sábado, 28 de agosto de 2010

Esfera pública x esfera mercantil

Por Emir Sader

O neoliberalismo é a realização máxima do capitalismo: transformar tudo em mercadoria. Foi assim que o capitalismo nasceu: transformando a força de trabalho (com o fim da escravidão) e as terras em mercadorias. Sua história foi a crescente mercantilização do mundo. A crise de 1929 - de que o liberalismo foi unanimemente considerado o responsável - gerou contratendências, todas antineoliberais: o fascismo (com forte capitalismo de Estado), o modelo soviético (com eliminação da propriedade privada dos meios de produção) e o keynesianismo (com o Estado assumindo responsabilidades fundamentais na economia e nos direitos sociais).O capitalismo viveu seu ciclo longo mais importante do segundo pós-guerra até os anos 70. Quando foi menos liberal, foi menos injusto.
Vários países – europeus, mas também a Argentina – tiveram pleno emprego, os direitos sociais foram gradualmente estendidos no que se convencionou chamar de Estado de bem-estar-social.Esgotado esse ciclo, o diagnóstico neoliberal triunfou, voltando de longo refluxo: dizia que o que tinha levado a economia à recessão era a excessiva regulamentação. O neoliberalismo se propôs a desregulamentar, isto é, a deixar circular livremente o capital. Privatizações, abertura de mercados, “flexibilização laboral” – tudo se resume a desregulamentações.Promoveu-se o maior processo de mercantilização que a história conheceu. Zonas do mundo não atingidas ainda pela economia de mercado (como o ex-campo socialista e a China) e objetos de que ainda usávamos como exemplos de coisas com valor de uso e sem valor de troca (como a água, agora tornada mercadoria) – foram incorporadas à economia de mercado.A hegemonia neoliberal se traduziu, no campo teórico, na imposição da polarização estatal/privado como o eixo das alternativas. Como se sabe, quem parte e reparte fica com a melhor parte – privado – e esconde o que lhe interessa abolir – a esfera pública. Porque o eixo real que preside o período neoliberal se articula em torno de outro eixo: esfera pública/esfera mercantil.Porque a esfera do neoliberalismo não é a privada. A esfera privada é a esfera da vida individual, da família, das opções de cada um – clube de futebol, música, religião, casa, família, etc.. Quando se privatiza uma empresa, não se colocam as ações nas mãos dos indivíduos – os trabalhadores da empresa, por exemplo -, se jogam no mercado, para quem possa comprar. Se mercantiliza o que era um patrimônio público.O ideal neoliberal é construir uma sociedade em que tudo se vende, tudo se compra, tudo sem preço. Ao estilo shopping center. Ou do modo de vida norteamericano, em que a ambição de todos seria ascender como consumidor, competindo no mercado, uns contra os outros.O neoliberalismo mercantilizou e concentrou renda, excluiu de direitos a milhões de pessoas – a começar os trabalhadores, a maioria dos quais deixou de ter carteira de trabalho, de ser cidadão, sujeito de direitos -, promoveu a educação privada em detrimento da publica, a saúde privada em detrimento da pública, a imprensa privada em detrimento da pública.O próprio Estado se deixou mercantilizar. Passou a arrecadar para, prioritariamente, pagar suas dívidas, transferindo recursos do setor produtivo ao especulativo. O capital especulativo, com a desregulamentação, passou a ser o hegemônico na sociedade. Sem regras, o capital
– que não é feito para produzir, mas para acumular – se transferiu maciçamente do setor produtivo ao financeiro, sob a forma especulativa, isto é, não para financiar a produção, a pesquisa, o consumo, mas para viver de vender e comprar papéis – de Estados endividados ou de grandes empresas -, sem produzir nem bens, nem empregos. É o pior tipo de capital. O próprio Estado se financeirizou.O neoliberalismo destruiu as funções sociais do Estado e depois nos jogou como alternativa ao mercado: se quiserem, defendam o Estado que eu destruí, tornando-o indefensável; ou venham somar-se à esfera privada, na verdade o mercado disfarçado.Mas se a esfera neoliberal é a esfera mercantil, a esfera alternativa não é a estatal. Porque há Estados privatizados, isto é, mercantilizados, financeirizados; e há Estados centrados na esfera pública. A esfera pública é centrada na universalização dos direitos. Democratizar, diante da obra neoliberal, é desmercantilizar, colocar na esfera dos direitos o que o
neoliberalismo colocou na esfera do mercado. Uma sociedade democrática, posneoliberal, é uma sociedade fundada nos direitos, na igualdade dos cidadãos. Um cidadão é sujeito de direitos. O mercado não reconhece direitos, só poder de comprar, é composta por consumidores.Na esfera da informação, houve até aqui predomínio absoluto da esfera mercantil. Para emitir noticias era necessário dispor de recursos suficientes para instalar condições de ter um jornal, um rádio, uma TV. A internet abriu espaços inéditos para a democratização da informação.A democratização da mídia, isto é, sua desmercantilização, a afirmação do direito a expressar e receber informações pluralistas, tem que combinar diferentes formas de expressão e de mídia. A velha mídia é uma mídia mercantil, composta de empresas financiadas pela publicidade, hoje aderida ao pensamento único. Uma mídia composta por empresas dirigidas por oligarquias familiares, sem democracia nem sequer nas redações e nas pautas dos meios que a compõem.A nova mídia, por sua vez, é uma mídia barata nos seus custos, pluralista, crítica. O novo espaço criado pelos blogueiros progressistas faz
parte da esfera pública, promove os direitos de todos, a democracia econômica, política, social e cultural. A esfera pública tem expressões estatais, não- estatais, comunitárias. Todas comprometidas com os direitos de todos e não com a seletividade e a exclusão mercantil.São definições a ser discutidas, precisadas, de orma democrática, aberta, pluralista, de um fenômeno novo, que prenuncia uma sociedade justa, solidária, soberana. A possibilidade com que estão comprometidos Dilma e Lula de uma Constituinte autônoma permite que se possa discutir e levar adiante processos de democratização do Estado, de sua reforma em torno das distintas formas de esfera pública, desmercantilizando e desfinanceirizando o Estado brasileiro.

Fonte:http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=527

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Porque continuo sendo Lula.

Nascido em uma família grande, somos 14 irmãos, fiz neste rico ambiente muitos aprendizados. O primeiro deles me conferiu o meu melhor diploma. Alguns chamam com sabedoria de Escola da Vida. Os intelectuais detestam este conceito. É brega, é ultrapassado, é fora de contexto, e por ai vai. E desta grande família, dos meus irmãos sobretudo, recebo muito bons e-mais. O Marcílio é um dos bons provedores. Escolhe os seus a dedo. Este agora que ele me enviou está na coleção dos excelentes. Recomendo esta dica do Marcílio. Degustem também.

Porque continuo sendo Lula.

Pedro Lima *

FHC, o farol, o sociólogo, entende tanto de Sociologia quanto o governador de São Paulo, José Serra, entende de economia. Lula, que não entende de sociologia, levou 32 milhões de miseráveis e pobres à condição de consumidores; e que também não entende de economia; pagou as contas de FHC, zerou a dívida com o FMI e ainda empresta algum aos ricos.

Lula, o analfabeto, que não entende de educação, criou mais escolas e universidades que seus antecessores juntos [14 universidades públicas e entendeu mais de 40 campi], e ainda criou o PRÓ-UNI, que leva o filho do pobre à universidade [meio milhão de bolsa para pobres em escolas particulares].

Lula, que não entende de finanças nem de contas públicas, elevou o salário mínimo de 64 para mais de 291 dólares [valores de janeiro de 2010], e não quebrou a previdência como queria FHC.

Lula, que não entende de psicologia, levantou o moral da nação e disse que o Brasil está melhor que o mundo. Embora o PIG-Partido da Imprensa Golpista, que entende de tudo, diga que não.

Lula, que não entende de engenharia, nem de mecânica, nem de nada, reabilitou o Proálcool, acreditou no biodiesel e levou o país à liderança mundial de combustíveis renováveis [maior programa de energia alternativa ao petróleo do planeta].

Lula, que não entende de política, mudou os paradigmas mundiais e colocou o Brasil na liderança dos países emergentes, passou a ser respeitado e enterrou o G-8 [criou o G-20].

Lula, que não entende de política externa nem de conciliação, pois foi sindicalista brucutu; mandou às favas a ALCA, olhou para os parceiros do sul, especialmente para os vizinhos da América Latina, onde exerce liderança absoluta sem ser imperialista. Tem fácil trânsito junto a Chaves, Fidel, Obama, Evo etc. Bobo que é, cedeu a tudo e a todos.

Lula, que não entende de mulher nem de negro, colocou o primeiro negro no Supremo (desmoralizado por brancos) uma mulher no cargo de primeira ministra, e que pode inclusive, fazê-la sua sucessora.

Lula, que não entende de etiqueta, sentou ao lado da rainha (a convite dela) e afrontou nossa fidalguia branca de lentes azuis.

Lula, que não entende de desenvolvimento, nunca ouviu falar de Keynes, criou o PAC; antes mesmo que o mundo inteiro dissesse que é hora de o Estado investir; e hoje o PAC é um amortecedor da crise.

Lula, que não entende de crise, mandou baixar o IPI e levou a indústria automobilística a bater recorde no trimestre [como também na linha branca de eletrodomésticos].

Lula, que não entende de português nem de outra língua, tem fluência entre os líderes mundiais; é respeitado e citado entre as pessoas mais poderosas e influentes no mundo atual [o melhor do mundo para o Le Monde, Times, News Week, Financial Times e outros...].

Lula, que não entende de respeito a seus pares, pois é um brucutu, já tinha empatia e relação direta com George Bush - notada até pela imprensa americana - e agora tem a mesma empatia com Barack Obama.

Lula, que não entende nada de sindicato, pois era apenas um agitador;... é amigo do tal John Sweeny [presidente da AFL-CIO - American Federation Labor-Central Industrial Congres - a central de trabalhadores dos Estados Unidos, que lá sim, é única...]e entra na Casa Branca com credencial de negociador e fala direto com o Tio Sam lá, nos "States".

Lula, que não entende de geografia, pois não sabe interpretar um mapa; é ator da [maior] mudança geopolítica das Américas [na história].

Lula, que não entende nada de diplomacia internacional, pois nunca estará preparado, age com sabedoria em todas as frentes e se torna interlocutor universal.

Lula, que não entende nada de história, pois é apenas um locutor de bravatas; faz história e será lembrado por um grande legado, dentro e fora do Brasil.

Lula, que não entende nada de conflitos armados nem de guerra, pois é um pacifista ingênuo, já é cotado pelos palestinos para dialogar com Israel.

Lula, que não entende nada de nada;.. é bem melhor que todos os outros...!

* Economista e professor de economia da UFRJ

terça-feira, 24 de agosto de 2010

ELEIÇÃO PARA PRESIDENTE PODE ESTAR DECIDIDA

FONTE:http://eleicoes.uol.com.br/2010

Pesquisa CNT/Sensus divulgada na manhã desta terça-feira (24) mostra a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, na frente das intenções de voto, com 46%, contra 28,1% de José Serra (PSDB). Em terceiro lugar está a senadora Marina Silva (PV) com 8,1%. Votos em branco, nulos e indecisos somam 16,8%. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para cima ou para baixo.

Na última pesquisa, a ex-ministra da Casa Civil liderava com 41,6%, Serra aparecia com 31,6% e Marina registrava 8,5%. Votos em branco, nulo e indecisos representavam 14,3%.

"É uma eleição tecnicamente decidida em primeiro turno a partir dos dados de hoje. Dilma tem 55,3% dos votos válidos e os demais candidatos têm 44,7%", explicou Clésio Andrade, presidente da CNT.

“Não estamos afirmando que a eleição terminou. A eleição só acontece no dia 3 de outubro, mas nunca vimos uma pessoa com 40% ou mais de intenção de votos não ir para o segundo turno", esclareceu o diretor do Instituto Sensus, Ricardo Guedes, no sentido de indicar que dificilmente haja uma reviravolta do cenário eleitoral estudado pelo instituto.

A 103ª edição da pesquisa fez uma simulação de segundo turno entre a candidata petista e o tucano. Nela, Dilma aparece com 52,9%, contra 34% do ex-governador de São Paulo. Dentro desse cenário, brancos, nulos e indecisos chegam a 13,%.

Nesta edição da pesquisa, não houve simulação de segundo turno entre Marina e Serra e Dilma e Marina.

Na pesquisa espontânea – a que os nomes de candidatos não são indicados aos entrevistados - Dilma aparece com 37,2% das intenções de voto, contra 21,2% de Serra e 6% de Marina Silva. Brancos, nulos e indecisos representam 30,6%.

Propaganda política
O levantamento atual também levou em consideração questões a respeito das propagandas políticas veiculadas no rádio e na televisão desde o último dia 17 de agosto. Um total de 42,9% dos entrevistados afirmaram acompanhar o horário eleitoral gratuito.

Destes, 56% disseram que Dilma foi a candidata que apresentou a melhor propaganda eleitoral. Já para 34% dos entrevistados, a performance do tucano foi melhor e 7,5% avaliaram que a candidata do partido verde teve a melhor exposição na propaganda eleitoral.

Na avaliação do diretor do Instituto Sensus, o programa eleitoral da candidata do governo teve boa aceitação com uma imagem de leveza, com um programa que emocionou e mostrou resultados. De acordo com Guedes, o candidato tucano, principal adversário de Dilma, foi prejudicado pelo "episódio da escolha do vice", pela "questão da judicialização da campanha" e pela "demonstração de ser contrário à política do presidente Lula".

Expectativa de vitória
Os entrevistados também foram questionados sobre quem ganharia as eleições para presidente da República neste ano, independentemente do voto do eleitor. Segundo o levantamento, 61,8% apontaram Dilma como vencedora, enquanto outros 21,9% indicaram Serra. Para 1,3%, Marina Silva é a favorita. O índice de entrevistados que não responderam ou não souberam totalizou 14,2%.

Em relação à pesquisa realizada em julho, a expectativa de vitória de Dilma subiu quase 15 pontos percentuais. Na ocasião, a petista tinha 47,1%, Serra contava com 30,3% e Marina tinha 2,2%. Não responderam e não souberam: 16,7%.

Rejeição dos candidatos
A rejeição de Marina Silva e José Serra teve um crescimento expressivo nesta pesquisa se comparada com a anterior. Hoje, 40,7% dos ouvidos não votariam “de jeito nenhum” em Serra, enquanto que na edição anterior eles somavam 30,8%. Em relação à Marina, 47,9% não votariam nela, ante 29,7% na pesquisa anterior.

Já o percentual de Dilma de rejeição se manteve estável levando em conta a margem de erro. O atual é de 28,9% e na pesquisa passada era de 25,3%. A petista também subiu a sua aceitação como “única candidata em quem os entrevistados votariam”, com 39,8% nesta pesquisa e na passada, 34,6%.

Para 22,6% dos ouvidos, Serra aparece como o único que votariam, contra 25,5% da edição anterior. Para Marina, 8,3% a indicaram como a única candidata possível. No levantamento anterior, eles somavam 10,9%

Dados regionais
Das cinco regiões do país, Dilma aparece em primeiro lugar em quatro delas, com exceção do Sul, onde José Serra venceria as eleições com 47,8% dos votos. A petista aparece em segundo lugar com 35,7%, seguida por Marina Silva, com 6,9%. Brancos, nulos e indecisos representam 9,3% dos votos.

Na região Nordeste, a ex-ministra da Casa Civil tem seu melhor resultado, com 62,1%. Serra aparece com 19,8% e Marina Silva, com 6,4%. Brancos, nulos e indecisos somam 11,1%.

As regiões Norte e Centro Oeste são analisadas juntas e apontam Dilma com 45%, Serra com 25,5% e Marina com 7,6%. Brancos, nulos e indecisos chegam a 20,5%.

Na região Sudeste, a diferença entre Dilma e Serra é menor. A petista lidera com 39,2%, o tucano com 27,6% e a candidata verde aparece com 9,7% dos votos. Brancos, nulos e indecisos representam 21,8% dos votos.

Votos por gênero
Entre os entrevistados, 49,4% dos homens votariam em Dilma, 28,7% optariam por Serra e 7,6% escolheriam Marina Silva. Dentro desse cenário, brancos, nulos e indecisos chegam a 13%.

Já a avaliação das mulheres indicou que 42,9% votariam em Dilma, 27,4% em Serra, 8,4% em Marina.e 20,3% ainda estão indecisas ou votariam em branco ou nulo.

Nesta edição, o governo Lula e o desempenho pessoal do presidente não foram avaliados com os entrevistados.

Para a 103ª Pesquisa CNT/Sensus, foram entrevistadas 2.000 pessoas, em 136 municípios de 24 Estados, entre os dias 20 e 22 de agosto de 2010. A pesquisa foi registrada no TSE com o número 24.903/2010.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Getúlio e Lula: o mesmo combate

Por Emir Sader


Há pouco mais de meio século – em 1954 -, em um dia 24 de agosto, morria Getúlio Vargas, o mais importante personagem da história brasileira no século passado. Ele havia sido antecedido na presidência do país por Washington Luis (como FHC, carioca recrutado pela elite paulista), que se notabilizou pela afirmação de que “A questão social é questão de polícia”, que erigiu como brasão de seu governo, produto da aliança “café com leite”, das elites paulista e mineira (essa que FHC queria reviver).

Getúlio liderou o processo popular mais importante do século passado no Brasil, dando inicio à construção do Estado nacional, rompendo com o Estado das oligarquias regionais primário-exportadoras, e começando a imprimir um caráter popular e nacional ao Estado brasileiro.

Um país que tinha tido escravidão até pouco mais de 4 décadas – o ultimo a terminar com a escravidão nas Américas - , que significava que o trabalho era atividade reservada a “raças inferiores”, passava a ter um presidente que interpelava os brasileiros no seu discurso com “Trabalhadores do Brasil”. Fundou o Ministério do Trabalho, deu inicio à Previdência Social, fazendo com que a questão social passasse de “questão de policiai”, a responsabilidade do Estado.

Começou a aparelhar o Estado para ser instrumento fundamental na indução do crescimento econômico que, junto às políticas de industrialização substitutiva de importações, deu inicio ao mais longo ciclo de expansão da história do Brasil. Promoveu a expansão da classe operária, criou as carreiras públicas no Estado, impulsionou a construção de um projeto nacional, de uma ideologia da soberania nacional, organizou um bloco de forças que levou a cabo o processo de industrialização, de urbanização, de modernização do Brasil.

Getúlio pagou com sua vida a audácia da fundação da Petrobrás, no seu segundo mandato. Foi vítima dos tucanos da época, com o corvo mor Carlos Lacerda como golpista de plantão. Tal como agora, detestavam tudo o que tivesse que ver com o povo, com nação, com Estado. Resistiram à campanha “O petróleo é nosso”, como entreguistas e representantes do império norteamericano aqui. A direita nunca perdoou Getúlio.

Os corvos daquela época – tal como os de hoje – desapareceram na poeira do tempo. Seu continuador, FHC, afirmou que ia “virar a página do getulismo”, porque sabia que o neoliberalismo seria incompatível com o Estado herdado do Getúlio. Fracassou seu governo e o projeto de Estado mínimo dos tucanos.

A figura de Getúlio permanece como referência central do povo brasileiro e se revigora com o governo Lula. Com a consolidação da Petrobrás, com a retomada do papel do Estado indutor do desenvolvimento econômico, da afirmação dos direitos sociais dos trabalhadores e da massa da população.

São Paulo, que promoveu uma tentativa de derrubada do Getúlio em 1932 – movimento caracterizado por Lula como uma tentativa de golpe -, promove Washington Luis e o 9 de Julho (de 1932), com nomes de avenidas, estradas e ruas, mas não tem nenhum espaço público importante com o nome do Getúlio. Não por acaso São Paulo representa hoje o ultimo grande bastião da direita, das forças e do pensamento conservador, no Brasil.

Getúlio foi um divisor de águas na história brasileira, como hoje é Lula. Diga-me o que pensa de Getúlio e de Lula e eu te direi quem você é politicamente. O dia 24 de agosto encontra o Brasil reencontrado com o Estado nacional, democrático e popular, com a soberania na política externa, com o regaste do mundo do trabalho, com mais uma derrota da direita. O fio condutor da história brasileira passa pelos caminhos abertos e trilhados por Getúlio e por Lula.

domingo, 22 de agosto de 2010

Encontro Nacional dos Blogueiros Progressistas afirma democracia.

São Paulo - Cerca de 300 autores de blogs reunidos na capital paulista neste domingo (22), segundo dia do 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, na capital paulista, aprovaram uma carta de princípios.

O texto defende a liberdade de expressão, especialmente na internet, democratização da comunicação e a universalização da banda larga no Brasil (acesse link para íntegra da Carta dos Blogueiros Progressistas, no quadro abaixo). O documento encerra o 1º Encontro Nacional dos Blogueiros Progressistas.

Os trabalhos foram organizados por Altamiro Borges, do Centro de Estudos Barão de Itararé, e tomaram cerca de duas horas e meia. Propostas elencadas na manhã do domingo por grupos de trabalho foram apresentadas e aprovadas na plenária.

Também foi deliberada a realização de um segundo encontro, em data e local ainda a definir, além de eventos locais e regionais e aprovadas moções de apoio e de solidariedade a jornalistas e comunicadores.

Blogs mostram um outro ponto de vista, analisam jornalistas

Uma das primeiras polêmicas entre os ativistas esteve relacionada ao próprio nome do evento. Enquanto alguns participantes defendiam outras opções de adjetivos aos blogueiros, ficou definida a manutenção do termo "progressistas".

"O que seremos depende menos do nome e mais de nossa conduta daqui para frente", resumiu Conceição Lemes, do Viomundo. A resolução teve apoio da maioria da plenária.

Preocupações em definir o movimento como suprapartidário e desvinculado de lideranças e correntes políticas específicas, em sublinhar a posição contrária à censura e em garantir o apoio à neutralidade da internet foram incorporadas à redação final.

O texto foi divulgado na tarde deste domingo. Há ainda apoio a regulamentação dos artigos da Constituição Federal que tratam dos meios de comunicação no país e de incentivo a estruturas de financiamento para produtores autônomos.

Fonte: http://www.redebrasilatual.com.br/

sábado, 21 de agosto de 2010

PORQUE TRIPUDIAR SOBRE NOSSOS COMBATENTES? ISTO AGRIDE A MINHA HISTÓRIA E DE TODOS OS COMPANHEIROS.

Não faz muito tempo resgatei neste Blog um pouco da história daqueles da minha geração que decidiram participar ativamente no combate à ditadura militar, instalada no Brasil a partir do golpe de 64. Para nós sempre vinha à lembrança a coragem daqueles que participaram da Resistência Francesa contra a truculência de Hitler. Sem nenhuma censura aos companheiros que na atualidade receberam indenizações pelos danos sofridos na ditadura, preferi não requerer este benefício. Minha participação, como militante da Ação Popular (APML)sempre foi um ato de doação. A redemocratização do país foi minha indenização. Tenho convicção que a combatente Dilma não se envergonha deste passado. Pelo contrário, temos motivo de nos orgulhar dele. E minguem irá tripudiar sobre nossa história. Ninguém. Veja abaixo os comentários de Mino Carta:
A guerrilheira, ainda

Por Mino Carta

Por que a revista da Globo desenterra o passado da candidata de Lula?

O passado de Dilma. Documentos inéditos revelam uma história que ela não gosta de lembrar: seu papel na luta armada contra o regime militar. Para explicar a foto em branco e preto estampada na capa de uma Dilma mocinha é o que nos conta a revista Época da semana passada. Não costumo ler a publicação da Globo, mas, alertado pelo leitor Wilson Moreira, de Curitiba, desta vez vou a ela, tomado de curiosidade.

Por que a semanal de uma empresa de comunicação devota da candidatura de José Serra à Presidência da República entrega-se à evocação do passado da antagonista? Haverá quem diga: todos sabem que a candidata de Lula militou na luta armada contra a ditadura e as reportagens de Época se destinam a esclarecer os fatos, documentos à mão. Obra oportuna, portanto. Meritória. E não seria o caso de dizer necessária?

A mídia da Globo não declina a devoção a que me referi acima. Pelo contrário, como o resto dos seus mais ilustres companheiros midiáticos, não perde a ocasião de declarar sua isenção, a qual seria própria do jornalismo verdadeiro, fator indissolúvel da profissão. Trata-se de besteiras dignas de figurar no Febeapá do saudoso Stanislaw, mas as besteiras, abundantes nas nossas paragens, pesam menos, muito menos que a hipocrisia.

Certo é que o qualificativo guerrilheira baila na boca dos frequentadores dos recantos finos para acompanhar o nome da candidata de Lula, quando não é suficiente para identificá-la por si próprio, como seria Perigo Público nº 1 nos tempos de Al Capone.

Leio os dois textos que compõem a reportagem, um sobre a Dilma guerrilheira, outro sobre a Dilma prisioneira. Bem trabalhados, eu diria sem ares de professor. O que me intriga é a pensata. A ideia que pautou os diligentes repórteres. Não, não solfejarei que gostaria de apostar em razões do mais puro jornalismo, voltado à missão de iluminar o caminho dos leitores. Aí eu mesmo mergulharia em hipocrisia.

Confesso que me toma, a soprar na zona miasmática situada entre o fígado e a alma, a convicção de que o intuito de Época foi oferecer munição à campanha de Serra e à ojeriza dos eleitores que apreciam a repressão e temem os reprimidos. Dilma, aliás, nunca pegou em armas e não portava uma na hora da prisão, conforme o depoimento de quem a prendeu. Sem contar que um ou outro dos entrevistados não me pareceram confiáveis, porque ressentidos, presas de velhos rancores.

Pois é, a guerrilheira. Não sei se, de fato, Dilma Rousseff não gosta de lembrar o passado. Sei, porém, que não tem razão alguma para se envergonhar dele. Alguém disse que os moços dispostos a se engajar na luta armada pretendiam transformar o Brasil em “um Cubão”. Sim, a revolução castrista empolgava mínima parte da juventude brasileira, nacionalista a seu modo e prisioneira do confronto entre os dois impérios, URSS e EUA, este para nós, na função de seu quintal, significava a condição de súdito colonizado. A sujeição.

Cuba não é um Brasil, e a revolução de lá foi popular em uma acepção aqui impossível. As diferenças são evidentes e nem por isso foram percebidas por aqueles jovens inquietos que pretendiam enfrentar uma ditadura capaz de ser sanguinária, e sempre ancorada no apoio americano. Inviável apostar então, no país-continente, na adesão de um povo resignado, herdeiro da escravidão.

Digamos que foram sonhadores destemidos, jovens no entanto, em um momento histórico que incendiava o mundo ocidental e que via o Brasil e a América Latina entregues a ditaduras exercidas com extrema violência e com a bênção de Washington. Até Guevara acreditou em uma solução de verdade irrealizável e morreu, assassinado e solitário, cercado por olhares indiferentes. O povo só sabia viver sua miséria.

A história da humanidade é pontilhada pelo exemplo de jovens que ousaram até limites extremos para combater a prepotência. Muitos deles, inúmeros, são celebrados como heróis no mundo todo. Por exemplo, os maquis franceses e os partigiani italianos. Guerrilheiros contra as ditaduras de Hitler e Mussolini, e na maioria de esquerda.

Está na hora de reconhecermos, uma vez por todas, os nossos heróis, acima da retórica dos tradicionais, e espero obsoletos, donos do poder, e a hipocrisia da mídia que os interpreta. O Brasil não virou um Cubão, mas quem lutou contra a ditadura entra na galeria. •

P.S.: O editorial da Folha de S.Paulo de quinta 19 pretende que, ao escolher Dilma, Lula portou-se como se fosse possível tratar a política qual vida familiar ao apresentar “uma candidata que ninguém conhece”. Se fosse, o presidente teria agido como os donos da mídia que colocam seus filhos na direção de jornais, revistas, tevês. Teste: o autor do editorial é: A) Santo; B) Poeta; C) Esquecido.



Mino Carta
Mino Carta é diretor de redação de CartaCapital. Fundou as revistas Quatro Rodas, Veja e CartaCapital. Foi diretor de Redação das revistas Senhor e IstoÉ. Criou a Edição de Esportes do jornal O Estado de S. Paulo, criou e dirigiu o Jornal da Tarde. redação@cartacapital.com.br

Fonte:http://www.cartacapital.com.br/politica/a-guerrilheira-ainda

Fórum Social das Américas: transformações e desafios do Brasil em debate

Por Reiko Miura, Comunicação FPA
As Fundações Perseu Abramo (FPA), do Partido dos Trabalhadores (PT) e Mauricio Grabois (FMG), do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) promoveram, no dia 14/08, dentro da programação do IV Fórum Social das Américas, realizado em Assunção (Paraguai), o seminário Brasil: transformações e desafios para o próximo período, com o objetivo de realizar um balanço dos dois períodos sob comando do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com enfoque na integração política na América Latina, na relação interna com os movimentos sociais e de trabalhadores, além dos desafios para os próximos anos.

Participaram da mesa Fernando Apparício Silva, assessor especial do Ministro de Assuntos Estratégicos da Presidência da República do Brasil; Ricardo Abreu Alemão, secretário de Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil (PC doB) e presidente do Conselho Curador da FMG; Valter Pomar, membro do Diretório Nacional do PT e secretário executivo do Foro de São Paulo; e Nivaldo Santana, vice-presidente (e presidente em exercício) da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

As principais tendências mundiais e as estratégias brasileiras para fazer frente aos novos desafios foram apresentadas por Fernando Apparício Silva, que integra a equipe do ministério que está preparando o Plano estratégico Brasil 22, e que apontará as metas do país no bicentenário da Independência. Segundo Silva, no cenário internacional atual - instável e violento -, é preciso que o Brasil seja um protagonista. Entre as tendências listadas por Silva estão a aceleração do progresso científico-tecnológico, o agravamento da crise, as migrações e o consequente aumento da xenofobia, a contínua globalização internacional e a concentração do poder mundial. Para fazer frente a essa realidade, Silva ressaltou quatro aspectos aos quais o Brasil deve estar atento: a questão ambiental e energética – países desenvolvidos e de industrialização mais antigas terão que trocar a matriz energética e já buscam alternativas como a energia nuclear (o Brasil tem a 6ª maior reserva de urânio do mundo, e somente 25% estão prospectados); a estruturação do mundo em grandes em blocos - grandes instituições de governança global são dominados pelos países do Ocidente, que determinam as agendas mundiais (os países em desenvolvimento representam mais de 50% do PIB mundial, porém estão subrepresentados nos organismos mundiais); e o aumento da concentração militar nos países centrais – esses países tentam desarmar os países periféricos e o país precisa continuar a atuar para a desconcentração desse poder.

Apparicio Silva também enfatizou a necessidade de o Brasil continuar sua busca pela reforma e participação no Conselho de Segurança da ONU e em outros organismos internacionais como o FMI e o Banco Mundial, para ter direito a voto e tentar reverter a situação atual, ditada pelos blocos econômicos formados pelos países desenvolvidos do Ocidente. Tudo isso, segundo ele, em consonância com países que tem os mesmos objetivos, os mesmos interesses e hoje estão subrepresentados.


Eleições e propostas para o desenvolvimento regional
Para Ricardo Abreu Alemão não há como discutir Brasil isolando-o do continente sul americano e da América Latina, inclusive da situação mundial. No momento, segundo ele, o Brasil vive uma guerra, com as eleições presidenciais, na qual se debate o projeto nacional, o projeto de desenvolvimento, que é o desafio mais importante a ser vencido pelo país, principalmente pela candidatura apoiada por seu partido, a de Dilma Rousseff. Segundo Alemão, a direita brasileira não explicita, porém tem seu projeto nacional que é o de atualizar o neoliberalismo,(e é o que defende a ALCA, por exemplo). Alemão informou que o projeto de desenvolvimento proposto pelo seu partido foi adotado pela coligação de 10 partidos que apóiam Dilma Rousseff e tem como eixos a integração sul americana e latinoamericana, a soberania nacional, a democratização mais profunda do país, o desenvolvimento econômico e o desenvolvimento social.


Ao fazer uma análise sobre o quadro eleitoral atual, Alemão afirmou que no jogo político atual no país, estão no páreo, com chances, as candidaturas de Dilma Rousseff e José Serra. Segundo Alemão, trata-se de uma polarização de projetos antagônicos de nação, de continentes e de posicionamento do país no contexto internacional, tendo de um lado um projeto nacional e integracionista sul americanista e latinoamericana, e de outro, um projeto neoliberal, dependente. Alemão disse discordar das críticas que tem sido feitas ao Brasil, de ser subimperialista e de estar colocando em prática um projeto nacional de desenvolvimento capitalista, e enfatizou que a aliança que hoje conduz o processo brasileiro, é formado por forças de esquerda, com horizonte socialista.

Alemão finalizou dizendo que o Brasil vive hoje um processo que já está transformando o poder político no país, mas segundo ele, "vai haver um momento de ruptura revolucionária. O Brasil não vai passar o poder político para o povo e para a esquerda de maneira gradual. Vai haver grandes embates políticos na América do Sul e na América Latina”.

Neoliberalismo no Brasil
Valter Pomar fez uma retrospectiva história sobre a situação recente do Brasil para explicar em que contexto ocorrem as eleições de 2010. Para Valter, durante 430 anos (1500-1930), o Brasil se manteve como fornecedor de produtos primários para as metrópoles capitalistas centrais; passou por um período de 50 anos num processo de rápida industrialização, a fase do desenvolvimentismo; foi atingido pela crise econômica na década de 1980. E após 10 anos de crise, o neoliberalismo se instala no país. E nessa sequência, segundo Pomar, que em 2002, Lula é eleito pela primeira vez. Na sua avaliação, os três primeiros anos de governo estiveram ainda sob hegemonia neoliberal, com forte presença do capital financeiro dominando as decisões de governo. Em seguida, acontece a mudança e o país entra num período desenvolvimentista que se mantém até hoje.

As eleições presidenciais de 2010, segundo Pomar, estão polarizadas entre duas candidaturas: a de José Serra, apoiada por neoliberais e pelos desenvolvimentistas conservadores, e a de Dilma, apoiada por parte de dos desenvolvimentistas conservadores e pelos desenvolvimentistas democráticos populares. “O grande capital brasileiro, como força econômica, não perderá se ganharmos a eleição, mas os trabalhadores perderão se Serra ganhar”, afirmou Pomar. Entre os desafios colocados para o país, Pomar apontou a imposição de uma derrota ao capital financeiro e as reformas política e tributária como grandes desafios para o país para dotar o Estado brasileiro de força política e econômica para acelerar o processo de investimento social e produtivo.

Agenda unificada dos trabalhadores

Para Nivaldo Santana, o movimento sindical brasileiro vive um novo ciclo. O país convive com seis centrais sindicais legalizadas (cinco delas unificadas em torno da agenda política da candidata Dilma Rousseff) e em 1º de junho, no encontro realizado em São Paulo – o Conclat – foi aprovada uma agenda unificada dos trabalhadores. Para exemplificar o momento favorável que as centrais sindicais vivem hoje, no segundo mandato de Lula, Santana citou o exemplo da valorização do salário mínimo. “Ainda temos problemas, e dificuldades para superá-los como a questão da Previdência Social e da rotatividade do mercado de trabalho”, disse Santana.

Entre os desafios a serem enfrentados num novo projeto de desenvolvimento do país, Santana destacou a valorização do trabalho, a previdência pública, a redução da jornada e o pleno emprego. “Precismaos ampliar nosso nível de organização”, disse Santana, enfatizando que para sustentar o novo ciclo progressista é preciso também realizar as reformas política e tributária e promover a democratização dos meios de comunicação.

Fonte:http://www.fpabramo.org.br/artigos-e-boletins/artigos/forum-social-das-americas-transformacoes-e-desafios-do-brasil-em-debate

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Serra mostra-se agressivo em debate na internet

Por: João Peres, Rede Brasil Atual

Publicado em 18/08/2010, 11:05

Última atualização às 18:27

Os candidatos à Presidência Marina Silva (PV), Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) são vistos em vídeos do primeiro debate online do Brasil, transmitido ao vivo de São Paulo. (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)
São Paulo – José Serra (PSDB) mais agressivo. Marina Silva (PV) tentando se colocar como alternativa e mostrando PT e PSDB muito parecidos. Dilma Rousseff (PT)reforçando as conquistas do governo Lula e lembrando o legado de Fernando Henrique Cardoso. Foi este o resumo do primeiro debate na internet entre candidatos à Presidência da República.

O tucano chegou ao Teatro da Universidade Católica (Tuca) na capital paulista sob a pressão de pesquisas que mostram o alargamento da vantagem da adversária do PT - a última, a do Vox Populi divulgada na terça-feira (17), apontou 16 pontos de diferença entre os dois. E logo ao fim do primeiro bloco havia dado o tom que pode ser o de sua campanha daqui por diante: ataques enérgicos.

Serra chamou Dilma de ingrata por, segundo ele, não reconhecer a herança deixada pelo governo Fernando Henrique Cardoso, do qual foi ministro. Insinuou que a petista copiou propostas de seu programa de governo. E disparou ainda contra Marina Silva e até contra o jornalista Josias de Souza, que no último bloco comparou as alianças que sustentaram o governo FHC com as alianças que sustentam o governo Lula.

O coordenador de internet da campanha de Dilma, Marcelo Branco, ironizava em conversa com a reportagem durante um dos intervalos: “Acho que dormiu pouco esta noite. Está com uma cara um pouco desfigurada. Nervoso, inseguro. Exatamente porque é difícil enfrentar um debate como esse, principalmente na área de educação, em que foi um governador que tratou os professores a porretada.”

Educação foi, de fato, um dos temas centrais do encontro. E novamente o motivo para a perda de estribeiras. Serra e Marina abriram a conversa falando sobre ensino técnico. O tucano prometeu um milhão de vagas em quatro anos e a criação do Protec, que seria como o Programa Universidade para Todos (ProUni), do governo Lula, mas voltado à formação de técnicos.

Marina Silva aproveitou para dar o tom de sua fala, atacando a gestão de Serra e de seu partido em São Paulo. "Por que, em vinte anos do PSDB, não tivemos aqui um exemplo a ser transformado em políticas públicas para o Brasil? Está dizendo agora que vai fazer em quatro anos o que não fez em vinte." Em conversa de corredor, um petista pondera que Penna, do PV de São Paulo e aliado de Serra, acabaria tendo "um treco" com a postura de Marina.

Dilma Rousseff, por seu turno, lembrou que o DEM, aliado histórico do PSDB, ingressou no Supremo Tribunal Federal (STF) com Ação Direta de Inconstitucionalidade para pedir a revogação do ProUni. A ex-ministra da Casa Civil apontou que o governo Lula só não fez mais porque uma lei aprovada durante a gestão FHC proibia a União de promover o sustento das escolas técnicas. Serra rebateu afirmando "isso é mentira" e novamente tentou mostrar a petista como uma candidata fabricada, afirmando que "algum assessor" tinha passado aquele dado que ela repetia erroneamente.

“Dilma e Marina estão fazendo uma dobradinha muito boa. As duas estão colocando no corner o candidato José Serra, que está tendo alguma dificuldade”, comemorava o senador Eduardo Suplicy (PT-SP).

Por dificuldade ou por opção, Serra continuou sua mudança de tom com frases como "no torneio do quanto pior, melhor, o PT é campeão" e “seu espelho retrovisor é tão grande. Maior que seu para-brisa”, numa tentativa de desmerecer a comparação entre governos.

A candidata governista, por sua vez, aproveitou para apontar a instabilidade econômica do país na virada de 2002 para 2003. "(Havia) dívida externa elevadíssima. Devíamos tanto aos credores internacionais e tínhamos empréstimo no FMI (Fundo Monetário Internacional), que controlava todos os nossos investimentos; impedia investimento em transporte, ferrovias, rodovias", enumerou.

O ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos lembrou, em conversa com a reportagem, as vantagens do governo Lula na geração de empregos e nos programas sociais. "E uma coisa muito importante é que na hora que o mundo viveu a maior crise que já existiu, o presidente e seu governo souberam tomar medidas anticíclicas. Em vez de subir o imposto, baixar. Em vez de restringir o consumo, fazer aumentar. De modo que o país, que já tinha um mercado interno montado, teve condições de fazer girar o sistema capitalista e a crise acabou sendo uma marolinha."

Outros tons
Marina Silva, embora admitindo avanços do governo Lula no campo social, reiterou que PT e PSDB são muito parecidos no arco de alianças e não contemplam a necessidade da construção de um modelo de desenvolvimento que leve em conta os aspectos ambientais.

Em novo ataque a Serra, Marina questionou o porquê de o PSDB utilizar uma favela virtual em seu programa eleitoral na televisão, arrancando aplausos da plateia: "Tivemos favela virtual, quando tem tanta favela real, como a que eu visitei ontem."

O candidato a vice na chapa do PV, o empresário Guilherme Leal, negou após o debate que exista uma mudança planejada no tom da candidata. “Não acredito que seja estratégia diretamente com relação ao Serra. O que ela procura ser é mais enfática em mostrar que é uma alternativa às outras duas candidaturas, que de alguma forma se assemelham, como ela teve oportunidade de dizer, no seu arco de alianças, na velha política”

Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência da República, entende que Marina mudou sim o tom, talvez sentindo a "desidratação" da campanha de Serra e a possibilidade de tomar a segunda posição. "Por outro lado (Marina) insiste numa tese extremamente ingênua que é a possibilidade de virmos a ter uma convergência entre PT e PSDB no futuro."
Fonte: http://www.redebrasilatual.com.br/temas/politica/rede-brasil-atual-acompanha-debate-entre-candidatos

terça-feira, 17 de agosto de 2010

UMA NOVA ARQUITETURA FINANCEIRA PODE NASCER NA AMÉRICA LATINA

Conhecí o sr. Joaquim no período em que trabalhei na assessoria da Agência de Desenvolvimento Solidário - ADS. Joaquim era o nome aportuguesado. Ele é alemão e eu não sabia como pronuncíar seu nome verdadeiro. Com quase 70 anos, Joaquim mantinha um sentimento otimista em relação ao futuro da sociedade mundial. Ele passou a maior parte da vida na Alemanha Oriental e foi integrante do Partido Comunista daquele país. Quando o Muro de Berlim caiu ele já tinha clareza da inviabiabilidade do modelo de socialismo não democrático vivido no país. Mas continuava um forte crítico do capitalismo. Sua maior inspiração vinha da leitura dos escritos de Rosa Luxemburg. Conhecí Joaquim precisamente no Instituto que leva o nome desta importante crítica social. O Instituto Rosa Luxemburg promove o debate e a busca de alternativas no âmbito da economia solidária. Em parcerias com outros institutos brasileiros trouxe esta reflexão sobre uma nova arquitetura financeira para os países do UNASUL. Confira:

Elaborado por la oficina de la Fundación Rosa Luxemburg Países Andinos
En el año 2007, en el marco de la configuración de una Nueva Arquitectura Financiera Regional (NAFR), surgió la posibilidad de configurar al Banco del Sur como una nueva alternativa de financiamiento para el desarrollo social, económico y ambiental de los países miembros de la UNASUR. La propuesta impulsada por la Comisión Técnica Presidencial ecuatoriana establece tres pilares fundamentales en los que se asentará la NAFR con el Banco del Sur, que funcionará como un banco de desarrollo de nuevo tipo, el Fondo Común de Reservas del Sur, y la Unidad de Cuenta Regional, iniciada con la creación del Sistema Unitario de Compensación Regional de pagos, SUCRE. Estos tres pilares se complementarán con el desarrollo de un Mercado Virtual de Valores Regional.
Según consta en el Convenio Constitutivo del Banco del Sur, suscrito y en proceso de ratificación por los sietes países fundadores, las nuevas prioridades de desarrollo de la región se basan en cuatro elementos fundamentales: soberanía Alimentaría, Soberanía de la Salud, Soberanía Energética y Soberanía de los Recursos Naturales; establecidas a partir de las necesidades propias de la región y con la intención de atenderlas de acuerdo a las potencialidades y recursos propios de los países miembros.
Consideramos que es necesario que la sociedad civil y los movimientos sociales conozcan a fondo la propuesta de la NAFR, así como su visión y alcance respecto a los temas económicos, sociales, ambientales, energéticos, de infraestructura, entre otros. El fortalecimiento de esta iniciativa a nivel de Latinoamérica, no es posible sin el involucramiento activo de las organizaciones sociales, es necesario un debate amplio que obligue a que la ejecución de esta propuesta responda a las necesidades de los pueblos, y a los retos que nos plantean los diferentes modelos de crisis.
En este sentido, este boletín propone socializar los contenidos y avances de la propuesta ecuatoriana, con el fin de que cada actor se pueda involucrar a partir del conocimiento.
Acesse o Portal http://www.rls.org.br/ e conheça melhor esta proposta.

ONU promove debate para tentar conter a desertificação mundial que atinge 1 bilhão de pessoas

Embora o texto de Renata Giraldi, da Agência Brasil não faça referência ao papel da Agricultura Familiar no combate à desertificação, cada vez mais, nós técnicos em meio ambiente, podemos afirmar isto. A Agricultura Familiar deve figurar na agenda da ONU para o debate do tema em questão.Por: Renata Giraldi, da Agência BrasilPublicado em 16/08/2010, 15:16

Última atualização às 15:16

Brasília – A Organização das Nações Unidas (ONU) lançou nesta segunda-feira (16), em Fortaleza, a Campanha da Década dos Desertos e da Desertificação. O objetivo é atrair a atenção e a sensibilidade das autoridades e da população em defesa de medidas de proteção e gestão adequada das regiões atingidas pela seca. A degradação da terra ameaça a subsistência de mais de 1 bilhão de pessoas em cerca de 100 países. As informações são das Nações Unidas.

Os principais problemas são causados pela degradação contínua do solo devido às mudanças climáticas, à exploração agrícola desenfreada e à má gestão dos recursos hídricos.

De acordo com especialistas, este conjunto de dificuldades provoca ameaça para a segurança alimentar e pode levar à fome das comunidades afetadas, além de gerar a degradação de solo produtivo. No início desta década, houve um apelo das Nações Unidas para que os países intensificassem os esforços para cuidar desse recurso.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Agricultura urbana em Sete Lagoas é uma resposta a intolerância das multinacionais. Veja porque.

O Paraná tem potencial para se tornar um santuário de diversidade genética - uma espécie de banco de sementes de produtos orgânicos, que poderão vir a ser comercializados no futuro. A opinião é do doutor em agroecologia Miguel Altieri, professor da Universidade de Berkeley na Califórnia e um dos ícones da agroecologia no mundo. Altieri, de origem chilena, visitou o centro de referência de agroecologia em Curitiba, que abrange o Parque Newton Freire-Maia, Fazenda Experimental Cangüiri, Hospital Adauto Botelho, entre outras áreas, num total de 1,5 mil hectares. O local servirá para desenvolver pesquisa, extensão e difusão da agroecologia, através de parceria entre a Universidade Federal do Paraná (UFPR), Emater, Secretaria de Agricultura e Abastecimento, Iapar, entre outros.
"O Paraná está em posição muito privilegiada, com estrutura oficial de pesquisa e extensão", elogiou Altieri, que ministrou palestra ontem à tarde na Emater. Segundo ele, o fato de o governo estadual estar tentando conseguir o certificado livre de transgênicos é altamente positivo. "É um perfil muito importante", disse.
A agroecologia, explicou, é uma ciência que surgiu como uma crítica à agricultura industrial. "Os Estados Unidos colocaram a agricultura industrial como um modelo a ser seguido. Ela é de fato muito produtiva, mas de pouca vida", afirmou. Segundo ele, a quantidade agrícola produzida nos EUA triplicou nos últimos 50 anos; em contrapartida, o uso de fertilizantes aumentou 20 vezes. "Nos Estados Unidos, 211 agricultores abandonam por dia o campo. Só permanecem os grandes produtores, que recebem subsídios", criticou, acrescentando que entre 1996 e 1998 o governo norte-americano concedeu US$ 23 bilhões em subsídios agrícolas.
Sobre o mercado de produtos orgânicos, Altieri afirmou ser favorável à inclusão deles na merenda escolar. "É um mercado muito amplo, que incentiva os agricultores a optar pelo orgânico."
Transgênicos
Para Altieri, não é possível a produção orgânica conviver com a transgênica numa mesma área. "A contaminação transgênica, diferentemente do pesticida, é para sempre. Fica no sistema e, mesmo que a contaminação seja de apenas 1% no início, esse índice vai aumentar muito com o passar do tempo", falou. "São modelos totalmente incompatíveis." Ele também criticou a pressão de multinacionais, que não permitem o estudo dos impactos ecológicos provocados pelos transgênicos. "Não conhecemos esses impactos justamente porque não existem estudos. Professores que fizeram pesquisa nesse sentido foram expulsos das universidades, por pressão das multinacionais", denunciou.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

AS ELEIÇÕES PARA PRESIDENTE PODEM SER DECIDIDAS NO PRIMEIRO TURNO?

Por rodrigo souza

Do Correio Braziliense

Primeiro Turno?

De Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

A cada momento, as eleições suscitam perguntas diferentes. Já foram várias: Dilma decolará? Serra será candidato? Marina vai empolgar? Quanto de sua popularidade Lula conseguirá transferir?

A mais nova e interessante diz respeito a um cenário que muitos consideravam impensável há pouco tempo: será que Dilma vai ganhar no primeiro turno?

Algumas pessoas acham que apenas formular essa pergunta é tomar partido de Dilma, querer que ela vença ou torcer por ela. São os que supõem que a hipótese é tão absurda que só faria sentido na cabeça de um "dilmista".

Na verdade, não. São cada vez mais numerosos os analistas que trabalham com essa possibilidade. Até quem sempre raciocinou unicamente com a situação inversa, de Serra vencer no primeiro turno, hoje admite que ela exista e que está se tornando a cada dia mais provável.

Já faz tempo, no entanto, que as pesquisas permitiam antevê-la. A rigor, desde o final do ano passado, quando Serra ainda estava com folgada dianteira. Bastava levar em conta o que diziam as pessoas que conseguiam estabelecer a ligação entre Dilma e Lula.

Entre os que sabiam que ela era a candidata do presidente, a liderança do ex-governador desaparecia e os dois ficavam com a mesma intenção de voto. Mas, ao considerar o perfil socioeconômico dos que não sabiam, via-se que ela tinha grande potencial de crescimento, bastando, para isso, que a informação aumentasse e alcançasse os segmentos mais propensos a votar em seu nome.

De dezembro em diante, as pesquisas foram mostrando que, a cada ponto que subia o conhecimento de que ela era a candidata de Lula, aumentavam suas intenções de voto. Ou seja, embora Serra continuasse liderando, sua vantagem era frágil, pois se sustentava em algo que a campanha eleitoral se encarregaria de alterar. Era a desinformação que lhe dava vantagem, e essa tenderia a desaparecer à medida que a eleição se avizinhasse.

Lula fez o que estava ao seu alcance para que cada vez mais pessoas identificassem Dilma como sua candidata. Levou-a a todos os palanques, convidou-a para inaugurações e solenidades, viajou com ela Brasil afora. Mas foi a imprensa quem mais contribuiu para que seu objetivo - universalizar a informação de que ele a apoiava - fosse sendo progressivamente atingido.

Em 2010, fora seus discursos para as platéias reunidas nesses eventos, Lula só se dirigiu diretamente ao conjunto dos eleitores para falar em Dilma uma vez: quando estrelou os comerciais e o programa partidário do PT em maio. Apenas nessa oportunidade usou uma mídia de massa para falar olhando nos olhos do eleitor e pedir seu voto.

Hoje, cerca de 80% dos eleitores são capazes de associar Dilma a Lula, mas menos de 25% dizem conhecê-la bem. Faltam 20% que sequer a conhecem e há uma larga fatia que somente sabe seu nome.

Engana-se quem olha seus atuais 40% de intenções de voto como teto. Ela chegou a esse patamar através de um processo de difusão da informação que alcançou o eleitor popular fundamentalmente através do chamado "boca a boca". Nele, a bem dizer, a televisão foi apenas coadjuvante.

Quando, a partir da semana que vem, a propaganda eleitoral começar e Lula passar a aparecer diariamente no programa e nos comerciais na TV e no rádio, Dilma deverá entrar em uma nova etapa de crescimento. Até onde irá, é difícil dizer.

Como as perspectivas de crescimento de Serra são reduzidas, a esperança de quem quer dois turnos se deslocou para Marina e os pequenos candidatos. Mas a mídia que terão é tão exígua (Marina, por exemplo, disporá de um único comercial em horário nobre por semana) que é pouco provável que sejam sequer percebidos pela maioria do eleitorado.

É por essas (e outras) que quem entende de eleição cada vez mais considera possível a vitória, em primeiro turno, da candidata de Lula.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Crescem as ações da democracia direta. Confira.

O fortalecimento da mídia progressista no Brasil

O 1° Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, que será realizado de 20 a 22 de agosto, em São Paulo, representa mais um passo importante na luta pela construção de um sistema democrático de comunicação no Brasil. Evento fortalece o processo de acúmulo que vem sendo construído nos últimos anos na direção do fortalecimento das mídias alternativas no Brasil. As agendas de um conjunto de iniciativas se cruzam e são articuladas por um fio condutor comum: a compreensão de que a maioria da população brasileira não tem respeitado hoje o direito à uma informação de qualidade.

Redação - Carta Maior

O 1° Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, que será realizado de 20 a 22 de agosto, em São Paulo, representa mais um passo importante na luta pela construção de um sistema democrático de comunicação no Brasil. Até o dia 2 de agosto, mais de 200 pessoas já tinham se inscrito para participar do encontro que conta com o apoio do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, da Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação (Altercom) e do Movimento dos Sem Mídia (MSM).

A Carta Maior saúda e apóia a iniciativa do evento e destaca o acúmulo que vem sendo construído nos últimos anos na direção do fortalecimento das mídias alternativas no Brasil. Vale a pena fazer uma rápida retrospectiva desse processo.

Em março de 2008, um encontro realizado em São Paulo reuniu 42 jornalistas, estudantes, professores e outras pessoas que atuam na área da comunicação, de diferentes regiões do país. Entre outras questões, discutiu-se o avanço do movimento de comunicação da mídia alternativa em todo o país. Nascia ali a idéia de realizar um encontro nacional para aprofundar esse debate. Após uma série de reuniões e articulações regionais, em junho do mesmo ano foi realizado no Rio de Janeiro o 1° Fórum de Mídia Livre. O encontro que teve lugar no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro reuniu cerca de 500 ativistas de vários estados, confirmando a crescente rejeição à ditadura dos grandes meios de comunicação e a existência de ricas experiências alternativas e independentes em todo o país.

De lá para cá, essa articulação só se fortaleceu. No final de 2009, a realização da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) deu concretude e forma política às articulações que vinham sendo construídas no setor. Entendendo que seus interesses não são representados ou defendidos pelas associações atualmente existentes, pequenos e médios empresários e empreendedores de mídia (revistas, jornais, livros, sites e blogs) começaram a debater a idéia de criar sua própria entidade. Após uma série de encontros e reuniões preparatórias, um seminário realizado dia 27 de fevereiro de 2010, em São Paulo, definiu a criação da Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores de Comunicação (Altercom).

A nova entidade nasceu com o objetivo de defender interesses políticos e econômicos das empresas e empreendedores de comunicação comprometidos com os princípios da democratização do acesso à comunicação, da pluralidade e da liberdade de expressão. Quanto mais proprietários e empreendimentos de comunicação houver no país, maior será a liberdade de expressão: essa é uma das idéias centrais que animou a criação da Altercom, que propõe também a adoção de critérios mais transparentes e democráticos na aplicação de verbas públicas em publicidade.

As agendas de todas essas iniciativas se cruzam e são articuladas por um fio condutor comum: a compreensão de que a maioria da população brasileira não tem respeitado hoje o direito à uma informação de qualidade. O 1° Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas será mais uma oportunidade para fazer essa luta avançar.

Era para ser uma entrevista. Virou picuinha do Bonner.

A mulher que precisa de um tutor e o Bonner

por Luiz Carlos Azenha

Curiosa a entrevista do Jornal Nacional com Dilma Rousseff. Primeiro, a ex-ministra é cobrada por suposta falta de “jogo de cintura”. Teria um “temperamento difícil”, teria “maltratado” colegas. Mas, ao mesmo tempo, não conseguiria governar sem Lula, o tutor.

A candidata apontou para a contradição: Você sabe, Bonner, o pessoal tem de escolher o que é que eu sou. Uns dizem que sou mulher forte, outros que eu tenho tutor.

Mas não parou por aí. A mulher que não tem jogo de cintura, a fera, é cobrada por alianças políticas que sugerem justamente o contrário.

Será que os entrevistadores acreditam que os telespectadores são tolos e não conseguem perceber essa falta de lógica?

Finalmente, faltou dizer que a aliança costurada pelo PT para ganhar a eleição repete as alianças empresariais feitas pela própria Globo (Sarney e Collor retransmitem a Globo).

Se fosse o Brizola, certamente teria notado isso.

Bonner saltitante na cadeira me pareceu um tom acima da voz grave.

Fiquem com a transcrição:

William Bonner: O Jornal Nacional dá início nesta segunda-feira a uma série de entrevistas ao vivo com os principais candidatos à presidência da República. Nós vamos abordar aqui temas polêmicos das candidaturas e também confrontar os candidatos com suas realizações em cargos públicos. Claro que não seria possível esgotar esses temas todos em uma única entrevista, mas nas próximas semanas os candidatos estarão também no Bom Dia Brasil e Jornal da Globo.

O sorteio realizado com a supervisão de representantes dos partidos determinou que a candidata do PT, Dilma Rousseff, seja a entrevistada de hoje. Nós agradecemos a presença da candidata. Boa noite, candidata.

Dilma Rousseff: Boa noite.

William Bonner: E informamos também que o tempo de 12 minutos da entrevista começa a contar a partir de agora. Candidata, o seu nome como candidata do PT à presidência foi indicado diretamente pelo presidente Lula, ele não esconde isso de ninguém. Algumas pessoas criticaram, disseram que foi medida autoritária, por não ter ouvido as bases do PT. Por outro lado, a senhora não tem experiência eleitoral nenhuma até esse momento. A senhora se considera preparada para governar o Brasil longe do presidente Lula?

Dilma Rousseff: Olha, William, olha, Fátima, eu considero que eu tenho experiência administrativa suficiente. Eu fui secretária municipal da Fazenda, aliás, a primeira secretária municipal de Fazenda de capital. Depois eu fui sucessivamente, por duas vezes, secretária de Energia do Rio Grande do Sul. Assumi o ministério de Minas e Energia, também fui a primeira mulher, e fui coordenadora do governo ao assumir a chefia da Casa Civil. Como vocês sabem, é o segundo cargo mais importante na hierarquia do governo federal. Então, eu me considero preparada para governar o país. E mais do que isso, eu tenho experiência, eu conheço o Brasil de ponta a ponta, conheço os problemas (do governo brasileiro).

William Bonner: Mas a sua relação com o presidente Lula, a senhora faz questão de dizer que é muito afinada com ele. Junto a isso, o fato de a senhora não ter experiência e ter tido o nome indicado diretamente por ele, de alguma maneira a senhora acha que isso poderia fazer com que o eleitor a enxergasse ou enxergasse o presidente Lula como um tutor de seu governo, caso eleita?

Dilma Rousseff: Você sabe, Bonner, o pessoal tem de escolher o que é que eu sou. Uns dizem que sou mulher forte, outros dizem que eu tenho tutor. Eu quero te dizer o seguinte: a minha relação política com o presidente Lula, eu tenho imenso orgulho dela. Eu participei diretamente com o presidente, fui braço direito e esquerdo dele nesse processo de transformar o Brasil num país diferente, num país que cresce, distribui renda, em que as pessoas têm pela primeira vez, depois de muitos anos, a possibilidade de subir na vida. Então, não vejo problema nenhum na minha relação com o presidente Lula. Pelo contrário, vejo que até é um fator muito positivo, porque ele é um grande líder, e é reconhecido isso no mundo inteiro.

Fátima Bernardes: A senhora falou em temperamento. Alguns críticos, muitos críticos e alguns até aliados falam que a senhora tem um temperamento difícil. O que a gente espera de um presidente é que ele, entre outras coisas, seja capaz de fazer alianças, de negociar, ter habilidade política para fazer acordos. A senhora de que forma pretende que esse temperamento que dizem ser duro e difícil não interfira em seu governo caso eleita?

Dilma Rousseff: Fátima, estava respondendo justamente isso, eu acho que têm visões construídas a meu respeito. Acho que sou uma pessoa firme, acho que em relação aos problemas do povo brasileiro eu não vacilo, acho que o que tem que ser resolvido prontamente, nós temos que fazer um enorme esforço. Eu me considero hoje, até pelo cargo que ocupei, extremamente preparada no sentido do diálogo. Nós do governo Lula somos eminentemente um governo do diálogo. Em relação aos movimentos sociais, você nunca vai ver o governo do presidente Lula tratando qualquer movimento social a cassetete. Primeiro nós negociamos, dialogamos. Agora, nós também sabemos valer a nossa autoridade. Nada de ilegalidade nós compactuamos.

Fátima Bernardes: Agora, no caso, por exemplo, a senhora falou de não haver cassetete, mas talvez a forma de a senhora se comportar. O próprio presidente Lula, este ano em discurso durante uma cerimônia de posse de ministros, ele chegou a dizer que achava até natural haver queixas contra a senhora, mas que ele recebeu na sala dele várias pessoas, colegas, ex-ministros, ministros, que iam lá se queixar que a senhora os maltratava.

Dilma Rousseff: Olha, Fátima, é o seguinte, no papel, sabe dona de casa? No papel de cuidar do governo é meio como se a gente fosse mãe, tem uma hora que você tem de cobrar resultados . Quando você cobra resultados, você tem de cobrar o seguinte: olha, é preciso que o Brasil se esforce, principalmente o governo, para que as coisas aconteçam, para que as estradas sejam pavimentadas, para que ocorra saneamento. Então tem uma hora que é que nem, você imagina lá sua casa, a gente cobra. Agora, tem outra hora que você tem de incentivar, garantir que a pessoa tenha estímulo para fazer.

Fátima Bernardes: Como mãe eu entendo, mas como presidente não tem uma hora que tem que ter facilidade de negociar, por exemplo, futuramente no Congresso, com líderes mundiais, ter um jogo de cintura ai?

William Bonner: O presidente falou em maltratar, não é, candidata?

Dilma Rousseff: Não, o presidente não falou em maltratar, o presidente falou que eu era dura.

William Bonner: Não, ele disse isso. A senhora me perdoe, mas o discurso dele está disponível. Ele disse assim: as pessoas diziam que foram maltratadas pela senhora. Mas a gente também não precisa ficar nessa questão até o fim, têm outros temas.

Dilma Rousseff: É muito difícil, depois de anos e anos de paralisia, e houve isso no Brasil. O Brasil saiu de uma era de desemprego, desigualdade e estagnação para uma era de prosperidade. Nós tínhamos perdido a cultura do investimento, aí houve uma força muito grande da minha parte nesse sentido, de cumprir meta, de fazer com que o governo Lula fosse esse sucesso que tenho certeza que está sendo.

William Bonner: A senhora tem na sua candidatura, além do apoio do presidente, a senhora também tem alianças formadas para essa sua candidatura. Por exemplo, a do deputado Jader Barbalho, do senador Renan Calheiros, da família Sarney, a senhora tem o apoio do ex-presidente Fernando Collor. São todas figuras da política brasileira, que, ao longo de muitos anos, o PT, o seu partido, criticou severamente, eram considerados como oligarcas pelo PT. Onde foi que o PT errou, ou melhor, quando foi que ele errou: ele errou quando fez aquelas críticas todas ou está errando agora, quando botou todo mundo debaixo do mesmo guarda-chuva?

Dilma Rousseff: Eu perguntaria outra coisa: aonde foi que o PT acertou? Quando percebeu que governar um país com a complexidade do Brasil implica necessariamente na sua capacidade de construir uma aliança ampla. O PT não tinha experiência de governo e agora tem. Nós não erramos e vou te explicar em que sentido: não é que nós aderimos ao pensamento de quem quer que seja. O governo Lula tinha uma diretriz: focar na questão social, fazer com que o país tivesse a oportunidade, primeiro, de um país que era considerado dos mais desiguais do mundo, diminuir a pobreza em 24 milhões. Um país em que as pessoas não subiam na vida elevou para as classes médias 31 milhões de brasileiros. Para fazer isso, quem nos apóia, aceitando os nossos princípios e aceitando as nossas diretrizes de governo, a gente aceita do nosso lado. Não nos termos de quem quer que seja, mas nos termos de um governo que quer levar o Brasil para um outro patamar.

William Bonner: O resumo é: o PT não errou nem naquela ocasião, nem agora.

Dilma Rousseff: Eu acho que o PT não tinha tanta experiência, eu reconheço isso. Ninguém pode achar que um partido como o PT, que nunca tinha estado no Governo Federal, tivesse, naquele momento, a mesma experiência que tem hoje. Acho que o PT aprendeu muito, mudou, porque a capacidade de mudar é importante.

William Bonner: O PT tem hoje nas costas oito anos de governo, então é razoável que a gente aborde aqui alguma das realizações. Vamos discutir um pouco o desempenho do governo em algumas áreas, começando pela economia. O governo comemora muito melhoras da área econômica, no entanto, o que a gente observa, é que quando se compara o crescimento do Brasil com países vizinhos, como Uruguai, Argentina, Bolívia, e também com os pares dos Brics, os chamados países emergentes, como China, Índia, Rússia, o crescimento do Brasil tem sido sempre menor do que o de todos eles. Por quê?

Dilma Rousseff: Eu acredito que nós tivemos um processo muito mais duro no Brasil com a crise da dívida e com o governo que nos antecedeu. Eu acho que o Uruguai e a Bolívia são países, sem nenhum menosprezo, acho que os países pequenos têm que ser respeitados, do tamanho de alguns estados menores no Brasil, que é um país de 190 milhões habitantes. Nós tivemos um processo no Brasil muito duro. Quando chegamos no governo, a inflação estava fora de controle. Nós tínhamos uma dívida com o Fundo Monetário, que vinha aqui e dava toda a receita do que a gente ia fazer. Nós tivemos que fazer um esforço muito grande para colocar as finanças no lugar e depois, com estabilidade, crescer. Este ano, a nossa discussão é que estamos entre os países que mais crescem no mundo, estamos com a possibilidade de ter uma taxa de crescimento de 7% do Produto Interno Bruto. Sem fazer comparações, a queda da economia na Rússia no ano passado foi terrível. Criamos quase 1,7 milhão empregos no ano da crise.

Fátima Bernardes: Vamos falar um pouquinho de outro problema, que é o saneamento. Segundo dados do IBGE, o saneamento no Brasil passou de 46,4 para 53,2 no governo Lula, um aumento pequeno, de 1 ponto percentual mais ou menos ao ano. Por que o resultado fraco numa área que é muito importante para a população?

Dilma Rousseff: Porque nós vamos ter um resultado excepcional a partir dos dados da pesquisa feita em 2010. Talvez uma das áreas em que eu mais me empenhei foi área de saneamento, porque o Brasil investia menos de R$ 300 milhões no país inteiro. Hoje, aqui no Rio, na favela da Rocinha, que eu estive hoje, nós investimos mais de R$ 270 milhões. Nós lançamos o Programa de Aceleração do Crescimento, para o caso do saneamento, na metade de 2007. Começou a amadurecer porque o país parou de fazer projetos. Prefeitos e governadores apresentaram os projetos agora, em torno do início de 2008, e aceleraram. Eu estava vendo recentemente que nós temos hoje uma execução de obras no Brasil inteiro. No Rio, Rocinha, Pavão-Pavãozinho, Complexo do Alemão. Obras de saneamento, de habitação. A Baixada Santista, em São Paulo, e a Baixada Fluminense aqui no Rio de Janeiro tiveram um investimento monumental em saneamento.

Fátima Bernardes: A gente gostaria agora que a senhora, em 30 segundos, desse uma mensagem ao eleitor, se despedindo da sua participação no Jornal Nacional.

Dilma Rousseff: Eu agradeço a vocês dois e quero dizer para o eleitor o seguinte: o meu projeto é dar continuidade ao governo do presidente Lula. Mas não é repetir. É a avançar e aprofundar, é basicamente este olhar social, que tira o Brasil de uma situação de país emergente e leva o nosso país a uma situação de país desenvolvido com renda, com salário decente, com professores bem pagos e bem treinados. Eu acredito que é a hora e a vez do Brasil e nós vamos chegar a uma situação muito diferente, cada vez mais avançada no final deste governo em 2014.