segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

"Receita de Ano Novo" - C Drummond de Andrade

Gosto deste poema de Drummond por sua atualidade. Ou por sua eternidade. Assim eu e a Lenir compartilhamos com nossos amigos, em outros anos este mesmo poema, que compartilhamos agora. Sei, em seu endereço em outra dimensão, que esta continua sendo também a Receita da Lenir para o ano que em breve se inicia. Por um grande "sincronicidade", na véspera do Natal (dia 24 de dezembro) Lenir completou dois meses do seu natal pessoal (seu renascer em nova dimensão). A todos que nos apoiaram e nos enviaram seus votos de Natal e Boa Festa aqui seguem os novos votos:


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

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