sábado, 30 de julho de 2011

"Verás que um filho teu não foge à luta!"


"Mas, se ergues da justiça a clava forte,

Verás que um filho teu não foge à luta,

Nem teme, quem te adora, a própria morte."



Talvez a parte mais bonita da letra do Hino Nacional seja essa que publiquei na abertura deste post. Quero tomá-la como inspiração para este diálogo aberto e franco com os nossos colegas que estão em greve, mas especialmente com aqueles que ainda não aderiram à greve. Precisamos de todos em agosto, para fortalecer a greve da categoria, que luta por um direito assegurado em lei, mas que não é cumprido pelo desgoverno de Minas Gerais.

A nossa greve teve início no dia 08 de junho, após um semestre inteiro de tentativas de negociação com o governo para o pagamento do piso salarial nacional, instituído pela Lei 11.738/2008. Nenhum trabalhador gosta de fazer greve, pois isso é desgastante para todos. Corremos riscos, somos ameaçados, nossos familiares ficam preocupados, etc.

Mas, a greve é um dos poucos, senão, neste momento, o mais importante instrumento de luta de uma categoria de trabalhadores. Ante à injustiça praticada pelo patrão-governo, não nos resta outra alternativa senão cruzar os braços, erguer "a clava forte da justiça", e cobrar os nossos direitos.

Mas, além disso, a greve é um direito histórico, garantido primeiro graças ao sangue e ao suor de muitos valentes trabalhadores que deram as suas vidas para que algum dia este direito fosse assegurado em lei para todos os assalariados-explorados. O direito de greve, assegurado hoje no Brasil na sua Carta Maior, é uma importante conquista da qual não podemos abrir mão, sob pena de nos tirarem mais este direito, como tem tentado o governo mineiro.

Estamos lutando, através deste instrumento legal, por um outro direito: o piso salarial nacional, assegurado em lei, considerado plenamente constitucional pelo STF, mas que o governo de Minas insiste em não cumprir tal lei. Ao invés de cumprir o que diz a legislação, o governo mantém o pior piso salarial do país: R$ 369,00 para o profissional com ensino médio, quando, pela lei do piso, deveria estar pagando no mínimo o dobro deste valor, e aplicando nas tabelas dos educadores os reajustes correspondentes aos diferentes níveis e progressões nas carreira, e mais as gratificações a que fazemos jus.

Ao contrário disso, o governo aplicou-nos um calote, o subsídio, que destrói a nossa carreira, incorpora gratificações ao vencimento básico encolhido, reduz percentuais de promoção para menos da metade, posiciona os colegas mais antigos no início da carreira, enfim, aplica um confisco aproximado - e confesso - de cerca de R$ 2,8 bilhões, ou o equivalente a duas cidades administrativas no bolso dos educadores.

O governo de Minas não aplica os 25% da receita do estado, como manda a Constituição Federal, e com isso os prejudicados são os alunos e somos nós, educadores, pois a Educação é cada vez mais privada (nos três sentidos) de mais este direito garantido em lei.

Diante de tudo isso, não podemos nos calar. O governo vem fazendo de tudo para detonar a nossa carreira, cortando direitos, jogando o tempo todo para nos dividir, efetivando pessoas sem habilitação e deixando sem aulas colegas concursados; divulgando um edital de concurso com pouquíssimas vagas - número menor do que aquele que teria que disponibilizar se aplicasse a Lei do Piso corretamente, com o terço de tempo extraclasse, pois só com essa medida criaria 20 mil novas vagas para professores.

Não satisfeito com todos estes ataques, o governo cortou o ponto dos colegas em greve e ameaça reduzir nossos salários para o valor de dezembro de 2010, contrariando novamente a Constituição Federal.

Ante a todas as mazelas praticadas pelo governo contra os educadores e contra a Educação pública, permanecer em silêncio, como se nada estivesse acontecendo, é um ato de covardia, além de pouco inteligente. Mais cedo ou mais tarde, todos nós seremos atingidos pelos atos do governo. Inclusive quem ainda se encontrava em sala de aula. E aí poderá ser tarde demais esperar para reagir depois, pois, o momento em que a categoria se levanta para tentar barrar os ataques deste governo é agora.

Por isso, colegas que ainda não entraram em greve, não sei quais são suas razões. Aliás, ouvi muitas, de muitos colegas nas escolas por onde andei: "estou para me aposentar", "tenho prestações de carro, ou da casa, ou do aluguel para pagar", entre outras. São razões fortes, reconhecemos, mas todos os que estão em greve têm as mesmas razões. Além disso, não há nada que não possa ser remediado em alguns meses após a greve.

Aliás, as razões apresentadas para não entrar em greve são os mais fortes motivos para vocês participarem dessa greve. Se estão para se aposentar, saibam que daqui a pouco estarão recebendo salário mínimo e terão que voltar a trabalhar, se não lutarem agora para garantir a conquista pelo menos do piso salarial. Se estão endividados, é porque o nosso salário é muito baixo e daqui a pouco terão que arranjar mais um cargo e destruir sua saúde para dar conta de pagar as prestações e dívidas que contraíram.

Infelizmente, nós não temos o poder do governador de Minas, de simplesmente baixar uma lei do subsídio e dizer que só paga tanto de salário, quando a lei federal manda pagar este montante mais outro tanto. Não podemos fazer a mesma coisa com os nossos débitos, não é mesmo? Por isso, nossa única saída é lutar por um salário mais justo, ainda mais quando a lei federal nos assegura, de forma muito clara e detalhada, tal direito.

Por último, colegas, quero apelar para a dignidade de vocês. Imaginem amanhã quando, em sala de aula, ou com seus filhos e netos ou amigos, o assunto for a cidadania e a luta pelos nossos direitos. Com que cara vocês vão olhar nos olhos dessas pessoas? Imaginem quando tocarem o Hino Nacional na sua escola, e os alunos cantarem em voz alta:

"Mas, se ergues da justiça a clava forte,

Verás que um filho teu não foge à luta,

Nem teme, quem te adora, a própria morte."

Será que vocês terão a coragem de encará-los? Ou vão se apresentar e dizer: eu fugi, quando era preciso lutar!

Pois agora em agosto vocês, colegas educadores que ainda não aderiram à greve, têm a oportunidade de recuperarem, perante seus colegas, alunos e familiares, a grandeza de espírito que deve caracterizar um educador, um trabalhador consciente. As pessoas que perdem a coragem de lutar, são dignas de pena. Essas pessoas já estão se considerando inaptas, indignas de conquistarem direitos; elas estão se autoexcluindo de direitos assegurados em lei. Não se trata de esperar que outros conquistem por vocês, mas, de lutarem juntos com os colegas: de sofrer, de sorrir e de sonhar ao lado dos demais. "Quando se sonha sozinho é apenas um sonho. Quando se sonha juntos é o começo da realidade." (Miguel de Cervantes, em D.Quixote)

Levantem-se, colegas, mirem-se nos que lutam, e não naqueles que sabem apenas lamuriar nos corredores das escolas, enquanto se calam covardemente quando é preciso lutar. A categoria dos educadores precisa de vocês. Os filhos dos trabalhadores de baixa renda, que dependem de uma escola pública de qualidade, também precisam de vocês nessa luta. Se não querem lutar por vocês - talvez porque já estejam satisfeitos com a realidade atual - lutem por eles, pelos alunos e pais de alunos, porque eles merecem um presente mais digno e um futuro melhor do que aquele que as elites canalhas deste país têm reservado para os trabalhadores.

Pensem nisso nesse final de semana!
E que em agosto as escolas fechem as portas, e a nossa assembleia esteja reforçada no dia 03, no pátio da ALMG!

Um forte abraço a todos e força na luta!

A greve continua! Até a nossa vitória!
Do Blog do Euger - que eu subscrevo

Frederico Drummond - professor de filosofia

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