segunda-feira, 19 de abril de 2010

1964 – PRAÇA DOM CARMELO, SETE LAGOAS, MG - "Manual de Sobrevivência no Silêncio das Gerais"

O ano de 1964 me colheu aos 16 anos. Pouco mais que um garoto. Aliás, este foi o argumento que alguns companheiros da época, deram a meu favor quando interrogados por um sargento do Tiro de Guerra, que de repente virou autoridade máxima em Sete Lagoas, por conta de um famigerado golpe militar; o golpe de 64. Estes fatos ocorreram no dia 1º de Abril de 1964. Na véspera, o tal sargento havia me bordado com truculência, na Praça Dom Carmelo, em frente à Lagoa Paulino. Eu distribuía um pequeno jornal que fazia a denúncia de que estava em marcha no país uma tentativa de ruptura da ordem constitucional. O exército, com o apoio dos setores mais conservadores do país, estava dando um golpe para depor um presidente constitucionalmente eleito, o ex-presidente João Goulart. Meu crime, aos 16 anos, era este: denunciar a ruptura da ordem constitucional. Dias antes, um seminário organizado por integrantes da Juventude Operária Católica, - JOC, no Colégio Dom Silvério, para debater a reforma agrária, fora interrompido por um grupo de fazendeiros, que à cavalo, se postara a frente do colégio ameaçando invadi-lo. O desfecho foi negociado pelo Bispo Dom José e o seminário terminara ali mesmo. Um clima de medo, ameaças e truculência tomou conta da cidade. Nestes dias uma guarnição de Belo Horizonte do exército havia cercado e invadido o Seminário Menor de Sete Lagoas. Foi um ato de violência e covardia do destacamento do exercito contra os seminariastas. Nesta época era reitor do seminário o padre Miguel, que juntamente com um grupo de padres espanhóis faziam a difusão os princípios da Doutrina Social da Igreja Católica, segundo o Concílio Vaticano Segundo. Vale registrar um texto retirado no seguinte endereço eletrônico: http://pt.wikipedia.org/wiki/A%C3%A7%C3%A3o_Cat%C3%B3lica_Brasileira. :
“(...)No pós-guerra, com a derrota do Fascismo, a liberação da Europa e a crescente influência de pensadores católicos humanistas - como Emmanuel Mounier, Teilhard de Chardin e Jacques Maritain - além da presença no Brasil, na década de 1950, do Padre Louis Joseph Lebret (1897-1966), dominicano francês ligado ao movimento Economia e Humanismo, o pensamento social católico brasileiro sofreu grandes transformações. No início da anos 1960, já sob o pontificado de João XXIII, o Concílio Vaticano II, suscitou uma cisão ideológica da Igreja no Brasil, em uma corrente mais à esquerda, liderada por Dom Hélder Câmara, e outra à direita, ligada a Dom Jaime de Barros Câmara e Dom Vicente Scherer (...)”
Este clima de consciência política e social era a tônica do período. De 1964 a 1980 passaram-se 16 anos. Muitos de nós participavam da resistência contra o regime de exceção. Nós, militantes da resistência, buscávamos a reconstrução da democracia e de uma sociedade socialmente mais justa. E nesta busca encontrei pela frente um projeto generoso, que se reunia sob o nome de Partido dos Trabalhadores – PT. Começava aqui uma nova saga.

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