quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Correspondência do Jornalista João Drummond e a resposta do Senador Cristovam

Hoje recebí, com surpresa, um e-mail do meu irmão e jornalista João Drummond em que ele se dirige ao senador Cristovam Buarque (que conheço pessoalmente) para falar de sua desesperança política, face ao que acontece no Senado brasileiro. O João não me pediu reserva. Assim reproduzo integralmente sua correspondência e a resposta do senador:

De: João Drummond [mailto:joao.drummond@yahoo.com.br]
Enviada em: quinta-feira, 23 de julho de 2009 11:28
Para: Sen. Cristovam Buarque
Assunto: Cristovam Buarque: Lula. O Medo Venceu a Esperança?

"Nunca pensei que este dia chegaria. Desde que Lula apareceu no cenário político brasileiro, tenho torcido por ele e votado nele. Um homem humilde, saído das camadas populares, um exemplo mais marcante do trabalhador e batalhador incansável que finalmente venceu a velha política viciada das elites e das oligarquias.
A esperança num novo modelo de sociedade mais justa e humana, onde as oportunidades estariam ao alcance não só dos protegidos e predestinados das castas dos coronéis, mas também do homem comum, lutador e com talentos.
Um presidente como Lula era um orgulho para nós brasileiros. Inteligente, apesar do passado de carência, brilhante sem ter a oportunidade do estudo apurado.
Surpreendia o mundo ao discursar em órgãos internacionais, ela sua eloqüência e clarividência.
Todas as gafes e mancadas que cometeu foram perdoadas. Sobreviveu à derrocada do PT de José Dirceu, Genuíno e outros craques do seu time que foram alçados ao mais alto grau de poder da nossa política.
Lula se mostrou um sobrevivente, uma figura gigantesca, maior que seu partido e acima das querelas que alimentam a nossa medíocre política.
Afinal uma figura como ele é uma raridade no cenário da política nacional e mundial.
Tínhamos que preservá-lo e nos apegar ao que ele representava como a nossa ultima tabua de salvação e o ultimo suspiro de esperança.
Ao vê-lo defender um político como Sarney passei a refletir sobre tudo isto e reavaliar algumas crenças que estavam no arquivo de memórias, como as de "certeza absoluta".
O velho Sarney que desde a ditadura sobrevive e adquire poder com estratégia dos camaleões e das hienas.
Sempre se transmudando e se adaptando aos novos cenários e se refestelando com o repasto das carcaças podres da política que vão ficando pelo caminho.
Por isto, esta certeza dói. A de que não tenho mais em quem depositar meu voto e minha confiança.
Aquela sensação de que finalmente o medo venceu a esperança não nos abandona e que o Brasil se vê órfão de verdadeiras e autenticas lideranças, capazes de nos conduzir ao um melhor e mais promissor destino.
É duro ouvir como melhor argumento, de que a corrupção de Fernando Henrique era pior, com se nos restasse apenas à rendição à nossa natureza mais medíocre e a podridão de uma política perversa que se abate todo dia sobre nossas cabeças.
Esta impressão de que "está tudo dominado" e que as leis das gangues prevaleceram sobre a lei dos Homens e sobre a lei de Deus adquiriu voz e presença.
A barbárie tomou a cena política e por uma questão de saúde mental e psicológica temos que acreditar que Lula está equivocado ao pedir, do alto do mais importante cargo e titulo do Brasil, paciência e tolerância com a "política Sarney".
De uma coisa tenho certeza neste momento, não voto mais no cidadão Lula para cargo nenhum, porque é o que me resta para continuar acreditando na vida."

João Drummond


A RESPOSTA DO SENADOR CRISTOVAM:
De: Sen. Cristovam Buarque
Assunto: RES: Cristovam Buarque: Lula. O Medo Venceu a Esperança?
Para: "João Drummond"
Data: Quinta-feira, 6 de Agosto de 2009, 18:10


João,

"Fui o primeiro senador a ir à tribuna dizer que o senador José Sarney estava perdendo as condições políticos para se manter na Presidência da Casa. Impossível negar a responsabilidade de Sarney sobre a evolução das irregularidades que se sucedem no Senado, se foi ele o responsável por trazer para o corpo da administração da Casa os diretores que foram responsáveis por esse estado de coisas. Creio que o senador Sarney, até para preservar a sua biografia, deveria se afastar do comando do Senado e permitir que tudo fosse investigado. Agora, renúncia é um ato unilateral de vontade. Por isso, é que levantei a hipótese de um plebiscito, de uma consulta sobre a manutenção dessa situação, algo que pressionasse para uma solução dessa crise, talvez sem precedentes na história do Senado.

Agora, o que me causa estranheza é a posição dos que defendem o senador Sarney imaginando que, assim, estão defendendo o presidente Lula e o seu governo. Se criticar Sarney significa criticar Lula, então Lula piorou muito. Ainda considero Lula uma figura vinda da luta do povo, com origem popular, com uma história tão diferente da de Sarney. Acho lamentável que haja hoje quem considere os dois iguais. Em respeito ao presidente Lula, eu não o considero igual a Sarney." (grifo meu)
Abraço,

Cristovam

2 comentários:

Anônimo disse...

Talvez seria bom que o Joãone fizesse a seguinte pergunta: Porque um homem com a história de lutas de um Lula estaria apoiando o Sarney? Não seria para manter a governabilidade?

Frederico Drummond disse...

Sr Anônimo,

Reconheço seu direito a manifestar sua opinião dentro deste espaço. Todavia uma das regras deste Blog é a transparência. Por isto solicito, que no futuro, faça sua postagem identificando-se.

Atenciosamente

Frederico Drummond