terça-feira, 25 de agosto de 2009

De Maquiavel, Da Governança e Da Moral e Ética

Quando o PSDB estabeleceu seus primeiros acordos com o então Partido da Frente Liberal (herdeiro da ARENA – partido de defesa do regime militar) para construir seu espaço de governança, o filósofo e professor Artur Gianotti manteve com a filósofa Marilene Chauí um intenso debate sobre a ética de princípios e as ações políticas. O atual cenário da política nacional, que envolveu o Partido dos Trabalhadores em ações contrárias ao seu ideário, em nome da governança do país, trouxe-nos à lembrança os comentários do professor Gianotti feitos em 2005 e que vale a pena recordar:


“Política não é jogo de xadrez. No xadrez, as regras são definidas e as peças seguem movimentos estabelecidos. Na política, não. Trata-se de um jogo impreciso, que está sempre construindo suas normas. E há uma zona de indefinição que é essencial ao próprio jogo, porque é nela que germinam as novas regras. A moral tem essa zona cinzenta, mas, no caso da moral política, é na zona cinzenta que se trava a luta entre aliados e adversários.
A ética mantém com a política uma relação dialética. Devemos ter comportamentos éticos? É o que se espera. Mas eles podem nos pôr em situação de risco, decorrente de ações que serão julgadas boas ou más. Conforme o julgamento dessas ações, instala-se a crise ética e, com ela, vem uma dualidade. Há grupos políticos que, diante da crise, reagem como se dissessem "vamos combater o problema e deixar que as instituições atuem livremente". E mais: "Vamos punir e tocar adiante". Mas há grupos que fazem da ética a sua bandeira, daí a coisa complica. Apresentam-se como portadores de um saber capaz de solucionar qualquer problema do país. Os auto-proclamados éticos não podem ser flagrados num ato de imoralidade, porque negarão sua bandeira.” (GIANOTTI, J.A – 2005 – Artigo ) “



Este visão de Gianotti foi duramente combatida pela militância do PT, inclusive por mim, que considerou uma visão enviesada pelo pragmátismo de feição maquiavélica. Mas se o PT combatia o pragmatismo o fazia com uma visão moral fortemente fundamentalista (o fundamentalismo distancia qualquer senso crítico em nome de um conjunto de crenças tomadas de forma absoluta).

Ou seja o PT ficou prisioneiro de si mesmo e hoje esta crise volta a se instalar. E a pergunta que não consegue calar é esta: qual o limite moral da defesa da governança?
Iremos buscar algumas reflexões no pensamento de Nicolau Maquiavel, que 500 anos atrás elaborou sua importante obra – O Príncipe, que servirá de referência às minhas reflexões.

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