quarta-feira, 21 de julho de 2010

Sem conseguir realizar uma oposição programática, em que resultou o PSDB?

Agora como farsa

O presidenciável José Serra na complexa contradança que resultou na escolha, sem dúvida surpreendente, do seu vice, revelou uma insuspeitada admiração por John McCain: se rendeu aos encantos de Sarah Palin, digo, Índio da Costa. É isso: o Índio da Costa é a Sarah Palin da campanha do Serra.

A sociedade brasileira já tem o que agradecer a esse rapaz. Mal iniciamos a campanha presidencial, ele desenha com talento, diga-se, mas sem originalidade, o script da peça que teremos diante dos nossos olhos nos próximos meses, até outubro. Em algumas semanas ele rasgou a fantasia com que o PSDB se apresentou ao país há mais de duas décadas: uma agremiação de centro, moderna, até com certas veleidades social-democratas. Índio da Costa disse a que veio: o Brasil precisa de um partido que sustente um discurso de direita, sem se envergonhar dele. Chega de se proteger nas redações da mídia tradicional. Foi necessário que um jovem parlamentar do DEM, pusesse a boca no trombone para que a sociedade brasileira conhecesse o que pensa – mas não admite... – a base social do PSDB.

A pusilanimidade dos tucanos é tal que em menos de um mês o ex-presidente da UNE, dos idos de 1964, já esgrimiu a “República Sindicalista” cunhada pela verve de Carlos Lacerda, o “Corvo”; afagou as Centrais Sindicais que apóiam Dilma Rousseff com adjetivos carinhosos “são mais pelegas que no tempo de Jango”; e, nas últimas horas, foi puxado pelo nariz pela feliz iniciativa do vice ao declarar: “Todo mundo sabe que o PT é ligado às FARC, ao narcotráfico, ao que há de pior” (FSP, 20 de julho, página A4) e foi secundado por José Serra que repetiu como um eco: “A ligação do PT é com as FARC. Mas isso todo mundo sabe”, (FSP, 20 de julho, página A4).

Nos tempos do “Corvo” vivemos a tragédia: o suicídio de Vargas. Nos tempos de Lula presenciamos a farsa protagonizada por uma oposição que propõe ao país o retorno ao cardápio oferecido por FHC ao longo dos anos noventa, cujo grande mérito foi quebrar o Brasil por três vezes. Para uma oposição ainda em busca de discurso, Índio da Costa é uma solução acima das expectativas. Mais duas ou três declarações desse quilate e Índio da Costa faz de José Serra, seu vice...

Parte importante do destempero verbal da direita responde ao objetivo de evitar o debate em torno de programas para o país. Um terreno em que ela está em evidente desvantagem. Por outra parte, na busca ansiosa por ocultar essa fragilidade, a direita aposta nas altas temperaturas. No calor das declarações provocativas repercutidas pela mídia aliada com os olhos na produção de “fatos políticos” que farão parte do repertório dos programas gratuitos na TV e no Rádio, a partir de agosto.

John McCain foi derrotado. Talvez ainda dê tempo de inverter a chapa da oposição (PSDB-DEM), de modo a lhe dar maior nitidez política e seduzir parcelas do eleitorado conservador que hoje já se afastam dos seus antigos porta-vozes para namorar a candidatura de Dilma Rousseff, em várias regiões do país, São Paulo inclusive.

As realizações do governo do Presidente Lula deram lastro e discurso à campanha de Dilma. Tornaram possível manter e mesmo ampliar a aliança partidária que lhe dá sustentação, na perspectiva de que o Brasil deve continuar mudando. E de atrair setores sociais significativos, que embora vissem inicialmente com desconfiança o governo Lula, hoje se despem de preconceitos e avaliam os resultados concretos que esses oito anos significaram para a vida do país.

Os tucanos não foram capazes de cumprir a tarefa de exercer uma oposição programática. Sua própria ambigüidade como ente político conspirou contra. Talvez esteja nas mãos do DEM o papel e a disposição para garantir à direita o espaço político indispensável para dar consistência à consolidação de uma vigorosa democracia no Brasil.

Pedro Tierra (Hamilton Pereira) é membro do Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo.

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