domingo, 28 de junho de 2009

Escola de Frankfurt: os desafios de pensar a indústria do entrenimento na atualidade

“(...)Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera(...)”.
(Trecho de A Flor e a Náusea - Carlos Drummond de Andrade)


Falar no significado da Estética no período contemporâneo encontra uma excelente síntese neste trecho de um poema de Carlos Drummond. Tomado pela angústia de um prisioneiro de si mesmo, o poeta se questiona sobre seus limites: devo seguir até o enjôo? Posso sem armas revoltar-me? Como romper esta prisão se “O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinação e espera?”.
Das bibliotecas colhemos toda sorte de reflexões e modelos conceituais que buscam retratar os caminhos para a educação.

“Preso à minha classe” inicio esta reflexão reproduzindo comentários sobre pontos de vistas de um dos mais proeminentes pensadores da cultura contemporânea - o alemão Theodor Adorno (1903-69).

Recentemente o jornal da Folha de São Paulo lançou uma coleção com o pretensioso nome de"Folha Explica". E um dos títulos publicados foi precisamente um trabalho sobre Adorno elaborado com a chancela do professor Márcio Seligmann-Silva, doutor pela Universidade Livre de Berlim, professor de teoria literária e literatura comparada da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e autor de "Leituras de Walter Benjamin". Em uma resenha sobre este livro Seligman faz o seguinte comentário:
“A obra de Adorno não pode ser desvinculada de sua recepção --e, nesse sentido, é importante recordar como outros comentadores, já desde o final dos anos 60 e início dos anos 70, reportam-se à relação existente entre o nascimento mais intenso do interesse por essa obra e os movimentos estudantis da década de 60. O próprio Adorno notou as semelhanças entre a rebeldia de então e a que marcara os anos 20, em seus tempos de estudante. Seus escritos serviram em parte para alimentar a rebeldia e a crítica radical da sociedade dos anos 60. Mesmo que ele próprio, como veremos, tenha estado --tragicamente-- no alvo daquela crítica, não podemos esquecer esse elemento de libertação e insatisfação profunda com o mundo que se apresenta como traço definidor de sua obra.”
Mas afinal qual é a maior contribuição de Adorno para conduzirmos uma reflexão sobre o significado da produção cultural em geral e da estética em particular no mundo contemporâneo.

Vamos partir de alguns conceitos centrais no pensamento de Adorno relacionado à produção cultural no espaço do modo de produção capitalista. Segundo Adorno a indústria cultural, é um instrumento de opressão que camufla as contradições do capitalismo apontadas por MARX, sendo sua função homogeneizar e estimular o indivíduo à produção.
Em um artigo intitulado a INDÚSTRIA CULTURAL: UM DEBATE INESGOTÁVEL, de autoria de Eduardo Henrique M. L. de Scoville (http://www.fag.edu.br/adverbio/artigos/industria_cultural.pdf ) o autor faz o seguinte comentário:

“O termo indústria cultural foi apresentado por ADORNO; HORKHEIMER (1985) para distinguir a cultura popular e a cultura de massa. A formulação do conceito foi decorrente de uma reflexão sobre a cultura industrializada durante o período do nazismo. ADORNO; HORKHEIMER (1985) conceberia o conceito sob o impacto da ascensão nazista na Alemanha, onde todos os ramos da indústria cultural eram totalmente dirigidos para a estruturação daquele regime.(ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 149)”

No seio destas reflexões localizamos a visão de Adorno em que ele examina toda produção estética na economia capitalista, como um processo por excelência de alienação: Adorno abandona o termo cultura de massa para designar a indústria cultural, pois este esconde o verdadeiro interesse que seria a própria submissão e afirmação da sociedade capitalista e sua estrutura. Como a definição de massa diz respeito a uma homogeneidade, a cultura é transformada então pela lógica do capital. Na verdade Adorno considera que cultura de massa não é nem cultura e nem provém das massas. Ela é regida pela repetição e pela novidade. Acaba por não expressar reflexão e nem “inquietude de espírito” e sim consolidar hábitos e expectativas.
Mas se de um lado não é possível desconhecer a robustez das críticas de Adorno à produção cultural no capitalismo, por outro é difícil não concordar que sua visão possui a forte marca do pessimismo da Escola de Frankfurt, praticamente desconsiderando os movimentos de respostas dialéticas nascidas no seio mesmo das contradições do capitalismo.

Confesso que esta é reflexão de difícil trajeto: a produção cultural é um processo verdadeiro como caminho de emancipação?
Um texto de Lêda Dantas, intitulado EDUCAÇÃO E PROJETO EMANCIPATÓRIO EM JÜRGEN HABERMAS, contém no final do artigo uma reflexão que sintetizo da seguinte forma:.
Habernas conseguiu superar, pelo menos em parte, o profundo pessimismo da Escola de Frankfurt. Pessimismo este fundado no desolamento da falta de alternativas para os modelos filosóficos que encantaram a esquerda até os anos 70. A idéia de emancipação como processo revolucionário mostrou-se uma quimera, ganhando corpo o desalento e desencanto por uma metodologia de educação que resgatasse os humanos do tédio e da “náusea” (“Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta” Drummond de Andrade).

É uma utopia e por mais estranho que pareça a alguns e, por mais desconfortável para aqueles que preferiram “abandonar o barco”, nosso referencial continua sendo a nossa história. E é nesta história da jornada humana que nos inspiramos e buscamos referências no brilhante pedagogo Paulo Freire:

“(...)O movimento para a liberdade, deve surgir e partir dos próprios oprimidos,”(...) e a pedagogia decorrente será " aquela que tem que ser forjada com ele e não para ele.

Este trecho constitui uma qualificada síntese do que constitui a promoção da educação para a cidadania. A filosofia cultural assim vista não perde a perspectiva de suas condicionantes históricas: o exercício da cidadania é um caminho de recuperação da humanidade. E cidadania aqui é a ação que transforma e que tem na educação sua fonte de alimentação.

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