segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

GIL, CAETANO, TROPICALISMO E SARTRE: "Nada no bolso ou nas mãos"

Fui solicitado a apresentar num plano de aula para alunos 1° ano do ensino médio de uma escola pública, alguns elementos sobre os principais pensadores contemporâneos, da corrente existencialista. Não é um desafio simples. Em sua grande maioria os alunos do ensino médio das escolas públicas não possuem qualquer domínio do referencial conceitual de filosofia. Existe uma dificuldade elementar até mesmo na pronúncia do nome de alguns dos filósofos mais notórios do período contemporâneo.
Por outro lado nosso objetivo aqui é identificar as inquietações que alimentaram as reflexões filosóficas e que de alguma forma compuseram os cenários históricos do período compreendido entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX até os dias atuais. Sabemos que a filosofia está profundamente ligada com as inquietações humanas, motivadas pelos fatores econômicos, sociais, culturais, éticos, estéticos de um determinado período da história.
Será, portanto, a partir deste eixo que encaminharemos nossas reflexões. Afinal como viviam e o que pensavam os humanos na segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Como trabalhavam, em que acreditavam, quais eram suas esperanças e seus sofrimentos? Neste cenário iremos buscar alguns pontos de referência no existencialismo, segundo o pensamento de Sartre.
Embora muitos considerassem o existencialismo como uma falta de compromisso com a vida e uma forma de alienação, foi o próprio Sartre que, com seu exemplo pessoal, demonstrou a importância do engajamento político como forma de construir a liberdade. Esta visão trouxe uma grande influência na cultura brasileira, como podemos ver na leitura deste texto, que reproduzimos, de uma tese de mestrado intitulada NADA NO BOLSO OU NAS MÃOS “INFLUÊNCIAS DO EXISTENCIALISMO SARTREANO NA CONTRACULTURA BRASILEIRA - 1960-1970 - Walmir dos Santos Monteiro - Universidade Severino Sombra - Mestrado - Orientador: Prof. Dr. José Augusto dos Santos - Vassouras-RJ- 2007.
Vale a pena conferir o texto integral:http://pt.wikipedia.org/wiki/Existencialismo - acesso outubro 2008.

A frase “nada no bolso ou nas mãos” que dá título a este trabalho serve como exemplificação simbólica de toda a influência do existencialismo sartreano na contracultura brasileira. No texto completo que consta no livro “As Palavras”, de Sartre, que inclusive é sua única descrição autobiográfica, ele diz que aprecia em sua própria loucura o fato de ela o proteger das seduções da elite. E continua, declarando que nunca se iludiu com o próprio talento, pois seu objetivo era tão-somente “salvar-se”. Nada no bolso ou nas mãos, pelo trabalho e pela fé. Sartre termina o trecho dizendo que sua opção não o colocava acima de ninguém, e quando diz que estava sem equipamentos, sem ferramentas, era o mesmo que dizer “nada no bolso ou nas mãos”. Em síntese, todo esse trecho se refere a uma doutrina básica do existencialismo, a afirmação de que o homem é lançado ao mundo sem prévia definição do que é ou será, pois nada trazemos ao mundo que possa definir o que, efetivamente, seremos. Isto é básico no existencialismo. E é uma idéia da qual a contracultura se apropriou. Sartre, no início do texto, fortalece a idéia de que a existência é construída passo a passo, e o que (ou quem) ele – ou qualquer pessoa – era (ou é), resulta de sua própria vivência, e não de algo que com ele tenha surgido no mundo. Quando Sartre diz que seu único negócio era “salvar-se” refere-se ao processo de definição (pessoal) da própria existência, ou seja, a missão de cada um em sua construção pessoal. Ainda, no final, nos relembra que quando defino minha existência, defino a de todos os homens, uma vez que um homem representa a todos os outros, conforme entendimento existencialista.”

Para nossos alunos este é o nosso convite: pesquisar o papel e o significado do Tropicalismo, no Brasil, em um momento de grande efervescência política, período (60 a 70) em que o esforço político e cultural voltava-se para formas de resistência ao regime militar de 64.

2 comentários:

Bárbara disse...

Muito interessante...queria ler mais sobre o assunto...(existencialismo e contracultura brasileira). Pode me indicar algum texto?

WALMIR MONTEIRO disse...

Leia a Tese de Mestrado de Walmir Monteiro - Nada no Bolso ou nas mãos.