sábado, 16 de janeiro de 2010

Yoga: Uma pedagogia para a consciência corporal - 2

Relações entre Consciência Corporal e Desenvolvimento Infantil.

Ao longo do período prático da pesquisa foi dada grande ênfase a exercícios de consciência corporal, devido à importância desta no desenvolvimento da criança, justamente por tratar-se do alicerce fundamental para a construção das demais habilidades e conceitos que virão em seguida. A criança, em especial aquela portadora de deficiência mental, constrói sua inteligência por meio de experimentações concretas, que aos poucos vão sendo interiorizadas de maneira mais indireta e abstrata. Mas em um primeiro momento, a criança tem essa necessidade de contato direto e concreto com seu objeto de aprendizagem, que neste caso, é o próprio corpo.
Há uma relação de reciprocidade muito forte entre movimento e consciência corporal. É necessário desenvolver a consciência de si para que seja possível expressá-la nos movimentos do corpo, ao mesmo tempo em que os movimentos ajudam a tomar consciência de si.
Foi utilizado, como meio de avaliação, o Teste do Desenho da Figura Humana, criado em 1996, por Florence Goodenough para medir a inteligência geral, pela análise da representação da figura humana. É realizado um desenho no início e outro ao final da pesquisa, sendo então avaliados itens evolutivos e qualitativos do desenho. Os itens evolutivos consistem na divisão do corpo humano em 30 partes isoladas, sendo que a cada item presente no desenho da criança, computa-se um ponto. Quanto aos itens qualitativos, são analisados aspectos tais como altura e posição da figura, proporção, inserção das partes e perspectiva.
Esta análise nos dá um referencial sobre o conhecimento que a criança tem das partes do corpo e da relação que este corpo tem com o espaço, projetado no espaço gráfico. Todavia vários outros elementos podem ser constatados a partir do desenho, partindo-se de uma perspectiva mais psicológica, na qual são analisados outros elementos do desenho, tais como a força do traço, direção e posição do desenho, entre outros, que seguindo alguns critérios de interpretação das imagens contidas nos desenhos, podem revelar aspectos da personalidade, já que o desenho é a projeção do “Eu” e do processo que está sendo vivenciado naquele momento. Na criança, isto é mais evidente, pois ela não tem a preocupação primordial com a representação do real, ela não desenha o que vê, mas o que sabe e o que sente.
Percebe-se na análise dos desenhos que todas as crianças obtiveram aumento no número de itens corporais (maior consciência das partes do corpo), algumas obtiveram avanço de um estágio mais remoto do desenho infantil para outro mais elaborado, como por exemplo, passagem da garatuja para o estágio pré-esquemático (avanço cognitivo) e, muitas delas tornaram os traços mais harmônicos (domínio do movimento) e utilizaram melhor o espaço gráfico (conquista do espaço físico).
Quanto às contribuições da prática de Dança para este grupo de crianças, de uma maneira geral, pôde-se observar melhorias significativas nos seguintes âmbitos:
- Estabilidade emocional_ com desenvolvimento da iniciativa, prontidão, confiança, o relaxamento de tensões e redução da agressividade.
- Criatividade_ observaram-se em vários alunos a criação de movimentos próprios, que foram, aos poucos, se desprendendo dos modelos fornecidos.
- Desenvolvimento de habilidades motoras básicas_ a dança utiliza ações básicas de movimento (marcha, corrida, salto, queda, giro) importantes no desenvolvimento motor da criança, as quais foram sendo trabalhadas no decorrer das aulas, aliadas ao trabalho de ritmo e exploração do espaço.
- Relações sociais_ as crianças aprenderam a agir como membros de um grupo adquirindo noções de regras, além da observação e da relação com o movimento do outro.
- Desenvolvimento Cognitivo_ houve esse desenvolvimento por serem as atividades motoras e as experimentações concretas os fundamentos pelos quais a criança aprende sobre ela mesma e o mundo.
- Imagem Corporal_ decorrente do trabalho corporal que propicia maior contato e percepção do próprio corpo e de suas possibilidades.
- Expressão_ por fornecer a criança possibilidades corporais de exteriorização das emoções e comunicação de idéias.
Percebe-se, portanto, que a prática de Dança traz consigo contribuições reais e efetivas no desenvolvimento da criança portadora de deficiência mental, pois lhe propicia experiências de aprendizagem centradas na participação ativa de exploração do meio, as quais se dão através do movimento corpóreo, que na infância, é o principal instrumento para a construção da inteligência, portanto imprescindível ao desenvolvimento.

Frederico Drummond - Prof Filosofia

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