quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

VOTOS DE ANO NOVO: UMA JORNADA PARA NOSSA DEMOCRACIA

No começo da década de 90, no bojo de uma grande reflexão intelectual que tomou expressão em críticos e pensadores como Fritjof Capara, Ken Wilber, Karl Pribram, Renée Weber, Pierre Weil, Roberto Crema, tendo ainda como inspiração a fenomenologia de Teilhad de Chardin, o teólogo Leonardo Boff apontou o caminho da democracia ecológica.
“ Há uma exigência política de uma educação ecológica, para que todos os seres humanos aprendam a conviver com todos os seres, animados e inanimados, como cidadãos de uma mesma sociedade. É a democracia ecológica-social-cósmica.(Boff, Leonardo 1993- p.91)
Dentro destas reflexões, ou em profunda parceria com a holo-ecologia surge o que vem sendo chamado de Economia Solidária ou Economia Social, na vertente de pensamento e práticas desenvolvida pelo professor Paul Singer (Singer, Paul -2000 – p.11). Segundo o professor Singer a economia solidária, entendida como um modo de produção, possui feição revolucionária e emancipadora, ao buscar sistemas de organização da economia em empresas autogestionárias e cooperativas, como uma prática de superação do capitalismo O “locus” da ética desta ação é agora, potencializada pela as empresas de tratamentos de resíduos e reciclagem, em um momento de grande crise mundial originária no esgotamento do recursos naturais, na base da exploração do modo capitalista de ser e viver o espaço coletivo.
As saídas individualistas como nos propõem o mercado, caíram no desespero do niilismo ou criaram espaço para uma fuga ao passado, como âncora de verdades eternas. O planeta terra está com seus dias contados. Isto não é nenhuma praga divina. É o resultado do nosso medo de romper o processo de destruição da vida. De encarar o desafio ecológico não como modismo, mas dentro de um horizonte ético, de entender esta ligação profunda de todos os habitantes (vivos e não vivos) do berço natal de nossa espécie.
Leonardo Boff nos fala de uma práxis cristã que consiga superar o burocratismo da hierarquia de poder da Igreja Católica ou de qualquer outra Igreja, que se estabeleça numa relação de poder com seus fiéis.
Este é um exemplo para uma autocrítica do PT. Ou melhor, da militância do PT. Uma militância que se resgate como legítimo sujeito da história e apenas por sua ação viva um partido político e uma estrutura do Estado se legitima. Quando falamos desta nova perspectiva estamos tratando de buscar a superação da democracia representativa pela democracia participativa. Os movimentos sociais e ação local constituem a base desta nova práxis. Mas não só. É preciso clarear o horizonte de uma democracia ecológica, como passamos a expor a seguir. Estas reflexões já ganharam corpo dentro do próprio PT, mas tiveram sua grande força na nova organização social, potencializado pelo Fórum Mundial Social.
Assim o primeiro desafio que nos defrontamos com a presente tarefa é a identificação de um fio condutor, que permita reconhecer a natureza das diversas contribuições, compartilhadas nos diversos fóruns políticos, que se inicia com uma visão dos seres humanos, ao longo da história. Se trabalharmos com esta visão, precisamos antes de tudo relembrar o significado de cultura, como um sistema de símbolos, normas, preceitos, cujo significado só existe para os humanos. E o sentido do sagrado, que do ponto de vista de uma construção científica tem sua melhor expressão na busca da transcendência, conceituada como metamotivação, na versão mais abalizada de Maslow.
Os humanos são antes de tudo singulares por dois fatores fundamentais: a) representam a possibilidade do universo se observar, sabendo que se sabe; b) é um ser que cria o próprio universo e constrói utopias.
Eu gostaria de enfatizar este dois pontos, referidos acima e retomá-los trazendo um pouco da reflexão de um pensador, cientista e teólogo, que já mencionamos no nascedouro da Ação Popular (AP), o padre Pierre Telhard de Chardin, que construiu uma fascinante obra sobre a trajetória da consciência, até esta alcançar o estágio humano e continuar como “filum” evoluindo na direção da mais-consciência (ou noosfera). Os dois pontos que eu havia citado sobre os humanos: a) representam a possibilidade do universo se observar, sabendo que se sabe; b) é um ser que cria o próprio universo e constrói utopias. Chardin – pesquisador e pensador brilhante disse:“No mais fundo de si mesmo o mundo vivo é constituído por consciência revestida de carne e osso. Da Biosfera à Espécie, tudo é, pois, simplesmente imensa ramificação de psiquismo que se busca através das formas.” (O Fenômeno Humano – trad. Leon Bourdon e José Terra, Herder, S. Paulo, 1965)
Os humanos, como ponto avançado da evolução, são coadjuvante de uma aventura, que prossegue, na formação da “Teia da Vida”(Capra).
Mas este filum que nos fala Chardin possui uma história e muitas culturas e um dos grandes desafios da antropologia é retirar os muitos véus que encobrem nossa visão, fazendo com que nosso olhar selecione apenas uma parte desta diversidade como a humanidade se mostra. Ao longo da história temos sido prisioneiros de um etnocentrismo, que nos impede de reconhecer a muitas faces de nossa trajetória.
Por que só conseguimos enxergar a humanidade como história do ocidente (e a história oficial do ocidente)? Creio que ao longo de nossa vivência adquirimos alguns vícios, que a antropologia clama para que nos libertemos dele. Mesmo no ocidente pouco ou nada conseguimos enxergar das chamadas populações aborígines (chamados índios). No Brasil, quando o país foi ocupado por Europeus tínhamos uma população superior a 1 milhão de habitantes, com seus hábitos, suas teogonias, suas crenças, etc. Se incluirmos todas as Américas este número deve quadruplicar. Excluímos os humanos e civilizações andinas, da região do México e de toda a América do Norte. Do Oriente, então nem falar: como era visto os humanos da China, produtores de uma grande cultura, da Índia e de toda a África. Nossa visão da humanidade é fortemente européia. Assim como nossa visão da Teologia. Mesmo hoje quando falamos de globalização, como esta experiência impacta na África, por exemplo?E de diversos outros povos que se mantiveram sobre o julgo do colonialismo europeu? Qual a face desta parte da humanidade? O que provavelmente há de comum entre estes humanos é a sua condição de opressão.
Mas qual o ser que ocultamos na opressão? Qual a sua face?
Segundo o pedagogo Paulo Freire o lado mais cruel da opressão é precisamente o estágio que opressor opera um massacre psicológico e cultural no oprimido, destruindo sua auto-estima e levando-o a compartilhar (aceitar) valores que não são seus. Esta é a grande alienação que nos falava Marx: em todas as épocas da história, o servo, o escravo, o trabalhador assalariado interioriza de tal forma a dominação que perde sua capacidade de reagir e passa a aceitar a opressão como vontade de Deus, ou subjugado pelo que eu chamo de uma depressão sócio-cultural que mina a força do excluído. E nós, os produtores da opressão, fomos extremamente competentes: eliminamos a capacidade do excluído se emancipar e o acusamos de mendicância. Eliminamos toda sua auto-estima e ficamos indignados quando este excluído prefere ficar dormindo sobre viadutos do que morar em um albergue. Minamos a fé do sertanejo - por séculos seguidos de dominação, fazendo-o crer que seu sofrimento lhe abrirá as portas do Céu e depois não entendemos sua resistência a ações modernizadoras de irrigação, construção de açudes e outros. O sertanejo violentado em sua alma e convencido da vontade de Deus pelo seu sofrimento, reage como coisa do “demo”, a ações de modernização.(lembremos que Lampião no cangaço era monarquista, em plena era republicana).Violentamos por séculos seguidos os negros escravos (estamos há pouco mais de cem anos da abolição da escravatura), convencendo-o da inferioridade de sua cultura. Porém estranhamos quando este reproduz padrões de consumo da sociedade branca.(para buscar sua inclusão desenvolve métodos de branqueamento) Incutimos no escravo a idéia que existe um processo natural de civilização, em que a condição tribal é inferior à condição societária, sem atentarmos que trata-se tão somente de organizações sociais diferentes. E pretendemos acreditar que uma dita civilização que construiu todos os instrumentos de destruição em massa seja chamada de civilização superior.
Mas como tratar esta brutalizarão da cultura e do espaço sagrado dos de grande parcela da humanidade, no espaço desta disciplina?
Considero sempre fundamental não esquecermos que o presente debate ocorre no espaço que lida com a cultura do sagrado, ou com a dimensão do sagrado no âmbito de nosso ser cultural. Lembrar isto permite circunscrever o campo de debate.
A primeira refere-se à proposição do debate, que permite a seguinte releitura: a sociedade capitalista promove a desvalorização do humano no ser humano, o que significa o próprio processo de alienação e reificação. Na sociedade capitalista os humanos são mais um dos muitos insumos. Seu trabalho é mercadoria, negociado como outras mercadorias, assim como os recursos naturais. A produção da mais valia se dá pelo sobre-trabalho e sua apropriação é uma expropriação: o dono do capital se apossa de algo que não lhe pertence. E assim se processa o início de uma história de exploração, degradação e exclusão do humano da sua condição fundamental de humano. Podemos promover nossa emancipação de tais relações, eliminando de nossa cultura, de nossa psiquê, de nossa história a herança perversa de um sistema que se afirma pelo supremo valor do Capital? Não é tarefa fácil, nem simples. Os caminhos não são muitos, mas existem. No espaço da Teologia da Libertação, da construção de modos de produção alternativo (economia solidária), na afirmação da ecologia profunda vislumbramos alguns caminhos.
O mais recente livro de Fritjof Capra, A Teia da Vida, retoma a visão de interligação ecológica de todos os eventos que ocorrem na Terra e da qual fazemos parte, de forma fundamental. Em muitos pontos, este pode ser o livro mais profundo dos já escritos por Capra. Ele nos apresenta seu conceito de Ecologia Profunda neste livro, um termo que, para ele, é mais apropriado que o termo holístico, já bastante gasto por pessoas que se apropriaram erroneamente deste termo para comercializá-lo. Nada melhor, então, do que lermos o próprio Capra O novo paradigma que emerge atualmente pode ser descrito de várias maneiras. Pode-se chamá-lo de uma visão de mundo holística, que enfatiza mais o todo que as suas partes. Mas negligenciar as partes em favor do todo também é uma visão reducionista e, por isso mesmo, limitada. Pode-se também chamá-lo de visão de mundo ecológica, e este é o termo que eu prefiro. Uso aqui a expressão ecologia num sentido muito mais amplo e profundo do que aquele em que é usualmente empregado. A consciência ecológica, nesse sentido profundo, reconhecer a interdependência fundamental de todos os fenômenos e o perfeito entrosamento dos indivíduos e das sociedades nos processos cíclicos da natureza. Essa percepção profundamente ecológica está agora emergindo em várias áreas de nossa sociedade, tanto dentro como fora da ciência. O paradigma ecológico é alicerçado pela ciência moderna, mas se acha enraizada numa percepção existencial que vai além do arcabouço científico, no rumo de sua consciência de íntima e sutil unidade de toda a vida e da interdependência de suas múltiplas manifestações e de seus ciclos de mudança e transformação. Em última análise, essa profunda consciência ecológica é espiritual. Quando o conceito de espírito humano é entendido como o modo de consciência em que o indivíduo se sente ligado ao cosmo como um todo, fica claro que a percepção ecológica é espiritual e política em sua essência mais profunda, e então não é surpreendente o fato de que a nova visão da realidade esteja em harmonia com as concepções das tradições espirituais da humanidade.
Vale aqui recordar experiências recentes, considerando como se processa em cada um de nós o que se convencionou chamar na emergência do paradigma holístico. Não iremos teorizar sobre isto, apenas fazer alguns registros de nossas experiências. A maioria de nós vive de alguma forma as angústias de nossas fragmentações internas. Não conseguirmos nos perceber como unidade. Basta um simples exercício para constatarmos isto. Se alguém nos pede para apontarmos algo da natureza logo nos apressamos a apontar uma arvore, o céu ou qualquer elemento exterior. Dificilmente apontamos para nós mesmos. Ou seja, não nos percebemos como a própria natureza. Isto é conhecido como Fantasia da separatividade. Esta ilusão, pôr si mesmo fragmentadora, gera outra mais grave ainda: a Fantasia da separação entre o nosso próprio corpo, nossas emoções e o nosso espírito. Isto é tão evidente que criamos uma ciência para o corpo e uma ciência para o espírito. Psicologia e biologia caminham separadas como tratassem de assuntos distintos. A medicina fragmenta-se nas múltiplas especializações, tratando de doenças, perdendo cada vez mais o sentido da unidade do ser. Conheci este enfoque com o Professor Pierre Weil, um mestre da abordagem holística:“ Quebramos a unidade do conhecimento e distribuímos os pedaços entre os especialistas. Para os cientistas , demos a natureza; aos filósofos, a mente; aos artistas, o belo; aos teólogos, a alma. Não satisfeitos, fragmentamos a própria ciência, espalhando-a pelos domínios da matemática, da física, da química, da biologia, da medicina e de tantas outras disciplinas. O mesmo ocorreu com a filosofia, a arte e a religião, cada um desses ramos se subdividindo ao infinito. Como conseqüência, o mundo do saber tornou-se uma verdadeira ‘Torre de Babel’, onde os especialistas falam cada qual a sua língua e ninguém se entende. A mais ameaçadora de todas as fragmentações, no entanto, foi a que dividiu os homens em corpo, emoção, razão e intuição, porque ela nos impede de raciocinar com o coração e de sentir com o cérebro.(...)”( in A Arte de Viver em Paz ).
As recentes preocupações com a ecologia mostraram-nos o quanto estamos próximo de uma liquidação do nosso planeta. O estágio que alcançou o capitalismo, reforçando o conceito de exploração literalmente de tudo, lembra-nos a lição da própria dialética: a reação à todo tipo de exploração é a nova síntese que se constrói mundialmente. Existe uma pedagogia para esta reação: a ecologia não é algo exterior nem aos indivíduos, nem às suas organizações e à sociedade.
Assim se constrói a busca de um diagnóstico para o que chamaremos de
a) Ecologia interior;
b) Ecologia social e
c) Ecologia ambiental.
O valor que permeia este diagnóstico é a compaixão e ação a solidariedade. O espaço da ação é o nosso espaço; o locus do nosso cotidiano. Onde moramos, onde aprendemos e principalmente, como ensinamos e como aprendemos. Ninguém pode se dá ao luxo do pessimismo e se ausentar desta tarefa. A pedagogia da Ecologia Interior ou Pessoal envolve desde as práticas religiosas, como exercícios de equilíbrio do tipo da yoga, restauração de práticas de revitalização da família, dos amigos e todos os laços afetivos. Na Ecologia Social o grande desafio é a construção da Economia e da Vida Solidária e todo modelo educacional voltado para este desenvolvimento e ações políticas, através de grupos de pressão, sindicatos, partidos políticos, etc. Na Ecologia Ambiental a ação pode volta-se para o estudo da biodiversidade, das tecnologias genéticas e no âmbito mais cotidiano para pressões que busquem estancar o consumo do planeta Terra. As ações de reciclagem, a pesquisa da biomassa como fonte de energia, a pressão pelo uso do transporte não predador, são apenas alguns exemplos de ações a serem desenvolvidas. O Partido dos Trabalhadores em qualquer processo de refundação terá que se defrontar com tais desafios e ser capaz de incorporar as novas demandas, que formulada no FMS pode sintetizar o espaço de uma nova esperança: um outro mundo é possível.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

GAIA - DELÍRIOS DA VIDA (1)


Em 1991 fui morar em Brasília, para não ocupar qualquer cargo público. A observação é pertinente, porque à época, contava-se nos dedos o número de pessoas que se mudava para Brasília, por livre e espontânea vontade. Pois bem, seguia o ano de 1991 e lá estava eu e família, morando no antro (revisor atenção) do pecado (sic): a famosa Academia de Tênis de Brasília, onde se instalara o governo provisório, do não menos provisório presidente Collor. Em tempo: minha esposa é especialista em hotelaria e turismo e respondeu a um vaga de gerente de eventos na ATB. Conseguiu o emprego e lá fomos. Nesta época conhecí o professor Pierre Weil, que dirigia uma instituição chamada Universidade Holística Internacional de Brasília, mantida pela Fundação Cidade da Paz. A UNIPAZ como era conhecida fora criada pelo Zé Aparecido, quando este foi governador do Distrito Federal. Zé Aparecido tinha participado de um seminário internacinal sobre holísmo e ecologia; ficou tão encantado com as teses da holologia (revisor mantenha a grafia) que decidiu criar a UNIPAZ. Durante toda sua existência a UNIPAZ manteve-se distante do Ministério da Educação, para garantir um curriculo sem patrulhas.
Também nesta época Pierre Weil procurava um profissional para coordenar programas de desenvolvimento organizacional holísticos em instituições públicas e privadas. Fui contratado. Fiz a Formação Holística de Base durante 2 anos e conhecí pessoalmente Fritjof Capra. De macaco de auditório passei para a militância.
Foi aí que passei a entender porque o planeta terra é um sistema vivo e que já andava muito mal humorado com a insistência do capitalismo corroer suas entranhas. A hipótese Gaia, que postula ser a terra um sistema vivo, auto-regulador, possui seus fundamentos bem desenvolvidos neste livro (acima) do Capra. Trata-se de leitura obrigatória para quem pretende manter algum grau de sanidade. Nos próximos meses irei trabalhar neste BLOG as teses do TEIA DA VIDA com programas de tecnologia social e desenvolvimento local.



NOTAS SOBRE SINGULARIDADES

É bem provável que, aos 54 minutos do dia 29 de Dezembro de 2008, isto tudo seja puro delírio. Senão vejamos:

1 - Notas sobre o Big-Bang - Se um segundo é pouco tempo, imagine um segundo dividido em um milhão de partes. Agora imagine a duração de uma dessas partes. Difícil, né? Pois esse foi o tempo necessário para a grande explosão ou Big-Bang acontecer. Em um milionésimo de segundo, toda a matéria e radiação que formariam o Cosmo estavam condensadas em um único ponto, ainda em forma de energia, a uma temperatura altíssima. Essa situação — que não pode ser imaginada com exatidão nem mesmo pelo mais louco dos cientistas — é chamada de singularidade. No milionésimo de segundo seguinte, alguma coisa rompeu essa singularidade, provocando uma explosão fenomenal. Essa foi a origem de todo o Universo. (Fonte e créditos: http://klickeducacao.ig.com.br/2006/materia/16/display/0,5912,IGP-16-42-2255-5019,00.html).

2 - Notas sobre Gaza - Neste domingo, jatos israelenses bombardearam cerca de 40 túneis no sul de Gaza, o quartel-general das forças de segurança do Hamas, a sede de um canal de TV de propriedade do grupo islâmico e uma mesquita. Segundo autoridades palestinas, cerca de 280 pessoas morreram no que está sendo considerado como o dia mais sangrento da história do território palestino. Em resposta aos ataques israelenses, militantes palestinos dispararam foguetes do tipo Qassam contra Israel, matando um israelense na cidade de Netivot, 20 km ao leste da Faixa de Gaza. Israel diz que os militantes lançaram 110 foguetes contra seu território. O governo israelense alertou que poderá iniciar operações militares por terra na Faixa de Gaza, se os disparos com foguetes por militantes palestinos contra alvos em Israel não cessarem. O governo também mobilizou reservistas para reforçar o Exército.

3 - Nota sobre Banco Suiço - Os clientes do Crédit Suisse, o segundo banco da Suíça, perderam cerca de 665 milhões de euros (cerca de 930 milhões de dólares) com a fraude do investidor americano Bernard Madoff, informou neste domingo o jornal "Sonntag", que citou "estimativas internas" do grupo. Um porta-voz do Crédit Suisse confirmou ao jornal que os clientes do banco perderam dinheiro, sem especificar quanto. Já o "Sonntag" antecipou perdas de 598 a 665 milhões de euros.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O POEMA QUE GOSTARIA DE TER ESCRITO

O poema abaixo de Carlos Drummond é o poema que eu gostaria de ter escrito, para colocar como oferenda, na grande mesa da partilha, onde desfrutamos coletivamente o pão e o espírito. Tomo de Carlos emprestado esta receita para fazer desta a minha oferenda:


RECEITA DE ANO NOVO

por Carlos Drummond de Andrade


Para você ganhar um belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano não apenas pintado de novo,
remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser, novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?)
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

"Toda esta crise mostra a desconstrução de uma narrativa "

Fui pescar estas palavras do Caccia Bava, no site do INSTITUTO POLIS e posso afirmar que não é bravata. Conheço o Silvio desde 1970. quando fomos colegas no curso de Ciências Sociais, na USP. Falando sobre as pespectivas para 2009, em um trecho do artigo ele assim se expressa:
“Quanto mais instável o cenário estiver, mais me animo. Porque toda esta crise mostra a desconstrução de uma narrativa e isso traz elementos muito importantes para a atuação do Pólis”, afirma Silvio Caccia Bava, coordenador executivo do Pólis e editor-chefe do Le Monde Diplomatique Brasil, em análise de conjuntura no âmbito do planejamento para o próximo ano.
Aproveite também para conferir na íntegra o artigo Propostas para Agora, de Plinio Arruda Sampaio. Você pode até não concordar com todas as idéias de Arruda Sampaio, mas o artigo apenas reforça a sua lucidez política.

"Os momentos de crise causam danos e aprofundam os problemas já existentes. No entanto, também trazem consigo a possibilidade de mudança e de crescimento. Geram brechas que podem permitir avanços e transformações. O colapso da economia estadunidense, que teve efeito em todo o mundo, tende a lesionar de forma contundente a periferia do sistema. Mas esta é a hora certa de agir. De acordo com a advogado e presidente da ABRA (Associação Brasileira de Reforma Agrária), Plinio Arruda Sampaio, para escapar da crise internacional é necessário aproveitar este momento com coragem de ação e de fixar objetivos realistas."

Em seu artigo Propostas para Agora, publicado na edição de dezembro do Le Monde Diplomatique Brasil, Plínio defende uma série de medidas na economia como uma ação de fortalecimento do mercado brasileiro. Para isso, a aliança com os outros países da América do Sul é urgente e necessária, como o funcionamento do Banco do Sul, fundado há um ano na Argentina. “Formar uma sólida opinião pública em favor de medidas drásticas no plano econômico evitaria o avanço de um processo mais acelerado de neocolonização do país”, afirma.

Leia na íntegra o artigo Propostas para Agora, de Plinio Arruda Sampaio, acessando:
http://www.polis.org.br/noticias_interna.asp?codigo=717

Revista Newsweek: presidente Lula figura entre as 20 pessoas mais influentes do mundo.

Realismo, capacidade de negociação, articulador, visão de resultados: esta é uma síntese de habilidades que se espera de um bom dirigente sindical. A classe média brasileira, os representantes da grande mídia e toda espécie de conservadores nunca souberam disto. Por isto desqualificavam Lula sindicalista, como desprovido de habilidades para o exercício de funções executivas do Estado brasileiro. A classificação da revista americana Newsweek tem valor simbólico. Serve no mínimo para os cientistas sociais e jornalistas descobrirem um pouco mais do processo de formação das lideranças populares no Brasil. Veja a nota publicada pela agência do Estadão:
"O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, figura como a 18ª pessoa mais influente do mundo numa lista elaborada pela revista americana Newsweek para delinear a nova estrutura de poder global. Na edição com data de 5 de Janeiro de 2009, o periódico publica reportagem especial sobre a ascensão de Barack Obama ao posto de pessoa mais influente do mundo e aponta os 49 políticos, grupos e personalidades com mais potencial de destaque durante o mandato do próximo presidente americano.
Ao justificar a escolha de Lula como a 18ª pessoa mais influente do planeta, a Newsweek escreve que, "depois de pegar o Brasil à beira da ruína no início de 2003", o atual presidente hoje governa um país com mais de US$ 200 bilhões em reservas internacionais e com o menor índice de inflação entre os países emergentes. Encabeçada por Barack Obama, a lista da Newsweek conta com o presidente da China, Hu Jintao, em segundo lugar, e o da França, Nicolas Sarkozy, em terceiro."

domingo, 21 de dezembro de 2008

Próximos lances do xadrez (o jogo) político brasileiro

Temos um quadro no mínimo curioso nos próximos lances do xadrez (o jogo) político:

1 - Nunca ví tanto neo-liberal pedir a intervenção do Estado para socorro de suas empresas (confundidas com a economia nacional ou internacional);

2 - Eu sempre entendi programas tipo Bolsa Família dentro de uma visão keynesiana. Os neo-liberais falaram que era assistencialismo. Agora estão clamando por Bolsas Corporativas ou similares. Serra estaria, neste sentido, muito mais próximo do governo Lula do que outros adversários. Serra é keynesiano enrustido, mas é.

3 - Neste quadro FHC teria que declarar novamente: esqueçam o que eu disse durante meus governos. FHC está precisando estudar de novo (se é que já estudou alguma vez) os principais clássicos do marxismo para entender a natureza das crises capitalistas. E proclamar: sempre fui keynesiano desde pequenininho. Mercado resolver crises estruturais do capitalismo é a maior bobagem do mundo e FHC sabe disto. Mas assim como o PT tinha isto claro (Lula idem), quem esteve mais próximo desta visão foi o Serra.

4 - Tenho saudade do mestre Celso Furtado e da CEPLAN. A moçada das faculdades de economia precisa conhecê-lo melhor.

5 - As burocracias nos estados modernos duram mais que um ou dois governos. Têm alma própria e representam a si mesma. Atuam como instituição corporativa e com uma forma de organização de interesses mais semelhantes às centrais sindicais do mundo todo. Qualquer que seja o novo presidente será preciso mapear melhor quem é quem na burocracia do estado brasileiro. Isto é fundamental. Em 1992 conheci uma senhora, economista, que fora assessora parlamentar, era informante do SNI e, em no referido ano de 92, ouvi dela que havia uma "comunidade de interesses" para intermediar a tramitação de projetos dos municípios no Congresso e no BNDS. Pode chamá-los de corretores ou lobistas. Mas a estrutura básica deste "clube" tinha sua origem na estrutura do antigo SNI. E creio que ainda tem. Esta burocracia precisa ser melhor compreendida por qualquer presidente.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

MUDANÇAS EM CURSO NA AMÉRICA LATINA

Fala do presidente Lula no encontro dos presidentes dos países da América Latina, Caribe e México, realizada em dezembro de 2008, no Brasil:

"O patrimônio desse povo revolucionário (cubano) nos inspirou nos tempos terríveis da opressão e continua a nos motivar na construção de um mundo melhor. Muitas gerações de brasileiros, inclusive a minha, celebraram as transformações sociais que Cuba realizou, nesses últimos 50 anos, e estas mudanças colocaram o seu país na condição de nação extremamente desenvolvida em matéria de saúde e educação."
No discurso, Lula pediu mudanças no sistema econômico e político internacional. "Quando a ganância de uns poucos ameaça as legítimas aspirações de bem-estar de muitos, torna-se inadiável uma profunda revisão no sistema financeiro internacional", afirmou o presidente. "Isso exige que os países em desenvolvimento tenham a voz mais ativa nas decisões que afetam toda a humanidade."

OS SONS DEVEM SER AGARRADOS NO VÔO PELAS ASAS!


O trabalho do pessoal da Cia Lúdica é simplesmente fantástico: Paulo (meu irmão) e Márcia (minha cunhada) estão entre os mais corajosos produtores culturais que conheço. E conheço muitos. A primeira versão desta peça tinha o seguinte nome: Aula! Que Absurdo! Para professores de filosofia que procuram material de qualidade para a reflexão dos seus alunos, aquí tem um ótimo exemplo. Confira, porque vale a pena.

"Os Sons devem ser agarrados no vôo pelas asas! é uma nova leitura que a Cia. Lúdica faz do primeiro espetáculo montado para o seu repertório: A Aula. Desta forma, Os Sons... também é inspirado no texto "La Leçon", de Eugène Ionesco, porém sua encenação transgride e transcende a própria cena de Ionesco. Esta transgressão consideramos uma homenagem ao mestre, pelo que se conhece do seu rico e livre pensamento. Considerado o pai do Teatro do Absurdo, Ionesco foi um dos mais importantes e polêmicos dramaturgos do século XX.
Encenação contemporânea, em Os Sons... não há nada de "novelinha" nem "historinha". É Teatro puro, denso, provocativo, desafiador. Pode ser a um só tempo cômico e dramático. Se em alguns momentos conduz o espectador a uma emoção viva, noutros pode aguçar a sua consciência crítica. O que há é o Teatro na sua acepção mais soberana e profunda, ou seja, a de ser um revolvedor, um investigador da alma humana e de seus desejos, medos, angústias e sonhos." (fonte: www.cialudica.com.br)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Qual o papel do pesquisador teórico na contemporaneidade?

De que forma um cientista social ou um filósofo podem contribuir com a nossa sociedade?

A própria educação passa a ser alvo das disputas por hegemonia: enquanto o capital contrói e exerce seu modelo de educar para a “mais produtividade”, sem se ocupar com a natureza do desemprego estrutural, o trabalho educa para a “mais humanidade”, sabendo que a educação e qualificação profissional por si não garante a “mais cidadania”, que só se viabiliza no âmbito da radicalização da democracia, quanto a inclusão integral dos seres humanos.
Assim estamos claramente de ante de dois ciclos: o ciclo do capital, que em sua natureza mantém o desemprego estrutural (mecanismo de manutenção da reserva da mão de obra, que pressiona para baixo o valor desta mão de obra) e pode fazê-lo no seio de um amplo programa de formação e qualificação tecnológica de sua mão-de-obra e de outro do ciclo do trabalho, que busca na educação, não apenas o desenvolvimento tecnológico, mas também a humanização e emancipação dos sujeitos da história.
Fizemos questão de abrir espaço para estas considerações para melhor situar a instituição Escola, do ponto de vista de sua historicidade. O chamado Terceiro Setor ampliou-se neste cenário com uma feição de promotor eficiente das demandas sociais, se confundido ora com as Organizações Não Governamentais – ONGs – populares, ora com os departamentos das empresas capitalistas, voltadas para a maior difusão do Marketing Social. A Fundação Roberto Marinho (Rede Globo), seguida das duas grandes centrais sindicais (Força Sindical e CUT) foram as maiores beneficiárias de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT - para o fomento do PRONAF – Programa Nacional de Formação Profissional. A CUT viu sua participação neste programa como um avanço das forças populares, implementando um projeto chamado de Formação Integral do Trabalhador. E há que se reconhecer a importância como laboratório e espaço de experimentação da metodologia de Paulo Freire neste programa. Todavia perdura ainda hoje um deficit de sistematização desta experiência: de certo modo a CUT legitimou os demais “parceiros”, referendando na prática a “retirada” do Estado, em espaços de sua responsabilidade.
É verdade que todos estes elementos apenas reforçam a importância da Escola como instituição, justificando uma luta social pelo seu papel de promover, além de habilidades e competência técnica, também sua ampliação como espaço de reflexão, inclusão e emancipação. Pessoalmente entendemos que isto só será possível se a sociedade organizada (em sindicatos, cooperativas e instituições religiosas) assumir a radicalidade da democratização deste espaço.

ESTADO E BUROCRACIA

TODO ESTADO É UM ESTADO DA CLASSE DOMINANTE.
TODAVIA, A BUROCRACIA DE QUALQUER ESTADO,
É TÃO SOMENTE UMA REPRESENTANTE DE SI MESMA.
ESTA É A ORIGEM DA ASSIMETRIA DE PODER
QUE INVIABILIZA AS DEMOCRACIAS RESPRESENTANTIVAS.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Proudhon, Marx e Weber.

Em uma monografia identificada como de autoria de Pilato Pereira, da UNILASALLE, encontrei um interessante resumo sobre o Anarquismo de Proudhon:

"O Anarquia não é confusão. Anarquista não é bagunça. Anarquia, do grego: an (=sem) e arché (=poder). Anarquismo: movimento que luta por uma sociedade em que ninguém tenha poder sobre ninguém. Também podem ser chamados de ácratas, defensores da Acracia, do grego: an (=sem) e kratos (=governo). Os ácratas, ou anarquistas, querem uma sociedade em que ninguém governe ninguém. Pela ênfase que dão à liberdade e à negação de qualquer autoridade, são também conhecidos como libertários. Para o anarquismo, a solidariedade entre os indivíduos eliminará o poder. O Movimento Anarquista surge no século XIX, propondo uma organização da sociedade onde não haja nenhuma forma de autoridade imposta. Para os anarquistas, uma revolução não deve levar à criação de um novo Estado porque seria sempre uma nova forma de poder.
Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), principal teórico do movimento anarquista, nasceu em Besançon, França. Como sua família não tem condições de mantê-lo na escola, tornou-se autodidata."

O autor da monografia cita em outro momento o professor brasileiro Maurício Tragtenberg. Diz o texto: "O pensamento crítico de Maurício Tragtenberg é constituído por meio de Marx e Weber, numa combinação da dialética com a sociologia compreensiva. Combinação – sempre problemática – mas que Maurício vai assumir com a ideia de ser Marx, o portador da penetrante crítica da infra-estrutura do capitalismo e Weber, o da superestrutura. Algo em torno de considerações em que as relações do processo de trabalho com o processo de produção capitalista explicam a dominação do trabalhador sob o capital e encontram nas formas de dominação, em particular, a dominação burocrática legal, o momento de constituição mais delineado do político".

Esta aproximação considerada "problemática" permite-nos postular algumas hipóteses para a construção de alternativas genuinamente democráticas, aos partidos de esquerda: a) Qualquer que seja a forma de Estado, em regimes representativos, sempre haverá uma burocracia que tende a se consolidar a despeito dos interesses dos representados; b) O Estado precisará se organizar cada vez mais em sintonia estrutural com a sociedade civil. c) Nos sistemas representativos sempre estará presente o que chamamos de assimetria do poder. d) Os mecanismos de democracia direta terão que contar com sistemas fundados na organização local do poder: desenvolvimento local, orçamento participativo e organização cooperativa da produção e da distribuição constituem instrumento das Àcratas.
Estes constituiem pontos que merecem uma maior investigação.

PARA A FORMAÇÃO DO SEU JUIZO CRÍTICO

Sites que merecem ser visitados: http://carosamigos.terra.com.br/

E conheça melhor o sentido dos resultados das eleições de novembro de 2008 na Bolívia.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Seminário latinoamericano discute democracia representativa e participativa

O texto abaixo é uma reprodução integral de matéria publicada na página http://www.polis.org.br/noticias_interna.asp?codigo=711. Este texto servirá de referência para conjunto de reflexões que envolvem o conceito de assimetria do poder na democracia representativa. Pretendemos resgatar contribuições de pensadores e ativistas como Proudhon e Bakunin.

08/12/2008
Seminário latinoamericano discute democracia representativa e participativa

O seminário Sociedade Civil e as Novas Institucionalidades Democráticas na América Latina: Dilemas e Perspectivas, realizado em Brasília, de 9 a 12 de novembro, discutiu as relações e tensões existentes entre os instrumentos da democracia participativa e representativa que coexistem de maneiras complexas na região. O evento contou com a participação de representantes da sociedade civil de 14 países latinoamericanos e foi organizado pela Rede LogoLink América Latina, INESC, Instituto Pólis e ABONG (Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais). O objetivo da atividade foi refletir sobre os avanços e os limites das novas institucionalidades e possíveis estratégias de ação da sociedade civil, na perspectiva da radicalizar a democracia e da garantir direitos.
Sílvio Caccia Bava, coordenador executivo do Pólis e editor do Le Monde Diplomatique Brasil, ressaltou que o desafio de ultrapassar os limites e constrangimentos da democracia formal não significa recusar os avanços da construção de instituições e processos eleitorais democráticos na região. A reafirmação da importância de articulação entre democracias participativa e representativa foi um ponto fundamental do debate.

Outro ponto foi o reconhecimento de que o ideal da democracia participativa não deve visar a eliminação dos conflitos, mas sim processá-los e mediá-los, garantindo as várias expressões políticas e o reconhecimento pleno dos atores sociais em sua especificidade.

Ao discutir o conceito de democracia participativa, direta e representativa, no marco da comemoração dos 20 anos da promulgação da Constituição Brasileira, a representante da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), Carmen Silva, afirmou que as ações na democracia direta, participativa e representativa se misturam. "A lei de iniciativa popular começa com a mobilização. É uma forma direta, mas depende da democracia representativa para virar lei", ressaltou. Ela alertou que a democracia participativa também inclui representação das organizações civis. "Democracia inclui a democratização da vida social, ou seja, das relações sociais".

Em contrapartida, na Venezuela o cenário de mudança político-social mostra avanços na busca por uma justiça econômica mais igualitária com a participação dos movimentos sociais. O país passa pelo processo de mudança de um Estado representativo para participativo. A representante venezuelana, Margarita Lopez, disse que por uma superestimação do que é a democracia participativa houve uma debilitação da representativa. "A democracia em meu país debilitou o pluralismo, a tolerância com diferenças, a cultura de negociações e construção de consensos entre diversos interesses". Ela acredita que isso pode resultar na dificuldade de convivência pacífica. "É uma evolução da tensão entre democracia participativa e representativa. A constituição de 1999 mudou a representativa, concebendo-a como uma combinação de instituições liberais de representação e o complementou com mecanismos de democracia direta", acrescentou.

O Equador também passa por mudanças na governabilidade. Neste ano, a nova Constituição foi aprovada com aproximadamente de 67% dos votos populares e amplia os poderes do Executivo. Nesta carta, há um capítulo exclusivo para os direitos da natureza. Ficou proibido, por exemplo, a apropriação de recursos genéticos que contenham diversidade biológica e agrícola. O representante do Equador, Jorge Léon, disse que é preciso manter o equilíbrio entre a vida humana e o meio ambiente. "A política do bom viver faz parte dos direitos e dos deveres de qualquer cidadão". Ele disse que a aprovação da Constituição de 2008 buscou frear as novas formas do neoliberalismo. "Direitos, maior poder ao Executivo, menos ao Legislativo e a invenção do quarto poder caracterizada pela participação cidadã". Jorge afirmou que falta clareza para construir a idéia de participação sem que se transforme em resíduo dos partidos. "Deve ter um sentido, com autonomia, ser um contrapeso, vigiar e controlar".

Devolutiva

Com a idéia de dar continuidade às discussões realizadas em Brasília, foi realizada em 11 de novembro na sede do Instituto Pólis, em São Paulo, uma devolutiva do seminário. Cerca de 30 pessoas representantes de entidades da região do Grajaú, Butantã, Centro e outras, estiveram presentes.

O objetivo desta devolutiva foi fazer com que houvesse uma apropriação do conteúdo das experiências relatadas pelos países latinoamericanos. Assim como de mecanismos e ferramentas de ações participativas que existem nestes países para que seja possível aprender os desafios da democracia participativa no Brasil.

O grupo participou de forma ativa das discussões e mostrou como principal inquietação, o que fazer para ampliar os espaços de participação e mobilizar a sociedade a participar destes espaços, já que a população de maneira geral vive um momento apático.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

HONESTINO GUIMARÃES! CADÊ VOCÊ?

Durante dois anos, entre 1970 e 71 convivi com Honestino Guimarães. Na época eu estudava ciências sociais, na USP e, como integrante da Ação Popular, participava da resistência ao regime militar, que se implantara no Brasil, por meio de um golpe de Estado. Honestino foi, se não me engano, o último presidente da UNE clandestina. Eu o ví pela última vez em dezembro de 1971. Depois só as terríveis notícias: Honestino, foi brutalmente torturado por agentes da polícia política da ditadura, até a morte. Ele nunca pegou em uma arma. Era incansável na denúncia dos desmandos militares. Por mais estranho que pareça a alguns, Honestino me lembrava os cristãos da era primitiva, que iam para a morte, de maneira determinada, sem negar valores fundamentais, como a partilha, o amor e a comunhão coletiva.
Honestino está entre aqueles que até hoje não teve seu corpo encontrado. Continua insepulto. Seu velório continua suspenso e assim permanecerá até que a história nos revele seu destino.
E tem gente que insiste em comparar este heróis da resistências com autoridades públicas dedicadas à tortura e à barbárie.

A Ditadura Militar no Brasil

Esta é outra excelente dica, para quem procura informação. Mais uma vez Caros Amigos mostrou como uma editora se amarra aos compromissos da emancipação verdadeira. Sem panfletismo, que é outra dimensão do preconceito, Caros Amigos resgata uma parte de nossa história, que ainda pode ser contada, por todos nós, seus protagonistas.


COLEÇÕES CAROS AMIGOS

A Ditadura Militar no Brasil
A história em cima dos fatos.

FASCÍCULO Nº1.

Coleção dividida em 12 fascículos publicados de quinze em quinze dias que descreve em detalhes as diversas fases daquele governo de exceção, a pertir da noite de 31 de março de 1964 até a entrega da faixa presidencial a José Sarney, em 15 de março de 1985, após tumultuado processo que culminaria com a volta do Estadao de direito.

> PLANO DE OBRA

1 - A NOITE DO GOLPE

2 - ANTECEDENTES: O SUICÍDIO DE VARGAS

3 - GOVERNO JANGO

4 - GOVERNO CASTELO BRANCO

5 - GOVERNO COSTA E SILVA

6 - GOVERNO MÉDICI; O MILAGRE

7 - GOVERNO MÉDICI; A TORTURA

8 - GOVERNO MÉDICI; TERROR TOTAL

9 - GOVERNO GEISEL; FIM DO MILAGRE

10 - GOVERNO GEISEL; EXTINTA A LUTA ARMADA

11 - GOVERNO GEISEL; A ABERTURA

12 - GOVERNO FIGUEIREDO; FIM DA DITADURA

ESPECIAL CAROS AMIGOS


Minha amiga Yolanda esteve percorrendo e fotografando a América Latina. Yolanda, como eu, somos professores de filosofia. Como tal aprendemos a distinguir o senso comum do senso crítico. Sabemos que um fato, por mais que pareça verdadeira, pode ser inteiramente falso. Por isto Yolanda não se rende às interpretações (não aos fatos)da grande mídia sobre o que acontece em diversos paises latino-americamos. Seu depoimento está na revista Caros Amigos. Confira um pequeno resumo deste número:


"É fato que o colosso do norte trata a América Latina como seu quintal desde que se tornou potência. Ainda mantém bases militares ao sul de suas fronteiras e, a partir de suas embaixadas, espalha intrigas, conspirações, espionagem, atentados, golpes de Estado. Mas esse panorama vem mudando de uma década para cá.
Impensável seria, mesmo no início deste século 21, que uma Bolívia expulsasse o embaixador americano, ainda que tivesse provas, como as tinha, de que articulava um golpe contra o presidente. Duplamente impensável que a Bolívia, até ontem dividindo com o Paraguai o posto de país mais desprezível aos olhos de Tio Sam, logo a seguir expulsaria igualmente a DEA, agência antidrogas americana, na verdade fachada para mais um antro de ingerência nos nossos negócios.
A América Latina está viva, como mostra esse número especial de Caros Amigos. E por sobre a efervescência que anima seus povos paira, mais vivo que nunca, o espírito de Che.
Bolívia, Chile, El Salvador, Paraguai, Venezuela, enfim, traçamos neste especial um panorama atual de “Nuestra América”.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Sinais de uma nova ética pública:

A Polícia Federal prendeu nesta terça-feira o presidente do TJ (Tribunal de Justiça) do Espírito Santo, desembargador Frederico Pimentel, por suspeita de participação num suposto esquema de venda e manipulação de sentenças em troca de favores e vantagens pessoais.
Foram presas mais sete pessoas: dois desembargadores, um juiz, dois advogados, a diretora de Distribuição do TJ-ES e um promotor. Esse último foi preso em flagrante durante o cumprimento de mandado de busca e apreensão por porte de arma de uso restrito.
Todos eles foram presos pela PF durante a Operação Naufrágio, que tenta cumprir 24 mandados de busca e apreensão no Espírito Santo. Os presos serão transferidos para Brasília, entre eles o desembargador Elpídio José Duque. Os nomes dos demais presos não foram divulgados porque o caso tramita em segredo de Justiça.
De acordo com a PGR (Procuradoria Geral da República), as prisões são resultado das investigações feitas no inquérito aberto pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) que apura o suposto envolvimento de desembargadores, juízes, advogados e servidores públicos em crimes contra a administração pública e a administração da Justiça no Espírito Santo.
O delito consistia no patrocínio e intermediação de interesses particulares perante o TJ-ES para obtenção de decisões favoráveis e outras facilidades que pudessem ser conseguidas por meio da interferência dos agentes públicos em troca de favores e vantagens pessoais.
Durante as investigações, surgiram ainda evidências de nepotismo no Tribunal de Justiça capixaba. A PGR informou ainda que diálogos autorizados pelo STJ sugeriram uma possível manipulação do concurso público para o cargo de juiz do TJ-ES com o objetivo de facilitar a admissão de familiares de desembargadores daquele Tribunal.
A assessoria do TJ do Espírito Santo informou à Folha Online que vai se pronunciar mais tarde sobre as prisões.
Titanic
As investigações tiveram início com a Operação Titanic, deflagrada no dia 7 de abril, que desarticulou um esquema instalado no cais do porto em Vila Velha, especializado na importação subfaturada de veículos de luxo.
Na Operação Titanic, foram presas 22 pessoas, sendo 13 no Espírito Santo, três em São Paulo e seis em Rondônia, acusadas de integrar uma quadrilha que sonegou R$ 7 milhões em importações de carros, motos e mercadorias de luxo.
O esquema envolvia Ivo Junior Cassol, filho do governador de Rondônia, Ivo Cassol (sem partido), acusado de tráfico de influência. Os dois líderes do esquema
Adriano Mariano Scopel e Pedro Scopel, pai e filho-- foram detidos no Espírito Santo.
( fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u477104.shtml)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

MARX DE VOLTA A CABECEIRA?

Este é o título de um dos artigos publicados na revista "Discutindo Filosofia" em sua edição de número 06. O Editorial da revista reproduz um comentário do escritor português José Saramargo, vencedor do prêmio Nobel de literatura,que sintetizou: "Marx nunca teve tanta razão como agora". Os artigos da revista não para o público não especilizado e vale a pena ser conferido.
Em geral o que se recomenda é um retorno à leitura de Marx, não como um programa de um partido político, mas como um dos maiores observadores e agudo analísta do capitalismo. O filóso Leandro Konder nos lembra que Marx é um homem do século XIX, mas que ainda nos dá ferramentas para compreendermos a realidade atual. Embalado por esta leitura elaborei as reflexões que se seguem.

ALIENAÇÃO, EMANCIPAÇÃO, LIBERDADE E ANGÚSTIA:
AS DÚVIDAS NO MUNDO CONEMPORÂNEO

No começo da década de 1980 o mundo assistiu o fim de um sonho (à época transformada em pesadelo): a derrocada do socialismo e sua promessa de fraternidade universal. A liberdade e igualdade prometida por Marx, transformaram-se em estados totalitários, dominados por burocracias corruptas e cruéis, muito distante do sonho humanista anunciado com o advento do comunismo. Como doutrina econômica e filosófica o programa neoliberal, face globalizado do capitalismo, mostrava-se robusta. As economias asiáticas que se modelavam inspiradas nas economias européias e norte-americanas prosperavam. A China adotava reformas de natureza capitalista, fazendo prosperar um sólido mercado de consumo e uma indústria fortemente competitiva.
Mas não era o reino da liberdade e da fraternidade que prosperava. No oriente médio prosseguiam as lutas originárias no fundamentalismo de grupos islâmicos, mas alimentada pela indústria bélica do imperialismo norte-americano. Os paises africanos prosseguiam sem qualquer perspectiva para programas econômicos de inclusão social e construção de estados democráticos. Aí também assistíamos a presença da indústria bélica das economias neoliberais. Em todo o mundo o que presenciávamos era um forte sentimento de desesperança e angústia, gerando vazios existenciais que o marketing global buscava ocupar mediante o fortalecimento do mercado de consumo.
Os ecologistas eram voz dissonante quando alertavam que o processo desenfreado de consumo estava levando o planeta a um progresso autofágico. O desemprego estrutural, resultado do avanço tecnológico e crescimento da produtividade (maior produção com menos mão-de-obra) batiam nos sindicatos de trabalhadores, que começavam a examinar as alternativas embrionárias dos sistemas cooperativos solidários.
No meio desta turbulência inicia-se um processo global de depressão na economia mundial, levando os mais ortodoxos neoliberais a buscar soluções nitidamente keynesiana com a intervenção do Estado para estagnar o lado mais amargo do colapso capitalista.
Estamos no meio deste furacão. E será este o ambiente que iremos desenvolver algumas reflexões sobre a Filosofia nos Dias Atuais.
A ética e uma nova metafísica estão no coração destas reflexões como veremos. Esta é também conhecida como uma era de mudança de paradigmas. Embora não se trate de um filósofo, mas um dos expoentes no debate dos problemas atuais é o físico Fritjof Capra, autor de diversos livros, um dos quais, O Ponto de Mutação, que serviu de inspiração para a realização de um filme com o mesmo nome.
O filme foi realizado e dirigido por Bernt Amadeus Capra, irmão do conhecido físico Fritjof Capra. O tema central é a profunda crítica que Fritjof faz do processo de fragmentação do saber, em boa medida contemplado pelo pensamento do filósofo Descartes. Capra resgatou o sentido do que ele chama de ecologia profunda, lembrando que tudo no universo é interligado. Esta fragmentação é, na realidade, a expressão de uma fragmentação mais profunda e que fez com que a vida dos humanos perdesse sua organicidade.
Para traduzir esta preocupação de forma didática o filme, ambientado em um castelo medieval, reúne no mesmo espaço uma física, um político e um poeta. Os três personagens promovem um encontro de saberes, apontando na direção de uma visão holística ou sistêmica, conforme prefere Capra. O filme nos lembra também que o mundo estaria vivendo seu “ponto de mutação”, com o esgotamento do paradigma da fragmentação e a emergência de uma nova visão da vida. Esta grande fragmentação foi responsável por muitos danos ao planeta: a ultra-especialização na área da saúde ocidental (em oposição a visão sistêmica da Acupuntura); a divisão técnica e social do trabalho (muito bem denunciada no filme Tempos Modernos de Chaplin); a divisão fundamental entre a emoção, a razão, a intuição e a sensação nos seres humanos, que assim perderam também sua inteireza.
O filme pode ser considerado como um instrumento de investigação para todos que possuem interesse pela holologia e holopráxis e compõe uma obra maior representada por toda a investigação de Fritjof Capra no campo da ecologia profunda, da psicologia transpessoal e das formas colaborativas de organização de um modo de produção não capitalista.

REFLEXÕES SOBRE A EXISTÊNCIA E A LIBERDADE

CONDENADO
Brincar com as palavras.
Zombar dos versos praticados
Quando os lábios devoram lábios
De sangue.
Jogar com os amigos e prometer aos filhos
Certos atos de bravura. Comer sal
E comer pedra.
Talvez assim
Um verso se faça
No coração de um poeta
Condenado à vida.
(Frederico Drummond, in Anjo Vingador – SP 1977)

O ano de 1977 foi particularmente simbólico para muitos de minha geração. A grande maioria dos partidos de esquerda, que exerciam alguma ação contra o regime militar no Brasil, já estava dizimada. Um sentimento de desesperança em relação ao nosso sonho socialista teimava em ganhar proporções. Foi neste ambiente que proclamei, no poema acima, como uma condenação continuar buscando a liberdade e a vida. Carlos Takaoka, um artista plástico, que ganhara há pouco tempo a liberdade, depois de ficar cinco anos na prisão, como prisioneiro político, leu meu poema e retrucou-me com outro poema, em que ele recusava a vida como uma condenação, mas como um ato de liberdade. Sem sabermos estávamos no coração dos temas mais caros ao filósofo Jean Paul Sartre. Mesmo porque a visão que tínhamos dele era de um anarquista, que com sua pregação criava vacilações nas opções políticas do povo francês. Passados 30 anos vejo-me face a face com o Anjo Vingador. Se a história não possui um sentido teleológico qual a nossa bússola? E se Deus não nos presenteará com a Terra onde jorra o Leite e o Mel, resgatando nossos pecados da vacilação pequena burguesa, o que será de nós? Enfim que espécie de prisão é a vida, onde construímos nossos projetos de liberdade e prometemos aos filhos certos atos de bravura? Tomamos na prateleira o livro Sentimentos do Mundo, do poeta Carlos Drummond e defrontamos com um trecho do poema Elegia 1938 (1938?):
“(...) Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
E sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.(...)”
E no final o poeta proclama:
“(...) Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.(...)”

Nem a deliciosa alienação do sono, nem o conforto da impotência nos resgatam, nos levando a aceitar a “injusta distribuição” no sossego de não fazer qualquer escolha.
Sartre fazendo a defesa de sua ética existencialista (e sua dimensão profundamente humanista) nos lembra: - “O que as pessoas, obscuramente, sentem, e que as atemoriza, é que o covarde que nós lhe apresentamos é o culpado por sua covardia. O que as pessoas querem é que nasçamos covardes ou heróis.” Porque afinal se em minha covardia ou em minha alienação não posso sozinho dinamitar Manhattan, porque me responsabilizam pela guerra, pela chuva e o desemprego? “O que o existencialista afirma é que o covarde se faz covarde, que o herói se faz herói” – diz Sartre. E que dinamitar Manhattan ou não é um escolha inteiramente minha, pela qual responderei. E que se este ato expressar uma atitude voluntariosa ou conseqüente será uma conseqüência de minha exclusiva liberdade.
Somos então prisioneiros da liberdade? Não é isto que nos afirma Sartre, de vez que ser prisioneiro já é um condicionante. Parece existir aí um aparente paradoxo e é sobre este ponto que vou dirigir minhas reflexões.

Somos condenados à liberdade? Farei algumas reflexões:
Sartre é uma figura emblemática e em minha opinião o mais importante filósofo do século XX. Manteve uma vida ativa como professor, escritor, crítico social, ativista político, deixando um legado na filosofia que ainda não foi inteiramente assimilado: o compromisso humanista existencial com a liberdade. Sartre fez esta trajetória sem cair em qualquer forma de niilismo e/ou alienação. Ao contrário: a existência humana é a única ancoragem para sua ética, construída como um ato fundamental de escolha, dentro da liberdade. Eu gosto da metáfora de Adão e Eva expulsos do paraíso. O que é o paraíso? Um estado de não escolha, de total indiferenciação. A comerem o fruto da Árvore do Bem e do Mal eles ganham consciência (perdem a ingenuidade) e entram em um estado que precisam fazer escolhas. Eles são condenados a escolhas. Qualquer que seja a escolha possível, com todos os limites da alienação, dos condicionamentos culturais e outros limites, estará sempre condenado a uma escolha. E este é um ato solitário, ainda que se dê no espaço social e na história. Porque escolho não fazer apropriações individuais da produção social? Nada me obriga a isto. Porque escolho que a vida deve ser defendida como valor supremo? Instinto de conservação da espécie? Pode ser. Mas porque este mesmo instinto não me impede de escolher dizimar meus iguais com armas de destruição em massa, com políticas de exclusão social, com atos de colonialismo e dominação. Que instinto é este? E não podemos fugir do seu exameE se Deus de fato não existir? Será esta de fato a pergunta relevante? Vejo dois conceitos caminharem muito próximo: o de materialismo e ateísmo. Qual a relevância desta proposta? Excluindo as atitudes mais neuróticas, que transformam qualquer visão em fundamentalismo, a questão central deveria ser outra; sendo mais preciso - deveria caminhar na direção de nos olharmos como humanos. Quais nossas singularidades? Sabemos que somos herdeiros do Big Ban. Isto não é pouco. Esta ancestralidade me liga à história do próprio universo. Sabemos nossa condição de seres relacionais. Somos gregários. E principalmente, sabemos que sabemos todas estas coisas. Mas somos seres que possuem a mesma trajetória dos entes vivos: somos efêmeros. Somos realmente efêmeros? Se o único espaço em que posso realizar de minha experiência de vida é o agora, cada agora contém uma eternidade. A morte soe acontecer. "Todavia, toda vida é indagação do achado" (diz Drummond). Indagação do depois de agora. Daqui a 10 dias vence o aluguel. Não tenho como pagar hoje e não tenho perspectiva de pagá-lo no depois de hoje. Meu sofrimento do depois de hoje é agora. Por isto sofro agora com minha finitude. Desta forma me convém acreditar que sou infinito. Afinal uma série numérica é infinita! Porque eu também não poderia sê-lo? E se for assim vou vier agora minha eternidade: o pós tempo - o pós história. E é provável que o pós tempo exista. Pois se o tempo é, o é em face de do não-tempo. Ou seja, posso aliviar agora meu sofrimento com a vivência do não-tempo. De mais a mais a experiência do divino é em mim que se concreta. Este humano-divino é uma experiência real. Nela esta minha transcendência e minha imanência. E em todos os casos a pergunta inicial não faz qualquer sentido, porque equivale a perguntar - e se Deus existir? Este divino continua sendo uma experiência que se realiza agora, em mim e para mim
A impressão que ficamos após a leitura de "O Existencialismo é um Humanismo" é de que Sartre, embora afirme em contrário, confere à experiência de liberdade de escolha uma dimensão divina; ele absolutiza a responsabilidade do humano singular, transformando esta escolha em um padrão de transcendência dos seres singulares para os seres "categoria". Sartre repete o tempo todo sobre a inexistência de uma natureza humana, mas impressão que tenho é que ele deixa de considerar as contribuições da antropologia, da psicologia social e da ecologia social. O conceito de Teia da Vida, presente na Teoria de Santiago (Maturana e Varela) nos lembra que a cognição é uma propriedade da vida; que existe um padrão de rede desde as micro-particulas até os conjuntos mais complexos. Um padrão que é anterior ao próprio surgimento dos organismos vivos. Um padrão que está presente na organização da matéria. Este padrão cria uma ética da ecologia profunda, onde a liberdade é a liberdade comprometida, mas a liberdade possível. Não existe outra forma de liberdade. A escolha é a escolha possível e condicionada por este padrão: pode ser a cultura, o inconsciente (Freud e Jung) e visão de classe (Marx). Sartre parece conferir demasiado valor ao cogito (Kant), deixando de considerar dimensões como a intuição nos processos de escolha. A intuição é uma experiência (como tal um fenômeno e uma fato da existência) que nos confere um sentido de certeza. É com base nesta certeza que faço minhas escolhas. Não me parece que haja um grau de liberdade significativo quando o que me movimenta é a certeza, resultante de um insigt.
Conhecer Sartre é conhecer sua motivação íntima: como esta responsabilidade que ele nos conta se constrói na história. Sartre sabia que existem pelo menos dois grandes filtros que balizam nossas escolhas: o inconsciente (Freud) e a visão de classe (Marx). O limite íntimo destas escolhas é que me parece estar em questão. Volto minha lembrança a Carlos Takaoka e a todos como ele que passaram por provações físicas e psicológicas profundas, como os prisioneiros de guerra, como Sartre. De todas as guerras. Nunca soube se o Takaoka era ateu ou não, se era materialista ou idealista. Naturalmente o Takaoka possuía forte influência de usa origem oriental. Falávamos sobre a natureza e sentido de nossas escolhas e do nosso engajamento político. Criticávamos as noções de necessidade (imperativos) histórica, como muito determinista para qualquer forma de liberdade. Então ele me contou o seguinte Koan (trata-se um dito ou ato de um mestre Zen).
- Um jovem monge perguntou ao seu mestre: O que é mais importante? Carregar o Buda ou lavar os pratos? Ao que o mestre respondeu: O mais importante é lavar o Buda e carregar os pratos.
O pensamento ocidental é muito marcado por alternativas excludentes e o Takaoka me lembrava que uma ética assentada em escolhas excludentes era estranha para ele. Por que existindo ou não uma divindade a sacralidade dos humanos justificavam uma opção humanista. E este provavelmente foi o maior legado de Sartre.