quinta-feira, 20 de maio de 2010

Lula não é bobo e nem ingênuo. Quem defende nossas reservas de urânio e a matriz energética limpa?

Recebí do meu colega de pós-graduação o economista Wilson, o e-email abaixo, dirigido à jornalista Eliane Castanhêde. Para quem se interessar o Wilson dirige a MP Consultoria Bureau de Estratégia e Finanças. Seu artigo é excelente e um exemplo de reflexão sobre as razões da autonomia da economia brasileira no mercado internacional de urânio. Vale apena a leitura. Mais uma vez é bom recordar: Lula não é bobo e nem ingênuo.


Brasília DF, 19mai2010.

Sra. Eliane Castanhêde
Prezada Jornalista,


"O Brasil se meteu nessa pela ânsia de ocupar um lugar de liderança no cenário internacional e acabou batendo de frente com os Estados Unidos. Será que o objetivo era brigar com os grandes para se sentir um deles"(Folha de São Paulo, edição pela internet, 19.05.2010)
Não nos parece exata sua avaliação de que o Brasil busca meramente liderança no cenário internacional ao empenhar esforço diplomático por uma solução negociada na questão nuclear iraniana. O grande objetivo brasileiro, não do PT ou de Lula, mas objetivo brasileiríssimo, é conseguir espaço no mercado mundial do átomo.
Sem dúvida limitada, há fortes indícios de que sua avaliação possa ser resultado de pressões políticas pré-eleitorais da direção do jornal.
Considere: há estimativas de que esse mercado hoje já movimentaria US$100 bilhões/ano, nada despresível para nosso País que conta uma das maiores reservas mundiais do minério.
Observe o estudo de Departamento de Estado Norte-Americano, ele é importante: há atualmente no mundo, em operação, cerca de 400 usinas atômicas, número que deverá atingir 2.500 nos próximos 50 anos, por conta da busca mundial por uma matriz energética mais limpa, pela substituição do carvão e do petróleo.
Adicione-se a isso o incremento do uso da energia do átomo para fins medicinais e científicos.
Esse mercado, aquele montante de vendas poderá, no mínimo, ser quintuplicado nesse período.
Você não acompanhou a movimentação dos EUA e seu veto na extração e beneficiamento de minério de urânio da Mina de Pitinga, no Amazonas, pelo Estado Brasileiro ? Nesse caso, lembre-se, a PREVI, dona da empresa Mineração Taboca, que explorava a mina, trouxe para o Conselho de Administração da Previ o presidende da Indústria Nuclear Brasileira, que administra Angra I e II. A idéia era dar passos em direção àquele mercado.
Mas o governo dos EUA vetaram a exploração brasileira de urânio em novas minas, sob o argumento de que nos bastava para Angra I e II a produção baiana de urânio ... Você nem imagina quantas toneladas de urânio estão já prontas ao processamento, ali, apenas enssacadas e enterradas, extraídas que foram pela Empresa Mineração Taboca, ao longo de décadas, quando da extração de estanho. Os minérios eram extraídos juntos e separados manualmente, enssacados e enterrados novamente. E estão lá, ainda, mas centenas de trabalhadores ficaram com câncer e muitos morreram.
Mas veio o veto do governo norte-americano. E é isso que está em jogo: SOBERANIA BRASLEIRA NA INDÚSTRIA E NO MERCADO MUNDIAL DO ÁTOMO, nossas reservas de urânio deixarem de compor o montante de reservas norte-americanas. Não o lugar do Brasil no Conselho de Segurança da ONU. Ingenuidade sua acreditar nessa bobagem. Este é simbólico; aquela é de fato o que conta, por representar avanço tecnológico e inserção econômica na Nova Economia Verde.
Mas, você, tão linda, temos certeza de não considera escrever para os Simpsons, tal como a duplinha que apresenta o Jornal Nacional da Globo. Estamos certos de que você conseguirá fugir com dignidade da pauta do jornal, de fazer cada vez melhor ... penso que todos nós merecemos o melhor.
E, acredite, não somos ingênuos, tudo observamos e estamos com todos os governos brasileiros que historicamente deixaram de compor com a política do "alinhamento automático" em troca de coca-cola ou de um fim-de-semana em Nova Iorque.
Do Itamaraty, nos orgulhamos da Escola de Santiago Dantas, de quem o Ministro Amorim é um legítimo e valiosíssimo herdeiro e representante. Esperamos que Serra, Dilma ou Marina, ao serem eleitos, pragmáticos, devotados e nacionais, mantenham a política externa hoje perseguida.

Linda foto, Eliane.
Felicidades.

Wilson Roberto Correa

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