quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Cognição: uma propriedade geral da vida.

Entendemos que a faculdade dos humanos conhecerem e além disto saber que se sabem, constitui o fundamento do que chamamos consciência reflexa. Alguns teóricos consideram este, um ponto de culminância de uma estrutura cognitiva, que é uma propriedade geral da vida, no dizer de Fritjof Capra, in “Teia da Vida” (Cultrix): Sistemas vivos são sistema cognitivos, sintetiza Humberto Maturama, na Teoria de Santiago
Mas já falamos que a consciência possui filtros que condicionam a construção do saber. No caso particular da Psicologia este filtro reside no Inconsciente, conforme Freud. Assim esta pergunta é formulada por Marilene Chauí: “Que acontecerá, porém, se o sujeito do conhecimento descobrir que a consciência possui mais um grau, além dos três que mencionamos e, sobretudo, quando descobrir que não se trata exatamente de mais um grau da consciência, mas de algo que a consciência desconhece e sobre o qual nunca poderá refletir diretamente? Que esse algo, desconhecido ou só indiretamente conhecido, determina tudo quanto a consciência e o sujeito sentem, fazem, dizem e pensam? Em outras palavras, que sucederá quando o sujeito do conhecimento descobrir um limite intransponível chamado o inconsciente?”
Com efeito esta é, como já dissemos uma das grandes, senão a maior descoberta de Freud, constituindo uma das bases fundamentais da psicanálise.
A vida psíquica é constituída por três instâncias, duas delas inconscientes e apenas uma consciente: o id, o superego e o ego (ou o isso, o supereu e o eu). Os dois primeiros são inconscientes; o terceiro, consciente.
O inconsciente, diz Freud, jamais será consciente diretamente, podendo ser captado apenas indiretamente e por meio de técnicas especiais de interpretação desenvolvidas pela psicanálise. E assim complementa Chauí:
“(... ) A psicanálise descobriu, assim, uma poderosa limitação às pretensões da consciência para dominar e controlar a realidade e o conhecimento. Paradoxalmente, porém, nos revelou a capacidade fantástica da razão e do pensamento para ousar atravessar proibições e repressões e buscar a verdade, mesmo que para isso seja preciso desmontar a bela imagem que os seres humanos têm de si mesmos.
Longe de desvalorizar a teoria do conhecimento, a psicanálise exige do pensamento que não faça concessões às idéias estabelecidas, à moral vigente, aos preconceitos e às opiniões de nossa sociedade, mas que as enfrente em nome da própria razão e do pensamento. A consciência é frágil, mas é ela que decide e aceita correr o risco da angústia e o risco de desvendar e decifrar o inconsciente. Aceita e decide enfrentar a angústia para chegar ao conhecimento: somos um caniço pensante.(...)

Consciência de Classe

De acordo com Marx toda consciência é historicamente determinada. A própria filosofia e a reflexão crítica não acontece fora da história. Marx depurou a noção de ideologia, como um grande filtro, a permear nossos olhares, reflexões e construção do saber. Se a ideologia permeia nosso próprio modo de fazer ciência não poderíamos contar com uma razão isenta. Marx nos lembra muito bem que a consciência é uma consciência de classe.
Da mesma forma, a grande descoberta de outro pensador – Freud – ao estabelecer a existência do inconsciente, mostrando o quanto de nossas escolhas e razões se distanciam de uma pretensa objetividade. Por outro lado os processos alienantes foram tratados de forma exemplar pelo próprio Freud, informando que sensos não-críticos podem surgir a partir da repressão de estruturas arcaicas da psique, mesmo entre os detentores de saberes filosóficos, científicos, etc.
Ou seja, o conhecimento possível resulta de uma consciência circunscrita. Isto significa seremos eternas vítimas de uma estrutura que filtrará nossos olhares? Pode ser verdade. Mas porque ainda assim fomos capazes de refletir sobre nossa limitação ao conhecimento verdadeiro do ser? E mais, fomos capazes de demonstrar como isto acontece.
É possível que em nosso modelo de consciência e conhecimento tenha nos escapado alguma reflexão relevante.A proposta a seguir é exatamente refletir sobre isto.

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