terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Tecnologia Social: conhecimento viabilizador do empreendimento socialista

No final do ano passado o jornalista Luis Nassif fez uma postagem em seu Blog com o título: O reconhecimento da tecnologia social brasileira. Esta matéria levantou um interessante debate sobre a natureza da tecnologia social. Um comentarista deixou no post algumas considerações que merecem destaque, como a seguir (assinado por Victor Gaspar):
 
Caro Nassif,
Me permita discordar do título da notícia.
A tecnologia exposta pouco tem de Tecnologia Social, apenas o fato de ser mais assecível do que outras tecnologias existentes por aí. Tecnologia Social (TS) é um conceito que diz respeito tanto aos propósitos da tacnologia quanto a forma em que se desenvolve esta tecnologia. Abaixo, colo um trecho da introdução de minha dissertação (ainda em produção) que em poucos parágrafos descreve a proposta de TS. Reparem, uma tecnologia social que não foi desenvolvida com seus usuários é uma Tecnologia Apropriada (que contem objetivos parecidos de potencializar inclusão social sem depender de esfacelar comunidades com valores de produção capitalista) pois parte de uma postura ofertista e não potencializadora de emancipação da comunidade.
A Tecnologia Social surge como uma revisitação do conceito de Tecnologia Apropriada que, por sua vez, foi um conceito que surgiu em meados da década de 70 e vislumbrava que as tecnologias tradicionais utilizadas nos processos de produção industrial não poderiam ser utilizadas por pequenos produtores organizados em sistemas produtivos solidários (tais como cooperativas, fábricas recuperadas e pequenas comunidades agrícolas). Dessa forma o conceito foi proposto como o nome da tecnologia que seria construída a partir de adaptação de tecnologias às supostas necessidades dos empreendimentos solidários. Após quase três décadas de experiências com Tecnologia Apropriada, notou-se que os usuários de tais tecnologias frequentemente demandavam a tecnologia convencional devido seu suposto aumento da produtividade e de suas supostas vantagens vendidas pelo mercado. Dessa forma, o conceito foi revisitado e reformulado ganhando um novo nome: Tecnologia Para Inclusão Social, futuramente reduzido para Tecnologia Social.
Esse conceito reconhece que a Tecnologia Convencional está repleta de valores, e estes, no contexto dos países periféricos, beneficiam os proprietários dos meios de produção a medida que seu principal objetivo é a obtenção de lucro poupando mão de obra. Além disso, a sociedade incorporou os valores da Tecnologia Convencional tornando mais difícil que pessoas deixem de usá-la em virtude de outra tecnologia que tem objetivos diferentes.
Neste contexto, propõe-se que aconteçam processos de Adequação Sociotécnica (AST) nos quais tanto o usuário quanto as tecnologias nos empreendimentos solidários devem se adequar aos valores da produção solidária.
Tal processo de Adequação Sociotécnica deve ocorrer em parcerias entre empreendimentos solidários e  Desenvolvedores das Tecnologias. O papel do desenvolvedor seria mediar um processo onde o próprio usuário reflete sobre usas necessidades e desenvolve a tecnologia adequada para suas demandas.
Assim, Renato DAGNINO, propõe que a Tecnologia Social deve ser “adaptada a pequeno tamanho físico e financeiro”, “não-discriminatória” (não havendo discriminação de patrão contra o empregado), “liberadora do potencial e da criatividade do produtor direto”, “viabilizadora de empreendimentos autogestionários” e “orientada para o mercado interno de massa”. Ela deve ser capaz de viabilizar a inclusão social e permitir que empreendimentos autogestionários tenham possibilidades reais de competição contra o grande capital de forma que eles possam constituir uma alternativa econômica real.
Desta maneira, entender o conceito de Tecnologia Social pela oposição à Tecnologia Convencional, pressupõe compreender que a Tecnologia Convencional é causadora de exclusões sociais, portanto, ela não deve ser utilizada em processos solidários e autogestionários de produção. Sendo assim, a Tecnologia Social surge como uma alternativa que tem o objetivo de viabilizar tais processos

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