição ficou de lado. Surgiu, no lugar, um grande bloco formado por boa parte dos partidos governistas e da maioria dos opositores, que aprovaram o Projeto de Lei (PL) 1.876, de 1999, que altera o Código Florestal e que agora segue ao Senado. Foram 410 votos a favor do texto, 63 contra e uma abstenção. Em seguida, foi votada e, novamente, aprovada, a Emenda 164, que dá aos estados o poder de legislar sobre Áreas de Preservação Permanente (APPs). Em meio a urros eufóricos dos representantes do agronegócio, foram 273 votos a favor contra 182 contra.

O líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), chegou a fazer um chamado à unidade da base aliada. Em plenário, expôs a mensagem de Dilma Rousseff, que considera que a emenda apresentada pelo PMDB é vergonhosa, e lembrou que o regime presidencialista dá ao chefe do Planalto a última palavra. “A casa fica sob ameaça quando o governo é derrotado. Fomos eleitos com a presidenta Dilma, na mesma chapa. Então, a vitória do governo é a nossa vitória.”

Foi imediatamente desafiado pelo relator do PL 1.876, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que integra a base aliada e passou a noite sendo ovacionado pelos representantes do agronegócio. "Vossa Excelência tem a obrigação de interpelar o líder do governo se a presidente disse de fato que esta votação é uma vergonha", gritou em direção ao presidente da Câmara, Marco Maia.

Henrique Eduardo Alves (RN), líder do PMDB, foi outro que se somou ao discurso da oposição na defesa do Código Florestal e ignorou a orientação vinda do Planalto, ainda que tenha dito que não faz sentido o discurso de que seu partido estava derrotando o governo. Pontuou ainda que não mudaria a posição de sua bancada de maneira alguma, mesmo com os pedidos dos ministros pemedebistas. "Antes de os senhores serem ministros, são companheiros do meu partido. Não constranjam a minha bancada, até porque não adiantará absolutamente nada", afirmou, no discurso mais inflamado da noite, em que gritava "Sim, sim" ao relatório de Rebelo.

Ratinho Júnior (PSC-PR) também manifestou que o debate da noite não se dava entre oposição e base aliada, ainda que pertença à coalizão governista. "Temos o direito de ser respeitados pelo governo porque temos nosso pensamento e, acima de tudo, sabemos a nação que nós queremos."

A presidenta Dilma Rousseff aposta agora no Senado para conseguir eventuais mudanças. Não será fácil: o senador Luiz Henrique (PMDB-SC), relator do Código Florestal na Comissão de Constituição e Justiça, é favorável às causas dos representantes do agronegócio. Caso seja novamente vencida, Dilma não descarta usar o direito de vetar partes do texto, que neste caso voltaria ao Congresso, correndo o risco de testar mais uma vez a força dos ruralistas. Não permitir a anistia a desmatadores é, inclusive, um dos compromissos assumidos durante a campanha eleitoral do ano passado

CUT defende representação mais forte da OCDE no Brasil para fiscalizar multinacionais

São Paulo – Desde segunda-feira (23), o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, e dirigentes sindicais de vários países participam da Semana dos 50 anos da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O brasileiro é o único sindicalista latino-americano no encontro. Entre os pontos defendidos pela CUT, está o fortalecimento da representação da entidade no país.


Além disso, a central defende a inclusão, nas diretrizes que regem a atuação de multinacionais no mundo, de um capítulo sobre direitos humanos e mais rigor na proteção de salários e de emprego. As mudança fazem parte de uma discussão mais ampla sobre diretrizes da OCDE para a atuação das multinacionais. As definições em vigor estabelecem limites e responsabilidades para as empresas que atuam fora de seus países de origem. Segundo a CUT, os debates para as mudanças nas diretrizes já duram um ano.

As representações da OCDE são instaladas em países que não compõem a organização. Um dos papéis é fiscalizar as multinacionais. A CUT sustenta que é necessária uma estruturação maior da participação, assegurando independência em relação a ministérios, como forma de aperfeiçoar seu papel de mediação de conflitos.

Nesta segunda, os sindicalistas estiveram reunidos no Comitê de Assessoria Sindical (TUAC, na sigla em inglês para Trade Union Advisory Committeee). O órgão consultivo apresenta a OCDE propostas do mundo do trabalho. Nesta quarta-feira (25), Artur será um dos expositores na sessão sobre governança global.

Elogios ao Brasil

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, recebeu na segunda-feira, em reunião do G-20 o presidente da CUT. Artur Henrique defendeu a rede de proteção social pública para a justiça e desenvolvimento, visando atuar em grupo para ressaltar a importância das políticas públicas de emprego e previdência. Ministros do Trabalho e Previdência dos países-membros também estiveram presentes.

Segundo o blogue do Artur, Sarkozy elogiou o Brasil e citou o país como exemplo pelo desenvolvimento de proteção social, citando a recuperação da economia durante a crise mundial em 2008 e 2009.
Fonte: Brasil Atual

quinta-feira, 19 de maio de 2011

PSDB: O OCASO DE UM PARTIDO POLÍTICO.

Bresser e o legado do PSDB


Enviado por luisnassif, qui, 19/05/2011 - 08:00

Coluna Econômica


Na Folha de ontem, o ex-Ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira despediu-se mais uma vez do PSDB, partido que ajudou a fundar e a irrigar com suas ideias.

Bresser foi das figuras máximas do partido. Começou sua militância no governo Montoro, ajudou a criar a mística dos pacotes econômicos, foi um Ministro da Fazenda sério de um governo (Sarney) fraco. Depois, como Ministro da Administração do governo Fernando Henrique Cardoso, tentou colocar em prática novos conceitos, novos projetos. Em vão.
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O lento divórcio de Bresser do PSDB se deu ali, quando sua usina de ideias esbarrou no deserto de vontade de FHC. Lembro-me, na época de ter escrito uma coluna sobre o engenheiro (Mário Covas) e o sociólogo (FHC), um, governador de São Paulo; outro, presidente da República.

A alma do PSDB – como reforça Bresser em seu artigo – estava em personalidades como Montoro e Covas.

Hoje em dia é possível apontar um conjunto de vulnerabilidades no governo Covas. A ânsia do ajuste fiscal promoveu um desmonte na estrutura do estado de São Paulo. Órgãos formuladores de políticas de longo prazo – como a Fundap e a Fundação Seada, a Cepam – foram praticamente abandonados. A Fundação Seade foi submetida à influência nefasta de Arnaldo Madeira.

Depois do ajuste inicial, havia indícios fortes de que o segundo governo Covas seria o da reconstrução. Morreu antes.
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Morto, o PSDB perdeu sua maior referência. Em que consistia a imagem pública de Covas? Era cabeçudo, teimoso que nem o diabo, mas racional. Curvava-se ante um bom argumento. Principalmente, passa a sensação permanente de trabalhar pelo bem comum. Havia a vontade férrea de construir, deixar algo. Mais: havia um senso de lealdade ao partido e a princípios que faziam a diferença, davam o eixo para o partido.
Nas piores crises do titubeante governo FHC, os olhares do país se voltavam para o Palácio Bandeirantes, como um referencial.
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A morte de Covas tirou esse referencial do bem comum que marcava o partido. Lembro-me na campanha de 2006 entrevistando o candidato Geraldo Alckmin. Disse-me ele que um dos principais conselhos dados por Covas era para toda semana se juntar ao povo para sentir suas necessidades, exercício ao qual – segundo Covas – nem FHC nem José Serra eram afeitos.
***
O segundo pecado fatal do PSDB foi ter aberto mão dos formuladores. Pessoas que traziam idéias ou slogans eficientes – como Bresser, os irmãos Mendonça de Barros – foram deixados de lado, ante o personalismo medíocre e imobilizante de Serra. Não se renovaram as lideranças, não se renovaram as idéias.
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No começo dos anos 2.000, pensadores como Delfim Netto e o próprio Bresser-Pereira alertavam que, quando o PT deixava de lado a retórica revolucionária, ocuparia o lugar do PSDB junto aos setores de centro-esquerda – o próprio Bresser recorda essa predição em seu artigo.
Talvez mesmo sendo conduzido por lideranças mais responsáveis, o partido tivesse dificuldades em se situar no novo quadro.
Hoje, é um conjunto de lembranças boas – Covas, Montoro, o próprio Bresser -, ultrapassadas – FHC – e destrutivas – Serra.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Utópicos sim, por favor.

Por Fernando Vives - 10 de maio de 2011 às 8:45h



O educador espanhol César Muñoz Jiménez defende maior participação das crianças nas decisões da escola e da vida familiar. Foto: Bruno Huberman

O senhor que entrou na sala da sede do Itaú Cultural vestindo uma camisa listrada, para -receber a equipe de Carta -Fundamental, tem ideias muito diferentes de educação em relação ao que estamos acostumados a ver e ouvir. Normalmente é chamado de utópico, mas para ele isso é um elogio. “Adoro ouvir isso, é apaixonante tentar uma educação diferente em um mundo baseado em mentiras”, afirma. O educador espanhol César Muñoz Jiménez, consultor internacional em infância e juventude e referência na União Europeia, esteve no Brasil para uma série de palestras e eventos do Itaú Cultural em abril. Sua especialidade, a educação integral, refere-se ao sentido amplo de integralidade, que esboça todas as frentes psicológicas do ser humano, e não simplesmente à aula que ocorre o dia todo. Nesta conversa, César Muñoz falou sobre sua teoria da Pedagogia do Cotidiano e das experiências que teve como consultor dos sistemas de ensino municipais de São Paulo (SP) e Fortaleza (CE). E elogia muito a educação infantil de Porto Alegre (RS).



Carta Fundamental: Há várias definições sobre educação integral. Como o senhor compreende esse termo?

César Muñoz Jiménez: Em primeiro lugar, penso ser necessário separar os conceitos. Há a “educação” e há o “integral”. Entende-se por educação, na cultura dominante internacional, o “conduzir o outro”. E eu não estou de acordo com ele. Para mim, a educação tem de ser um sério jogo de sedução, amor e paixão. Dizer isso nesses termos é polêmico, mas sempre tive a clara ideia de provocar. A criança jamais vai gostar da aula se não se sente querida, seduzida. Se o ato de educar refere-se apenas a uma simples transmissão de conhecimento, sem haver sentimento, não quer dizer muita coisa. Este seria um primeiro conceito de educação.

CF: E quais seriam os outros?

CMJ: Há vários, que também não fazem muito sentido. Dizem, por exemplo, que educação é convencer o outro para que ele entenda o que se está dizendo. Há o espaço em que só há uma voz, o professor fala e os estudantes ouvem. Para mim, o fundamental para um educador é saber captar o murmúrio do aluno para entender o que se passa com ele. Os profissionais estão acostumados com o que impõe a cultura dominante, de que existem dois pilares para se educar: a palavra e a conduta.

CF: E o que seria a junção com o “integral”?

CMJ: Por educação integral entenda-se aquela que procura discorrer sobre todas as particularidades que os seres humanos possuem. Seria a educação em sua integralidade, cuidando do corpo, da mente, dos sentimentos, dos desejos. Fazer a criança se manifestar. Se basearmos nossa educação exclusivamente na palavra e na conduta da criança, deixamos muita coisa de lado, gerando deturpações. Professores classificam como estudante inteligente aquele que fala bem na aula e tem boa conduta. Mas, antes da linguagem, há expressões mais autênticas que permitem captar o murmúrio do corpo. É tarefa do professor conectar a linguagem ao sentimento, entender como as crianças pensam, como relacionam a vida delas à aula, como se comportam com um imprevisto – muito se conhece de uma pessoa através da maneira como ela se comporta em uma situação não planejada. Acontece que, ao se explorarem somente a palavra e a conduta, a criança cria artifícios para se adaptar àquilo, criando uma rede de mentiras, que, hoje, é o caminho para ser adulto em nossa sociedade.

CF: O que o senhor define exatamente como “rede de mentiras”?

CMJ: Funciona assim: um ser humano que não se sente compreendido tende a não dizer o que sente. Ele vai atuar como gostariam que ele atuasse, vai dizer o que o professor gostaria de ouvir, para não haver conflitos. Um ser humano criado sob esse prisma falso não pode ser bem educado, não vai poder chegar nunca a uma educação integral. Não estou esperando que uma criança invente a pólvora em sala de aula, claro, mas é possível explorar sua criatividade. Se uma criança que não costuma prestar atenção à aula, de repente, quando o professor aborda determinado assunto, se vira a ele e fica fascinada com aquilo, é sinal de que o professor deve trabalhar aquilo. Foi um sinal de que a paixão pode ser despertada, é uma mudança importante.

"Quando uma criança que nunca se manifesta de repente se encanta por um assunto abordado pelo professor, é sinal de que esse professor precisa investir naquele assunto com ela". Foto: Silvia Zamboni/Folhapress

CF: E onde entra o aspecto da bagagem cultural na educação?

CMJ: É um dos pontos que fazem parte de uma educação em sua integralidade. Dei cursos em uma escola de língua espanhola no Marrocos. A maioria dos professores era de origem espanhola, e a dos alunos, marroquina. Quando organizávamos atividades, essas eram baseadas na cultura espanhola/ocidental. Havia então um choque de culturas, não era produtivo para os estudantes. Portanto, os educadores que não se introduzem na cultura das pessoas com quem dialogam não podem ensinar corretamente. Na Catalunha, há a cultura de se falar catalão, mesmo os que chegam, e lá há muitos marroquinos. Imagine se um marroquino chega em Barcelona e diz: “Falar catalão não interessa à minha cultura”. Fica difícil se adaptar. É necessário entender como falam e como se comportam esses estudantes.

CF: Ou seja, não teremos uma pessoa completamente desenvolvida porque a escola hoje não desenvolve todas as particularidades do ser humano?

CMJ: Exatamente. São três os espaços reguladores da vida humana no mundo ocidental: as famílias, os espaços educativos e os partidos políticos. É claro que há exceções, mas, no geral, é uma rede de mentiras potentes. A primeira é a palavra “infância”, que vem do latim infans, que é “aquele que não fala”. Mas crianças pequenas podem falar coisas muito interessantes. Outra mentira: infância e adolescência são idades de transição. Todas as idades são de transição, pois estamos todos envelhecendo e mudando sempre. É uma soma de mentiras que continua na idade adulta. Nela somos pacientes, consumidores, usuários, nunca colaboradores, cidadãos. Então surge uma soma de não credibilidades: os adultos não creem na infância, as crianças não creem nos adultos. A grande reação disso é que os infanto-juvenis não creem neles mesmos, e que apenas estão na sala de espera para serem adultos. E os adultos estão na sala de espera da morte. Quando chegarem a adultos, vão também reproduzir esse sistema com seus filhos e seus estudantes. São os erros de uma civilização adultocêntrica.

CF: O que é exatamente a pedagogia do cotidiano?

CMJ: Esse termo refere-se ao fato de que a educação é muito relacionada com os pequenos elementos da vida cotidiana. Para a cultura dominante, o trivial não é importante. É como se a vida fosse feita só de momentos importantes, quando na realidade é o contrário. Por exemplo, não se pode viver a cada dia uma grande paixão. Seria insuportável. Tenho um sistema para saber se um educador é bom ou não: peço para ele me falar de uma criança qualquer para a qual ele dá aula. Se ele disser “esse é agressivo”, não está correto. O bom educador é o que diz “essa criança está feliz, mas está dissimulando, porque, no mundo, ri para dissimular a tristeza que está dentro dela”. Mais que a palavra, a pedagogia do cotidiano é a atitude e o sentimento que estão junto das pequenas coisas.

CF: E a partir disso, como seria a escola que tenta englobar tudo isso?

CMJ: Essa escola precisa de profissionais que saibam sentir, não só escrever e falar. Têm de fazer a soma de sentimentos, a começar pelo respeito pela infância, coisa que não terão se não acreditam que a infância tem, além de direitos e deveres, capacidade para criar. O professor também precisa ter um sentimento de docência, já que a aula está construída em função da criança. Quando a criança é respeitada, que tem alguém que entende seus sentimentos, ela se sente conectada a tudo aquilo. Quando participa, ela diz: “Isso é meu, faz parte da minha vida”. Isso, sim, vai fazer da educação dela uma atividade bem-sucedida.

CF: Existem exemplos desse tipo de educação integral que o senhor considera bem-sucedidos?

CMJ: Há conjuntos de escolas muito bem estruturadas na Espanha e na Itália. Nesta última, na pequena cidade de Reggio Emilia, perto de Milão, através do pedagogo Loris Malagutti. Na Espanha, existe um conjunto de escolas acima da média em toda a Catalunha, que foca na sensibilidade. A qualidade das escolas municipais de zero a 3 anos é muito boa.

CF: Essa visão da educação com a participação total da criança não parece um tanto utópica?

CMJ: A educação integral é, sim, uma grande utopia, e temos como entendê-la não como algo impossível, mas como um objetivo a ser alcançado. Dizem muito que sou utópico, e eu respondo: “Obrigado!” É apaixonante tentar uma educação nesses moldes em um mundo baseado em mentiras.

CF: O senhor já teve experiências de orçamento participativo no Brasil, nas prefeituras de Fortaleza e São Paulo. Como avaliar a educação nessas cidades?

CMJ: Fiz parte do projeto de orçamento participativo nessas capitais. Houve em Porto Alegre também, mas eu não estava lá. Eram projetos com ideais muito claros que entendiam não poder haver processo sério se não fosse acompanhado de muita formação e informação das pessoas e sensibilização dos adultos, políticos e professores. Isso é diferente do que acontece, por exemplo, na Europa. Quando lá me perguntam onde vejo capacidade para melhorar a educação de maneira participativa, sempre me refiro à América do Sul, não por lá. A informalidade brasileira ajuda a participar mais.

CF: Podemos dizer, então, que, apesar de tudo, o Brasil tem boas experiências educacionais a ser mostradas lá fora?

CMJ: Na Europa, comenta-se muito sobre a experiência educacional de Porto Alegre. Aquilo foi um exemplo no qual a cidadania é realmente potente. É uma cidade referência em participação da população na educação, sobretudo de zero a 3 anos. E a cidade também está marcada pela experiência do Fórum Social Mundial. Quando digo a amigos que vou ao Brasil, eles se empolgam e se lembram da experiência porto-alegrense.

Fonte: Carta Capital

domingo, 8 de maio de 2011

Poema de João Drummond - Mãe, Todos os Dias são Teus

Mãe


A você que me gerou no ventre

Que me acolheu neste mundo

Você que me deu seio e colo.

Chorou comigo minhas dores.

Acalentou meu sono agitado.

Defendeu-me como uma leoa.

Passou valores e princípios.

Você que nunca desistiu de mim.

Só posso dizer neste dia,

Que todos os dias e todas as noites

Que nascem e morrem em meu coração.

São uma homenagem perene

Àquela que me deu o dom da vida.

Obrigado mamãe



João Drummond

sexta-feira, 6 de maio de 2011

O BRASIL CONTINUA CRESCENDO E DISTRIBUINDO RENDA.

Por Emiliano José


6 de maio de 2011 às 16:15h

A vitória de um projeto político, o da revolução democrática, que segue seu curso desde o início de 2003, quando Lula tomou posse, leva à necessidade de uma compreensão do papel da política para o desenvolvimento. Ou dito de outra forma, o desenvolvimento econômico pode ser de variada natureza, e depende essencialmente das variáveis políticas. Não fosse a vitória de Lula em 2002, e o Brasil seria outro, e muito pior. Ao menos para o povo brasileiro.
Tenho dito com insistência que nós ainda não dominamos, como é natural, o intenso processo de mudanças que o Brasil está experimentando. É muito mais profundo do que a nossa vista pode alcançar. Até porque é muito difícil apreender as coisas em sua perspectiva histórica com os olhos do presente. Mas, tenho insistido na importância de procurarmos os dados que nos deem algumas pistas do que verdadeiramente está ocorrendo como decorrência das políticas de governo. É o esforço desse texto.
A renda per capita média brasileira subiu quase 24% em termos reais entre 2001 e 2009, claro que em decorrência, sobretudo, da nova fase de desenvolvimento experimentada sob os dois mandatos do presidente Lula. Renda média, no entanto, tem que ser decifrada. Quem ganhou mais nessa fase? É uma pergunta feita pelo economista-chefe do Centro de Políticas Sociais e professor da Fundação Getúlio Vargas, Marcelo Neri.
Em artigo publicado em A Tarde (10/4/2011), Neri informa que a renda dos 10% mais pobres subiu mais de 69% no período. Isso é que explica a explosão positiva do consumo dos pobres, evidencia o surgimento de uma nova classe média, a superlotação dos aeroportos, a aglomeração dos shoppings, a expansão do comércio em todas as frentes. Esse ganho cai, e eis um dado extremamente positivo, quando a renda aumenta. E digo positivo porque significa que está havendo alguma distribuição de renda.
Assim, o ganho dos 10% mais ricos foi de 12,8%, bem abaixo do ganho dos mais pobres e mais próximo da média. Agora, é importante procurar elementos que nos confrontem com a desigualdade profunda que nos atormenta, e o professor Neri também trabalha com esses dados. Se considerarmos gênero, a renda das mulheres subiu quase 38%. A dos homens, pouco mais de 16%. Ponto para elas, que antes sempre viam a renda deles subir mais. E olhemos para os classificados como pretos e pardos: a renda dos primeiros sobe em torno de 43% e a dos segundos, mais de 48%.
Não por acaso o título do artigo do professor é “O Brasil começa a se libertar da herança escravagista”. Começa. Quanto à escolaridade, a renda das pessoas sem nenhuma escolaridade sobe nada menos que mais de 53%. A renda das pessoas com pelo menos o nível superior incompleto cai 9% – ainda aqui outra evidência de distribuição de renda. Numa análise regionalizada, e é importante para perceber as razões das mudanças nordestinas, no Nordeste, a região mais pobre do País, a renda subiu quase 42% contra quase 16% no Sudeste, a mais rica.
E se quisermos chegar aos Estados, para exemplificar, a renda no Maranhão sobe quase 47%, antes o Estado mais pobre, contra um crescimento de pouco mais de 7% de São Paulo, o Estado mais rico. Em Sergipe, aqui tão perto de nós, a renda sobe 58%. Andando pelas capitais, outro exemplo: Teresina, no Piauí, experimentou a maior taxa de crescimento, mais de 56%. Nas periferias, o crescimento mais elevado se deu em Fortaleza, com um aumento de renda da ordem de 52%. A capital paulista e sua grande periferia cresceram, respectivamente, 2,3% e 13,1%.
Anotemos que o padrão de um maior crescimento da periferia em relação às capitais se deu em sete das nove grandes metrópoles brasileiras, como acentua o professor Neri. Podemos ir agora à relação campo/cidade. A renda nas áreas pobres rurais cresceu mais de 49% contra 16% das metrópoles e quase 27% das demais cidades. Outro dado de distribuição de renda.
Tudo isso evidencia, que nesse início de século XXI, diz o professor Neri, houve crescimento da renda dos mais pobres, daqueles tradicionalmente excluídos, como analfabetos, negros, nordestinos, populações periféricas, dos campos e construções. Tal tendência não se observou nos países desenvolvidos e nos demais Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul), onde a desigualdade cresce.
Isso tudo deve nos levar a refletir. Primeiro que não há espontaneidade nessa distribuição. Houve uma política deliberada do governo Lula, em oposição à trajetória anterior do governo FHC, de distribuir renda para os mais pobres. Segundo: há uma longa caminhada pela frente. A nossa desigualdade social ainda é muito grande. Com Dilma, a luta continua. Tem que continuar.
E a presidenta tem dado demonstrações evidentes de que não mudará esse curso. Ao contrário, pretende aprofundá-lo. Nos próximos dias, deve anunciar com detalhes o programa de erradicação da miséria no Brasil, seguindo as conquistas do governo Lula. Será um conjunto de medidas destinadas a fazer do Brasil um País de todos. Será a continuidade de uma política, a política de continuar crescendo, mas fazendo isso com a obstinação de sempre prosseguir distribuindo renda.
As políticas neoliberais foram derrotadas no Brasil. Elas têm um foco: o mercado. E não só isso, um mercado restrito, que foi a maneira como Fernando Henrique governou durante oito anos. O mercado de massas, que a esquerda sempre defendeu para o Brasil, foi constituído por Lula e será ampliado com Dilma, para o bem do povo brasileiro, especialmente dos mais pobres. Esse projeto político conquistou o povo brasileiro. Deu duas vitórias a Lula. Deu vitória a Dilma. Quer continuar a mudar o Brasil. Para melhor.

*Jornalista, escritor, deputado federal (PT/Ba)
emiljose@uol.com.br

http://www.emilianojose.com.br/
Emiliano José

Emiliano José é jornalista, escritor, doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia. www.emilianojose.com.br

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Estados Unidos alimentam terrorismo com suas práticas terroristas.

EUA admitem ter torturado presos para achar Bin Laden e que o encontraram desarmado


Redação Carta Capital - 4 de maio de 2011 às 8:45h



O diretor da CIA confirmou o uso de técnicas coercitivas, como afogamento simulado, em prisões secretas. Já o porta-voz da Casa Branca reconheu que o terrorista estava sem armas ao ser abatido
Os Estados Unidos usaram técnicas de tortura com prisioneiros para descobrir o paradeiro do terrorista Osama Bin Laden. A informação foi confirmada pelo diretor da agência de inteligência americana (CIA), Leon Panetta. A Casa Branca admitiu ainda ter encontrado o líder da rede Al Qaeda desarmado no esconderijo em Abbottad, a 115 quilômetros da capital paquistanesa.
Em entrevista à rede de televisão NBC, na terça-feira 2, Panetta admitiu ter submetido detentos de prisões secretas da CIA a “afogamentos simulados”, mas ressaltou que as pistas que levaram as forças americanas a encontrarem o esconderijo de Bin Laden vieram de “muitas fontes”, e não apenas dessa técnica.
“Neste caso, as técnicas de interrogatório coercitivas foram usadas contra alguns desses prisioneiros. Quanto ao debate sobre se poderíamos ter obtido as mesmas informações por outros meios, acho que esta sempre será uma questão em aberto”, completou. Panetta também confirmou à emissora americana que, dentre as “técnicas de interrogatório coercitivas”, estava incluído a polêmica técnica de afogamento simulado, que consiste em amarrar um pedaço de pano ou plástico na boca do interrogado e, na sequência, derramar água sobre o seu rosto.
Já o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, adimtiu em sua entrevista coletiva diária que Bin Laden não estava armado ao ser encontrado na mansão de Abbottabad. Mesmo assim, garante que o líder da Al Qaeda resistiu à sua captura. Por isso, teriam ocorrido os disparos. De acordo com o funcionário do governo americano, uma das esposas do terrorista começou a correr e foi alvejada na perna. Bin Laden recebeu vários disparos na cabeça e no peito. Embora não tivesse armas com ele, sustenta Carney, “não é necessário estar armado para resistir”.

Reação paquistanesa

O ministro das relações exteriores do Paquistão, Salman Bashir, protestou contra as declarações de funcionários do governo americano, que afirmaram desconfiar da ajuda do governo do Paquistão a Bin Laden e não comunicaram as autoridades do país sobre a operação com antecedência. Em entrevista à rede BBC, Bashir disse que esta visão é “desconcertante” e que seu país teve um “papel fundamental” na luta contra o terrorismo e cooperou amplamente com os Estados Unidos.
Em entrevista à revista Time, o diretor da CIA, Leon Panetta, havia dito que os Estados Unidos temiam que o Paquistão colocasse em risco a operação que levou à morte de Osama Bin Laden ao vazar informações para a rede extremista Al Qaeda.
Foi decidido que qualquer esforço para trabalhar com os paquistaneses poderia colocar em risco a missão. Eles poderiam alertar os alvos”, disse o diretor da CIA à revista.

* Com informações do Opera Mundi e agências internacionais.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Obama anuncia a morte de Bin Laden na tevê e afirma que “a justiça foi feita”. Mas o que aconteceu? Morte em combate? Execução/ Assassinato de um terrorista?

Barack Obama anuncia a morte de Bin Laden na tevê e afirma que “a justiça foi feita”


Do Opera Mundi

Por volta de 0h35 (horário de Brasília), o presidente Barack Obama anunciou em rede TV, diretamente da Casa Branca, a morte do líder da Al Qaeda, Osama Bin Laden. Quase dez anos após os ataques de 11 de Setembro, a morte de Bin Laden foi resultado de uma ação realizada neste domingo (1/5) na cidade paquistanesa de Abottabad, com participação da CIA, tropas dos EUA e o apoio do serviço secreto paquistanês. De acordo com Obama, a operação começou em agosto do ano passado.
No Paquistão, a notícia foi recebida com surpresa. Segundo a Al Jazeera, ainda não há manifestações nas ruas. Bin Laden era considerado um herói por muitos paquistaneses, mas não a ponto de justificar protestos nas ruas por causa de sua morte. “Talvez aconteçam algumas manifestações em locais religiosos aqui e ali, mas nada de modo generalizado”, diz Kamal Hyder, correspondente da emissora árabe no Paquistão.
Antes de tornar oficial o resultado da ação, especulou-se que o discurso de Obama foi adiado para que as embaixadas dos EUA ao redor do mundo pudessem reforçar a segurança. Ainda assim, Obama fez questão de declarar que “a guerra dos EUA não é contra o Islã, mas contra o grupo terrorista Al Qaeda”. Segundo o presidente americano, “a Al Qaeda declarou guerra aos EUA em 11 de setembro de 2001”.
“Mesmo com o isolamento de Osama Bin Laden no Afeganistão e depois, no Paquistão, a Al Qaeda continuou ameaçando o Ocidente neste últimos 10 anos”, disse Obama.
Depois da morte de mais de 3 mil pessoas em Nova York e em Washington em 2001, os EUA iniciaram as chamadas guerras ao terror. Invadiram o Afeganistão em 7 de outubro de 2001 e o Iraque em 20 de março de 2003, ainda no governo de George W. Bush.
Obama lembrou as famílias dos militares americanos mortos durante as operações militares em busca do terrorista saudita: “Precisamos lembrar todo o sofrimento dessas famílias. Hoje a justiça foi feita”.
Sobre a operação, o presidente estadunidense afirmou: “Levamos muitos meses juntando informações sobre o paradeiro de Bin Laden”. E completou: “Não queríamos fazer mais uma ação que causasse a morte de civis e envolvesse mais um país na guerra. A colaboração do serviço secreto paquistanês foi fundamental para o sucesso da empreitada”, afirmou.
Durante o anúncio de Obama, havia aglomeração de populares em frente à Casa Branca, residência oficial do governo americano. Muitos populares festejavam a morte do terrorista cantando o hino e empunhando a bandeira dos EUA. Obama, já em campanha para a reeleição em 2012, aproveitou o momento: “Vamos voltar ao sentimento de união que prevaleceu após os ataques de 11/9”.
Fonte: Carta Capital

A provável execução do terrorista mais procurado do mundo, Osana Bin Laden, por um comando militar norte-americano, reacende o debate ético sobre as faces sujas destas guerras do poder. E qual é o fundo deste debate? Quem é o mocinho? Quem é o bandido? Se a diferença for posta pelo número de civís mortos vítimas de ações militares ou terroristas (qual a diferença entre o episódio das Cidades Gêmeas, do Japão -  Hiroshima e Nagasaki -  e das Torres Gêmeas dos Estados Unidos ) com certeza a balança pesa contra os Estados Unidos. O fundamentalismo religioso e o fundamentalismo econômico se alimentam. A construção da paz mundial passa por uma reflexão mundial a favor da justiça e da inclusão social. O Brasil provavelmente é um grande exemplo da construção desta nova ordem mundial em prol de uma paz duradoura.

Frederico Drummond, professor de filosofia e ética.