sábado, 3 de abril de 2010

Autogestão e identidade: a experiência dos trabalhadores da Metalcoop

Tomar contato com este trabalho do meu amigo Egeu é de um valor singular. Egeu faz seu doutorado investigando o processo de construção da identidade do chamado sócio-trabalhador. Pessoas que eram empregadas e passaram a ser sócias de uma empresa cooperativa. Mas não só, como cooperativas assumiram a identidade de proprietários cooperados e trabalhadores cooperados. Egeu vem investigando este processo nos últimos 10 anos. O valor do seu trabalho é inquestionável. Confira:


Olá amigos e velhos companheiros

Finalmente defenderei minha tese de doutoramento!

Será dia 08/04, próxima quinta, às 9h (da manhã), no Instituto de Psicologia da USP, no auditório do Bloco G. O tema da pesquisa foi a identidade dos trabalhadores das empresas autogeridas, tanto em seu vértice social, quanto pessoal.
Segue abaixo o título e o resumo da tese, que se for aprovada estará disponível em breve no Banco de Teses da USP (www.teses.usp.br).

Abraços a todos,

Egeu Gómez Esteves
55 11 9808-4420
e-mail: egeu@usp.br

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TÍTULO:
Autogestão e identidade: a experiência dos trabalhadores da Metalcoop

RESUMO:

A consolidação das iniciativas de Economia Solidária fez emergir diversas questões para investigação da Psicologia Social. O foco deste estudo é a construção da identidade de cooperador nas cooperativas industriais autogeridas, provenientes da recuperação de empresas falimentares por seus trabalhadores.
Nestas cooperativas, os antigos empregados se tornaram cooperadores, surgindo assim um novo agente social e econômico: o sócio-trabalhador. Como tais cooperadores são geralmente ex-empregados da antiga empresa, o objetivo deste estudo foi descrever e interpretar como ocorre a mudança da identidade de ex-empregado para a de cooperador.
Trata-se de questão relevante, uma vez que diversos pesquisadores observaram dificuldades na apropriação simbólica desta identidade por parte dos trabalhadores, fato que atribuíram à "herança cultural do taylorismo-fordismo". Entretanto, como hipótese, esta pesquisa atribuiu tais dificuldades à manutenção deste modelo de produção na realidade laboral dos trabalhadores.
O referencial teórico adotado foi a Teoria Social da Pessoa, do psicólogo social George Mead. De acordo com esta teoria, compreende-se a pessoa (Self) como fenômeno
dialógico-histórico-vital, formado nas interações simbolicamente mediadas com dois tipos de 'outros'. Daí pode-se compreender uma dupla modalidade da existência social da pessoa: a primeira relativa à pessoalidade (personal Self), conformada perante 'outros significativos' (significant others), a segunda à identidade social (Self), conformada perante 'outros generalizados' (generalized others).
Deste referencial derivaram duas proposições, pelas quais a mudança identitária destes trabalhadores dependeria: da construção de uma identidade normativa de cooperador; e da performance da identidade de cooperador pelos trabalhadores, que poderia ser facilitado pela construção da autogestão na produção e dificultado pela manutenção do modelo taylorista-fordista.
Este é um estudo etnográfico e foi realizada com trabalhadores da Metalcoop (Salto - SP), tanto por meio de conversas durante o cotidiano de trabalho, como também por meio de quatro entrevistas prolongadas nas quais eles falaram sobre a cooperativa e sobre suas 'histórias de vida de trabalho'.
A interpretação desta conversação derivou na identificação de três posições simbólicas formadas durante a constituição da cooperativa, às quais os cooperadores e funcionários podem aderir: 'vanguarda', 'pró-vanguard'’ e 'retaguarda'. Destaca-se que a vanguarda liderou a constituição da cooperativa e da identidade normativa de 'cooperador engajado', pela qual um cooperador deve ser: responsável e dedicado ao trabalho; engajado no grupo; exemplar para os funcionários; inteligente na produção; atento ao conjunto e envolvido com a cooperativa.
A pesquisa concluiu que a apropriação simbólica da identidade normativa de 'cooperador engajado' depende da possibilidade de sua performance, fato que,
para grande parte dos trabalhadores, é dificultado pela falta de autonomia para modificar o trabalho e pela fixidez em um posto de trabalho rígido. Tais dificuldades resultam em uma 'identidade em crise', já que é impelida pela vanguarda e, simultaneamente, impedida de se perfazer pela vivência cotidiana de um trabalho prescrito e fixo que dificulta sua performance.
Ao fim, discute-se possibilidades de uma reorganização sócio-técnica que torne o cotidiano laboral e comunicativo mais condizente com a construção e negociação da identidade de cooperador.
Palavras Chave:
Trabalho; Identidade; Psicologia Social; Autogestão; Cooperativismo; Economia Solidária.

ESTEVES, E. G. (2010). Autogestão e identidade: a experiência dos trabalhadores da Metalcoop. Tese de Doutorado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo.

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