sábado, 16 de janeiro de 2010

Yoga: Uma pedagogia para a consciência corporal - 1

Roteiro Para Pesquisa de Uma Didática Para Crianças com Necessidades Especiais:

Duas vivências pessoais levaram-me a pesquisa melhor os recursos do uso da expressão corporal no desenvolvimento cognitivo de criança com déficit mental:
a) Em 1997, fui aluno do curso de formação de Professores de Yoga, na Universidade de Brasília. Um dos colegas possuía um diagnóstico identificado entre as síndromes de déficit mental. Todo o grupo de alunos criou uma relação de profunda empatia, afeto e solidariedade com este colega. Após doze meses de aula ficamos com um sentimento claro que havíamos aprendido mais com este colega do que poderíamos tê-lo ensinado. Sua dedicação era singular. E aprendemos conjuntamente um novo significado para o conceito de consciência corporal.
b) Outra experiência, que acompanhei de perto, foi na área das artes cênicas. Meu irmão, que é diretor de teatro e produtor de diversas peças, desenvolveu algumas práticas de expressão corporal com crianças portadoras de Down. O resultado foi surpreendente. Mas sempre eu ficava com a pergunta: qual o alcance de tais recursos para o processo de aprendizado destas crianças?
A nossa disciplina levou-me a uma pesquisa bibliográfica sobre o tema, sobre a qual faço um pequeno resumo como se segue:
No decorrer das pesquisas e das aulas, puderam-se estabelecer algumas estratégias de ensino de Dança para deficientes mentais, em virtude de características e necessidades gerais a todo o grupo, porém sempre com o cuidado de não desrespeitar individualidades dentro deste.
Uma das estratégias adotadas foi a repetição de seqüências fixas, como por exemplo, a seqüência de exercícios de preparação, que passou a ser repetida no início de todas as aulas. Tal procedimento mostra-se eficiente, pois facilita o processo de aprendizagem da criança deficiente mental. Devido ao comprometimento cognitivo, a criança necessita de estímulos mais contínuos dos conceitos a serem assimilados. No caso do movimento, isso se torna ainda mais evidente. A cada aula, os movimentos da seqüência adotada foram gradualmente, melhor assimilados. Pela repetição, a criança refina os movimentos e explora melhor a amplitude de cada um deles, à medida que se torna mais segura do seu desempenho, já que tem experimentado o sucesso por repetidas vezes.
Outro recurso, muito eficiente, é o uso de imagens. Criar imagens, baseadas em ações concretas facilita a compreensão do movimento, pois remete a criança a uma experiência anterior que pode ser revivida pela ação do movimento proposto, como por exemplo, “lamber um sorvete” ao executar a extensão do tronco. Além de tornar a atividade mais atrativa, a imagem aproxima a relação entre o concreto e o abstrato. O deficiente mental tem grande dificuldade na abstração, necessitando sempre de ações concretas que intermedeiem este processo.
Outra estratégia é a exploração ampla e sistemática do espaço, visto que este se trata de uma extensão e um reflexo da imagem da criança do próprio corpo. Foram utilizados exercícios que conciliavam deslocamentos simples com a exploração de cada um dos três níveis espaciais (baixo, médio e alto).
No trabalho rítmico, foram utilizados ritmos simples de natureza orgânica, como por exemplo, as batidas do coração. Ritmos internos podem ser percebidos tanto pelo sentido da audição, como pela sensação tátil. Sentir e ouvir o próprio corpo são maneiras de trabalhar com dados concretos que vão sendo relacionados com a proposta rítmica da aula.
Além das estratégias mencionadas, são importantes alguns cuidados especiais quanto a algumas complicações clínicas comuns entre pessoas com deficiência mental.
• A instabilidade da articulação atlanto-axial em crianças com síndrome de Down, o que requer atenção redobrada em trabalhos de rolamentos, devendo-se também evitar movimentos bruscos com a cabeça.
• Os problemas respiratórios e as cardiopatias, também muito comuns em portadores de Síndrome de Down, devendo-se evitar, portanto, atividades extremamente exaustivas, e estar sempre orientando o trabalho de respiração e compensação das articulações e músculos trabalhados.
• Quadros de epilepsia, muito comuns em deficientes mentais, que exigem do profissional, atitudes simples, como segurar a cabeça, no caso de alguma crise convulsiva.

Frederico Drummond - prof Filosofia

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