Se os professores não terão seus salários cortados, porque continuam trabalhando? A maioria dos professores considera as condições de trabalho péssima e a remuneração injusta. A greve é para que o governo estadual cumpra a Lei.
Porque então os nossos professores não param? Esta é uma pergunta que não quer calar.
Tenho algumas hipóteses, sendo que uma delas é que os professores não acreditam mais em sua própria luta, tantas vezes a fizeram sem muito sucesso.
Quase toda minha vida adulta morei em São Paulo em próximo contato com os trabalhadores do ABC. Muitas vezes presenciei o desânimo da categoria de metalúrgicos, químicos, rurais e outros. Os movimentos quase paralizavam, mas sempre voltava o senso da luta pela justiça.
Este mesmo processo ocorria também nos centros industriais de Minas.
Todavia algunas cidades do interior aparentemente ficaram a margem deste processo. Ao que parece Sete Lagoas possui um histórico de submissão ao conservadorismo.
Algum fato em sua história criou esta perversa feição. Os oprimidos interiorizam a opressão, e encaram suas conquistas como favor dos poderosos, não como um legítimo direito de sua condição humana. Como as benesses são favores porque lutar por elas? Favor se dar e se recebe; não se conquista. E assim o conservadorismo continua com fortes raizes em nossa vida social. Mas na história não existem processos eternos.
Como já dizia um dos primeiros filósofos pré-socráticos, inventor da dialética, Heráclito: "na natureza tudo muda." Estou apostando nesta mudança em relação aos colegas educadores. Mas vou reproduzir uma reflexão que fiz a pouco tempo sobre a singularidade deste conservadorismo. Confira:
Há algum tempo o jornal Sete Dias, do município mineiro de Sete Lagoas deu destaque para uma das faces do anacronismo que vive o município: de um lado um crescente movimento de expansão empresarial, de outro a dificuldade em se encontrar mão de obra qualificada na cidade, obrigando a recrutamentos em Belo Horizonte. Este anacronismo na realidade oculta uma outra face ainda mais perversa: o lado conservador e arcaico das relações sociais na cidade. Exemplos são muitos. Durante esta semana procurei por diversos meios o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Sete Lagoas ou outro que representasse os trabalhadores da agricultura familiar. Imaginei que com um Sindicatos da Agricultura Familiar ficasse mais fácil estabelecer uma negociação direta com o Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA, reponsável pelos recursos do PRONAF. Para minha surpresa encontrei apenas o Sindicato Rural de Sete Lagoas, que representa a categoria dos empresários rurais. Minha surpresa não parou por ai.
Tentando localizar outros sindicatos representantes de trabalhadores constatei que pelo menos duas categorias profissionais importantes estão aqui representadas: dos professores públicos, reunidos na UTE (filiada à CUT) e dos metalúrgicos (filiado ou ligado à Força Sindical). Durante toda a semana conversei, pesquisei, promovi debates sobre quem eram os interlocutores organizados da sociedade civil em Sete Lagoas. Tive mais uma surpresa: as únicas categorias organizadas e que representam diretamente suas demandas nos diversos espaços sociais são dos empresários. E então veio a pergunta que não quer calar: porque os trabalhadores de Sete Lagoas não possuem sindicatos ou se possuem, porque estes sindicatos são em quase sua totalidade de feições "pelegas". Mais ainda: quais são as organizações populares que repesentam os mais diversos interesses desta categoria social? Se os populares não estão, eles mesmos organizados, quem os representa em suas demandas? As Igrejas? Os grupos de serviços? As organizações literárias? Os clubes esportivos? Quem os representa? Esta é a pergunta que não cala. Sete Lagoas vive a forma de um capitalismo dos mais atrasados do ponto de vista das relações modernas do trabalho. As estatisticas são reveladoras. Segundo dados do Dieese um metalúgico de São Paulo ganha quatro vezes mais do que um metalúrgico de Sete Lagoas, para fazer a mesma função. Porque? Os custos de produção para as metalúgicas de Sete Lagoas são mais baixo do que os de São Paulo? Neste caso esta margem menor nos custos de produção em Sete Lagoas migra para onde? Porque um pequeno município do interior de Minas paga um custo social mais elevado (uma vez que os salários são mais baixos) do que uma região como o ABC paulista? O mais triste em tudo isto é que este conservadorismo que sabota (com ameaças) a organização autônoma dos trabalhadores contamina também sua classe média e até mesmo as classes populares, que passam a aceitar sua pior condição de vida como predestinação. Lamentalvelmente a democracia social possui um enorme déficit em nossa cidade. E na hora em que as empresas começam a buscar trabalhadores em Belo Horizonte para suprir a falta de mão de obra qualificada em Sete Lagoas, com certeza importarão também grupos sociais com uma visão mais moderna da economia. Tenho repedido a exaustão: o capitalismo é um modo de produção hegemônico. Mas não é monolítico. E não sendo monolítico temos nosso espaço de lutas, que agora se expressa na luta dos professores estaduais.
Um comentário:
Em BH MG, uma faxineira ganha por mês R$ 1575,00 líquidos, trabalhando 30 horas semanais. Em MG, um professor de Ensino Médio, contratado pelo Estado recebe R$800,00 brutos por mês para trabalhar 22 horas semanais em sala de aula e mais outras 22 horas semanais em casa. Aula é um produto preparado culturalmente e artesanalmente, exige tempo. Em São Luís do Maranhão, o salário desse mesmo professor é em média R$2000,00. Eta "estadozinho" de políticos ruins esse nosso. Pior do que outros que já não são bons.! Em ruindade compete com São Paulo .Querem todos analbabetos...E, nós, povo, parece que estamos paralisados, enfeitiçados por alguma bruxa perversa!!!!!!!!!!!
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