sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A ARTE DA MANIPULAÇÃO: IBOPE, LATIFUNDIOS E MST

Tenho mantido, neste Blog, uma posição de reserva quanto ao que é divulgado na mídia sobre o MST. A razão é simples: primeiro porque conheço muitos dos dirigentes do MST e posso testemunhar pela seriedade deles. Durante os últimos nove anos convivi muito de perto com estas lideranças. Em segundo lugar, como um profissional experiente na área de pesquisa de opinião e mercado (fui diretor da Enquete por mais de 10 anos), conheço muito bem como fácil manipular dados destas pesquisas. Já vi alguns profissionais misturar interpretações de dados resultantes de pesquisas qualitativas com pesquisas quantitativas. Nas pesquisas qualitativas usa-se expedientes como dizer - "a maioria dos entrevistados disse isto ou aquilo", porque neste caso não é possível dar um tratamento estatístico como ocorre nas pesquisas quantitativas. Outro tipo de manipulação é o uso de amostras, que pelo tamanho ou por falta de qualificação em relação ao universo pesquisado a margem de erro dos resultados encontrados é muito elevada. Vamos tomar um exemplo: em estatísticas, para os chamados universos infinitos (população de uma cidade por exemplo) uma amostra de 100 elementos, representativa do perfil da população, trabalha-se com um coeficiente de segurança de 90% e um erro amostral de 10%. Se eu digo, neste caso, que 20% dos entrevistados deu a opinião X, o valor da afirmativa é a mesma que dizer que 30% afirmou Y, porque estou no limite máximo e mínimo do erro amostral. É o conhecido empate técnico muito citado nas pesquisas políticas. Isto posto vou reproduzir aqui o que disse um relator da ONU a respeito do MST:
Há uma estratégia para descredibilizar o Movimento dos Sem Terra. Um indicador disso é o estudo recente encomendado pela Confederação Nacional da Agricultura ao Ibope que pretenderia tirar conclusões com base em nove assentamentos, dos 8.000 que há pelo país. Como professor de universidade eu não aceitaria esse tipo de porcentagem", disse. O relator referiu-se a estudo divulgado no início desta semana pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), indicando, entre outras coisas, que 37% dos assentamentos agrários no país não produzem nada e 72,3% dos assentados não geram renda. O levantamento foi realizado de 12 a 18 de setembro deste ano, em mil domicílios, de nove Estados. A pesquisa foi criticada pelo presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Rolf Hachbart, que considerou a amostra insuficiente para apontar a realidade dos assentamentos. A Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) classificou de "obscura" a metodologia da pesquisa. O Ibope rebateu as críticas dizendo que a amostra representa os maiores assentamentos consolidados do país, segundo a classificação do Incra. De Schutter, que visita o Brasil esta semana a convite do governo, defendeu os trabalhadores rurais dizendo que é preciso tempo para que os assentamentos se desenvolvam. "Vi assentamentos que necessitam de meses ou até anos para conseguir desenvolver um plano de produção". "Essas pessoas precisam de apoio. As ocupações são o último recurso que encontraram", acrescentou o representante da ONU, destacando que movimentos como o MST "chamam a atenção para as muitas dificuldades que as famílias do campo sofrem"."Sei que há muita resistência (ao MST) no Brasil, mas o governo está comprometido em lidar com essa questão, que está há anos na agenda brasileira".O relator criticou a concentração de terra no país e ressaltou que são necessárias políticas específicas para grupos "mais vulneráveis", entre os quais os pequenos agricultores e os sem-terra."O Brasil avançou muitíssimo desde 2002, no entanto alguns desafios profundos permanecem, e os bolsões persistentes de pobreza e de fome são inaceitáveis", alertou.

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