sábado, 11 de dezembro de 2010

A luta contra a degradação acelerada da vida.

Autoria: Lucien Sève. É filósofo, autor de Penser avec Marx aujourd’hui. Tome 2: L’Homme, La Dispute, Paris, 2008
Na maior parte das empresas francesas, funcionários são considerados velhos a partir do 40 anos: “O mundo das empresas faz dos assalariados de mais de 45 anos idosos prematuros, privando-os notadamente do direito à formação”, observa Serge Guérin8. Aos poucos, os meios empresariais se livram desses “senhores” por meio de um conjunto de ferramentas que vão desde a aposentadoria precoce até a licença. “Na França, o índice de atividade entre 55 e 64 anos (38,3%) é um dos mais baixos da Europa9”. Para milhares de quinquagenários, o fim da vida profissional transforma-se em pesadelo e a aposentadoria ganha uma conotação fortemente negativa.

A importância desse drama social e humano é levada em conta? No momento em que a expectativa de vida em bom estado atinge e ultrapassa os 80 anos de idade, os 50 anos tornam-se mais do que nunca a idade-chave para a preparação da passagem da vida profissional à terceira idade ativa que deve ser a “aposentadoria” – com a condição de que essa nova fase permita às pessoas se lançarem a outras atividades e competências humanamente dignas. No entanto, os quinquagenários são insuportavelmente maltratados diante de nossos olhos pela gestão de “recursos humanos” em nome da lucratividade.
Muitos se deram conta recentemente, com a série de suicídios na empresa France Telecom, do suplício que pode ser esse “gerenciamento pelo terror”. Porém, não basta apenas colocar em exame a ditadura que exerce a lucratividade, é preciso também ampliar o campo de visão para o conjunto de suposições que regem a vida, desde o acesso ao trabalho até a aposentadoria.
A crise atual não é apenas financeira, econômica, social, ecológica, mas também antropológica. O gênero humano é ameaçado em seus valores e existência civilizada pela implacável lógica que faz tanto da atividade mental quanto física uma mercadoria rentável ou descartável. Na França de amanhã serão contabilizados mais de 20 milhões de aposentados. Em que estado eles se encontrarão se, em massa, esperarem anos por um emprego decente, e em seguida se depararem com uma vida de trabalho mais ou menos alienada, cujo caminho leva à meia-idade, que terminará numa aposentadoria imposta e pressionada pela exploração dos “idosos” como um nicho de mercado? A degradação acelerada de vidas seria menos grave que o derretimento das calotas polares, e não nos ameaça como uma catástrofe de grandes proporções?

Nenhum comentário: