segunda-feira, 29 de março de 2010

O talento de João Drummond e a tradição dos Terapeutas do Deserto.

Recebí o texto abaixo de João Drummond. O valor do texto é auto-expicativo. Não precisa dos meus comentários. Neste texto, João, realiza sua dimensão de terapeuta transpessoal. E, talvez, ainda sem o saber, filia-se a um grande tradição iniciada por Fílon de Alexandria, os Terapeutas do Deserto e, hoje, cultivada pelo Colégio Internacional dos Terapeutas. Sobre as bases desta tradição Roberto Crema nos diz: " A tarefa considerada primordial para os Terapeutas era cuidar, já que é a Natureza que cura." Outra tradição importante nesta linha proposta por João Drummond está configurado no arquétipo de "Quíron": o curador ferido. Sua própria dor o encaminha para a compaixão aos seus semelhantes. Todos os grandes xamãs possuem este dom. As experiências/pesquisas de João transitam por estes muitos espaços. Confira:

Psiquê, Família e Sociedade
(O Castelo)


O Castelo começou a ser escrito em 2003, durante um processo de psicoterapia que eu desenvolvia dentro do Grupo Expressando.
Já na idade adulta e bastante esgotado e descrente quanto às possibilidades de cura dos meus medos, percebi logo, que a Biodança oferecia algumas inovações em relação a outras terapias que eu tentara até então.
Estas inovações se constituíam por retirar a abordagem terapêutica de um nível mental para o plano da emoção e da intuição, dentro de um processo de interação coletiva.
O Castelo foi trabalhado dentro deste processo como forma de recriar os fenômenos envolvidos nos distúrbios de adaptação social que me aprisionavam desde a mais tenra infância, com conseqüentes profundos prejuízos ao meu desenvolvimento profissional e social.
A idéia de se criar um mundo paralelo para onde possamos transportar esta realidade esmagadora, muitas vezes insuportável que a selva de pedras nos impõe não é nova.
As fabulas, os mitos e os contos têm esta prerrogativa de estabelecer representações daquilo que chamamos realidade, só que a uma distância tal que permite-nos sair dos epicentros das tormentas que nos envolvem e nos arrastam para abismos existenciais.
Ao contarmos uma história representativa destas realidades, saímos da condição de protagonista para a de narrador da trama, nos colocando como observadores privilegiados de todo o processo.
Tratar de temas que envolvem os fenômenos psíquico-emocionais, na condição de leigo não é tarefa fácil.
Isto porque temos dificuldades de separarmos dentro de nós o medico do paciente.
O auto-envolvimento nos fenômenos da psique, nos levam, via de regra ao labirinto do “Minotauro”, onde as saídas conquanto próximas, desaparecem nas redes subterrâneas entrelaçadas dos nossos complexos.
Creio que muitos terapeutas têm seu interesse inicial pela psicologia numa busca pelas ferramentas e conhecimentos que lhes permitam entender e superar suas próprias fragilidades.
Só que ao tratar dos fenômenos em questão o fazem como especialistas e não como ex-pacientes, porque é parte de sua áurea de autoridade profissional não expor fragilidades mesmo que já superadas.
Para a sociedade “quem foi rei nunca perde a majestade” ou “ou pau que nasce torto, morre torto”, como forma de dizer que não crer na cura, superação ou transformação do ser humano.
Quem se disporia a tratar com um terapeuta que, no passado sofreu de distúrbios idênticos aos seus?
A minha idéia aqui é justamente tratar destas questões, não como terapeuta, mas como ex-paciente que viveu na pele todos os processos de inadequação social, com suas conseqüências funestas e dolorosas.
A minha cura efetiva ocorreu na idade adulta, quando parte de mim já desistira da luta.
Entendi então que toda cura é auto-cura e parte de uma decisão determinada do paciente, onde o terapeuta é apenas facilitador do processo.
Digo apenas, sem desmerecer sua atuação, porque na maioria das vezes, sem ele, podemos continuar nos debatendo contra nossos fantasmas em redes cada vez mais emaranhadas e mais distantes da cura.
Não podemos, no entanto nos eximir de nossas responsabilidades naquilo que temos de mais sagrado, a nossa realização pessoal e a conquista e desenvolvimento de nossos talentos.
Jogar todas as fichas no terapeuta é deixar nas mãos de outrem aquilo que de nossa exclusiva competência.
É criar um “salvador da pátria” em nossas vidas perpetuando definitivamente nossas dependências e fragilidades.
Qualquer terapia pode nos fornecer asas para voar, ou muletas para caminhar precariamente. Depende de nós.
Nossas muletas vão permitir que levemos uma vida, muitas vezes razoavelmente boa, conquanto limitada.
Com nossas asas, conquistadas num embate difícil contra as forças limitadoras e castradoras que “O Castelo” os impõe, podemos finalmente liberar e expandir nossos talentos, dentro da ordem primordial do Universo, que é “crescer e multiplicar”.
A grande experiência humana é construída dentro de um processo de erros e acertos, que vão compondo o acervo do conhecimento Humano.
As gerações que chegam se valem dos mapas traçados pelos pioneiros e recebem o bastão para dar continuidade ao avanço da evolução.
O Castelo começou a ser escrito a partir de uma pergunta simples que me fiz.
“Porque eu tinha tantas dificuldades em freqüentar ambientes sociais, a começar pelo familiar”.
A família pode ser considerada como primeiro espaço onde exercitamos nossas habilidades sociais, e ser bem sucedido neste espaço é crucial para nosso sucesso pessoal e profissional.
A resposta que me apareceu na mente não foi racional, mas na forma de imagens, como num filme.
Vi-me no meio de uma floresta, em exílio e lá ao longe, a torre alta, do Castelo, projetando sua sombra sinistra sobre todo o vale. E aí começou a história.
O Castelo ao ser escrito, ofereceu-me o cenário medieval, com soluções neuro-lingüísticas que me facilitaram o retorno, quase que imediato para o seio da minha família e da sociedade, onde já me via como renegado.
Ser bem sucedido em família não significa ficarmos sob sua tutela e condescendência, mas nos tornarmos parte do seu processo coletivo de cooperação.
Aquelas respostas que apaziguaram minhas relações familiares e sociais, e redundaram a seguir num vigoroso processo de criação literária, podem, quem sabe, fornecer subsídios para quem se sente prisioneiro de seu próprio castelo.
Como aqueles mapas que me referi anteriormente, O Castelo pode oferecer uma trilha dentro da representação subconsciente, e permitir que outros prisioneiros encontrem suas próprias saídas rumo a sua liberdade de expressão e criação.
Para que O Castelo cumpra este objetivo vou incluir um anexo com a contribuição de especialistas e pessoas que se sentem limitadas, boicotadas e prisioneiras das suas engrenagens.
Nossa proposta é tratar aqui de todos os distúrbios de cunho psíquico/social que limitam do ponto de vista pessoal, o pleno desenvolvimento e o aforar dos talentos.
Estes distúrbios inserem um largo espectro de fenômenos que recebem por suas peculiaridades, nominações diversas.
Timidez, introversão, fobias sociais, bipolaridade, depressão e outros que serão acrescidos há seu tempo.
Quem quiser ceder seu depoimento sem se expor pode usar pseudônimo e fazer parte deste trabalho interativo e inovador, contribuindo e se beneficiando das experiências de terceiros.
A busca de nossa melhor capacidade e nossos talentos é uma ordem determinante que vibra pelos tempos e espaços dentro do plano da criação.
Nossa realização pessoal depende de sabermos responder ao chamado da Alma que ecoa na Eternidade.

Ajude a alguem que você preza dando um breve depoimento.


(*)João Drummond é jornalista, escritor e crítico social. Realiza pesquisa avançadas na área da abordagem transpessoal.

Nenhum comentário: