segunda-feira, 13 de abril de 2009

Em Florianópolis colho notas de um passado-presente, nas Cartas do Cárcere de Frei Beto

Recebí pelo e-mail da revista Caros Amigos o registro que reproduzo integralmente a seguir:

CARTAS DO CÁRCERE - Frei Betto
Por Renato Pompeu

Frei Betto, como outros estudantes dominicanos de São Paulo, esteve preso dos 25 aos 29 anos de idade, de 1969 a 1973, condenado pela Justiça Militar como colaborador de opositores armados ao regime discricionário de então. Cartas que escreveu do cárcere a familiares, amigos e outros dominicanos foram publicadas em dois livros nos anos
1970, em pleno regime militar, Das catacumbas e Cartas da prisão. Agora, todas as cartas das duas obras foram reunidas num volume só, intitulado Cartas da prisão – 1969- 1973, recém-lançado pela Agir.
Os jovens de hoje necessitam, imprescindivelmente, conhecer como se vivia naqueles tempos. Os que passaram por aquela época também enriquecerão suas experiências se a relembrarem. Para todos, se recomenda a leitura dessas cartas. Eis a primeira carta, de 7 de dezembro de 1969, um domingo, escrita no Presídio Tiradentes, em São Paulo:

“A novidade é a própria vida na prisão. Cheguei há uma semana, tudo é novo. Talvez eu fique longo tempo neste presídio. Somos quase 200 presos políticos, entre rapazes
e moças. Ocupamos uma cela grande, espaçosa, ventilada, equipada com dois banheiros, chuveiro, tanque de lavar roupa, cozinha e fogão. Somos 32, quase todos jovens. Há dois feridos: Carlos Lichtsztejn levou quatro tiros da polícia ao ser preso; Antenor Meyer se atirou do quarto andar de um edifício ao tentar fugir. Estão em fase de recuperação. O coletivo é dividido em equipes. Cada dia uma se encarrega do serviço
geral. Ontem foi a minha: levantamos cedo, varremos a cela, preparamos
o café. Enquanto uns cuidavam da limpeza e dos feridos, outros cozinhavam. Consegui fazer um arroz soltinho... Ocupações: aulas de francês, ginástica, ioga, teologia, conversas. Quando o espírito é forte, a prisão é suportável. Ninguém se mostra abatido ou chateado. Todos demonstram bom estado de espírito. Felizmente, cessaram os interrogatórios. Agora é saber aproveitar o tempo. Esse período não é um hiato em minha vida, é o seu prosseguimento normal; sei que passo por uma importante experiência”,
Isso já deve bastar para interessar os leitores e leitoras a lerem o restante das cartas.
Renato Pompeu é jornalista e escritor, autor do romance-ensaio O Mundo como Obra de
Arte Criada pelo Brasil, Editora Casa Amarela, e editor-especial de Caros Amigos.
Artigo publicado na revista Caros Amigos edição 145/abril de 2009

Nenhum comentário: