sexta-feira, 5 de agosto de 2011

APOLOGIA DE SÓCRATES - Platão e a greve de fome das professaras de Ipatinga (MG)

Acabo de ler um comunicado no Portal Vi o Mundo informando que professoras de Ipatinga (MG), em um ato limite, pelo descaso da administração pública nos pleitos dos educadores por melhores condições de trabalho, resolveram entrar em GREVE DE FOME. Sem dúvida um ato de despero daqueles que percebem a total insensibilidade dos nossos governantes e colocam a própria vida como último recurso na busca da verdade.  Em seu Blog a coordenadora estadual do Sind-UTE-MG, Beatriz Cerqueira faz o seguinte comentário:
"Desde o anúncio de que as diretoras do Sind-UTE/MG – subsede de Ipatinga, Cida Lima e Feliciana Saldanha iniciaram uma ‘GREVE DE FOME’ contra o descaso da administração municipal com a Educação, seus profissionais, pais, mães e alunos, tem ouvido diversas análises e indagações. A principal delas tem relação com os efeitos desse ato. Os questionamentos são decorrentes da constatação do assombroso grau de irresponsabilidade política e da falta de sensibilidade da administração municipal com as demandas populares. Além disso, a sociedade capitalista vê sempre a vida como um ato de sobrevivência, o trabalho como batalha para ganhar o pão e a relação humana como concorrência. Numa cultura assim, a luta coletiva e a busca do bem comum parece ser mais do que utopia. Parece ingenuidade, falta de maturidade política.(...)" -  http://blogdabeatrizcerqueira.blogspot.com/

Este ato das professoras de Ipatinga nos traz à lembrança uma de nossas aulas de filosofia sobre o texto
APOLOGIA DE SÓCRATES, escrito por Platão. Eis abaixo o texto dos nossos comentários:

(...) Amor é compromisso
com algo mais terrível do que o amor?(...)
(Poema: Mineração do Outro – Carlos Drummmond de Andrade)


Um texto escrito por Platão citando outro filósofo paradigmático e, que independentemente de ter sido historicamente real, é tão real quanto a força dramática do trecho do poema de Drummond de Andrade transcrito acima.

Qual a essência da “Apologia”? – De uma forma quase grosseira, diria que a obra é um libelo em defesa da Verdade. Mas de que verdade estamos falando, uma vez que esta verdade é um compromisso com uma coerência, daquilo que Sócrates tinha como mais valioso que a própria vida. A Verdade pode ser terrível? Sem dúvida e, nesta medida, ela chega ser “não humana”; ela é divina. É uma medida da dimensão absoluta de Deus, assim como acreditava Sócrates.
Sendo acusado de subverção e de ateísmo, Sócrates é levado a julgamento e finalmente, condenado à morte.
Na Apologia Platão pretende reproduzir a defesa de Sócrates perante seus acusadores e sua postura perante a sentença.
Para Sócrates, ao acusá-lo, seus juizes praticavam um ato ignóbil, injusto e maldoso. Cabia a Sócrates através dos seus argumentos impedir seus juizes de cometer uma maldade; esta era o sentido de sua defesa. Sócrates não receava sua condenação; mas sendo condenado, não teria sido capaz de impedir os seus juizes de alcançar a verdade.
Assim podemos dizer de nossos colegas educadores.Uma luta que se iniciou (e continua) pelo cumprimento de uma Lei Federal pelo governo de MG, na implantação do Piso Nacional de Salário, hoje vai além disto. A luta de todos nós alcançou a dimensão que que nos ensina Paulo Freire, educador que anda meio esquecido das atuais gerações, como prática de educação para a liberdade:

"Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda."


Desta forma ter Paulo Freire e os escritos de Platão como referência nos auxilia em perserverar na construção de uma sociedade justa. Talvez este seja um dos nossos maiores desafios hoje: re-humanizar os espaços em que vivemos como prática liberdade, iniciando com o próprio espaço das escolas em que lecionamos.
No momento é difícil avaliar as consequências do corajoso ato das colegas de Ipatinga, mas sem dúvida temos um responsável: o descaso da administração pública com a educação.
 
Frederico Drummond - Professor de Filosofia

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