domingo, 16 de junho de 2013

Ainda aprendendo com a democracia:Movimentos Anarquistas europeus inspiram a ação do Movimento Passe Livre?


Para não ficarmos reféns de apenas algumas fontes veja o material que postei em meu Face - http://www.facebook.com/frederico.drummond. Existe uma forma de organização nova que a minha geração não conheceu e que foi viabilizada e potencializada pelas redes sociais e internet. Os processos de mobilização são mais rápidos, embora a adesão política e ideológica mais rarefeita. Os grupos que se reúnem não representam uma única bandeira. São grupos de todas as vertentes que acabam se agrupando em um espaço físico comum para manifestar "contra tudo". Esta forma de organização pode perder o foco e isto me parece que tem ocorrido. Vi em um site que o III Encontro Nacional do Movimento Passe Livre teve o apoio logístico do MST.

Desta forma o que percebo é que o MPL é muito semelhante a outros movimentos urbanos ou rurais, desvinculados das ações de trabalhadores como os sindicatos. O Movimento dos Sem Teto também possui esta feição e entre eles existe um sentimento de "causa comum". Não podemos jogar o MPL na mão na direita e estarmos atentos para não sermos manipulados pela imprensa de direita, embora vejamos cada vez mais uma inspiração dos movimentos dos Anarquistas europeus, na coordenação do movimento.

Mestrado

Este é o texto final da dissertação de mestrado sobre o MPL. A dissertação é rica, mas é significativa as dificuldades de apontas resultados mais conclusivos. Vejamos:

"É extremamente difícil, embora necessário, finalizar este percurso de aproximação da relação entre a participação política e a constituição dos sujeitos militantes do Movimento Passe Livre. Após dois anos destinados a este contexto, pudemos tecer reflexões e questionamentos que não são passíveis de serem esgotados em uma dissertação de mestrado, devido à sua complexidade que
escapa às palavras, à escrita e ao tempo destinado à conclusão desta pesquisa.
Contudo, ainda assim, consideramos estas análises importantes na construção de
compreensões acerca da participação política e da constituição do sujeito,
podendo contribuir para o conhecimento científico, para os protagonistas desta
dissertação (os militantes do Passe Livre) e para aqueles que acreditam que a
participação em movimentos sociais ou em outras formas de coletivo se configura
como uma alternativa aos impasses sociais, históricos, culturais, políticos,
financeiros e subjetivos da contemporaneidade. As análises terão que parar
por aqui, mas o movimento dos sujeitos que circulam no Passe Livre continua,
assim como o trânsito de outros sujeitos em outros movimentos sociais e lutas
coletivas, requerendo novos estudos e olhares teórico-metodológicos que venham
a contribuir para a compreensão das múltiplas “catracas” a que estamos
submetidos, assim como pelos múltiplos saltos que os sujeitos possam,
coletivamente, realizar sobre elas."

Vale, todavia buscar alguns pontos de origens do movimejto.

Aparentemente foi no estado de Santa Catarina que iniciou sua organização, embora a referência usada tenha sido uma luta relacionada ao custo dos transposte na Bahia (estas informações estão detalhadas no site www.mpl.com.br)  A fundação  oficial do movimento acontceu no espaço do V Fórum Social Mundial.

Os estados do sul do Brasil revelam ligações dos membros com familiares (pais e outros) pertencentes ao PT e-ou a Agricultura Familiar e-ou o MST. (vale lembrar ainda que outro importante centro de difusão do Anarquismo é Goiânia e Salvador).

Esta influência nos parece fundamental no processo de “tomada de consciência”, ainda que estes jovens com toda a energia transformadora nunca viveram processos libertários nos últimos vinte anos. Viram seus pais participando de greves e/ou de ações partidárias, com resultados precários. Mas eles mesmos não encontraram canais de participação que promovessem a grande “libertação geral”, conforme utopia e bandeiras da maioria dos partidos de esquerda.

 O movimento possui claramente um foco nas contradições de uso do espaço urbano, embora haja uma verbalização apenas difusa da natureza capitalista destas contradições ( ver site - http://comandopasselivre.blogspot.com.br/2012/02/principios-do-comando-de-luta-2012.html), onde pode-se ler o seguinte trecho:

Na reunião inicial do ano de 2012 foram tirados princípios que nortearam a luta do comando, os princípios são:

 

- Classismo : No sistema capitalista existe a relação de luta de classe, que separa em dois mundo antagônicos a realidade dos possuidores do meio de produção (a burguesia) e de outro lado os proletários que não tem nada além de sua própria força de trabalho para vender aos capitalista, essa realidade também se aplica na luta do transporte de uma lado o donos das empresas ,o governo (gestores do capitalismo) etc., de outro lado usuários (quem em sua grande maioria são proletários, estudantes, desempregados) e trabalhadores da área do transporte ,isso implica que péssimas condições do transporte coletivo e preços abusivos.  A não conquista do passe livre  está extremamente ligado a questão da dinâmica da luta de classes, o transporte não tem qualidade, os preços são altos e estudantes e desempregados não tem passe livre para dar mais lucros aos empresários. Por isso defendemos a união de todos esses setores oprimidos (estudantes e trabalhadores) para lutar pela conquista de nossos direitos!

 

- Ação Direta/Luta Combativa : A nossa vitória deve ser resultado de nossa própria luta, como frisa o lema da associação internacional dos trabalhadores ‘’ A emancipação dos trabalhadores será obra do próprios trabalhadores ‘’ e também deve ser expressada por  métodos combativos de luta sem esperar intermediários ou negociações com espaços burgueses, só a luta combativa nos trará a vitória!

A ação direta por nós reivindicada se expressa por: bloqueios de ruas, ocupações, piquetes, protesto combativos! Só a ação direta nós trará a vitória!

 

- Democracia de base : A democracia de base significa que serão as própria massas que estarão exercendo o poder, avançando coletivamente por sua própria experiência de luta, a democracia de base se expressa para nós na defesa da assembléias gerais como órgão  regulares do comando, aonde cada militante é um voto.

Formaremos, também, comissões em que os responsáveis serão elegíveis e amovíveis para garantir maior inserção de todos nos trabalhos e evitar controle por qualquer grupo.

 

- Autonomia frente a partidos e governos : O Comando de Luta Pelo Passe Livre e Contra Aumento da Tarifa  se declara autônomo frente a partidos e governos, não estamos nos declarando apartidários, mas, sim, como independentes  de qualquer partido, governo, empresa ou fundação privada. A luta entre partidos faz parte da luta histórica da classe trabalhadora e por isso não defendemos o ‘’apartidarismo’’, mas nos posicionamos contra  programas políticos reformistas e burgueses, defendidos pelos partidos eleitoreiros.

 

- Anti-governismo : Pela impossibilidade da existência de um “governo dos trabalhadores” dentro do Estado burguês, como nos exemplifica claramente o governo do PT, é que se faz a necessidade de nos assumirmos anti-governistas. Deste modo, nos posicionamos contra os governos de "esquerda" tanto quanto os de direita, bem como qualquer governo gestor do Estado capitalista ou qualquer organização estudantil que esteja atrelada ao governismo, como, por exemplo, a UNE que é totalmente ligada ao governo do PT.

Logo, nós do Comando de Luta Pelo Passe Livre e Contra o Aumento da Tarifa nos posicionamos contra qualquer entidade governista como UNE/CUT!

Não serão aceito no Comando de Luta Pelo Passe Livre e Contra o Aumento da Tarifa a filiação de militantes ligados a essas respectivas entidades, pois qualquer unidade com setores pelegos não implica senão na quebra de unidade de classe! A unidade real da classe trabalhadora se faz por meio da cisão com a burocracia seja ela estudantil ou sindical. Qualquer aliança com governistas, justificada ou não, em nome de pretensa necessidade da ‘’unidade’’ da classe trabalhadora é falsa! A atual conjuntura da luta de classe exige uma ruptura imediata com entidades governista!

Ou seja, aparentemente não existe uma teoria de suporte ao movimento, mas uma teoria que se tenta construir na ação do movimento, onde a ideia da liberdade coletiva e uma vida "sem catracas" passa a ser fundamental. Em princípio a orientação se funda nos movimentos Anarquistas europeus.

É apenas uma suposição (sem base em pesquisas) que a estrutura de articulação em rede via internet e redes sociais configura um modelo de ordenamento Anarquista, o que significa que o comando se apoia em uma estrutura de valores consensados. As grandes mobilizações neste caso só são possíveis tendo como base palavras de ordem de sentido muito prático e muito simples, como é a chamada contra 20 centavos (Nem um centavo a mais).

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Procurador Geral que livrou Dantas do mensalão ganhou contrato da Brasil Telecom

Do Jornal GGN - Em sua sabatina no Senado, o jurista Luiz Roberto Barroso  considerou o julgamento do chamado mensalão “ponto fora da curva”.  Barroso é considerado o maior constitucionalista brasileira, unanimidade, saudado tanto pela direita quanto pela esquerda. Sua opinião foi corroborada pelo Ministro Marco Aurélio de Mello, um dos julgadores mais implacáveis.
Externou o que todo o meio jurídico comenta à boca pequena desde aquela época: foi um julgamento de exceção. E não apenas pelo rigor inédito (para crimes de colarinho branco) das condenações, mas pela excepcional seletividade na escolha das provas, sonegando informações essenciais para a apuração completa do episódio.
Houve o pagamento de despesas de campanha dos novos aliados do PT. Utilizaram-se recursos de caixa dois para tal. Havia o intermediário das transações – o publicitário Marcos Valério e a agência DNA. Na outra ponta, os beneficiários. E, no comço do  circuito, os financiadores.
Se poderia ter se obtido a condenação fazendo o certo, qual a razão para tantas irregularidades processuais anotadas? Não se tratou apenas dos atropelos à presunção da inocência e outros princípios clássicos do ordenamento jurídico brasileiro. Há também a suspeita de ocultação deliberada de provas.
1. Ignorou-se laudo comprovando a aplicação dos recursos da Visanet.
2. Esconderam-se evidências de que o contrato da DNA com a Visanet era anterior a 2003.
3. Desmembrou-se o processo para que outros diretores do Banco do Brasil - que compartilharam decisões com o diretor de marketing Antonio Pizolato e assumiram responsabilidades maiores - não entrassem na AP 470.
4. Ignoraram-se evidências nítidas de que a parte mais substancial dos fundos do DNA foi garantida pelas empresas de telefonia de Daniel Dantas.
O contrato de Antonio Fernando
Aparentemente, desde o começo, a prioridade dos Procuradores Gerais da República Antônio Fernando (que iniciou as investigações), de Roberto Gurgel (que deu prosseguimento) e do Ministro do STF Joaquim Barbosa (que relatou a ação) parece ter sido a de apagar os rastros do principal financiador do mensalão: o banqueiro Daniel Dantas. Inexplicavelmente, ele foi excluído do processo e seu caso remetido para um tribunal de primeira instância.
Excluindo Dantas, não haveria como justificar o fluxo de pagamentos aos mensaleiros. Todos os absurdos posteriores decorrem dessa falha inicial, de tapar o buraco do financiamento, depois que Dantas foi excluído do inquérito.
Responsável pelas investigações, o procurador geral Antônio Fernando de Souza tomou duas decisões que beneficiaram diretamente  Dantas. A primeira, a de ignorar um enorme conjunto de evidências e  excluir Dantas do inquérito - posição mantida por seu sucessor, Roberto Gurgel e pelo relator Ministro Joaquim Barbosa. A segunda, a de incluir no inquérito o principal adversário de Dantas no governo: Luiz Gushiken. Aliás, com o concurso de Antonio Pizolatto - que acabou tornando-se vítima, depois de diversas decisões atrabiliárias dos PGRs.
Foi tal a falta de provas para incriminar Gushiken, que o PGR seguinte, Roberto Gurgel, acabou excluindo-o do inquérito.
Pouco depois de se aposentar, Antônio Fernando tornou-se sócio de um escritório de advocacia de Brasília - Antônio Fernando de Souza e Garcia de Souza Advogados -, que tem como principal contrato a administração da carteira de processos da Brasil Telecom, hoje Oi, um dos braços de Dantas no financiamento do mensalão. O contrato é o sonho de todo escritório de advocacia: recebimento de soma mensal vultosa para acompanhar os milhares de processos de acionistas e consumidores contra a companhia, que correm nos tribunais estaduais e federais.
Os sinais de Dantas
Qualquer jornalista que acompanhou os episódios, na época, sabia que a grande fonte de financiamento do chamado “valerioduto” eram as empresas de telefonia controladas por Dantas, a Brasil Telecom e a Telemig Celular. Reportagens da época comprovavam – com riqueza de detalhes – que a ida de Marcos Valério a Portugal, para negociar a Telemig com a Portugal Telecom, foi a mando de Dantas.
Dantas possuía parcela ínfima do capital das empresas Telemig, Amazônia Celular e Brasil Telecom. O valor de suas ações residia em um acordo “guarda-chuva”, firmado com fundos de pensão no governo FHC, que lhe assegurava o controle das companhias. Tentou manter o acordo fechando aliança com setores do PT – que foram cooptados, sim. Quando o acordo começou a ser derrubado na Justiça, ele se apressou em tentar vender o controle da Telemig, antes que sua participação virasse pó.
No livro “A Outra Historia do Mensalão”, Paulo Moreira Leite conta que a Polícia Federal apurou um conjunto de operações entre a Brasil Telecom e a DNA. A executiva Carla Cicco, presidente da BT, encomendou à DNA uma pesquisa de opinião no valor de R$ 3,7 milhões. Houve outro contrato, de R$ 50 milhões, a ser pago em três vezes. Era dinheiro direto no caixa da DNA - e nao apenas uma comissão de agenciamento convencional, como foi no caso da Visanet.. Pagaram-se as duas primeiras. A terceira não foi paga devido às denúncias de Roberto Jefferson que deflagraram o mensalão.
Apesar de constar em inquérito da Polícia Federal – fato confirmado por policiais a Paulo Moreira Leite – jamais esse contrato de R$ 50 milhões fez parte da peça de acusação. Foi ignorado por Antônio Fernando, por seu sucessor Roberto Gurgel e pelo relator Ministro Joaquim Barbosa. Ignorando-o, livrou Dantas do inquérito. Livrando-o, permitiu-lhe negociar sua saída da Brasil Telecom, ao preço de alguns bilhões de reais.

As gambiarras no inquérito

Sem Dantas, como justificar os recursos que financiaram o mensalão? Apelou-se para essa nonsense de considerar que a totalidade da verba publicitária da Visanet (R$ 75 milhões) foi desviada. Havia comprovação de pagamento de mídia, especialmente a grandes veículos de comunicação, de eventos, mas tudo foi deixado de lado pelos PGRs e pelo relator Barbosa.
Em todos os sentidos, Gurgel foi um continuador da obra de Antonio Fernando. Pertencem ao mesmo grupo político - os "tuiuius" - que passou a controla o Ministério Público Federal. Ambos mantiveram sob estrito controle todos os inquéritos envolvendo autoridades com foro privilegiado. Nas duas gestões, compartilhavam as decisões com uma única subprocuradora  - Cláudia Sampaio Marques, esposa de Gurgel. Dentre as acusações de engavetamento de inquéritos, há pelos menos dois episódios controvertidos, que jamais mereceram a atenção nem do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) nem da Associação Nacional dos Procuradores da República  (ANPR) - esta, também, dominada pelos "tuiuius": os casos do ex-senador Demóstenes Torres e do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda.
Tanto na parte conduzida por Antonio Fernando, quanto na de Gurgel, todas as decisões pareceram ter como objetivo esconder o banqueiro.
É o caso da  “delação premiada” oferecida a Marcos Valério. O ponto central – proposto na negociação – seria imputar a Lula a iniciativa das negociações com a Portugal Telecom. Sendo bem sucedido, livraria Dantas das suspeitas de ter sido o verdadeiro articulador das negociações. A "delação premiada" não  foi adiante porque, mesmo com toda sua discricionariedade, Gurgel não tinha condições de oferecer o que Valério queria: redução das penas em todas as condenações.
Quando iniciaram-se as investigações que culminaram na ação, Antônio Fernando foi criticado por colegas por não ter proposto a delação premiada a Marcos Valério. Acusaram-no de pretender blindar Lula. A explicação dada na época é que não se iria avançar a ponto de derrubar o presidente da República, pelas inevitáveis manifestações populares que a decisão acarretaria. Pode ser. Mas, na verdade, na época, sua decisão  blindou Daniel Dantas, a quem Valério servia. Agora, na proposta de "delação" aceita por Gurgel não entrava Dantas - a salvo dos processos - mas apenas Lula.
O inquérito dá margem a muitas inteerpretaçòes, decisões, linhas de investigação. Mas como explicar que TODAS as decisões, todas as análises de provas tenham sido a favor do banqueiro?

Os motivos ainda não explicados

Com o tempo aparecerão os motivos efetivos que levaram o Procurador Geral Roberto Gurgel e o relator Joaquim Barbosa a endossar a posição de Antonio Fernando e se tornarem também avalistas  desse jogo.
Pode ter sido motivação política. Quando explodiu a Operação Satiagraha – que acusou Daniel Dantas de corrupção -, Fernando Henrique Cardoso comentou que tratava-se de uma “disputa pelo controle do Estado”.
De fato, Dantas não é apenas o banqueiro ambicioso, mas representa uma longa teia de interesses que passava pelo PT, sim, mas cujas ligações mais fortes são com o PSDB de Fernando Henrique e principalmente de José Serra.
Uma disputa pelo poder não poderia expor Dantas, porque aí se revelaria a extensão de seus métodos e deixaria claro que práticas como as do mensalão fazem parte dos (péssimos) usos e costumes da política brasileira. E, se comprometesse também o principal partido da oposição, como vencer a guerra pelo controle do Estado? Ou como justificar um julgamento de exceção.
Vem daí a impressionante blindagem proposta pela mídia e pela Justiça. É, também, o que pode explicar a postura de alguns Ministros do STF, endossando amplamente a mudança de conduta do órgão no julgamento. Outros se deixaram conduzir pelo espírito de manada. Nenhum deles engrandece o Supremo.
Poderia haver outros motivos? Talvez. Climas de guerra santa, como o que cercaram o episódio, abrem espaço para toda sorte de aventureirismo, porque geram a solidariedade na guerra, garantindo a blindagem dos principais personagens. No caso de temas complexos - como os jurídicos - o formalismo e a complexidade dos temas facilitam o uso da discricionariedade. Qualquer suspeita a respeito do comportamento dos agentes pode ser debitada a uma suposta campanha difamatória dos “inimigos”. E com a mídia majoritariamente a favor, reduz a possibilidade de denúncias ou escândalos sobre as posições pró-Dantas.
É o que explica os contratos de Antonio Fernando com a Brasil Telecom jamais terem recebido a devida cobertura da mídia. Não foi denunciado pelo PT, para não expor ainda mais suas ligações com o banqueiro. Foi poupado pela mídia - que se alinhou pesadamente a Dantas. E foi blindado amplamente pela ala Serra dentro do PSDB.
Com a anulação completa dos freios e contrapesos, Antonio Fernando viu-se à vontade para negociar com a Brasil Telecom.
De seu lado, todas as últimas atitudes de Gurgel de alguma forma  vão ao encontro dos interesses do banqueiro. Foi assim na tentativa de convencer Valério a envolver Lula nos negócios com a Portugal Telecom. E também na decisão recente de solicitar a quebra de sigilo do delegado Protógenes Queiroz – que conduziu a Satiagraha – e do empresário Luiz Roberto Demarco – bancado pela Telecom Itália para combater Dantas, mudando completamente em relação à sua posição anterior.
A quebra do sigilo será relevante para colocar os pingos nos iis, comprovar se houve de fato a compra de jornalistas e de policiais e, caso tenha ocorrido, revelar os nomes ou interromper de vez esse jogo de ameaças. Mas é evidente que o o resultado  maior foi  fortalecer as teses de Dantas junto ao STF, de que a Satiagraha não passou de um instrumento dos adversários comerciais. Foi um advogado de Dantas - o ex-Procurador Geral Aristisdes Junqueira - quem convenceu Gurgel a mudar de posição.
Com seu gesto, Gurgel coloca sob suspeitas os próprios procuradores que atuaram não apenas na Satiagraha como na Operação Chacal, que apurava envolvimento de Dantas com grampos ilegais.
Em seu parecer pela quebra do sigilo, Gurgel mencionou insistentemente um inquérito italiano que teria apurado irregularidades da Telecom Itália no Brasil. Na época da Satiagraha, dois procuradores da República – Anamara Osório (que tocava a ação da Operação Chacal  na qual Dantas era acusado de espionagem) e Rodrigo De Grandis – diziam claramente que a tentativa de inserir o relatório italiano nos processos visava sua anulação.. Referiam-se expressamente à tentativa do colunista de Veja, Diogo Mainardi, de levar o inquérito ao juiz do processo. Anamara acusou a defesa de Dantas de tentar ilegalmente incluir o CD do relatório no processo.
Dizia a nota do MPF de São Paulo:
"Para as procuradoras brasileiras, a denúncia na Itália é normal e só confirma o que já havia sido dito nos autos inúmeras vezes pelo MPF que, a despeito dos crimes cometidos no Brasil por Dantas e seus aliados e pela TIM, na Itália, "a investigação privada parecia ser comum entre todos, acusados e seus adversários comerciais". Além disso, o MPF não pode se manifestar sobre uma investigação em outro país, por não poder investigar no exterior, e vice-versa.
 
Para o MPF, as alusões da defesa de que a prova estaria "contaminada" não passam de "meras insinuações", pois a prova dos autos brasileiros foi colhida com autorização judicial para interceptações telefônicas e telemáticas, bem como, busca e apreensão. Tanto é assim que outro CD entregue à PF, em julho de 2004, por Angelo Jannone, ex-diretor da TIM, também foi excluído dos autos como prova após manifestação do MPF, atendendo pedido da defesa de Dantas".
 
Agora, é o próprio PGR quem tenta colocar o inquérito no  processo que corre no Supremo e, automaticamente, colocando sob suspeição seus  próprios procuradores.. E não se vê um movimento em defesa de seus membros por parte da ANPR.
 
Quando a Satiagraha foi anulada no STJ (Superior Tribunal de Justiça), o Ministério Público Federal recorreu, tanto em Brasília quanto em São Paulo.  Na cúpula, porém, Dantas conseguiu o feito inédito de sensibilizar quatro dos mais expressivos nomes do MInistério Público Federal pós-constituinte: os ex-procuradores gerais Antonio Fernando e Aristides Junqueira (que ele contratou para atuar junto a Roberto Gurgel), o atual PGR e o ex-procurador e atual presidente do STF Joaquim Barbosa.
 
Levará algum tempo para que a poeira baixe, a penumbra ceda e se conheçam, em toda sua extensão, as razões objetivas que levaram a esse alinhamento inédito em favor de Dantas.


Fonte:http://www.jornalggn.com.br/blog/procurador-geral-que-livrou-dantas-do-mensalao-ganhou-contrato-da-brasil-telecom

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Bolsa Família e a Rede de Proteção Social: uma proposta de reflexão aos que são contra.

Tenho recebido alguns poucos e-mails ou postagem que tentam caracterizar o Bolsa Família como "tática de compra de votos". Vamos examinar rapidamente este argumento. Em primeiro lugar vale lembrar que tanto FHC como Aécio reivindicam para o PSDB os méritos da criação desta Rede de Proteção Social. Tem muita gente querendo esta paternidade, discussão, diga-se de passagem, totalmente irrelevante. O debate fundamental e, neste caso nem o PSDB nem qualquer outro parido podem ficar à margem, é o que significa uma Rede Proteção Social. Apenas para ficar em um exemplo simples vamos ficar no valor mensal do BF: 155 reais, o que significa pouco mais de 5 reais por dias. E aqui fica uma proposta para reflexão: porque para os muito pobres 115 reais pode fazer alguma diferença em sua sobrevivência? Qual o efeito multiplicador em comunidades pobres deste 155 reais. Como eles dinamizam micro negócios e fazem movimentar a economia de comunidades pobres ativando negócios de pequenos empórios e armazéns no interior do país? Como as pessoas que recebem o BF conseguem construir uma nova dignidade e a possibilidade de ação cidadã, formando associações para compras coletivas que impulsionam os produtos da Agricultura Familiar? Perguntam-me sobre a porta de saída? Qual porta de saída? Quantos empresários estariam dispostos a investir nestas regiões pobres para gerar emprego e renda? Quando capitalismo vai criar porta de saída para aqueles que estão a margem do mercado? Os que me fazem estas perguntas ou são ingênuos ou agem de má fé. O capitalismo não lucra com os muito pobres e sua ética, fundada na apropriação privada do lucro, apenas mantém os beneficiários do Bolsa Família na condição de miseráveis. Quem tiver (universidade, centro de pesquisas, empresários, sindicatos, igrejas etc. ) mostre-nos exemplos positivos da economia capitalista ajudando a melhorar a vida dos miseráveis. Seremos os primeiros a divulgá-las. Mas até que isto aconteça (se algum dia acontecer) as Redes de Proteção Social terão que ser fortalecidas. E por rede de proteção os governos trabalhistas de Lula e Dilma tem mostrado um campo de ações muito maior do que apenas o bolsa família: a) começa pela convicção do papel do Estado Social (visceralmente oposto aos postulados neoliberais); b) segue com o estímulo à valorização do salário mínimo e do pleno emprego; c) amplia-se no fomento à Economia Solidária; d) Fortalecimento das pesquisas em Tecnologia Social; e) Fortalecimento da Agricultura Familiar; f) Intensificação das ações de segurança alimentar; g) estímulo as ações que favorecem à sociobiodiversidade; h) massificação das condições de acesso à educação. Este é apenas parte de um programa que constitui a Rede de Proteção Social. É para este elenco de ações que convidamos partidos políticos, investidores privados, sindicatos, igrejas e outras instituições da sociedade civil a convergir o debate sobre o futuro do Brasil.

Frederico Drummond é professor de filosofia, terapeuta e especialista em economia e meio ambiente.