segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

"NADA NO BOLSO OU NAS MÃOS"

A frase “nada no bolso ou nas mãos” que dá título a este trabalho serve como exemplificação simbólica de toda a influência do existencialismo sartreano na contracultura brasileira. No texto completo que consta no livro “As Palavras”, de Sartre, que inclusive é sua única descrição autobiográfica, ele diz que aprecia em sua própria loucura o fato de ela o proteger das seduções da elite. E continua, declarando que nunca se iludiu com o próprio talento, pois seu objetivo era tão-somente “salvar-se”. Nada no bolso ou nas mãos, pelo trabalho e pela fé. Sartre termina o trecho dizendo que sua opção não o colocava acima de ninguém, e quando diz que estava sem equipamentos, sem ferramentas, era o mesmo que dizer “nada no bolso ou nas mãos”. Em síntese, todo esse trecho se refere a uma doutrina básica do existencialismo, a afirmação de que o homem é lançado ao mundo sem prévia definição do que é ou será, pois nada trazemos ao mundo que possa definir o que, efetivamente, seremos. Isto é básico no existencialismo. E é uma idéia da qual a contracultura se apropriou. Sartre, no início do texto, fortalece a idéia de que a existência é construída passo a passo, e o que (ou quem) ele – ou qualquer pessoa – era (ou é), resulta de sua própria vivência, e não de algo que com ele tenha surgido no mundo. Quando Sartre diz que seu único negócio era “salvar-se” refere-se ao processo de definição (pessoal) da própria existência, ou seja, a missão de cada um em sua construção pessoal. Ainda, no final, nos relembra que quando defino minha existência, defino a de todos os homens, uma vez que um homem representa a todos os outros, conforme entendimento existencialista.”

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