domingo, 31 de janeiro de 2010

Serviço Secreto da PM de Santa Catarina cria clima de terror contra movimentos populares. Ações lembram ensinamentos da polícia da ditadura militar.

A edição de hoje do jornal Diário de Santa Catarina (confira abaixo) é um exemplo do uso político da P2 – serviço secreto da Polícia Militar, É incrível – mas até agente infiltrado em um movimento legal existe. A presença destes agentes (a paisano) é citada como exemplo de testemunha do que se discutia em reuniões abertas. As bandeiras do MST são mostradas como troféus de captura de material clandestino. É (quase) o fim do mundo.
Na entrevista ao Jornal a promotora Nádea Bissoli, o major Hoffmann (comandante da Policia Militar que coordenou a operação) e os Juízes Welton Rubenichi e Fernado Seara Hickel se contradizem em suas declarações. No relato que fazem até dois moradores da região tinham sido recrutados como “agentes” para informar a PM sobre as reuniões públicas do MST. Só vi isto antes na época do regime militar, quando nossos partidos eram infiltrados pela polícia.
Não é possível calar. Não temos o direito de calar. Logo em um estado em que o vice-governador, o Sr Leonel Pavan (PSDB para variar) é denunciado por uma série de crimes (estes sim, muito graves). Não vi nenhum PM, nenhum juiz, nenhum promotor mandar prender o Sr Pavan, que denunciado continua no exercício do cargo. Segue abaixo texto integral do Diário de Santa Catarina:



PRISÕES NO MST
Guerra de versões

A semana terminou sem aquela que, de acordo com a Polícia Militar (PM), o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) e o Judiciário, seria a principal investida do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na região Sul de Santa Catarina. Uma investigação seguida de prisões teria impedido invasões de áreas públicas em Imbituba. Mas, como é comum neste tipo de episódio, a guerra de versões e motivações ganha tanta visibilidade quanto a operação policial em si. Enquanto os representantes do Poder Público garantem ter agido dentro da lei e em defesa da sociedade, o MST questiona principalmente a prisão do seu principal líder, Altair Lavratti. Representantes do movimento desafiam as autoridades a mostrarem provas como áudios e vídeos que afirmam ter e que deram base às prisões. As autoridades usam argumentos como o segredo judicial para não exibirem as evidências que asseguram ter. O DC revela detalhes do episódio mais turbulento da semana no Estado.

Lavratti e a “cilada”

Os responsáveis pela investigação afirmam que o MST pretendia ganhar visibilidade em Imbituba ao invadir a abandonada Zona de Processamento e Exportações (ZPE) ou o terreno do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os acusados afirmam ter sido vazio e superficial o trabalho desenvolvido pela investigação policial. Um dos questionamentos diz respeito à prisão de Altair Lavratti.

Coordenador do MST em SC, bacharel em Direito e assessor do deputado estadual padre Pedro Baldissera (PT), Lavratti foi preso numa cena em que a maioria dos presentes eram policiais militares. Dos oito que estavam no local além dele, seis eram os chamados P-2 (PMs à paisana). Outras duas pessoas eram da comunidade, mas também estavam a serviço da PM. Ou seja, sabiam da intenção da operação em prender os participantes do MST e simulavam estar ao lado do movimento.

Para o comandante da PM em Imbituba, major Evaldo Hoffmann, a infiltração dos policiais e informantes faz parte da investigação sigilosa que descobriu a reunião de pessoas para praticar atos ilícitos. No entendimento do oficial, ficou demonstrado que o grupo faria pagamentos de R$ 2 mil para cada 10 famílias recrutadas para a invasão. O policial avalia que também ficou evidente a formação de quadrilha para prática de incitação à violência, dano e retirada à força da posse de um bem imóvel. Dos três presos, dois não são de Imbituba, mas estavam na cidade quando a PM cumpriu os mandados.

Militantes do MST e o próprio Lavratti enxergam motivação política por trás da prisão do grupo – três pessoas ligadas ao MST estão presas e uma quarta está foragida. O major nega ato político ou atitude para criminalizar movimentos sociais.

Grampos resumidos

Coube à PM de Imbituba e ao Ministério Público a análise dos grampos telefônicos autorizados pela Justiça. O conteúdo está em sigilo judicial e não foi divulgado. Nos relatórios da PM a que o DC teve acesso, há poucas menções objetivas sobre os diálogos.

As conversas aparecem de forma resumida e não são transcritas conforme aconteceram.

Para Lucídio Ravanello, da coordenação estadual do MST/SC, há necessidade de se mostrar os supostos diálogos incriminadores. Na avaliação dele, a situação foi forjada, inventada, principalmente no que se refere ao suposto prêmio em dinheiro que seria dado às famílias e aos arregimentadores.

Na maior parte dos diálogos dos relatórios, o interlocutor é Dilson Ramos, dirigente do Sindicato dos Mineradores de Criciúma, e não Altair Lavratti. A investigação começou por Dilson, mas o foco no final acabou sendo o coordenador do movimento.

Na decisão do juiz de Imbituba Welton Rubenich sobre as prisões preventivas, também não há transcrição das interceptações telefônicas. O juiz não quis dar entrevista sobre o assunto.

Sindicato paulista

Os integrantes da força-tarefa enfatizaram que os líderes do MST faziam reuniões e andavam em Imbituba para combinar as invasões. A PM diz que as famílias eram orientadas a portar armas no momento da invasão. Afirma ter provas em vídeo mas não as mostrou.

Outro fato do qual a PM se diz convicta é o apoio do Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados de São Paulo ao movimento. A sede do sindicato foi inaugurada recentemente com participação do presidente Lula e da ministra Dilma Rousseff.

O líder Altair Lavratti teria sido filmado andando em Imbituba no Celta com placas de Florianópolis, de uma locadora do Bairro Estreito, na Capital.

O major Hoffmann garante que a locação do veículo foi paga pelo sindicato paulista, mas admite ter extraído esta conclusão de um contato informal de PMs com a locadora. O DC procurou a empresa na Capital, mas um funcionário disse que só pode fornecer para clientes os dados sobre locações.

diogo.vargas@diario.com.br
DIOGO VARGAS


Fonte: http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a2794561.xml&template=3898.dwt&edition=14007§ion=846

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