Acabei de ler dois artigos na internet sobre a disputa eleitoral em 2010: um do Cesar Maia o outro do Emir Sader. Conheci pessoalmente os dois. Cesar Maia é apenas dois anos mais novo do que eu. Na época do golpe militar no Brasil, em 1964, Maia era ligado ao Partidão (PCB). Foi exilado, preso, voltou à vida política passando pelo PDT, PMDB, PTB, desembarcando finalmente no Democratas, partido que representa a direita brasileira. Os Democratas, no Brasil, são herdeiros da Arena, grupo político de sustentação à ditadura militar, chamado depois de PFL.
Emir Sader foi meu professor de Ciência Política na USP em 1971. Foi ligado à POLOP e ao PCBR. Voltei a ouvir novamente o Emir quando iniciou-se o processo de formação do Partido dos Trabalhadores. Emir é filiado ao PT. Testemunho por ele uma grande admiração e respeito.
Porque estas breves biografias? Recomendo que cada um faça seu próprio julgamento lendo os respectivos blogs de cada um dos citados. Cesar Maia, do DEM, apóia Serra e faz oposição vigorosa ao PT. Emir Sader, do PT, apóia Dilma e faz oposição vigorosa ao PSDB, DEM, PPS (antigo Partidão - hoje também ligado aos grupos de direita). O gênio do Stanislaw Ponte Preta não poderia compor melhor enredo. Ponte Preta certa vez escreveu:
"É difícil ao historiador precisar o dia em que o Festival de Besteira começou a assolar o País. Pouco depois da "redentora", cocorocas de diversas classes sociais e algumas autoridades que geralmente se dizem "otoridades", sentindo a oportunidade de aparecer, já que a "redentora", entre outras coisas, incentivou a política do dedurismo (corruptela de dedo-durismo, isto é, a arte de apontar com o dedo um colega, um vizinho, o próximo enfim, como corrupto ou subversivo — alguns apontavam dois dedos duros, para ambas as coisas), iniciaram essa feia prática, advindo daí cada besteira que eu vou te contar".
Pois bem: Festival de Besteiras à parte é preciso restaurar o pensamento político ou a reflexão política no presente debate eleitoral para a presidência da República do Brasil. Vamos lá.
O noticiário de hoje continua farto de informações sobre as condições muito favoráveis à economia brasileira. Depois de 8 anos no governo o Partido dos Trabalhadores tem o direito de reivindicar a autoria compartilhada, dos bons resultados e da sua boa gestão na economia brasileira, sob o comando do presidente Lula.
A expansão da democracia econômica e política constituem efetivamente o principal legado. Sendo assim a pergunta que fica para politizar este debate é a seguinte: que partido ou partidos políticos no Brasil terão melhores condições de levar à frente este projeto de aprofundamento da democracia. O receituário neoliberal, fortemente defendido pelo PSDB, encerrou carreira entre 2008 e 2009 depois da última grande crise do capitalismo global. O nascente modelo que chamamos de Economia Solidária ou Social (do qual o Brasil é grande expressão) continua ganhando espaços internacionais. África do Sul e Índia são bons exemplos. A China é outra coisa, tanto quanto a Rússia. Serve também de exemplo a este novo modelo econômico o Canadá francês. Resumidamente, o modelo a que nos referimos liquida com hegemonia do capital privado e inclui novos atores. O novo cenário (que avaliamos como cenário de transição) é composto de empresas estatais, empresas sociais e empresas capitalistas. Isto significa dizer que, ao contrário do receituário neoliberal, está fora de propósito qualquer solução privatista da economia e que o sistema tributário deverá ser o grande promotor de distribuição da renda nacional. A agricultura familiar deverá se expandir ainda mais, assim como os sistemas cooperativos de produção, comercialização e finanças. A Secretaria de Economia Solidária, hoje um braço do Ministério do Trabalho, deverá ser alçada a condição de Ministério com assento e maior papel no BNDS, Banco Central, Banco do Brasil e CEF. O melhor exemplo internacional que podemos citar é o do sistema Desjadins do Canadá (www.desjardins.com). Vale ainda recordar, para fúria da direita brasileira, que assim como no Canadá, também no Brasil é fundamental a participação de organizações como a Central Única dos Trabalhadores, da Força Sindical e outras Centrais Sindicais na montagem de um sistema financeiro solidário e democrático, de propriedade dos sócio-trabalhadores. Esta seria uma das poucas formas alternativas a autofagia do capitalismo e um alternativa à verdadeira sustentabilidade econômica, ambiental, social e política.
Este é o debate necessário à eleição do novo presidente da República do Brasil.
Frederico Drummond
Prof de Filosofia e Meio Ambiente
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