domingo, 16 de junho de 2013

Ainda aprendendo com a democracia:Movimentos Anarquistas europeus inspiram a ação do Movimento Passe Livre?


Para não ficarmos reféns de apenas algumas fontes veja o material que postei em meu Face - http://www.facebook.com/frederico.drummond. Existe uma forma de organização nova que a minha geração não conheceu e que foi viabilizada e potencializada pelas redes sociais e internet. Os processos de mobilização são mais rápidos, embora a adesão política e ideológica mais rarefeita. Os grupos que se reúnem não representam uma única bandeira. São grupos de todas as vertentes que acabam se agrupando em um espaço físico comum para manifestar "contra tudo". Esta forma de organização pode perder o foco e isto me parece que tem ocorrido. Vi em um site que o III Encontro Nacional do Movimento Passe Livre teve o apoio logístico do MST.

Desta forma o que percebo é que o MPL é muito semelhante a outros movimentos urbanos ou rurais, desvinculados das ações de trabalhadores como os sindicatos. O Movimento dos Sem Teto também possui esta feição e entre eles existe um sentimento de "causa comum". Não podemos jogar o MPL na mão na direita e estarmos atentos para não sermos manipulados pela imprensa de direita, embora vejamos cada vez mais uma inspiração dos movimentos dos Anarquistas europeus, na coordenação do movimento.

Mestrado

Este é o texto final da dissertação de mestrado sobre o MPL. A dissertação é rica, mas é significativa as dificuldades de apontas resultados mais conclusivos. Vejamos:

"É extremamente difícil, embora necessário, finalizar este percurso de aproximação da relação entre a participação política e a constituição dos sujeitos militantes do Movimento Passe Livre. Após dois anos destinados a este contexto, pudemos tecer reflexões e questionamentos que não são passíveis de serem esgotados em uma dissertação de mestrado, devido à sua complexidade que
escapa às palavras, à escrita e ao tempo destinado à conclusão desta pesquisa.
Contudo, ainda assim, consideramos estas análises importantes na construção de
compreensões acerca da participação política e da constituição do sujeito,
podendo contribuir para o conhecimento científico, para os protagonistas desta
dissertação (os militantes do Passe Livre) e para aqueles que acreditam que a
participação em movimentos sociais ou em outras formas de coletivo se configura
como uma alternativa aos impasses sociais, históricos, culturais, políticos,
financeiros e subjetivos da contemporaneidade. As análises terão que parar
por aqui, mas o movimento dos sujeitos que circulam no Passe Livre continua,
assim como o trânsito de outros sujeitos em outros movimentos sociais e lutas
coletivas, requerendo novos estudos e olhares teórico-metodológicos que venham
a contribuir para a compreensão das múltiplas “catracas” a que estamos
submetidos, assim como pelos múltiplos saltos que os sujeitos possam,
coletivamente, realizar sobre elas."

Vale, todavia buscar alguns pontos de origens do movimejto.

Aparentemente foi no estado de Santa Catarina que iniciou sua organização, embora a referência usada tenha sido uma luta relacionada ao custo dos transposte na Bahia (estas informações estão detalhadas no site www.mpl.com.br)  A fundação  oficial do movimento acontceu no espaço do V Fórum Social Mundial.

Os estados do sul do Brasil revelam ligações dos membros com familiares (pais e outros) pertencentes ao PT e-ou a Agricultura Familiar e-ou o MST. (vale lembrar ainda que outro importante centro de difusão do Anarquismo é Goiânia e Salvador).

Esta influência nos parece fundamental no processo de “tomada de consciência”, ainda que estes jovens com toda a energia transformadora nunca viveram processos libertários nos últimos vinte anos. Viram seus pais participando de greves e/ou de ações partidárias, com resultados precários. Mas eles mesmos não encontraram canais de participação que promovessem a grande “libertação geral”, conforme utopia e bandeiras da maioria dos partidos de esquerda.

 O movimento possui claramente um foco nas contradições de uso do espaço urbano, embora haja uma verbalização apenas difusa da natureza capitalista destas contradições ( ver site - http://comandopasselivre.blogspot.com.br/2012/02/principios-do-comando-de-luta-2012.html), onde pode-se ler o seguinte trecho:

Na reunião inicial do ano de 2012 foram tirados princípios que nortearam a luta do comando, os princípios são:

 

- Classismo : No sistema capitalista existe a relação de luta de classe, que separa em dois mundo antagônicos a realidade dos possuidores do meio de produção (a burguesia) e de outro lado os proletários que não tem nada além de sua própria força de trabalho para vender aos capitalista, essa realidade também se aplica na luta do transporte de uma lado o donos das empresas ,o governo (gestores do capitalismo) etc., de outro lado usuários (quem em sua grande maioria são proletários, estudantes, desempregados) e trabalhadores da área do transporte ,isso implica que péssimas condições do transporte coletivo e preços abusivos.  A não conquista do passe livre  está extremamente ligado a questão da dinâmica da luta de classes, o transporte não tem qualidade, os preços são altos e estudantes e desempregados não tem passe livre para dar mais lucros aos empresários. Por isso defendemos a união de todos esses setores oprimidos (estudantes e trabalhadores) para lutar pela conquista de nossos direitos!

 

- Ação Direta/Luta Combativa : A nossa vitória deve ser resultado de nossa própria luta, como frisa o lema da associação internacional dos trabalhadores ‘’ A emancipação dos trabalhadores será obra do próprios trabalhadores ‘’ e também deve ser expressada por  métodos combativos de luta sem esperar intermediários ou negociações com espaços burgueses, só a luta combativa nos trará a vitória!

A ação direta por nós reivindicada se expressa por: bloqueios de ruas, ocupações, piquetes, protesto combativos! Só a ação direta nós trará a vitória!

 

- Democracia de base : A democracia de base significa que serão as própria massas que estarão exercendo o poder, avançando coletivamente por sua própria experiência de luta, a democracia de base se expressa para nós na defesa da assembléias gerais como órgão  regulares do comando, aonde cada militante é um voto.

Formaremos, também, comissões em que os responsáveis serão elegíveis e amovíveis para garantir maior inserção de todos nos trabalhos e evitar controle por qualquer grupo.

 

- Autonomia frente a partidos e governos : O Comando de Luta Pelo Passe Livre e Contra Aumento da Tarifa  se declara autônomo frente a partidos e governos, não estamos nos declarando apartidários, mas, sim, como independentes  de qualquer partido, governo, empresa ou fundação privada. A luta entre partidos faz parte da luta histórica da classe trabalhadora e por isso não defendemos o ‘’apartidarismo’’, mas nos posicionamos contra  programas políticos reformistas e burgueses, defendidos pelos partidos eleitoreiros.

 

- Anti-governismo : Pela impossibilidade da existência de um “governo dos trabalhadores” dentro do Estado burguês, como nos exemplifica claramente o governo do PT, é que se faz a necessidade de nos assumirmos anti-governistas. Deste modo, nos posicionamos contra os governos de "esquerda" tanto quanto os de direita, bem como qualquer governo gestor do Estado capitalista ou qualquer organização estudantil que esteja atrelada ao governismo, como, por exemplo, a UNE que é totalmente ligada ao governo do PT.

Logo, nós do Comando de Luta Pelo Passe Livre e Contra o Aumento da Tarifa nos posicionamos contra qualquer entidade governista como UNE/CUT!

Não serão aceito no Comando de Luta Pelo Passe Livre e Contra o Aumento da Tarifa a filiação de militantes ligados a essas respectivas entidades, pois qualquer unidade com setores pelegos não implica senão na quebra de unidade de classe! A unidade real da classe trabalhadora se faz por meio da cisão com a burocracia seja ela estudantil ou sindical. Qualquer aliança com governistas, justificada ou não, em nome de pretensa necessidade da ‘’unidade’’ da classe trabalhadora é falsa! A atual conjuntura da luta de classe exige uma ruptura imediata com entidades governista!

Ou seja, aparentemente não existe uma teoria de suporte ao movimento, mas uma teoria que se tenta construir na ação do movimento, onde a ideia da liberdade coletiva e uma vida "sem catracas" passa a ser fundamental. Em princípio a orientação se funda nos movimentos Anarquistas europeus.

É apenas uma suposição (sem base em pesquisas) que a estrutura de articulação em rede via internet e redes sociais configura um modelo de ordenamento Anarquista, o que significa que o comando se apoia em uma estrutura de valores consensados. As grandes mobilizações neste caso só são possíveis tendo como base palavras de ordem de sentido muito prático e muito simples, como é a chamada contra 20 centavos (Nem um centavo a mais).

Um comentário:

Sara disse...

Espero que eu possa aprender um pouco desse tipo de coisa, eu acho que todos nós temos que aprender, espero ver isso em Itaim Bibi