domingo, 20 de dezembro de 2009

Em Copenhague: Autofagia do Capitalismo.

O texto abaixo foi publicado a edição de hoje, do jornal Folha On-line.Independente da perfomance de líder internacional, assumida (e reconhecida mundialmnte) pelo presidente Lula, o que aconteceu em Copenhague compõe o ambiente da autofagia do capitalismo. Neste momento a grande tarefa cabe aos paises que estão mais avançados na construção da Economia Social. Os próximos anos terão que compor um novo patamar de articulaçõs internacionais: o capitalismo não é ético por natureza. Então, por ai, nada a esperar, quando os lucros de curto prazo estão ameçados. O capitalismo não dará solução aos desequílibrios ambientais: este modo de produção faz parte deste desquilíbrio. Todavia, repito, uma mova ordem está sendo construida.

Nenhum dos líderes que subiu ontem ao púlpito do Bella Center, o centro que abrigou a malfadada conferência do clima da ONU, foi tão aplaudido como Luiz Inácio Lula da Silva.

Por cerca de dez minutos, 119 chefes de Estado e de governo, reunidos para tentar salvar um acordo no último minuto, ouviram um Lula tão frustrado quanto eloquente. Falando de improviso, chamou a atenção dos países desenvolvidos por falharem no que poderia ser o acordo do século e lamentou as consequências do fracasso para os países mais vulneráveis.
Lula disse que está frustrado por falta de acordo e oferece ajuda para fundo climático
Quatro longas salvas de palmas pontuaram o momento, que em nada lembrou a morna fala da véspera, quando o brasileiro elencara boas intenções sem surpreender nem cativar.
E, diferentemente da quinta-feira, Lula pôs um trunfo na mesa para tentar destravar o impasse fermentado nos últimos 12 dias: uma oferta de contribuição em dinheiro para um fundo global do clima, como a Folha havia adiantado já na quarta-feira que o Brasil faria.
"Se for necessário fazer um sacrifício a mais, o Brasil está disposto a colocar dinheiro também para ajudar os outros países", disse, sem detalhar. "Estamos dispostos a participar do financiamento se nós nos colocarmos de acordo numa proposta final, aqui."
Mas, após uma reunião com outros líderes que adentrou a madrugada e que continuaria horas depois, o presidente se mostrava sem esperança. "Se a gente não conseguiu fazer até agora esse documento, não sei se algum anjo ou algum sábio descerá neste plenário e colocará na nossa cabeça a inteligência que faltou até agora."

A fala catalisou os ânimos no evento. Minutos depois Barack Obama assumiria o púlpito com um discurso cheio de senões, em que repassou aos chineses a responsabilidade pelo fracasso que, para a maioria das delegações, cabia a ele.

Mediação

A performance de Lula contrastou não só com a do presidente americano, mas com a de sua chefe de delegação, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), que sumiu de cena quando o presidente chegou. Desde suas primeiras horas em Copenhague, Lula encarnou o papel de articulador entre ricos e emergentes.

Recebeu em seu hotel Nicolas Sarkozy (França), Angela Merkel (Alemanha) e Gordon Brown (Reino Unido), além do premiê chinês, Wen Jiabao. Os europeus, segundo o Itamaraty, procuraram Lula em busca de mediação com o G-77, dos países em desenvolvimento. Depois, o brasileiro faria a ponte entre Obama e Wen, na busca de uma linguagem adequada para atender aos dois antagonistas no texto final.

Mas os resultados do esforço não satisfizeram o presidente, que saiu do Bella Center, sem falar à imprensa, direto para o aeroporto. As pistas de seu estado de espírito transpiraram da plenária: "Todos poderíamos oferecer um pouco mais se tivéssemos assumido boa vontade nos últimos períodos."

Lula cedeu na questão financeira e, sobretudo, propôs reduções ambiciosas nas emissões de gases-estufa pelo país. Só não recuou no que o Brasil sempre pôs como inegociável: assinar um acordo que desmontasse o Protocolo de Kyoto, único documento legal contra o aquecimento global, que fixa diferenças nas responsabilidades de países desenvolvidos e em desenvolvimento. Ele expira em 2012.

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