quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O capitalismo está mais débil: primeira hipótese.

No dia 29 de janeiro passado postamos a introdução de um artigo de Antonio Martins, intitulado "Da grande implosão às alternativas – Quatro hípoteses provocadoras". A partir de hoje passamos a publicar os textos de cada uma destas hipótes. Na sequência iremos promover um debate sobre as questões abordadas. O desafio, como bem lembra Antonio Martins, é trabalhar os novos referencias conceituais de superação dos estrangulamentos que nos conduziu o capitalismo. Para facilitar a leitura e o debate postaremos cada hipótese em dias distintos. Lembrete: o fórum de reflexões dos pontos aqui levantados é constituído pela turma de pós graduação em Economia e Meio Ambiente da Universidade Federal do Paraná.

Eis a primeira das quatro hipóteses:

1. O capitalismo está mais débil. A volta de medidas regulatórias contradiz a mercantilização. E surgiram, na arena política e geopolítica, novidades que perturbam o sistema

A tese central dos que sustentam o pessimismo diante da crise é a recomposição relativamente rápida da economia mundial. Ela se deu sem que tenha havido mudanças produndas – e com expressiva socialização das perdas. Este argumento, verdadeiro, esconde três tendência menos estrepitosas, porém provavelmente mais profundas. Primeira: estão voltando, de forma crescente e generalizada, as medidas que limitam a liberdade dos capitais. Nas finanças e no comércio internacional, multiplicam-se os atos de regulação dos governos. Em diversos países, rearticulam-se a noção, os mecanismos e os órgãos encarregados do planejamento. Estas ações eram anátemas até há pouco, por um um motivo claro. O campo privilegiado de expansão do capital, desde o início dos anos 1980 é a mercantilização da vida. Do uso do sistema telefônico à manipulação do genoma, todas as relações sociais precisam converter-se num território “livre” de qualquer regulação consciente – submetido, portanto, apenas à lógica dos mercados.

A reversão atual não resultou de um giro estratégico: respondeu a uma emergência. Ela não inviabiliza, é evidente, o capitalismo; mas corta sua rota atual de expansão e – segunda tendência – introduz no cenário político um elemento de liberdade: os mesmos Estados que hoje salvam bancos podem instituir amanhã a renda cidadã, ou universalizar o direito à Saúde. Antes da crise, a eleição nos Estados Unidos de um presidente disposto a lutar por uma política redistributiva no Healt Care seria inimaginável. Obama pode até perder sua batalha, mas neste exemplo estão a novidade e o sentido do novo cenário político.

A terceira tendência é o desarranjo de um cenário geopolítico que dividia o mundo entre centro e periferia. Embora também não seja indispensável para a manutenção das sociedades “de mercado”, esta divisão mostrou-se extremamente funcional. Ela poderá sofrer, nas próximas décadas, uma mutação de dimensões não vistas desde que as navegações – e depois a indústria – colocaram a Europa no centro do planeta. Os sobressaltos que esta transição produzirá nas relações mundiais de poder são desconhecidos – e precisam ser examinados e explorados com perspicácia, por quem pretenda superar o capitalismo.

Nenhum comentário: