sexta-feira, 17 de julho de 2009

A intuição dos gurus de mercado

O texto abaixo é integralmente de Luiz Nassif. Vale a pena conferir:
A intuição dos gurus de mercado
17/07 - 07:02 - Luís Nassif, colunista do Último Segundo

Ontem os mercados reagiram com otimismo porque Nouriel Roubini – o economista que primeiro previu a grande crise de 2008 – anunciou sua previsão de que a economia norte-americana já bateu no fundo do poço e agora começaria a se recuperar.

Roubini apostou durante muito tempo na grande crise. Para quem se preocupou em analisar as analogias entre o início do século e os últimos anos – eu mesmo fiz isso em meu “Os Cabeças de Planilha” – a grande crise era inevitável, devido à disfuncionalidade do sistema financeiro mundial, à multiplicação de novas ferramentas financeiras, criando efeitos em cascata de difícil controle.

Roubini tinha as mesmas informações de milhares de outros economistas. Analisava indicadores econômicos, indicadores de solvência de empresas, de mercado. Por que remou tão radicalmente contra a maré, e por que, afinal, ele estava certo e a maioria errado?

Anos atrás, o Grande Mestre soviético Garry Kasparov – o maior enxadrista da história – relatou sua visão de jogo em uma entrevista memorável. No tabuleiro – dizia ele – as possibilidade de combinações são infinitas. Por que ele escolhia sempre as alternativas vencedoras? Intuição, dizia ele.

O que vem a ser essa intuição milagrosa? É a capacidade de uma determinada pessoa de processar em sua cabeça milhares de informações e conseguir – por algum mecanismo pouco estudado – identificar aquelas que serão as dominantes, que definirão o rumo dos acontecimentos. Como ela não sabe como seu cérebro chegou ao resultado correto, chama a esse dom de “intuição”.

Antes da crise, muitos economistas brasileiros lotados em grandes instituições financeiras, tinham uma fé cega nas análises de risco, na técnica estatística desenvolvida pelos mercados, que permitia misturar diversas operações em uma mesma cesta, de maneira que eventuais prejuízos em uma operação fossem compensados por lucros em outros – e, na soma final, permitindo o ganho do investidor.

É evidente que a boa avaliação econômica e financeira depende também da boa matemática. Mas o que ocorria era uma fé cega na planilha, como se fosse possível prever todos os movimentos de mercado. Principalmente, o comportamento do mercado em períodos de crise.

Uma queda em um determinado mercado provoca perdas. Para cobrir o buraco, investidores precisam vender posições em outros mercados. Dessa maneira, cai o segundo mercado, meramente pelas ondas geradas pelo primeiro. Por sua vez, os investidores do segundo mercado terão que vender posições em terceiros mercados. E aí se cria a corrente da crise.

Alguns craques conseguem, em meio ao turbilhão de informações, identificar as linhas dominantes. Chamam a essa capacidade de “intuição”. Psiquiatras italianas estão trabalhando em um outro conceito, a “neuromagna”, uma capacidade psíquica presente tanto nesses grandes visionários quanto em médiuns.

É uma ciência ainda em desenvolvimento. O que importa é que, e que alguém sempre acerta contando com a “intuição”, é uma maneira muito simplória de interpretar um dom que vai muito além da adivinhação
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